domingo, março 30, 2008 

Sem saída

O desenvolvimento dos meios de comunicação e a disponibilização de potentes instrumentos de análise a um conjunto alargado de pessoas dá-nos a sensação de que é possível abarcarmos o curso dos acontecimentos em todo o planeta. E a cada um a possibilidade de efabular sobre as suas consequências.
Ao contrário do que seria de supor, essa sensação mais ou menos assumida pelas mais antagónicas correntes políticas e sociais, não permite à nossa espécie adaptar-se a novas circunstâncias de forma racional e que nos proteja o futuro.
Esse desnorte faz, talvez, intimamente parte das caracteristicas da vida e das suas manifestações. Talvez revele os limites do "racional", como mecanismo de reflexo colectivo.
Não é afinal o estádio em que nos encontramos o resultado de uma sequência de acontecimentos em que os erros e as serendipities fizeram parte integrante do processo?
Quando supostamente estariamos equipados para uma evolução "sem sobressaltos", seja lá o que isto signifique, encontramo-nos entalados entre duas concepções antagónicas e irracionais.
De um lado os negacionistas que encaram com displicência os sintomas de degradação do meio em que nos desenvolvemos, em nome da defesa intransigente de principios políticos que habilmente identificam com a palavra "liberdade" mas que têm bem definidos os limites dos seus interesses.
Do outro os alarmistas para quem mudar de paradigma de consumo energético é possível num prazo limitado e propõem como "salvação" a adesão "voluntária" e colectiva a modos de vida indistintos dos efeitos da catástrofe que anunciam e só "apresentáveis" quando minoritários e enquanto vigorar o actual paradigma de que directa ou indirectamente dependem.
Essa adesão voluntária e generalizada exigiria da espécie humana um grau de disciplina totalitária apenas ao alcance de certos insectos gregários como as formigas e as abelhas, precisamente por serem irracionais. Nada de humano haveria já a defender nesse cenário.
Se essa situação vier a verificar-se por impossibilidade de adaptação razoável e progressiva, a transição será caótica e catastrófica e revelar-se-ão inoperacionais cenários idílicos de vidas colectivas "em comunhão com a natureza".
Será apenas o regresso à barbárie.
A memória destes tempos persistirá como uma referência e a espécie eventualmente recuperará a sua influência, mas em cenários diferentes e possivelmente fora do nosso horizonte histórico.
nota: a ilustração é um excerto de um quadro de Florbela Moreira

sábado, março 29, 2008 

Eterna cegueira

Nos tempos de Guterres, respirou-se uma lufada de liberdade consumista que mostrou a todos e de vez as vantagens de viver num certo tipo de sistema capitalista.
Foi quando toda a gente comprou casa, o IC 19 entupiu de vez e as mulheres a dias foram passar férias a Porto Rico. Os bancos, insuspeitos de preocupações sociais, ficaram credores de metade do País.
Compreensivelmente, este deboche populista aterrorizou alguns.
Passou a ser mais difícil circular no IC19, e penoso foi observar nas salas de embarque dos aeroportos o pessoal das barracas embarcando alegremente e aos magotes para as Caraíbas a caminho de férias de sonho compradas a crédito.
Para alguns analistas, não colheu, sabe-se lá porquê, o argumento de que esta euforia hedonista e despesista "cria postos de trabalho e dinamiza a economia", argumento tão útil quando se trata de justificar certos gostos caros dos ultra ricos: uma pulseira de diamantes, um Maybach, coisas indispensáveis sem as quais algumas pessoas de valor não podem sair à rua.
Vaticinou-se o desastre e ele chegou sob a forma do déficite.
Segundo alguns, ainda estamos a pagar o preço da farra.
Para outros, não há meio de deixarmos de pagá-la.
Só vamos lá ( independentemente de se saber quem está incluído neste vamos tão abrangente) com medidas... "dolorosas"... para "todos", claro...
Este estado de coisas contaminou a Europa.
A França, a Alemanha, na mais calamitosa tragédia, tudo por culpa do estado social e das benesses indevidas que daria ao trabalhadores, por definição aqueles com menor "iniciativa" e "criatividade".
Nos EUA tudo foi sempre de vento em popa.
Foi o tempo da Nova Economia, a NEP dos ultraliberais e da euforia do Nasdaq.
Isto agora ia ser sempre a subir, a subir... iamos todos ficar ricos na Bolsa a bem ou a mal.
A euforia foi tanta que transbordou numa guerra declarada depois de um processo inqualificável.
A guerra fez disparar o déficit, tal como alguns, logo apodados de traidores, tinham previsto.
Um desastre previsto ao milímetro, New Orleans submersa, revelou a fragilidade do Estado americano fora dos campos de batalha e das bases militares.
Uma percentagem apreciável de americanos, com tendência para subir, estão pura e simplesmente arruinados apenas por depesas com a saúde.
A bolha do imobiliário anunciada há uma década pelos sabotadores da economia do costume frementes de raiva ao "american way of life", explodiu finalmente arrastando consigo um grave problema social e a estabilidade financeira do mundo, sem esperar que alguém se lembrasse de começar a coligir para utilização futura os artigos dos especialistas negando a existência do problema.
Para todos e cada um destes problemas sempre houve na imprensa e na blogosfera "especialistas", a garantir que no pasa nada, o problema é que a Europa está velha enquanto não copiar as receitas previstas no modelo económico "conservadores apiedados" para os Estados Unidos.
O espectáculo está à vista, mas a sua visão não produz qualquer efeito.
Nada de estranho, as pessoas estudam e criticam os comportamentos das anteriores gerações mas são incapazes de tirar ilações lógicas.

 

Peak Oil

Muita gente anda preocupada com as consequências do que parece ser a rápida depleção das reservas de petróleo.
É óbvio que todos devemos estar preocupados, e é óbvio que já hoje muitos governos, indivíduos, instituições e empresas tentam pensar seriamente no problema.
Algumas previsões, porém, anunciam um fim tão rápido e brutal que se torna inútil fazer qualquer coisa para enfrentar essa crise.
O impacto é apresentado como tendo a violência de um meteorito e não deixa muitas alternativas a uma reflexão sobre o tema.
É o mito fascinante do "fim da civilização" passados alguns anos do fim do milénio e pouco mais de dez anos depois do histó(é)rico "Choque das civilizações".
Basicamente o cenário apresentado é o do salve-se quem puder. O que se pode fazer com um meteorito à porta?
Se acontecer como descrevem, não haverá nada que possamos fazer e é sobretudo inútil a tentativa de perspectivação política de alguns teóricos.
Claro que haverá sempre clientela para os inumeros livros do catálogo do site Life after the Oil Crash sobre técnicas de sobrevivência, numa linha de exacerbação da paranóia do "sobrevivente individual à catástrofe" que alimenta as imaginações desde que se começaram a construir bunkers privados durante a guerra fria.
E os livros dos teóricos sempre tenderão a ser sucessos de vendas no mal afamado sistema capitalista- enquanto este durar - e ser alvo de falatório.
Mas alguém acredita que se as coisas se passarem realmente assim, é por um sujeito ter uma quintinha algures na parvónia com a casa artilhada de painéis solares e ventoinhas e uma hortinha à porta que vai estar ao abrigo do que acontecer quando milhões estiverem em carência de água, abrigo e comida?

sexta-feira, março 28, 2008 

Aha!

Desconfiado, viro e reviro o livro do Venâncio à procura de defeitos, dos já famosos graves defeitos.
O primeiro defeito é o meu, no post abaixo.
O livro chama-se "Último Minuete em Lisboa" e eu escrevi "Último minuete de Lisboa". Coisa para alterar-lhe completamente o sentido.
Lá dentro, ando para diante e para trás espiolhando todas as ocorrências da palavra "minuete", à procura da gralha ou da pilhéria que poderão ter originado uma série de alusões suspeitas nos comentários do Aspirina.
Vá lá, na página 201, um erro, grande porque o tipo de letra é o adequado ao início de um capítulo: Tres Fantasmas em vez de Três Fantasmas.
O que estará por detrás de tudo isto?

 

Desafio intelectual

Vai ser no dia das mentiras, pelas 19.00 h, na CASA DO ALENTEJO, que será apresentado o livro "O último minuete de Lisboa" do Fernando Venâncio publicado pela Assirio.
É bizarro do ponto de vista de uma certa noção comezinha de coerência espaço-temporal pois tenho o livro desde que há uns bons dias atrás o avistei na Bulhosa das Amoreiras, mas fará sentido nesse outro domínio mais livre da vida literária, dos seus timings e incidências.
Tenho andado a lê-lo na mais saborosa das distracções de outros aspectos que não o texto, quando me avisam que está cheio de defeitos e que deverei trocá-lo por um exemplar devidamente acabado.
Será peta antecipando o primeiro de Abril?
Confesso o meu desconforto ao expôr a minha crassa insensibilidade de cliente que engole tudo o que lhe ponham no prato. E logo quando eu até estou a gostar do livro. De tudo...
Para meu consolo, pelos vistos não sou o único a acreditar na história.
Faltarão páginas? Não sei qual é o defeito mas se estão a trocar por exemplares novos, não prescindo da troca porque não quero ficar para trás nem ser comido por parvo seja a que preço for, como bom tuga oportunista.
Ou fico na mesma com este porque um dia mais tarde poderá tornar-se peça rara de colecção e valer uma pipa de massa? Tenho até terça-feira para pensar.

quinta-feira, março 27, 2008 

Santíssima Trindade

Ao Centro, Mário Crespo um jornalista acometido a espaços por ataques de cretinice espasmódica.
À esquerda do Crespo, Fernando Rosas líder histórico do Bloco de Esquerda.
À direita do Crespo, Narana Coissoró, militante destacado do PP.
No meio de uma certa algazarra, Rosas murmura qualquer coisa sobre o problema dos bairros mais problemáticos; Coissoró pede, exige ( o que de mais original poderia ele pedir ou exigir?) Ordem... (olha o fetiche) percebe-se que a questão que agita Crespo, é só uma, formulada em tom melífluo...
"A ministra tem, ou não, condições para continuar?"
Não, não tem condições e já ultrapassou o prazo de validade.
(Nisto estou de acordo, diz Narana...)
Direita, Esquerda e Centro, de acordo ...
É bonita, é sugestiva, esta unidade de objectivos.

 

Beneficios de andar a pé

Hoje, apesar do tempo incerto, sempre deu para o prazer de ler a caminho do trabalho, um violento texto do Alfredo Barroso chamando pelo nome a uma das vacas sagradas da direita (o do melhor blog do mundo...), e uma certeira Carta ao Director do leitor Frederico J.B. Fonseca Santos sobre a vacuidade dos preconceitos ultra liberais de outra vaca do mesmo estábulo que a anterior.

 

Autoridade?

A crónica de Rui Tavares sobre o "caso do telemóvel" traduz a dificuldade que à Esquerda temos em lidar com os problemas da "autoridade" em geral e da "autoridade na escola" em particular.

Uma aluna protagonizou um episódio de indisciplina grave a pretexto de um telemóvel?
Não nos interessa o que fazer com o caso concreto, o que interessa é encontrar os meios de combater a malaise que grassa na escola, olhar para mais longe, porque não turmas do ensino público com menos alunos, porque não vencer os alunos pelo aborrecimento?

A argumentação até faz sentido quando desmonta os argumentos dos que anseiam por medidas "impopulares".
No entanto, no que respeita à resolução do problema concreto, não há sugestões.
Pune-se a aluna? Como?
Como reabilitar psicologicamente a professora e restaurar o respeito que lhe é devido?
Demite-se a Ministra como preferirão alguns dos comentadores mais irresponsáveis relembrando num despropósito a raiar a idiocia, o caso da ponte de Entre-os-Rios?
Rui Tavares abstém-se.
E se a aluna tivesse dado um tiro na professora?
Todos sabemos que estas coisas têm sempre origem no "social", há que dar familias estáveis e lares com desafogo a todos antes de impor qualquer medida disciplinar.
E todos sabemos o que é fugir com o rabo à seringa e que isso é mau para uma perspectiva de esquerda numa discussão honesta.
Helena Matos relembra oportunamente na mesma edição do Público um caso com alguns anos que não motivou exigências de demissões de Ministros nem de outras autoridades. E algumas até deveriam ter tido o minimo de decência de se demitirem.
O caso de um Professor da Universidade de Évora, Carlos Cupeto, agredido à luz do dia à porta da universidade por um aluno que lhe fez um assédio brutal e humilhante ao longo de cerca de dois anos perante a passividade geral.
Num caso de cobardia colectiva sem precedentes, o Reitor, o Conselho Directivo e por maioria de razão os corpos docente e discente daquela universidade fecharam os olhos a um acto de violência. Refugiaram-se, ao que parece, numa interpretação da Lei.
E isto foi o caso de um aluno a agredir um professor, que faria se fossem agentes da Pide com mandatos mais ou menos legais a levá-lo para parte incerta...
Que me conste, não era esta a Ministra da Educação na altura. Mas pelo sim pelo não... demitam-na na mesma.

 

Em conserva

Tenho dificuldade em entender o que pretendem os conservadores "conservar" num mundo que consideram numa desgraça devido aos direitos excessivos de que ainda gozam as "classes mais baixas".
Compreende-se mais o protofascismo dos "neo - conservadores" que difere do fascismo tout court pelas cores das camisas mas emulando-lhe a vontade imperial e o talento na arte do eufemismo, como a expressão "construir nações" tão bem ilustra.

 

Grão a grão

É consensual o impacto negativo do aumento do IVA de 19 para 21%.
Esse facto é até apontado como um grave obstáculo à competividade das empresas portuguesas.
Agora, quando o Governo baixou o imposto (seja por razões fundamentadas, seja por puro eleitoralismo) para 20%, parece ser consensual entre os analistas ( Presidente da CIP incluído) que a medida não tem grande impacto...
É que é só 1%, não faz diferença quase nenhuma. Se fosse 2% sim...
Vamos ver o que dizem se o IVA baixar de 20 para 19% nos próximos meses.

domingo, março 23, 2008 

Circense

O Papa a dizer saudações em cento e cinquenta línguas (incluindo o esperanto) perante uns bons milhares de cristãos à chuva desafiando a pneumonia por vontade de Deus é um exercício circense capaz de surpreender o mais exigente espectador de quizz contests e reality shows.

 

Odd

Há gente a quem enternece muito a "participação" popular nas eleições americanas.
Na Europa não, é tudo uma manipulação cozinhada "pelos Partidos", dizem alguns que até são dirigentes partidários, mas desgostosos do "sistema", pelo menos enquanto não tiverem hipótese de serem democraticamente eleitos.
Quando calha, os mesmos "admiradores da América" até lamentam que na Europa cada vez mais o debate político seja substituído por campanhas à ... americana, onde o que conta é o espalhafato que o dinheiro que se consegue angariar e gastar para depois pagar em favores garantida a eleição, permite assegurar.
A coisa parece tanto mais estranha quando num artigo recente de uma revista americana, se chamava a atenção para os níveis de participação nas recentes eleições espanholas, umas eleições que nos últimos anos têm causado azedume indisfarçado entre as hostes direitistas cá do burgo, quando comparadas com a participação nas eleições americanas que definem quem será ou não bombardeado com prodigalidade nos próximos anos.
Para mim o que me parece estranho é que seja "assunto" da campanha para a eleição do candidato democrático e por maioria de razão para a corrida à presidência, o facto de um candidato ser "negro" e um outro "mulher".
Por outro lado, o vício das sondagens, ou seja a obsessão "muito humana" de antecipar o futuro garantindo uma área lucrativa de negócios e influenciando os resultados, dá-nos conta da clivagem entre latinos e negros quanto a preferências eleitorais, uns pela Hillary, outros pelo Barack.
Obama, honra lhe seja feita, apresentou-se apenas como "candidato" como seria normal esperar, mas Clinton, num cálculo eleitoralista barato e de vistas muito curtas, não resistiu a chamar a si a condição de "mulher", pervertendo o significado da eleição do candidato do seu partido e minando a sua base de apoio para enfrentar o candidato da seita do Bush.
Oxalá que todo este frisson com os candidatos "fracturantes" não se torne em pesadelo na hora de eleger o novo Presidente.

 

A fava da história

O que aconteceu à Sérvia nos últimos vinte anos faz pensar como na vida dos países há azares comparáveis às tragédias que por vezes se abatem sobre a vida das pessoas.
Por vezes apenas por causa de um "pecado original", uma configuração de situações propícia ao precipitar da desgraça.
No caso da Sérvia, esse pecado foi ter num determinado momento histórico uma liderança que a ligava a uma potência caída em desgraça o que potenciou o ressurgimento de querelas antigas com velhos inimigos que teve de enfrentar numa situação de grande fragilidade militar e política.
Pensemos na controvérsia que ainda hoje rodeia o fim do Império Português em África, e imaginemos o que será para um País numa zona da Europa em que o nacionalismo é quase uma segunda pele dos habitantes, perder, não regiões remotas, mas partes integrantes do seu território, centrais para a sua identidade.
O processo foi tão rápido que não houve tempo para um aggiornamento ideológico que colocasse o país ao abrigo das convulsões que se seguiram. O contrapé em que se encontrou permitiu a falácia da "intervenção humanitária" que tudo legitimou perante a opinião pública dos países civilizados.
Tivesse a clique de Milosevic tido tempo para fazer o necessário golpe de rins que fizeram outros países do Leste da Europa a tempo de se declarar o mais seguro aliado americano nos balcãs e o panorama da região talvez fosse hoje completamente diferente.

 

Uns e os outros

Acho muito estranho que muitos dos que se indignam com o problema dos direitos humanos na China e repudiem a invasão do Tibete achem normal a forma como é entendido o "direito de Israel à autodefesa" como oportunamente disse recentemente John McCain numa tirada exemplar do pouco interesse que terão as próximas eleições americanas para uma hipotética mudança de rumo na política externa .
Os Bush são coerentes nesta matéria e já anunciaram que não vão criar chatices com os Jogos Olimpicos. Para este frete do Tibete contam com os bons serviços do Gordon Brown e da Nancy Pelosi.
Nada mau, ao menos são personagens nos limiares mínimos de credibilidade que pelo menos aparentam uma simpatia genuína pela causa tibetana.
Já os palestinianos contam com esbirros sinistros como Tony Blair e Dick Chenney como mediadores, requinte insultuoso adicional numa situação já de si vergonhosa.
Halas, para tibetanos e palestinianos não haverá remédio nos próximos tempos senão a sujeição ao invasor.

sábado, março 22, 2008 

22 Mars

Foi há 40 anos que Maio se pôs em Movimento.
Há sempre motivos para azedumes.
É tentar abrir qualquer site francês da actualidade... ou se tem uma banda muito larga ou é impossível funcionar com aqueles delírios publicitários.
Tentei arranjar links para este post e o meu browser bloqueou meia dúzia de vezes...
Porque será que os sites americanos e ingleses são tão mais simples?
Se uma parte não negligenciável da perspectiva com que as classes médias encaram hoje a vida com "normalidade", resultou destas convulsões, à esquerda e à direita reavaliam-se os acontecimentos e lamenta-se a destruição dos "valores tradicionais", varridos nesta época paradoxal de coexistência entre o militantismo mais cego e o individualismo mais feroz, e apresentados agora como último dique contra o capitalismo mais desumano.
Valerá a pena lembrar que para alguns, o magnífico isolamento português na época também era um dique contra certas formas de capitalismo?

 

Ao abandono

Numa das extremidades da massacrada rua de Campolide, uma intrigante capela votada ao abandono.
Uma pequena maravilha de simplicidade e serenidade.
O nome da capela, apropriado... Ermida da Cruz das Almas.
É mais um daqueles casos que levam a pensar para o que serve o IPPAR, o que anda a fazer a Câmara, o que andamos todos a fazer.
Agora é esperar que apareça um comprador interessado em recuperá-la para salão de jogos ou sede de banco com três pisos de apartamentos por cima para garantir a "sustentabilidade económica", para que surja, de preferência depois de concedidas as necessárias licenças, um indignado e impotente movimento de opinião destinado a disponibilizar o ruído de fundo cidadão necessário para que fique a certeza de que mesmo os pequenos crimes são acompanhados de todos os ingredientes que legitimam a democracia, um pouco como o cozido e a feijoada.

 

Autismo

O grande impulso dos blogs foi a discussão política que acompanhou os preparativos da Invasão do Iraque.
Hoje, quando se assiste ao último discurso do Bush sobre o tema e se sabe dos resultados alcançados após cinco anos de um processo que era para resolver em seis meses, podemos tirar uma ilação:
A realidade objectiva e a razão são pouco relevantes nas discussões políticas.
O único mérito dos últimos anos foi tirar legitimidade à "nova" corrente ultra liberal para criticar os erros trágicos e os crimes de anteriores gerações e tendências políticas.
A estupidez e incompetência dos invasores, aparentemente mais dedicados a reforçar os aspectos mais negativos dos esquematismos que os definiam do que dar conteúdo ao seu apregoado "idealismo", também deitaram por terra as pretensões de eficiência sobre-humana de um sistema que alguns veneram com o fervor de polinésios praticantes dos "cargo cults".
Talvez humanize um pouco alguns deles.

 

On Off

O Bidão tem andado um tanto abandonado. Depois de vários ciclos de envolvimento nas vidas on line, chegou a hora de a vida off line marcar a agenda.

domingo, março 09, 2008 

Zapatero

O político de esquerda democrática mais consistente, para desespero dos fachos.
Diz que faz e faz, ganam eles o que ganam em Espanha ou no Vaticano.
Uma vitória mais do que merecida frente a um patético Rajoy que representa tudo o que é o despeito rancoroso da direita espanhola (e da portuguesa).

 

Trajectória difícil

McCain é um Bush menos labrego.
Simpatizo com Hillary e a história da mulher presidente, mas se votou pela guerra...
Simpatizo com Obama mas se ninguém percebe bem que mudança traz...

 

Coerência inatacável

Bush vetou a condenação do "waterboarding", a tortura que em bushinês ( em pacheco pereirês e em fachês comum) não é tortura, é "salva vidas"....
Que outra coisa seria de esperar?
A coerência é coisa bonita.

sábado, março 08, 2008 

A mulher do vizinho

Uma das mais persistentes críticas que se faz ao sistema político português é a de contribuir para a paralisia da economia que nos prende como que por fatalidade na cauda de quase tudo, pelo menos a fazer fé nos analistas autóctones.
Os recentes Governos, dizem os críticos, têm falhado na aplicação de "reformas estruturais", nome esotérico que se suspeita é um guarda chuva que esconde a necessidade de anular a dimensão social do Estado, obstáculo que, parece, impede alguns de viverem em Portugal uma espécie de lindo sonho americano.
Percebe-se em nome de quem falam esses analistas quando olhamos com alguma frieza para o actual panorama da economia norte-americana e as suas consequências sociais.
De um lado, os milionários mais milionários do planeta. Uma minoria mínima que parece mais dilatada porque permanentemente adulada pela rede de meios de comunicação que alimentam a curiosidade dos basbaques. São poucos mas a sua riqueza permite exibir os bons indicadores no final do ano.
Do outro, mais discreto, a multidão de desempregados e despossuídos que aumenta de forma assustadora. São muitos, mas pesam pouco na definição desses indicadores. E raramente são notícia excepto por casos de polícia.
Este descalabro da maioria dos americanos, bem mais grave do que o verificado nos países onde foi possível implantar um sistema minimamente equitativo a merecer o nome de "social democrata", verifica-se apesar da redução ao mínimo do apoio social aos cidadãos em dificuldades da parte de um Estado limitado ao papel de polícia encarregue de manter a ordem interna e externa.
Não estou aqui a falar das teses apocalipticas sobre a derrocada do sistema americano, e da sua imaginária vulnerabilidade estrutural face a países em fase de grande desenvolvimento.
Trata-se apenas de questionar o interesse (intelectual) de alguns propagandistas nos tentarem convencer das vantagens de um sistema que coloca o cidadão comum perante as mesmas ou piores vulnerabilidades.

 

Estupidez

Se foi um assassinato político, o assassinato que provocou o cancelamento da campanha eleitoral em Espanha é tão estúpido, tão estúpido, que custa a crer que mesmo a ETA esteja envolvida.
É daqueles casos em que é melhor esperar para ver antes de tirar conclusões.

sexta-feira, março 07, 2008 

O problema são as gazelas

Os israelitas continuam placidamente a construir a sua "barreira de protecção" ( digamos assim, cedendo ao politicamente correcto, para não evocarmos fantasmas de um passado recente).
Ao que parece, uns ambientalistas da zona ( em Israel vigora um notável respeito por um certo ambiente) descobriram que num determinado local o Muro é pernicioso porque impede a passagem de umas gazelas.
Descansem os ambientalistas. Não custa crer que os engenhosos projectistas israelitas encontrarão uma forma airosa de resolver o problema das gazelas e assegurar-lhes passagem. Coisa de Nobel da Paz.
Mas atenção, só as gazelas, que são um animal muito querido.
Os milhares de palestinianos civis, homens, mulheres e crianças, sujeitos diariamente à mais abjecta discriminação, sob uma tortura constante imposta com requintes de minúcia sádica pelo ódio racista frio, depravado e incansável do ocupante, esses, é necessário garantir nem um poderá passar.

sábado, março 01, 2008 

O velho, o rapaz e o burro

É o que lembra a surpreendente reclamação do Presidente da Junta de Freguesia de Alcântara, José Godinho, da CDU, por sinal um dos mais empenhados autarcas da cidade, acusando o executivo municipal de atitude persecutória da freguesia por mandar rebocar carros estacionados nos passeios de algumas ruas ""em efectivo excesso de zelo" dado os passeios em causa serem "larguissimos", ficando "livre mais de metro e meio para os peões circularem"" conforme esta citação que faço do jornal gratuito Jornal de Lisboa.
Toda a gente se queixa do "caos " do trânsito e do "estacionamento selvagem" e toda a gente louva as ordeiras e organizadas capitais de países civilizados.
Mas a quem passe pela cabeça a ideia lunática de pôr mesmo ordem nalguns intoleráveis aspectos do trânsito de Lisboa, como o estacionamento em passeios e paragens em segunda fila em ruas de grande circulação, convém perceber que aos queixosos, e são umas centenas de milhar a pensar o mesmo, repugna apenas a circulação de veículos que não o seu e o estacionamento selvagem dos outros.
Para resolver um problema desta natureza concordo com um taxista que apanhei há uns dias, era preciso Um Hitler, Um Estaline, Um Mussolini... e 50 Salazares.