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segunda-feira, janeiro 02, 2006 

Franchising

Muito se tem discutido sobre o "anti-americanismo" mas poucos conseguiram situar o problema com tanta precisão como o José Pedro Zúquete no artigo "A américa do nosso descontentamento" publicado na Revista Atlântico.
"Se há algo que um antiamericano não gosta que lhe chamem é de ser antiamericano. Reage indignado, "eu?". Rapidamente somos bombardeados com uma litania de razões pelas quais o anti-americano tenta demonstrar que, não obstante a "honesta divergência em algumas questões de carácter político", o rótulo antiamericano não se aplica ao seu caso."
( Repare-se no detalhe, na boca de um anti-americano, qualquer enumeração de factos da cultura, da história e da sociedade americana a destacar pela positiva, são uma "litania"... faz lembrar, estranhamente, a "ladainha", mais ao gosto dos detestados Jerónimo de Sousa/Carlos Carvalhas ).
Tirando uma pequena simplificação, está aqui quase tudo.
O bom-senso diria que pode definir-se alguém como anti-americano se esse alguém se assumir como "anti-americano".
Zúquete, porém, incumbido por não sei que Comissão Contra as Actividades Anti-Americanas, não se fica por superficialidades dessas para nossa ilustração e divertimento.
Essa classe de anti-americanos que dizem que o são, existe sim senhora, mas quem são eles? Onde estão? Bah! Dá muito trabalho procurar, é assunto que nem sequer dá luta. Para isso servem os valorosos GIs espiolhando as ruelas de Sadr City ou as encostas desoladas da "North-West Frontier".
A Zúquete interessam "os outros" anti-americanos, a saber, aqueles que negam sê-lo.
Para desencorajar algum vivaço que pretenda eximir-se ao vergonhoso labéu com uma esquiva ligeira , o José Pedro dá-se ao trabalho de elencar uma série de possíveis defesas que ele desarma com estonteante facilidade.
Os exemplos que escolhe e a forma como os "desmonta" dizem mais sobre os gostos particulares do(a) amigo(a) em quem ele estava a pensar quando escreveu a redacção.
Imaginemos então um caramelo que se descuide a dizer que gosta do Ezra Pound, pouco suspeito de esquerdismos, enquanto cai na asneira de revelar ao José Pedro que não acha a invasão do Iraque uma das decisões politicas mais corajosas da história da humanidade desde a criação da escola de Sagres? Logo se vê que o tal sujeito é suspeito de simpatizar com proponentes de soluções anti-democráticas, e portanto "anti-americano". Foi topado.
Gosta do Frank Sinatra ( e desgraçadamente acha Dick Chenney um escroque), é do género mafioso. Mafioso, e ... (adivinharam) anti-americano.
Lembre-se um qualquer patusco de inadvertidamente engraçar com o trepidante "Assalto ao Arranha Céus" e o seu protagonista, o indefectível republicano Bruce Willis, esquecendo-se de ligar em simultâneo para o Help Desk de Zúquete declarando expressamente que considera que Noam Chomsky é a sexta ou a sétima reincarnação da Besta. Sai chamuscado, não passa de mais um ANTI-AMERICANO. Primário.
A gestão do anti-americanismo funciona assim como um franchising.
Uma pessoa não é anti-americana por dizer que é ou sequer por negá-lo. Não lhe cabe definir-se, não tem esse direito, que é posse inalienável do Zúquete.
Tal como, reza a história, o "Baron de Lima", um vagabundo da mítica Paris dos anos sessenta, passava soberbos diplomas de "free man" a quem estivesse disposto a desembolsar uns francos, José Pedro Zúquete "certifica" o "anti-americanismo" de todo o tipo.
Mas neste caso de borla e sem o visado ser ouvido nem achado.
É pândego porque vivemos na Europa e em democracia.
É pândego porque é com artiguecos deste tipo que a direita ( ou parte dela) pretende lançar "debates ideológicos".

E Zuquete continua a ter razao. Realmente, se existe algo que um anti-americano nao gosta que lhe chamem ... e de ser anti-americano. Reage indignado. Como voce reagiu.
Provou que Zuquete tem razao.

bingo, é como dois e dois serem quatro...;)

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