quarta-feira, março 21, 2007 

Sim, é possível

O primeiro livro com as Memórias de Edmundo Pedro, confirma aquilo de que eu já suspeitava:
É possível ter sido um militante comunista empenhado e mudar de campo, ter uma visão extremamente crítica do PC, do movimento comunista internacional e da antiga União Soviética, e mesmo assim não embarcar no branqueamento da ditadura salazarista promovido pela seita dos "imparciais" que acham que essa ditadura que matava e torturava e os que a sofreram eram "as duas faces da mesma moeda".
Depois das historietas sobre a depressão que era ser opositor ao regime fascista, um livro em que se pode respirar.
Um dos aspectos mais interessantes do livro é o retrato que Edmundo traça de Bento Gonçalves um dirigente do partido comunista que não é particularmente celebrado nos meios de esquerda sendo-lhe imputadas vagas tendências "reformistas".

 

Conexões

No último número da Geo mostra-se como enquanto o reaccionarismo bronco prefere ignorar os efeitos das mudanças climatéricas e atolar-se na generalização das tatuagens, da liberalização do aborto, de as mulheres europeias preferirem ser profissionais independentes e não ficarem em casa a criar famílias numerosas, e os trabalhadores insistirem em lutar pelos seus direitos e a preferir a segurança social às delícias da esmola incerta dos patrões, o degelo do Ártico está em vias de provocar importantes mudanças geoestratégicas à escala planetária com potenciais benefícios para a Europa.
Alguns dados:
Roterdão - Tóquio via Canal do Panamá : 23.300kms
Roterdão - Tóquio via Canal do Suez : 21.200kms
Roterdão - Tóquio via Passagem do Nordeste: 14.100kms

 

O perigo amarelo

Quando se fala no "eclipse demográfico" da Europa, é curioso sabermos que os locais do mundo com mais baixa natalidade são:
Hong Kong - 7 milhões de habitantes, 0,95
Macau - 500 mil, 1,02
Singapura - 4,4 milhões, 1,06
Ainda estamos muito bem com os nossos 1,4.

terça-feira, março 20, 2007 

Tudo ao molho e Fé em Deus

Uma das grandes vantagens da Direita é o seu sentido da Ordem.
Nada de exageros "jacobinos".
Deste modo, a vida interna do CDS/PP, um partido ordeiro que conglomera um vasto leque de opções de vida que vão da advocacia do centro centro direita à Excelência de direita centro direita passando pela gestão de direita centro direita esquerda, caracteriza-se por ordem nos assuntos a discutir e ordem na forma como são discutidos.
Primeiro há que saber quem manda no partido.
Mas primeiro ainda há que saber como se escolhe quem manda no Partido.
Sabendo a composição social de base alargada do CDS/PP, é natural que tudo tenha de passar em primeiro lugar por uma discussão jurídica de elevado nível.
E Deus e acima de Deus os advogados sabem quão morosas podem tornar-se as discussões jurídicas.
Não admira pois que surja por vezes a tentação de cortar "a direito" e colocar tudo nas mãos de um líder.
Para evitar conotações indesejadas com um passado que o eleitorado ainda mostra dificuldades em digerir, não faria mal talvez testar um aggiornamento ao estilo do ultraliberalismo na moda:
"Quem dá mais?"
Resolvido o problema fundamental da liderança, logo se fala em política.
Ainda assim, o sempre voluntarioso Paulo Portas conseguiu a bem ou a martelo ser líder por breves instantes à saída da reunião do passado Domingo: pediu desculpa.

domingo, março 18, 2007 

Brandos costumes

Uma série de crimes "de que nunca se tinha ouvido falar" ocorridos em geral longe dos grandes centros urbanos, de que é típico o recente estrangulamento de uma menina autista de 12 anos pelo próprio pai, têm arrancado aos moralistas cá da terra um coro eclético de diagnósticos de situação subdividido entre as opções "o mundo está perdido", "já não há respeito" e "antigamente é que era".
Não há motivos para alarme.
Essas pequenas atrocidades domésticas de que vamos tendo conhecimento por obra e graça do cada vez mais apertado dispositivo de triagem próprio do processo de produção espectacular, apenas permitem que se comece verdadeiramente a perceber o que o pessoal fazia aos "serões na província".

 

O princípio do que está a chegar


Uns ainda falam de "corridas de cadeiras de rodas" e "deficiências".

Mas o mais provável é tratar-se já de "mutações".

Não é uma revolução.

São pequenos passos de um processo contínuo, "evolutivo".

 

Olha o filho pródigo pá

Saber que o Rendimento Social de Inserção contribui positivamente para a reinserção de metade dos seus beneficiários, é uma notícia muito positiva, embora fosse preferível que se alcançasse uma taxa de cem por cento de sucesso.
Quer isto dizer que apesar dos valores irrisórios atribuídos (79,9 euros por beneficiário) a cerca de 260 mil pessoas, das quais metade são crianças e idosos, cerca de 130 mil conseguem resultados que as colocam no caminho da reintegração social.
Porisso não se compreende a chamada à primeira página do Público como uma notícia negativa...

 

Mens Sana

"porra, que isto afinal é muita mai' longe cóqueu pensava"
desabafo de um participante na meia maratona de Lisboa de hoje.

sábado, março 17, 2007 

Primavera


Vem aí

 

Efémero

Um dia viajei de comboio para Lisboa com um engenheiro naval francês que se tinha reconvertido ao misticismo Hindu.
Num ashram algures na India tinha conhecido uma holandesa por quem se apaixonara e dirigia-se agora ao seu encontro numa comunidade em Ovar ( não há aí quem diga que o mundo já era pequeno antes da globalização?) com a alegria e a ânsia de chegar de um peregrino num caminho sagrado .
O engenheiro era mesmo um homem temperamental.
A minha incapacidade para compreender alguns dos princípios basilares do hinduísmo, que as pessoas mais indulgentes tomam por cepticismo mas que ele já bafejado por uma sagesse milenar interpretou rapidamente como estupidez pura, pô-lo num estado de impaciência tal que eu cheguei a temer não chegar ao fim da viagem sem atingir o satori à força de bordoada ministrada pelo vigoroso místico.
Chegados a Lisboa, e antes de nos separarmos, decidimos almoçar juntos numa tasca da baixa.
Enquanto me contava a sua vida, foi desenhando na toalha de papel, com o traço e a segurança de proporções de um grande artista e profissional um belíssimo veleiro em movimento.
Discutimos viagens, barcos, desenhos, enfim...
No fim, paguei a conta e segui-o para a rua embrenhado na conversa.
O francês, a quem o misticismo não toldara o contacto com "o real", virou-se para mim e perguntou-me "então e o barco?"
Só então compreendi.
Voltei para trás a correr e entrei no restaurante direito à mesa onde comeramos.
Impossível. A produtividade em Portugal pode ser baixa mas ainda há infelizmente gente laboriosa.
Em menos de um minuto, um diligente empregado apressara-se a levantar a mesa e a conduzir directamente para o lixo "todos os vestígios da nossa breve passagem" - parece metáfora, não é, mas... com a verdade me enganas.
Pareceu-me extraordinário que alguém possuísse capacidade de abstracção para ignorar a presença na toalha de um desenho tão maravilhoso e o tivesse assim amarfanhado, misturado com restos de comida e atirado para o caixote. A indiferença e paz de espírito dos grandes criminosos, igual à reverência com que o segurança do museu protege uma garatuja qualquer imbuída do estatuto de "arte".
Bem que eu tentei animar o meu novo amigo nos momentos até à despedida.
Para maior eficácia tentei recorrer aos ensinamentos que me prodigalizara na viagem.
Falei-lhe da transitoriedade das coisas, que no fundo estavamos todos fundidos num todo uno com o universo, nós, o desenho, o empregado... nada foi capaz de lhe tirar do rosto um rito de amargura e decepção pela perda de algo que ele sabia ter valor e me quisera oferecer num acto de total dádiva. E como eu me penitenciava e como sabia que ele tinha razão.
Para expiar o meu esquecimento, passei desde então a abandonar os desenhos que faço nas toalhas dos restaurantes. Apenas recentemente me lembrei de os utilizar no blog, e para isso, fotografo-os antes de sair.
Por vezes, já à porta, viro-me discretamente para admirar o que se tornou numa espécie de acto final dessa minha relação breve com eles, o momento em que o empregado se debruça sobre a mesa, e com um único gesto recolhe e amarfanha a toalha de papel e o seu efémero habitante.

segunda-feira, março 12, 2007 

Tudo é relativo


Foi o elogio com que um habitante de Ashgabath, a capital do Turcomenistão, definiu o estilo do novo presidente Kurbanguly Berdymukhamedov .

domingo, março 11, 2007 

Comprar o Expresso outra vez?


Foram ouvidas as preces de críticos amantes da imprensa livre preocupados com as tiragens, como Eduardo Cintra Torres, e a direcção do Diário de Notícias foi entregue a um ex-jornalista desportivo e ex-director de um diário, que à sua peculiar maneira, é também um jornal de referência, o Correio da Manhã.

As mudanças não se fizeram esperar e hoje na primeira página do venerando jornal pudemos ter um cheirinho das novas orientações com o artigo


É um bom exemplo de como se pode contribuir para o diálogo político sem recorrer às insuportáveis tiradas panegíricas que perseguem José Sócrates desde que há uns anos atrás apareceu num Congresso do PS com um banal casaco de cabedal preto(1) que, vá-se lá saber porquê, provocou uma histeria nos media e ficou célebre.

Quero dizer, continua a discutir-se o mesmo género de assunto, mas pelo menos não se dá logo de barato que José Sócrates nasceu para o poder, ainda que seja intrigante que o título de artigo tão importante associe um homem de quem se diz que parece um robot, a dois personagens mediáticos que deixaram saudades, John Kennedy e Cary Grant.

Com a imprensa de referência a discutir este género de assuntos, uma táctica que emula a do Governo para "esvaziar a oposição", "tira-se espaço" à imprensa tablóide e cor-de-rosa, e acaba-se de vez com a imprensa de referência em Portugal.

Começa a tornar-se difícil comprar um jornal ou revista portugueses "de referência" se a ideia for realmente lê-lo à cata de informação ou ideias interessantes. Se já vem quase tudo no "Destak" e no "Metro"...
1 estamos a falar de uma porra de um banalérrimo casaco de cabedal preto, é preciso que se note para se ter uma noção da aldeia que isto é.

 

Novas tendências

Está tudo por inventar na Arquitectura. Bem, quase tudo.

 

A obsessão do lustro

No Blue Lounge, Rodrigo Adão da Fonseca assinala, com razão, que existem diferenças entre a Europa e a América e que nos deveríamos preocupar mais com a debater a primeira do que a segunda.

Também acho.

Em Portugal, pelo menos, já chega meia década de obsessão com a acusação de "anti-americanismo" a quem assume as diferenças (será necessário dizer, óbvias e naturais?) entre a Europa e os Estados Unidos
.

sábado, março 10, 2007 

Omoletes sem ovos

Há dias atrás assisti a uma reunião organizada por um organismo camarário para debater a requalificação de uma rua de Lisboa.
A rua em questão, a Possidónio da Silva, fica perto do Casal Ventoso e quase que não é preciso dizer mais nada. Tem um património arquitectónico e urbano interessantíssimo mas em degradação acelerada.
A pessoa que dirigiu a reunião, uma Directora Municipal, explicou com a maior simpatia que a câmara pretende requalificar a zona com a ajuda dos proprietários, género "vamos dar as mãos", "com a ajuda de todos".
Para já, tratava-se de um primeiro contacto. "Dar um rosto" à Câmara e incentivar os proprietários a aderirem a um movimento de mudança.
Claro que não sendo esta sensibilização suficiente, se seguirão em breve as formalidades administrativas inadiáveis, começando pelas intimações para obras coercivas.
O discurso foi breve e terminou um pouco a seco porque para além de uma meritória listagem de apoios financeiros a que os proprietários podem recorrer com apoio camarário para fazerem as suas obras, se tornou claro que nada havia a propor de concreto para além da distribuição de contactos directos e a marcação de vistorias aos locais.
A Directora Municipal lamentou ter criado talvez falsas expectativas, houve pessoas que vieram de Coimbra o que a "sensibilizou", mas não tinha muito para oferecer senão o seu empenho e a dedicação de toda uma "equipa fantástica" .
Os proprietários reagiram com surpreendente urbanidade.
A rua é um cancro de toxicodependentes que inviabiliza qualquer espécie de tentativa de rentabilização dos espaços, explicaram, é impossível ter uma loja aberta, atrair inquilinos novos, e os antigos acumulam-se em habitações minúsculas e degradadas que nalguns casos ampliaram clandestinamente para minorar as carências sanitárias mais básicas, pagando rendas da ordem de grandeza dos cinco euros.
O Presidente da Junta de Freguesia dos Prazeres, lançou um apelo à acção e uma linha estratégica para lidar com o problema da toxicodendência. Era necessário "movimento", obras na rua com simultaneidade de forma a ocupá-la com actividades normais de trabalho.
Isto, por si, alteraria o panorama e desencorajaria os toxicodependentes que pouco a pouco procurariam outras zonas da cidade onde se sentiriam mais à vontade...
Um proprietário que não tinha ar de militante do Bloco teve o bom senso de dizer que talvez fosse melhor "deixar-lhes um sítio para eles estarem à vontade", uma vez que pura e simplesmente escorraçados iriam criar o mesmo problema noutras zonas da cidade.
Foi surpreendente ouvir dizer isto na presença de um político e de técnicos com obrigação de terem uma noção global dos problemas da cidade, da boca de um elemento de um grupo social pouco notado pela sua preocupação com os problemas dos outros desde que se resolva o seu.
Mas o climax da reunião chegou quando as pessoas debateram quais os edifícios mais degradados e com maiores aptidões para servirem de "ninho" aos marginais que enxameiam a rua.
Como era de esperar, são património municipal e não se prevê que sejam alvo de intimações para obras corecivas.
A resposta da Directora Municpal foi honesta e revelou a sua total incapacidade para lidar com problemas que aparentemente a ultrapassam.
O que se passou foi assim uma iniciativa desgarrada que não tem aparentemente qualquer suporte no resto da estrutura camarária, é um fogacho de boa vontade que não dará em nada e terá até efeitos potencialmente desmobilizadores.
Não pode atacar-se uma iniciativa que por todos os poros transpirava boa vontade e espírito de missão.
Mas não será possível haver na Câmara de Lisboa, com tantos departamentos e com tanta gente qualificada e com dedicação, um mínimo de coordenação para atacar casos como estes numa perspectiva técnica e politicamente sustentada?
Ou tal só acontecerá quando um empresário com vistas largas congemine um plano para arrasar todo o local e "requalificá-lo" com um Programa faraónico?

 

Saulo, porque me abandonas

É inacreditável, basta dizer isto.
Só depois de se passar por lá se acredita no estado em que se encontra há meses, largos meses, o pavimento em quase toda a extensão da rua de São Paulo, uma rua do centro da cidade.
Não dou para grandes peditórios sobre o que a Câmara faz "ao nosso dinheiro", etc., mas atravessando esta rua zonas de construção pombalina, nas imediações de instituições ligadas à cidade ( a Ordem dos Arquitectos, organismos camarários...) como é possível ter-se chegado a este total abandono da mais simples operação de manutenção?

terça-feira, março 06, 2007 

Transformismo

Ainda não assentou o pó do referendo e já "a luta continua".
Numa hábil pirueta argumentativa, os defensores do "não" mostram-se agora genuinamente preocupados com o sentir dos votantes na opção oposta.
Os votantes no "sim", descobriram agora os derrotados de 11 de Fevereiro, "votaram enganados".
Já tinhamos a teoria da abstenção como o "verdadeiro voto autónomo".
Temos agora a teoria do "voto equivocado" que há que ajudar a esclarecer.
Por quem? Pelos apoiantes do "não"... sempre a mesma vocação de apostolado.
Que tal um novo referendo sobre um assunto "que não interessa a ninguém" e não passa de uma "questão fracturante" destinada a desviar as pessoas dos "verdadeiros problemas nacionais"?
Sobre as manobras em curso na Assembleia sob a orientação da direcção da bancada parlamentar do PSD, ler este texto e este.

domingo, março 04, 2007 

Equívoco

Uma manifestação de fascistóides em Santa Combadão a propósito da intenção de alguns personagens de fazer um Museu de homenagem a Salazar (apenas por uma questão de "objectividade histórica"), veio mostrar a "inocência" deste tipo de iniciativas.
Segundo referia o Público, terão faltado à festa algumas organizações de extrema direita que se receava viessem a comparecer.
Não me admira que muitos nazis tenham faltado: é que a campanha que tem sido feita nos media para demonstrar que afinal Salazar era um mero "católico conservador e autoritário" mas lá bem no fundo um democrata "que morreu pobre", acabou por lançar a confusão.

 

Espinha

Uma plêiade de "opinion makers" está indignada com a "blindagem" dos estatutos da PT.
"Não se deixou o mercado funcionar", uma frase que deve fazer luz nas mais recônditas serranias de Norte a Sul do País.
Daí aos trocadilhos óbvios sobre a "blindagem" do País era quase inevitável.
Mas o Estado, de acordo com as cândidas palavras do Ministro Lino, ao abster-se na votação, manteve-se neutral, pronto para o que desse ou viesse, inclusivamente para que o mercado funcionasse...
Então qual é o problema?
É que afinal se descobriu que a abstenção não é uma forma de neutralidade, uma posição autónoma acima mesmo do voto expresso.
Foi preciso este ilustrativo caso para todos perceberem de trombas que a "neutralidade" e a "abstenção" não fogem à lógica de uma votação.
Foi bem, foi mal... o futuro o dirá, mas o que se passou é sem dúvida uma achega para a teoria do Portugal plural do Rui Ramos.
É que há 100 anos, a populaça idealizava um Zé do Telhado que alegadamente "roubava aos ricos para dar aos pobres". No século em que entrámos há dias, o 21, divide-se no aplauso a personagens do tipo Joe Berardo ou Belmiro de Azevedo.

 

Chocos com tinta

O detestado politicamente correcto dá jeito a muita gente e o editorial de ontem de José Manuel Fernandes no Público é disso uma prova.
Nesse texto, JMF fez uma defesa apaixonada das posições do seu patrão no epísódio da OPA da Sonaecom à PT, ao qual acrecentou em itálico uma "declaração de interesses", também em tom empolgado.
Ainda que nos questionemos da probabilidade de ele ser director do jornal se assumisse de forma repetida e consistente posições políticas e ideológicas que directa ou indirectamente ferissem os interesses do dono, seria um erro e grave admitir que o que Fernandes escreveu ontem foi um mero "trabalhinho" do tipo frete ao patrão .
É que já é dado adquirido da nossa "concepção de democracia" a promiscuidade política-dinheiro-media, e dada a trajectória política do jornalista, seria um absurdo pensar que elogiar entusiasticamente uma operação financeira do patrão viola a sua consciência.
Pelo contrário, ele vê na actuação do patrão, com toda a independência, a prossecução dos seus legítimos interesses ideológicos. Uma quadratura do círculo.
Na mesma edição do jornal e também "com toda a independência", assistimos ao entusiasmo de Eduardo Cintra Torres pelo despedimento recente da Direcção do Diário de Notícias pelo dono desse jornal.
Resulta disto que a "declaração de interesses" é um mero formalismo que procura erigir-se em grande exemplo de honestidade ao "expor" aquilo que toda a gente sabe, como se fosse possível esperar dele outra posição sobre o tema.
Não passa da tentativa de obter um crédito para utilizar noutra ocasião.
A prova que assim é está logo no texto do Editorial:
José Manuel Fernandes digna-se criticar um determinado aspecto da actuação do Ministro Lino como um resquício da "contaminação leninista" ocorrida no passado do Ministro (ao que parece foi do PC) .
Aqui sim, não foi sério. Ao criticar o "leninismo" do outro, deveria ter referido que o leninismo, o estalinismo e o maoísmo também fazem parte do seu passado.
E sabe-se lá com que efeitos nalgumas das posições ideológicas que tem defendido nos últimos anos.
* Atenção que eu estou-me nas tintas para o Ministro Lino e o resultado da OPA, bem como não tomo posição sobre o julgamento que Fernandes faz da actuação do Ministro em detalhes de um jogo de monopólio que interessa a uma minoria de pessoas .

 

Ligações perigosas

Feito de espinhos, as formas estranhas modeladas pelo vento constante fas falésias que ajuda a consolidar conferem-lhe um aspecto pouco amistoso e dá pelo nome arrogante de Ulex welwitschianus.
É uma das plantas que acho mais bonitas.

Selvagem, não dá para levar para casa.

quinta-feira, março 01, 2007 

Transfer

Até há bem pouco tempo era vulgar ouvir-se dizer a propósito de um qualquer "drama humano":
"A culpa é da droga".
Hoje de manhã ouvi no RCP uma notícia sobre um relatório sobre as drogas de um organismo da ONU qualquer, em que se dizia:
"A culpa é da Internet".

 

nomes, bois, sapos, crises

Não se entende porque é que uma simples conferência de imprensa de Paulo Portas que terá, quando muito, implicações na vida interna de um partido minoritário, é anunciada como uma "comunicação ao País".
Por outro lado, a Direcção do PP, pela voz de Anacoreta Correia, diz o que é vulgar nos momentos que antecedem as convulsões:
"Vamos aguardar com calma"...

 

Casas sim, barracas não

No Papagaio Morto, quem diria, uma imagem interessante da Lisboa de "outras eras".
As barracas, as habitações degradadas, a falta de saneamento, são temas normalmente omissos nos registos fotográficos que ilustram as descrições saudosistas da Lisboa dos "bons velhos tempos", "aquilo é que era...", um bilhete postal.