domingo, abril 30, 2006 

A Princesa Activex

A Princesa Activex é terna e sensata.
Falou-me ao ouvido e amainou as tempestades tenebrosas que varriam o meu coração.
Ao almoço, com segredos e promessas, convenceu-me a manter para já o Internet Explorer 6.
Depois se verá, disse-me com persuasão, a sua mão esquerda adornada com magníficos anéis em metais raros suavemente pousada num meu antebraço ( até esqueci qual era), temos tanto tempo à nossa frente...
Parece que depois deste sucesso se fala nela em certos círculos para substituir Condy, outra extra terrestre ( de uma província de Marte), nas negociações com os alienígenas iranianos .
Auguro-lhe os maiores sucessos.

 

À beira de um ataque de fúria

Como sou um sujeito muito preguiçoso, tenho uma certa tendência para ir suportando as inovações da Microsoft sem grandes esperneadelas, até porque, como leigo que sou em informática, já percebi que quando me meto em "inovações" supostamente muito "abertas", e xpto, banais para os especialistas e outros missionários, acabo sempre entalado; nada é a maravilha que os meus amigos entendidos apregoam e o resultado são invariavelmente sistemas crashados, custos em equipamento que nunca consigo colocar em estado de funcionamento, etc...
No entanto, esta última brincadeira da Microsoft com o sistema de Activex, que na prática me fechou a porta de acesso a alguns dos blogs que costumo visitar, está já a testar os meus nervos.
Já tentei seguir o link amavelmente disponibilizado no cocanha para instalar uma suposta solução do problema mas provavelmente a única solução é mudar de vez de browser para acabar com esta chatice.

 

Quem não tem cão caça com gato

Os defensores da central nuclear proposta por Patrick Monteiro de Barros (1) adiantam que querem ver o país "discutir" (ler: adoptar sem mais delongas) a opção nuclear, por preocupações com a nossa dependência do consumo de combustíveis sólidos, um recurso que está em vias de desaparecimento, e com as emissões de CO2 que tão caro nos custarão no âmbito dos protocolos de Quioto.
Ora, segundo o Público de hoje, a
" Nova refinaria de Sines vai emitir seis milhões de toneladas de carbono
A refinaria que o empresário Patrick Monteiro de Barros e outros investidores pretendem construir em Sines vai emitir seis milhões de toneladas de dióxido de carbono por ano, constituindo uma das instalações industriais do país com maior contribuição unitária para o aquecimento global. Este número foi confirmado ontem ao PÚBLICO pelo secretário de Estado do Ambiente, Humberto Rosa, e é avançado também pela associação ambientalista Quercus."
Afinal, se os combustíveis sólidos vão acabar, ou se pelo menos é consensual em todo o mundo (até na China) ser imperioso reduzir drasticamente a dependência deles, para que é a refinaria?
Para que servem instalações para alimentar uma "fileira" quando em simultâneo se pretendem construir outras cujo alegado objectivo é acabar com ele?
E as emissões? Afinal a preocupação com o problema das "emissões", é real ou é marketing?
O Sr. Patrick está preocupado com problemas energéticos e aliviar a nossa dependência ou quer apenas construir alguma coisa muito grande, dispendiosa, perigosa, poluente e indesejável?
Na minha opinião, e mesmo assim atendendo à crise em que nos encontramos, o Governo português, a colocar esta hipótese "na agenda", parafraseando o André Carvalho, terá de tomar uma atitude muito diferente daquela que foi tomada por outros governos face ao investimento estrangeiro em períodos recentes .
Não há cá "benefícios", pelo contrário, só se deverá admitir a construção da refinaria com contrapartidas muito claras de que possam beneficiar de forma visível e directa todos os portugueses, como os preços de venda ao público dos produtos produzidos.
(1) Imagem tirada de Indymedia.org

 

Na mouche

A crónica de Rui Tavares publicada ontem no Público e intitulada :

Socorro: somos todos privilegiados
Um dos aspectos mais proeminentes do discurso político contemporâneo é que as castas dominantes, que não perfazem juntas mais do que um por cento da população, têm por hábito chamar privilegiados à maior parte dos restantes 99 por cento
é um tiro em cheio no alvo que dá gosto ler.

 

Ao alcance de "pessoas comuns"

Para quê tantos filósofos e pensadores, leituras complexas da Bíblia e de outros códigos, se o lenitivo para tanta má digestão por incapacidade de aceitação do contraditório, gargantas secas/mau hálito de ânsia de protagonismo, tempestades de bílis por excesso de competição na demarcação de territórios, ressacas, azias mentais adquiridas na antevisão de esquemas para enquadrar as reacções de presumíveis adversários, inflamações crónicas do ego, septicémias por falta de arejamento intelectual e psoríases por ausência da capacidade de "intervalar" um bocado sob pena de perca de estatuto, pode ser encontrado numa vulgar letra de rock?
Que por um momento a banda sonora favorita desta gente deixe de ser
(...) He has no friends
But he gets a lot of mail
I'll bet he spent a little
Time in jail...
I heard he was up on the
Roof last night
Signaling with a flashlight
And what's that tune he's
Always whistling...
What's he building in there?
What's he building in there?

We have a right to know... (1)
e ganhe um pouco de modéstia e brilho
(...) I ain’t lookin’ to compete with you
Beat or cheat or mistreat you
Simplify you, classify you
Deny, defy, or crucify you
All I really want to do
Is baby be friends with you (2)


(1) Tom Waits, 1999, Mule Variations, What's he building?

(2) Bob Dylan, 1964, Another side of Bob Dylan, All I really want to do, a ouvir preferencialmente na versão dos Byrds, 1965, Mister Tambourine Man

sábado, abril 29, 2006 

Curso de escutismo

Terá algum interesse a caracterização dO fenómeno blogosférico de uma forma séria por sociólogos, políticos e investidores .
Se para a maioria dos utilizadores é um simples exercício de liberdade e de convivencialidade, para certas áreas do conhecimento será um laboratório, um computador com uma enorme capacidade de processamento capaz de modelar num espaço de tempo muito curto múltiplas interacções entre um número muito elevado de agentes, com implicações no estudo da dinâmica das práticas sociais, das novas formas de difusão de informação, na criação de opinião e forja de consensos ou fracturas políticas e na prefiguração de novos modelos de negócio.
Agora, santa paciência, as pretensões ridículas de "identificação" a martelo de "regras" de funcionamento, a tentativa de estratificação de utilizadores recriando uma espécie de "pirâmide social" ( que se nega na "vida real") com os bloggers em cima, depois os comentadores, e na base os comentadores anónimos, que chega ao limite da mesquinhez de se arrebanharem nomes ou nicks conhecidos (dois deles de comentadoras e amigas do Bidão) para os escarrapachar nas páginas de um jornal e apontá-los a dedo como modelos de práticas supostamente desviantes, são de uma indigência intelectual que excede o inevitável "paroquialismo" inerente às charangas dos bailes dos bombeiros. Os delírios umbiguistas de um personagem desaguando na versão Alcabideche de Jihad vs. McWorld.
São quando muito tentativas típicas, apesar de irrisórias, de marcar território, de condicionar o meio, mas não lembram mais do que brincadeiras de princípio de adolescência e temas, esquemas, preocupações e intrigas de um chefe de escuteiros transtornado.
O espectáculo torna-se contudo ainda mais degradante quando uma plêiade de capelistas acorre logo transbordante de sensatez, a apoiar e justificar, com protestos atentos, veneradores e obrigados, biquinhos dos pés em uníssono como num rancho folclórico, "ó tio, olhe que eu não pertenço a esta manada, o meu estatuto é outrinho".
A triste conclusão, talvez dê mesmo mais uma "regrinha":
Carneirada com acesso de banda larga continua a ser carneirada.

 

O regresso dos Goliardos

Esta semana marcará o regresso dos Goliardos. Ainda tenho no palato as maravilhas do primeiro encontro.
Não, não se discutiram blogs, foi mais:
Château le Cluzeau Entre deux Mers
Domaine Navarre, Le Laouzil 2004
Colares Carunchosa
e outras pérolas desconhecidas do senhor Mondavi e do senhor Michel Roland.

quinta-feira, abril 27, 2006 

Quem dá mais?

Na mesma estante da FNAC em que se encontra em promoção "The End of Poverty" que aqui referi, encontra-se agora "The End of Oil".
O primeiro é uma promessa de encontrar na Terra o paraíso celeste. O segundo, a crónica da catástrofe eminente.
É à escolha. Podes comprar.

 

A maneira certa

Um paradoxo que tenho dificuldade em entender:
Muitos dos que apontam minuciosamente os "erros" do 25 de Abril, que se arrepiam perante os "perigos totalitários" que nos ameaçaram e que lamentam as tragédias humanas e materiais que a revolução provocou, são precisamente os mesmos que acham que o que designam como o "processo de transição do Iraque para a democracia", tem "valido a pena".

quarta-feira, abril 26, 2006 

Choque de civilizações

"Look! The rising sun!"
O japonês acordou estremunhado sem perceber bem o entusiasmo do seu companheiro de compartimento de comboio.
Acordar aos berros de madrugada apenas porque o sol começava a brilhar no horizonte! Bah!
"Do you know Yukio Mishima?"
O japonês olhou o português com um ar desconfiado, e este sentiu-se na obrigação de insistir...
"Mishima, man, you know... he wrote a fantastic tetralogy, The Sea of Fertility, he wrote The Temple of the Golden Pavillion, Sun and Steel, The Confessions of a Mask..."
O japonês endireitou-se um pouco na cadeira, contrafeito, mas o português insistiu com o entusiasmo inabalável dos inconvenientes compulsivos:
"Don't you know Yukio Mishima, the great japanese writer?"
O japonês balbuciou:
"Mishima... m...militar."
E concluiu a conversa virando-se ostensivamente para o lado.

 

Informações do trânsito

Na manifestação do 25 de Abril, um fragmento de discurso reinvindicativo numa voz de mulher ampliada por um megafone:
"O custo de vida continua a aumentar...".
Uma constatação repetida desde há décadas, como um tique.
Deixou de ser um assunto significante ou mesmo polémico para se tornar numa espécie de informação do trânsito...
"Trânsito muito complicado na IC19"...
A contestação já não está ali, crescerá silenciosa em bairros periféricos e rebentará um dia destes, como nos subúrbios franceses, nihilista, sem qualquer espécie de enquadramento "político" convencional.

terça-feira, abril 25, 2006 

Apesar de quê?

"Apesar de tudo..." é o intrigante título de um post do Geração Rasca sobre o 25 de Abril.
Soa-me como uma inversão de perspectiva, já que o 25 de Abril é um momento fantástico que dispensa agradecimentos... apesar de, isso sim, "alguma coisinha".
Agradecer "O", ou "AO" 25 de Abril "apesar de tudo", é assim como fazer um favor a custo, uma condescendência que é fruto da nossa porventura excessiva benevolência.
Algo que a nossa afectividade deseja mas que a custo convence a nossa razão .
O recurso a uma das imagens mais lamechas repetitivas e miserabilistas do 25 de Abril talvez não seja casual e talvez justifique o equívoco.
O menino a colocar o cravo na espingarda. Uma imagem encenada à medida do gosto mais piroso de uma certa sensibilidade revolucionária impregnada de pimba até ao tutano.
Chegámos aqui, diz a imagem. E a partir daqui, o menino, o soldado, e porventura a princesa ou operária que ficou a lavar pratos na cozinha continuarão felizes para sempre, provavelmente com muitos filhinhos.
A "inocência" fecunda a arma com a flor.
Esta imagem é a negação do 25 de Abril. É de um gosto estético caduco e propõe um final da história absurdo.

É que o 25 de Abril foi uma solução de continuidade na nossa história.
Um momento de corte.
Um momento de delírio colectivo único, que, arrisco-me a dizê-lo, empolgou intensamente muitos dos que agora mandam altas postas de pescada sobre "os erros"...
Não há aqui obrigados ou não obrigados, desculpas, justificações ou contas a fazer.
Aconteceu a uma geração de privilegiados.
O 25 de Abril abriu uma folha em branco. Para que todos começassemos a escrever.
Colectivamente, como povo.
E é isso que interessa reter e saudar.
Soubemos aproveitar? Não soubemos aproveitar?
Aquilo que criámos ou deixámos para trás ou de fora está aí à vista.
Muitas coisas excelentes, muitas trapalhadas. Como em qualquer vida vivida em liberdade.
Podemos aprender ou não com os erros, mas não são autorizadas reticências, recriminações ou lamúrias das diversas facções de "traídos" por "este" ou "aquele" 25 de Abril.

 

Museu vivo

Já se sabe que Berardo ocupou o CCB.
Mas Calder tem exposição permanente na foz do rio. E em vez de custar dinheiro ao estado, dá lucro.

 

O trigo do joio

Quem circule pelos subúrbios de Lisboa e da generalidade das cidades do país, apercebe-se de que ao contrário do que é a percepção comum, a grande revolução urbana que se produziu em Portugal nos últimos anos foi de cariz ultra-liberal.
O Estado volatilizou-se.
Cada um fez o que quiz, quando e como lhe deu na cabeça.
O facto de também alguns ultra-liberais se queixarem desta desgraça, não se deve ao conteúdo dessa revolução, mas sim aos seus protagonistas. Tem apenas a ver com os personagens que os ultra-liberais consideram que têem ou não têem direito à ultra-liberdade.

 

O Paraíso na terra

Quando oiço algumas pessoas a lamentarem a "ilusões perdidas" do 25 de Abril, fico um bocado perplexo a pensar no que é que as pessoas dessa época estariam à espera do que seria o seu futuro .
- Todos a trabalharem no campo a ceifarem searas vermelhas numa Unidade Colectiva de Produção?
- Todos de Volga de vidros fumados a orientarem os camaradas que ceifavam searas vermelhas numa Unidade Colectiva de Produção?
- Eternamente jovens (objectivo quase atingido por muitas)?
- Todos de Mercedes e casa de campo (objectivo atingido por não poucos)?
e fico algo temeroso se tudo isto não foi (não é) um enorme equívoco.

 

Crocodilos

Quando os presidentes e altos gestores dos bancos aparecem em público a queixarem-se da "Constituição", da falta de "flexibilidade das leis do trabalho", da nossa "falta de produtividade" e de "falta de competividade" deveria esfregar-se-lhes nos focinhos aqueles boletins que anunciam os seus regulares aumentos de lucros.
Para alguns idiotas isto deve-se a eficácia e "esforço de modernização".
Será tudo isso mais as taxas abusivamente extorquidas aos clientes, os horários de trabalho extra não pago abusivamente exigido aos trabalhadores.

 

Sentido único

Para o PCP a realidade não conhece altos e baixos.
É sempre tudo de sentido único.
Desde o 25 de Abril que se assiste a "uma cada vez mais generalizada" "ofensiva da direita".
Os trabalhadores, estão, eles próprios, "cada vez mais" organizados e conscientes, entendendo-se como "organizados e conscientes" como mais próximos do PCP.
Em vez de nos aproximarmos "cada vez mais" da Europa ( contra os perigos de cuja integração o PCP incansavel e ajuizadamente alertou com vigor), afastamo-nos "cada vez mais".
O que é bizarro, visto que esses países europeus que servem de referência não são, nunca foram, é sabido, governados por comunistas.

 

Cadê os famosos?

Descrevendo a chegada de Cavaco ao Parlamento, uma repórter televisiva referiu que numa determinada zona apenas se encontravam "pessoas comuns".

 

Palavras de luxo

Uma palavra que não pode faltar no discurso mais modesto...
Algo que foi"plasmado" noutra coisa qualquer...

 

25 de Abril Viva

"Comemorando" o 25 de Abril, discursa neste momento Telmo Correia.
É o problema do comunismo, das "ocupações selvagens", dos "atentados à propriedade privada", da perda das colónias, do terrorismo de extrema esquerda amais o fundamentalismo islâmico, a exigência da comemoração do 25 de Novembro ( e já agora porque não o 28 de Setembro e o 11 de Março do ponto de vista dos vencidos?), a necessidade de condecorar Jaime Neves, a necessidade de recompensar os retornados das ex-colónias...
Um bom discurso que deveria ter sido feito na Assembleia Nacional se os deputados da União Nacional de então não tivessem fugido.
Chega-nos agora, felizmente, trinta e dois anos depois, graças à democracia.

segunda-feira, abril 17, 2006 

Pedagogia perversa

A invasão do Iraque teve o mérito duvidoso de ensinar duas coisas ao mundo :
1- Sim, é possível resistir ao ocupante, apesar da esmagadora superioridade militar deste, em particular no que diz respeito aos meios aéreos.
Ou seja, o mundo pode ser "plano", "virtual", "global" o que os "gurus" que vendem memes aos pacotes às crianças quiserem, mas, quer queiram quer não queiram há (ainda) territórios a ocupar e administrar, matérias primas a explorar e a transformar, pessoas com quem tem de se contar, e aí...
2- A melhor defesa é ainda um bom guarda chuva nuclear. Olhem a Coreia do Norte e o Saddam... entre um regime e o outro, venha o diabo e escolha, ou melhor, se tivermos de escolher, em caso de desespero que o panorama está para estes dilemas desesperados , o Iraque de Saddam talvez fosse preferível apesar de tudo, e no entanto... o Iraque é que foi o alvo escolhido.
Em primeiro lugar pelo petróleo, em segundo lugar porque não estava em condições de... "dialogar ao mais alto nível".
Olha lá se o Paquistão, segundo tudo indica com uma estrutura militar e de serviços de informações enterrada até ao pescoço nas manigâncias dos taliban e da Al-Qaeda, foi ameaçado a sério?

Os iranianos, mais uma potência militar ( que para variar e para chatear – desculpem lá mas é assim...) armada e treinada pelos EUA nos bons tempos do Xá e da Guerra Fria, depressa concluiram o óbvio:
Muita palheta sobre Direitos Humanos, ONU, Convenção de Genebra e não sei mais quê, mas ou há "argumentos" para mostrar na mesa ou o resultado é a humilhação permanente.

Para além dos delírios provocatórios do seu presidente não lhe restam assim neste momento grandes opções se pretender manter o estatuto de potência militar e regional:
Ou a fuga para a frente para obter os tais "argumentos", ou submeter-se sem luta e ficar sujeito aos caprichos de uma qualquer clique de líderes irresponsáveis como as seitas do Bush e do Blair.
O resultado é que a América, de arrogância em arrogância, de paranóia em paranóia imperialista vai acabar por ter a WWIII que tantos andam a pregar com tanto entusiasmo há algum tempo.
E nós? Nós vamos apanhar por tabela.

 

Deriva fractal

Uma deriva ao calhas pela blogosfera, levou-me a um beco cujo endereço aqui deixo à atenção de quem que andava com saudades da Formiga de Langton.

domingo, abril 16, 2006 

Equívoco ambulante

O slogan
"Não conduza em estados alterados"
da campanha "Cortesia ao volante" ignora que
"Conduzir induz um estado alterado"

 

É um prazer negociar consigo...

Na Prospect, uma pequena "anedota" sobre o "estilo" Berlusconi.
Um mãos largas...

 

Presciência

As imagens ao lado são fragmentos de uma reportagem de Remi Fravret (infelizmente já desaparecido) publicada na revista francesa Actuel em Maio de 1988 e intitulada "Chic! On va se tuer entre nous".
O artigo documentava a retirada dos russos do Afeganistão e o prelúdio de uma guerra civil que apenas terminaria com a chegada dos taliban.
Afastados os taliban, vários dos chefes de guerra protagonistas do artigo voltaram à ribalta e reconstituíram os seus feudos como é o caso do notório fundamentalista Ismail Khan, o senhor de Herat.
Para a história e para ilustração dos histéricos da War on Terror, fica a frase de Favret, um jornalista francês, treze anos antes do 11 de Setembro:
"Quel analyste fou a donc poussé Washington à soutenir les plus anti-Occidentaux des partis afghans?"

sexta-feira, abril 14, 2006 

Do outro lado

No Brasil o rapper MVBill e o produtor Celso Athayde filmaram noventa horas de documentário em zonas "problemáticas" durante seis anos e por todo o país.
Desse trabalho nasceram uma longa metragem e um livro com o nome "Falcão:Meninos do Tráfico" que já folheei mas ainda não consegui ler na íntegra.
Os protagonistas são os miúdos recrutados como vigias armados dos gangs .
Em resumo, trata-se de acompanhar o quotidiano de 17 jovens adolescentes, dos quais apenas um, Falcão, que dá o nome ao livro, é (era pelo menos há umas duas semanas) vivo.
É uma realidade brutal de que ignoramos (felizmente) referências, ali não há tempo para "aforismos".
Um trabalho feito nos limites, e que já começou a chamuscar os próprios autores.

 

Louva-Deus

Vítima de uma certa obsessão pela informação, resta-me pouco tempo para leituras de ficção mais assumida.
De entre os escritores que vou lendo, realço a cruel A.S. Byatt.
Mais concretamente desde de que malfadadamente passei do limiar das primeiras páginas do seu Possession que viria mais tarde a dar num filmeco mediano.
Com o seu ar insuspeito de Simone Signoret anglo-saxónica, a Antonia faz-me passar sem desgrudar da leitura por altos e baixos emocionais até atingir o climax final... julgo eu. Quando a respiração começa a voltar ao normal, na última página dos seus livros esconde-se sempre traiçoeira e dolorosa uma última estocada; muito simples, uma imagem, um parágrafo perverso e irremediável que me abala durante semanas.
O último encontro fatídico que tive com esta senhora foi através do conto "Raw Material" (Matéria Bruta), traduzido por Luísa Costa Gomes e publicado no número 12 da revista Ficções.
Na minha modesta opinião é uma pequena obra prima onde não falta o ingrediente da crueldade final.
Byatt domina o assunto sobre o qual quer escrever a seu bel prazer, ela sabe que é uma escritora poderosa para quem não parece haver limites para a capacidade de evocar e de dar vida ao assunto mais banal.
E isto de uma forma objectiva, corrida, fluente, sem os gongorismos intragáveis habituais na literatura portuguesa que atingem os píncaros do insuportável nos "aforismos" ilegíveis, pretensiosos e irrelevantes de uma Agustina Bessa Luís, por exemplo, que me fazem suspeitar ter Cioran escrito "Sur les cimes du desespoir" a pensar na massa amorfa da esmagadora maioria do que se escreve e publica em Portugal.
Como nota final, apenas que seria impossível ficar com esta impressão tão forte deste conto da malévola Antónia Susana sem uma tradução genial à altura.
Luísa Costa Gomes é a culpada.
Brilhante.
Eu diria que esta tradução é uma obra prima à altura do original. Assim vale a pena.
E pronto, esgotei a minha quota de elogios para os próximos meses...

 

Só vantagens

Aquando da recente tentativa de promoção de um investimento numa central nuclear, a Ordem dos Engenheiros, na tentativa louvável de proporcionar um leque o mais alargado possível de opiniões, procurou, procurou, procurou e encontrou um grupo de ecologistas adeptos do nuclear.
Só vantagens nessa solução, defende essa rapaziada amiga do ambiente, até porque a haver problemas quem se dana mais são os humanos, a bicharada parece que papa radiações ao pequeno almoço, é mais gray menos gray sabe tudo a Corn Flakes.
Então na gigantesca reserva natural criada ad hoc pela simpes eclosão de Chernobyl não é um fartar de vida viçando por todos os bosques de árvores mutantes mas livres da presença humana?
Claro que os animais não são totalmente indiferentes à radiação.
Entre os animais domésticos registou-se nos anos seguintes à catástrofe um grande aumento de nascimentos com malformações mas ao que parece, as mutações até são para melhor como neste caso de um potro com oito pernas nascido na região em 1990 fotografado por Igor Kostin.
Oitos pernas, estás a ver... sempre é melhor do que quatro...

 

Aviso à navegação

Ainda no mesmo artigo, "A spymaster's story", o Economist descreve num tom untuoso "The British-born Mr Halevy" como um " soft-spoken man with the manners of an Oxford don such as his late uncle Sir Isaiah Berlin." mas "Nonetheless, as befits an Israeli spymaster, he has a hawkish attitude to the war on terrorism, which he characterises as a third world war. He argues that Western governments should exploit the short period of shock that follows terrorist outrages to ram through the draconian policies the public refuses to accept in between attacks."
Esta passagem é de gelar: o nosso "soft spoken" espião propõe que os governos aproveitem o choque provocado por atentados terroristas para imporem as medidas draconianas que o público rejeita em períodos normais.
Aposto que se se tornar decisivo para resolver algum dos seus problemas o Mossad não se importará de dar uma mãozinha para criar as condições que ajudem os governos recalcitrantes a tomarem as tais medidas "necessárias".

 

Trabalhar de borla

O caso que motivou Karl Marx a escrever "Herr Vogt" é um antecedente histórico emblemático de um fenómeno recorrente na actualidade:
opinion makers, bloggers e jornalistas que só por uma grande estupidez da sua parte não estão no "pay roll" de certas organizações de espiões.
Outros certamente que o estarão.
O servilismo mascarado com uma pose de arrogância e erudição de vendedores de máquinas de lavar roupa com que repetem argumentos nauseabundos embrulhados em protestos de "independência" e objectividade baseadas "rigorosamente" em "factos" apresentam a sua verdadeira face quando, normalmente passado algum tempo, se começam a conhecer os meandros de determinados "factos políticos".
Vem isto a propósito de um artigo do Economist sobre um livro recentemente publicado por um antigo dirigente do Mossad.
Entre outras histórias, conta-se a do lançamento por essa organização da ideia do "Arafat impróprio para consumo", "sem credibilidade", "incapaz de representar os palestinianos" e a precisar de ser substituído por um dirigente mais capaz.
Eis uma interessante passagem do artigo :
"In 2000, Bill Clinton's attempts to broker a peace deal at Camp David failed. The incoming administration of George Bush had no strong interest in this conflict (and even fewer ideas) about what to do. But the Mossad chief began to pick up an unusual message from his friends in Washington. They wanted Israel under Ariel Sharon to come up with a policy that Israel and America could pursue jointly, provided the Israeli ideas did not serve Israel's interests alone, but also America's.
In 2002 a spate of Palestinian suicide-bombings prompted Israel to reconquer the West Bank. But the Israelis had no clear notion of what to do next. So Mossad stepped into the vacuum and produced one: “regime change” for the Palestinian Authority. The spies drafted a plan under which Yasser Arafat would be marginalised and a Palestinian prime minister would take over his executive power. This was intended to produce a credible Palestinian partner for Israel, who might go on to rule a Palestinian state in provisional borders.
Mr Halevy took this plan to foreign capitals where it was received with enthusiasm. It paved the way for the policy-changing speech of June 2002 in which Mr Bush called for the Palestinians to give up on Arafat. The Economist said at the time that the speech could have been written by Mr Sharon. It seems that its main ideas were indeed invented by Mossad. The worldwide acceptance of Israel's argument that Arafat's leadership had failed—and the enlistment of the Americans, Europeans, Russians, Egypt and even Saudi Arabia in attempts to circumvent him—was an Israeli intelligence coup of the first order.
"
Em resumo, o estupendo bastião do jornalismo que é o Economist, indefectível apoiante da barbárie desde que seja praticada pelos israelitas, achou boa a ideia de correr com o Arafat apesar de o discurso do Bush "parecer" ter sido escrito pelo Sharon.
Agora reconhece, sem qualquer sombra de problema de consciência aliás, que foi uma orquestração do Mossad.
Mas para as correias de transmissão que nas colunas de opinião e nos blogs papaguearam durante meses entusiasticamente esta teoria, quem tivesse dito que Bush estava a fazer um frete ao ocupante israelita era "anti-americano".
Isto claro, são factos passados... mais para a frente saber-se-ão mais aventuras dignificantes da boa colaboração entre israel e os americanos no presente para edificação dos seus diligentes propagandistas.
Conhecer estes factos é no entanto pouco mais do que curiosidade diletante.
Um pouco de bom senso indica-nos que não podemos esperar que do "antes" os tais propagandistas (falo dos ingénuos, porque os funcionários a soldo têem o seu papel a desempenhar como bons profissionais) tirem as devidas ilações para analisarem o "agora" ou o "depois".

 

O melhor do prédio

Numa busca pelo Google, descobri por acaso este serviço que dá informações sobre blogs.
Por uma qualquer obscura razão, o Bidão é "relacionado" com os seguintes blogs de que eu nunca tinha ouvido falar:
"Related blogs:
Inépcia falaz
Abatá Afefê
Monstruosidades do Tempo e da Fortuna
Ameal-Coimbra
La Double Vie de Veronique
Portugal 1143 (Link inactivo)
Zé Povinho
solitariamente
Informática do Direito
o Fogo de Prometeu
uma cigarra na paisagem
lixo-lixo
ubidiversidades
Experiências literárias (Link inactivo)
Aldeia Lusitana
bem haja
"...queria um chà, alstublieft..."
Kafka - O Antivilacondense
Grilo Escrevente
As memórias de Sofia
Dei uma vista de olhos muito rápida, e fiquei com a sensação de que a haver queixas será de alguns deles, por se verem abusivamente "misturados" com pessoal da ralé como este bil vidão.
Outra coisa que me chamou a atenção foi o número de blogs seguidos pelo serviço:
78.347.545 ( setenta e oito milhões...)
É por isso que me dá vontade de rir quando leio alguns bloggers modestos referirem-se à "blogosfera" como o universo de vinte ou trinta blogs que seguem.

 

Norma ISO 9001

Miríades de empregos têem sido criados, milhões de horas perdidas e milhões de euros gastos com a tentativa desesperada dos nossos companheiros europeus mais avançados de nos civilizarem.
O que se reduz em geral a um mínimo de bom senso de gestão e até de básico civismo e boa educação, encontra-se hoje sepultado em Normas, Sistemas de certificação, Entidades certificadoras, consultores e auditores que fazem parte de um complexo burocrático assustador pouco e pouco tomando forma alicerçado no cada vez maior pavor pelo "imprevisto" difundido nas sociedades tecnologicamente mais avançadas e na vã pretensão de eliminar as "contingências" decorrentes das mais comezinhas actividades humanas.
E eis senão que o tal imprevisto irrompe sem cerimónia : Numa avenida de intenso tráfico, um camião de transporte de contentores normalizados de residuos provenientes de obras de construção civil, bloqueia três faixas de rodagem para fazer uma manobra.
Não é preciso muito: um sujeito qualquer põe-se no meio da rua a esbracejar e força os restantes condutores a parar. Os restantes condutores estão já domesticados por ser habitual tal "código de conduta" nas ruas da capital.
A empresa deve ser certificada, o camionista e os ajudantes tiveram horas de formação em "boas práticas", o tipo de carga, a hora e o local, tudo está devidamente registado em formulários detalhados à espera do mais exigente auditor. O motorista estava com cinto de segurança, certamente que o alcool teste daria negativo e não circulava em excesso de velocidade.
E no entanto... não há nada que chegue à criatividade da estupidez humana na hora de desenrascar.
Acidente? Só não houve por acaso.

 

Branco mais branco não há

A irracionalidade das paixões políticas tem destas coisas:
Na página da BBC que linkei no post anterior, é dado destaque ao "desabafo" da italiana Fulvia Mancini:
"The coalition on the left is made up of parties that had only one thing in common: defeat Berlusconi ".
Fulvia está tão arrebatada que se esquece de referir que a matilha que apoia o Berlusconi, desde o "centro direita" até aos fascistas, tem uma única coisa em comum:
Impedir que a esquerda chegue ao poder.
Lá como cá, a direita jogou a cartada do coitado solitário "sózinho contra todos".
Cá, resultou.
Lá, não.
Paciência, são coisas da democracia.

 

Cavalhadas

Sabe-se da forma fraudulenta como Bush chegou ao poder com a cumplicidade passiva e cobarde dos democratas.
Agora é Berlusconi quem recusa abandonar o poder não recuando perante a eventualidade de criar uma situação gravíssima.
Existe mesmo a possibilidade de ele tentar inverter os resultados das eleições usando abusivamente algumas das suas prerrogativas enquanto primeiro ministro.
Para os seus adeptos, todos muito cientes de superioridades da democracia que incluem certamente as virtudes da "alternância democrática", está tudo muito certo desde que o homem tenha a possibilidade de lhes garantir o aumento da esperança média de vida até aos cem anos.
O Partido Popular Europeu, que congrega as forças conservadoras europeias (incluindo o "nosso" PSD de "centro esquerda"...) dá-lhe naturalmente o seu apoio.
Para estes indefectíveis democratas, mais vale um vigarista corrupto e descarado em cuja coligação circulam bandeiras com o nome do "duce" do que o "Kaos" esquerdista.
Como é dos bons, em cujas fileiras se exibem bandeiras onde aparece o nome do "duce", trata-se de um "italiano típico" cujas acções são muito exageradas pela esquerda por uma questão de "partidarismo".
Mas se Berlusconi tem brincado desde há longo tempo com a justiça do seu país, o que não pareceu suficientemente oneroso aos Populares Europeus, será que serão capazes de continuar a apoiá-lo na irresponsabilidade última de colocar a Itália à beira da guerra civil?

segunda-feira, abril 10, 2006 

Anemia

Chamam-lhe a torto e a direito de "pai da blogosfera" e ele não cora violentamente.

 

Eixo anormal

Assim se vê a minha ignorância dos meandros do bas fond intelectual alfacinha.
O episódio João Pedro George/ Margarida Rebelo Pinto foi tratado no Eixo do Mal da forma mais galinácia possível.
Fiquei com uma dúvida...se o livro de George é um livro irrelevante de um crítico irrelevante sobre uma escritora irrelevante, que factor relevante levou a que fosse comentado no Eixo do Mal?

domingo, abril 09, 2006 

Estaleca moral

Mais pragmática e realista é a opinião d' O Insurgente sobre o Syriana.
Ao contrário do que o Taheri abaixo considera Despicable Self-Loathing, o André, demonstrando que não há como argumentos indigentes mas completamente opostos para se concluir exactamente a mesma coisa, acha que não senhora, o argumento do filme até poderá ser bastante plausível mas e depois?
É essencial que tais coisas se passem para que as crianças continuem em bons colégios e possamos continuar a desfrutar do gasóleo para meter no jipe quer na deslocação ao surf quer no périplo pelas casas produtoras de vinhos do Douro à procura das últimas tentações.
Criticar esses factos é basicamente pôr em causa a "superioridade da nossa civilização".
Criticar essa gente boa que suja as mãos (coitadinhos... arriscando que lhes arranquem as unhas e tudo...) para o conforto das nossas crianças e tranquilidade da nossa consciência é assim como "morder a mão que nos dá de comer".
Muito bem.
É uma questão de "estaleca"...
E agora passemos às tiradas sobre a "superioridade moral" da nossa civilização.
(Mas isso é quando se fala do Abelardo, do Petrarca, do São Francisco de Assis, do Leonardo daVinci, da Convenção de Genebra, da Magna Carta, cada coisa tem seu tempo...)

 

Desprezível

Ainda a propósito dos detractores de Syriana, algumas considerações a propósito do senhor Amir Taheri que eu linkei no post abaixo, autor do artigueco THE DESPICABLE SELF-LOATHING PREACHED BY 'SYRIANA'.
(Uso aqui de propósito o link para o Morocco Times, para ilustração do que é possível publicar na imprensa árabe, ao contrário do que poderia fazer supor o "despicable self-loathing" do senhor Taheri).

1- A direita passa a vida a lamentar-se com a "cassette" da esquerda tocando a propósito de tudo e de nada, e eis aqui um exemplo típico de uma análise política metida a martelo a propósito de um vulgar filme.

Fora o argumento uma inanidade ao estilo do Chuck Norris a ir dar cabo do Vietnam em meia hora de metralha e quebra-pescoços, um pagode do James Bond salvando o mundo nos braços de uma belissima agente Ciosa dos delírios patológicos de um general renegado norte-coreano ou a heróica aventura de um Rambo semi zombificado a combater de olhos arregalados ao lado dos simpáticos muhajeddin afegãos até aniquilar totalmente os russos nesse país e arredores,
e à canzoada de serviço ao aparelho de propaganda do sistema Bush não mereceriam reparos as agruras do Clooney no perigoso tabuleiro do xadrês politico militar do Médio Oriente.
Então o filme do Rambo no Afeganistão à luz dos novos preconceitos da "war on terror", é uma delícia. Nem falta o "príncipe afegão diplomado em Oxford...".
Mas como o argumento do Syriana envolve as "chefias" políticas e económicas americanas numa conspiração infelizmente credível, salta a tropa do (neo)politicamente correcto a bramar inanidades vendo o filme exclusivamente como uma espécie de documentário hiper realista.

2- Como sempre acontece nestes casos, a direita que defende os privilégios dos mais ricos, que exalta "o sucesso", e que acha que "é bom ser rico", quando precisa de atacar alguém não recua perante qualquer arma de retórica, incluindo os velhos recursos populistas contra "os que pretendem fazer dinheiro" etc...

Fazer dinheiro, o sucesso, ser rico etc., é o máximo desde que se continuem a usar as palas para só ver para a frente.
Se o retrato deixa de ser a preto e branco torna-se um crime lamentável.

3- No meio de tanta trapalhada Taheri diz algumas verdades. Muitos dos atentados que têem vitimado politicos e dirigentes no Médio Oriente ocorrem devido à luta feroz pelo poder no interior das classes dirigentes árabes e das várias facções militares e religiosas ao nível local e regional. Mas é também sintomático que no seu enunciado se esqueça que foi um atentado perpretado por um extremista religioso judeu agindo de forma aparentemente independente que pôs fim ao que nas últimas décadas pareceu ser o momento mais próximo do início de um verdadeiro apaziguamento na região.

4- Taheri já cá anda há algum tempo... já ocupava cargos de responsabilidade nos jornais no seu Irão natal na época do Xá, conhecido benfeitor e defensor dos direitos humanos...
O mesmo Xá que alcançou o poder com um golpe com alguns traços que fazem lembrar aquele que é descrito em Syriana, um golpe documentado e reconhecido (1) mas que o Richard Perle o informou ser um mito...
A questão é assim virada ao contrário... Taheri indigna-se porque as "teorias da conspiração" que procuram justificar tudo o que se passa no Médio Oriente como manipulação dos americanos relegando os árabes para um papel passivo e infantilizado.

Mas para Tahari, a presença da nação mais poderosa do planeta com um orçamento militar que ultrapassa a soma dos orçamentos militares dos restantes países naquela região nada tem a ver com política ou guerra, os americanos apenas estão lá a ver a bola.
Será que ele está a tentar menorizá-los? Ai, ai...

5- Evidentemente que os Taheris que por aí pululam quando escrevinham estas "análises" fazem-no graciosamente, quando muito recebendo o dinheiro do passe como recompensa do serviço público.

É meramente uma empresa de relações públicas que conta entre os seus membros com reputados especialistas independentes especialistas notáveis como os senhores Richard Perle (que ao contrário dos princípios da firma é especialista não em diálogo mas em "choque de civilizações"), Charles Krauthammer e James Woolsey .
Uma das forças do aparelho de propaganda neoconservador são estas associações "rigorosamente independentes". Haja dinheiro para todo este povão...
Ter de aturar aqui e ali uns para-quedistas a tentar cravar uns cobres é um incómodo menor quando a causa é grande.

(1) Sim, é mais um link da New York Review of Books, é uma fonte mais credível do que este palhaço.
(2) Encontrei uma linkagem para este artigo também no Metablog

 

Instinto Fatela II

Uma loira esplendorosa que abre não apenas portas e garrafas ou mesmo uma que outra cabeça felizarda a golpes de picador de gelo, mas sobretudo as pernas.
Um dilema ontológico que os detractores de Syriana vão adorar.
O êxito afigura-se desde ante e muito à mão assegurado .

sábado, abril 08, 2006 

O argumento final

As (a)berrantes ameaças de morte escarrapachadas nas embalagens de tabaco, de um mau gosto que segundo tudo indica apenas terá tendência para aumentar, até que contribuem para acrescentar ao nosso quotidiano de homens e mulheres aventurosos mas condenados ao sedentarismo, uma dose de risco suficientemente remota para nos permitir ir levando sossegadamente a vidinha e suficientemente presente para nos elevar a auto-estima.
Mas brincar com a segurança do que é mais precioso num homem, é um risco ecológico que a nossa masculinidade exacerbada não nos autoriza a correr.

 

Mais da "natureza humana"

Tudo o que há aí de tendências totalitárias, desde os nostálgicos do nazismo de bigode e braçadeira aos ultra liberais de sebago e camisa azul às riscas procura mais tarde ou mais cedo buscar credibilidade científica numa distorção rasteira do darwinismo para justificar a necessidade da agressão, da guerra e da competição cegas como parte integrante e necessária do processo histórico.
"A lei do mais forte"...
Por estranho que pareça, os defensores das soluções de força não vêem contradição entre os argumentos sobre a especificidade da raça humana sobre todas as outras e a tendência para a fundamentação dessas características no ambiente agressivo e hiper- hierarquizado de algumas sociedades de outros primatas.
Ou seja, somos muito melhores do que os macacos apesar de procedermos de acordo com a imagem que temos deles.
Porque nem tudo tem de ser assim, aconselho a leitura do excelente texto do mesmo Robert Sapolsky que eu já citara ali em baixo A natural history of peace que foi publicado em revistas de "pendor ideológico" antagónico como a Foreign Affairs e a Harper's.
Até os macacos preferem viver em comunidades onde imperam as relações de cooperação e boa convivência.

 

Basófia

Nesse simpático antro de subversão que é a FNAC, encanta ver os cidadãos reclinados nos sofás, digerindo pílulas de conforto para a nossa consciência como "The End of Poverty" antes de seguir para os restaurantes do Bairro Alto com um stock renovado de argumentos suculentos para uma boa discussão à sobremesa.
Um diz que é possível se houver "redistribuição", outro diz que não com o argumento último da "natureza humana".
O fim da pobreza ali já ao virar da esquina. E há ainda quem acredite nisto a sério?

sexta-feira, abril 07, 2006 

Corpos transparentes

O que não se consegue com o trabalho de formiga...
O Bidão esteve a dormir por mais de um mês, o tempo necessário para que as estatísticas regressassem ao nível encorajador de quatro visitas semanais.
Aproveitei para me concentrar no trabalho e evitar comentar as notícias e imagens com que somos diariamente bombardeados.
Um pouco como o nosso corpo é atravessado diariamente por biliões de neutrinos e provavelmente só um ou dois ao longo da nossa vida provocarão um flash num ponto qualquer do nosso corpo com consequências desconhecidas.
Deve ser talvez nesses momentos que um patusco "fala com Deus" ou coisa que o valha.
Tudo isto só para dizer que por incrível que pareça, o post "transgénicos fora..." foi o centésimo deste blog.

 

Vamos fugir juntos

No café, um sujeito garantia a uma rapariga que "na Alemanha o Mercedes é o carro dos pobres".
A rapariga olhava-o com um ar vagamente incrédulo.

 

Transgénicos Fora do Prato

No próximo Sábado dia 8 de Abril às 18h na Praça da Figueira, vai decorrer uma acção de sensibilização contra os produtos geneticamente modificados, promovida por várias associações ambientalistas .
A ameaça sinistra dos transgénicos avança de forma mais insidiosa do que a gripe das aves.
Por todo o lado surgem notícias inquietantes de mais um campo aqui, mais um campo ali, onde com a complacência do Estado, se fazem "experiências" "controladas", mesmo em regiões que para "consumo" público se diz com pompa estarem "livres de transgénicos".
É importante que esta história seja bem documentada para que um dia os sobreviventes possam fazer o processo devido aos irresponsáveis promotores desta peste discreta.

 

Contacto

Traduzir o Sol

 

Tábuas da Lei

A escrita da Terra

 

Rotas do Vinho (III)

 

Rotas do vinho (II)



 

Rotas do vinho (I)