sexta-feira, novembro 30, 2007 

Cabra-cega

Parece que finalmente, à última hora, o Governo lá se chegou à frente com o milhão e meio de euros necessário para manter o quadro de Tiepolo na posse do Estado.
Para alguns, terá um sabor a prenda de Natal.
Nas colunas dos jornais e nas cartas ao Director, passado o choque da surpresa, é hora do espaço ser ocupado pelos críticos.
Teremos as habituais categorias: a constatação de que foi tarde, o que "obrigou" toda a gente a um stress desnecessário com reflexos devastadores na produtividade do País, a crítica arrasadora à forma como o Estado gasta o "nosso" dinheiro sem rei nem roque em obras "menores" e o auto-elogio de um ou outro líder da oposição congratulando-se com a firmeza própria que originou o "recuo" in extremis do Governo.
O mais cómico é que se alguém se desse ao trabalho de ir comparar o que se tem publicado na imprensa desde que se levantou esta celeuma, arriscar-se-ia a ter a surpresa de encontrar alguns críticos da aquisição entre as mais vociferantes vozes que ainda há dias se levantavam contra a incúria que esteve prestes a deixar de sair do património do Estado uma obra de tal valor estético e cultural.
Embora haja quem leve isto a sério, parece, e é, um jogo.

quinta-feira, novembro 29, 2007 

Elementos de estudo (VI)

Em "A Tale of Two Botanies", um texto sintético publicado no número 8.04 da Wired, Amory Lovins e Hunter Lovins referem um aspecto pouco discutido:
Quando se discute a "engenharia genética" esquecemo-nos de que o conhecimento científico acerca do que na realidade é um gene, é limitado, o que torna ainda mais irresponsável a produção de produtos de consumo de massas.
Os funcionários das companhias de biotecnologia limitam-se a aplicar receitas destinadas a produzir lucros, que embrulham no papel do messianismo utópico do "fim da fome" e da "sustentabilidade" com a desfaçatez com que os bancos oferecem a um mercado imbecilizado a "satisfação dos sonhos" ou as empresas de telemóveis nos convidam a "exprimir-nos", e no entanto, Governos e parte da opinião pública curvam-se respeitosamente em nome do progresso e do prestígio da ciência.
O progresso não pode esperar.

Habitantes de um País cujo património urbano e arquitectónico foi praticamente arrasado nos últimos trinta anos pela alarvidade actuante dos vendedores de "pogresso" suspeitar-se-ia que estaríamos em condições de perceber o que está em causa.



 

Tutti frutti

Mais um estudo para a localização do aeroporto corroborando das conclusões já previamente anunciadas pelos seus promotores.
Não se vislumbra quando é que um estudo "independente" encomendado pelo senhor X concorda com outro estudo "independente" encomendado pelo senhor Y.
Se isto não revela a venalidade do mundo das consultorias e a vacuidade da pretensão dos autoproclamados decisores eficazes ...
Por este andar passarão décadas antes de se tomar uma decisão.
E quando chegar a altura de tomá-la alguém demonstrará que os actuais estudos já estarão desactualizados...
O que vale é que enquanto o pau vai e vem folgam as costas e talvez acabe por se concluir, "by default", que afinal não é necessário mais aeroporto nenhum .
E a realidade comprova-o a cada dia que passa com o actual aeroporto a funcionar e sem se tomar decisão nenhuma.

 

Matar a fominha

Numa crónica recente, o ubíquo Pacheco verberou o anti-americanismo da resistência anti-OGM de uma forma que se julgaria expressa por um incompreendido adido comercial da Embaixada Americana em Lisboa.
O remoque, relembro, era de que da oposição aos OGM estava ao serviço dos fins "obscuros" de "certos" "interesses económicos" a quem interessa proteger artificialmente os produtos agrícolas europeus da concorrência dos produtos agrícolas americanos (esta, por definição, leal, tanto para o Pacheco como para o tal adido).
Numa pirueta argumentativa pouco compreensível mas já vulgarizada, parece que prejudicar o entendimento que os americanos têm do que são os seus direitos inalienáveis, implica matar à fome um ror de gente espalhada pelo vasto mundo.
Se os interesses anti-OGM são obscuros, os dos pró são "cristalinos".
Uma passagem de um artigo de ROBERT FALKNER intitulado "The Global Biotech Food Fight: Why the United States Got It So Wrong" e publicado última edição do Brown Journal of World Affairs, mostra quem são os pobrezinhos que saem prejudicados deste "affair".
Segundo Falkner, as diferentes atitudes reguladoras prevalecentes na Europa e nos Estados Unidos, deram vantagem inicial a um pequeno grupo de grandes firmas americanas como a Monsanto, a Dupont e a Dow que se tornaram dominantes no mercado.

Porém, "as soon as US farmers began to adopt the first line of GM crops, Europe’s more restrictive stance on bio safety came to cast a shadow over the global expansion of GM products – including in the United States.
The first shipments of GM crops to Europe provoked a fierce anti-biotech campaign the late 1990s and led to the complete closure to the European market for most of the United States’ corn and soybean exports by the late1998. The European Union’s approval system for GMO imports ground to a halt as more European governments bowed to public pressure and forced a moratorium on new GM products. Because of the high adoption rate of GM varieties in US agriculture and the absence of appropriate infrastructure for segregating GM from non GM crops, the US farm sector lost an estimated $300 million in annual exports to Europe. After losing a protracted WTO trade dispute brought by the United States, the European Union lifted its moratorium in 2004, but new GMO labeling and traceability requirements and hostile consumer reactions have kept GM food imports at bay.
To make matters worst for US farmers, GMO market restrictions quickly spread from Europe to other countries. Partly inspired by the European Union’s hardline stance on risks, a growing number of Asian, African and Latin American countries have created their own bio safety regulations and imposed restrictive import and labeling requirements. In particular, those countries with an interest in preserving access to non-GM agricultural markets in Europe have resisted the growth of GM crop varieties. Trade related market opposition has emerged against the introduction of GM rice in India and GM soybeans in China, among others
".
Em resumo... fiados nos Canhotos e Fevereiros locais, os agricultores americanos aceitaram um risco e agora somos nós os chantageados para que os riscos da Monsanto & Cia sejam minorados.

Ninguém anda aqui para matar a fome a ninguém, trata-se de fazer-nos aceitar uma porcaria porque se não, para além dos prejuízos directos, nem sequer os produtores do terceiro mundo que para sobreviver precisam de vender ao mercado europeu lhes compram as sementes. Do que se trata aqui é apenas de abrir o mercado mais abastado e lucrativo, não é de caridade. Neste contexto, Fevereiro e comparsas assumem o papel importante de disseminar o mais possível a peste para que deixe de fazer sentido regulação que impeça a entrada dos produtos americanos contaminados. Quando isso acontecer vamos ver a evolução dos ganhos que os agricultores portugueses que têm aderido aos OGM apresentam.

quarta-feira, novembro 28, 2007 

Teatro de fantoches

Olmert e Abbas embaraçam-se em salamaleques estéreis na encenação montada pela propaganda neoconservadora no poder para maquilhar, para os seus fins próprios, o pobre Bush de "estadista", de preferência "grande" estadista, tal como fizeram com o palhaço do Reagan.

Olmert resigna-se a um frete necessário para continuar a ter os americanos pela trela, Abbas é o retrato patético do cadáver da resistência palestiniana laica travestida de "Kapo" do ocupante israelita.

 

Não se esqueçam das bermudas

Pedro Fevereiro, o mais aplicado candidato a Doutor Strangelove dos transgénicos portugueses, publicou no Agroportal uma "Carta aberta contra a asneira" em que ataca os autores da carta aberta "A propósito dos OGM", dirigida ao Ministro da Agricultura, publicada no Expresso e que eu referi ali em baixo.

No meio de uma amálgama de acusações idiotas e pouco imaginativas sobre "os interesses económicos" que levarão os signatários da carta a manifestarem-se contra os OGM, só por si reveladora, Fevereiro debita as gabarolices habituais sobre os resultados brilhantes das monstruosidades que vende.

Habituado a usar tudo o que sirva para impressionar a rapaziada mais "informada" anuncia ao mundo que o cultivo dos OGM poupou à humanidade um valor acumulado de 175.000 milhões de toneladas de pesticidas nos dez anos que decorreram entre 1996 e 2006 :

Ena pá, diz o incauto, cento e setenta e cinco mil milhões de toneladas de pesticidas é um volume do cacete! Alguém terá ideia do que representa?
Aparentemente a fonte destes valores é o Relatório GM Crops - The first Ten Years, naturalmente pró-OGM.
Lendo-o, é fácil ver como a sua leitura por um empenhado "inimigo da asneira" possuído pela da propaganda, pode operar uma nova versão do milagre da multiplicação.
Não a mera duplicação devida à ingestão excessiva de álcool que certamente quase todos já experimentámos com alegria, ou sequer a mais famosa e difícil multiplicação do pão ou dos peixes, mas, como na feira, por milhões.
Dá para lamentar que seja apenas uma miragem porque se as tais 175 mil milhões de toneladas existissem e de para mais nada servissem, pelo menos haveria algures no planeta um aprazível lago do tipo Alqueva cheio de pesticidas onde o Pedro Fevereiro e os seus discípulos poderiam tomar uns bons banhos.

terça-feira, novembro 27, 2007 

Elementos de Estudo (V)

No site da Plataforma Transgénicos Fora, um artigo de Margarida Silva apresenta o "state of the art" dos OGM num artigo também publicado na Revista Internacional Católica Communio intitulado:
A ERA DA NATUREZA TRANSGÉNICA
Reproduzo alguns excertos.
"(...) a colheita de uma cultura não-transgénica de um terreno circundante pode conter uma percentagem variável de sementes sujeitas ao regime de propriedade intelectual. E nestes casos a jurisprudência não deixa dúvidas: tal colheita pertence ao detentor da patente e não a quem a cultivou, independentemente do esforço que possa ter desenvolvido para evitar contaminação.Com o alastramento de culturas transgénicas (geneticamente modificadas, ou OGM) por todo o mundo - que cresceram de 44 milhões de hectares em 2000 para 102 milhões em 2006 - a contaminação da produção, em particular das variedades tradicionais, com o seu abandono obrigatório do ponto de vista legal, transforma-se em inevitabilidade. A via que resta é a mais onerosa para os agricultores, e também a mais rentável para os detentores do germoplasma: renovar anualmente as sementes, através da aquisição comercial certificada. Esta medida dificilmente contribuirá para aliviar a fome dos que dependem da agricultura de subsistência, mas poderá ir longe no sentido de a agravar."
A este propósito e não só, ler também o excelente ensaio de Bill Joy, publicado em Abril de 2000 no número 8.04 da Wired, com o título "Why the future doesn't need us", em que adverte para os perigos de várias tecnologias avançadas, nomeadamente nos campos da engenharia genética e da nanotecnologia, uma reflexão que muitos, entre os quais Marvin Minsky, consideraram de pendor "neo ludita" .
Bill Joy é considerado um génio da programação e foi co-fundador da Sun MicroSystems

domingo, novembro 25, 2007 

Uma outra ilha

Não há que embandeirar em arco em tempos da "grande uniformização".
Mas sempre é bom saber que há ilhas onde existe a alternância do poder.
Depois de uma série de anos com as mãos livres para se tornar num dos principais lambe-botas do Bush no hemisfério austral, o conservador John Howard foi finalmente posto a mexer.
O seu sucessor é o trabalhista Kevin Rudd.
Vamos ver o que vai mudar.

quarta-feira, novembro 21, 2007 

RTP Norte(coreana)

Tinham razão os cronistas que vinham alertando para o clima político asfixiante que se vivia em Portugal:
acabamos por ser ocupados pela vanguarda estética da Coreia do Norte.
De acordo com o Pensamento Zuche, procedeu-se já à revisão rigorosa do "dress code" das locutoras de televisão de acordo com os ensinamentos do Amado Líder.

terça-feira, novembro 20, 2007 

A discreta opressão

Quando assistimos a episódios como o da mulher semi-paralisada que foi obrigada a ir trabalhar, ou o da professora diminuída pelo cancro que foi obrigada a leccionar, há que lembrar o seguinte:
1- É esta a face negra do "rigor" orçamental que tanto excita muitos dos comentadores que num parágrafo criticam o Estado "providência" pelo que chamam de "ineficiência" e insuficiências, e no seguinte verberam a "desumanidade" do "sistema";
2- só uma arrogância cega, também ela portadora dos genes do totalitarismo pode permitir-nos criticar os alemães por causa do nazismo.
Como foi possível?
Não, comecemos por aqui, devemos é interrogar-nos, como é possível, entre nós, sem alibis?
Funcionários zelosos, alguns deles, médicos, que avalizam barbaridades destas.
É deles o rosto obscuro dessas sementes de totalitarismo discretamente disseminadas à nossa volta. Sem dúvida que não dispomos da grandiosa capacidade concretizadora dos alemães, mas à nossa maneira discreta sabemos ser eficientes. E não é por vir um Ministro salvar a situação que o essencial se altera.

 

Discutir seriamente

Há uns meses atrás fazia uma tarde de sol, encontrei-me numa roda de amigos numa casa algures no Alentejo.
As crianças brincavam na piscina e à mesa petiscava-se e discutiam-se os assuntos candentes do momento.
Para não variar, estava na berlinda a localização do novo aeroporto.
Cada um dos presentes elaborou longamente sobre os malefícios da Ota, essa catástrofe anunciada.
Eram os ventos, o nevoeiro, o terreno pantanoso... enquanto gabava as evidentes vantagens da localização alternativa que era na altura Rio Frio. Tal como certamente todos os outros convivas dessa tarde, já não me lembro das vantagens de Rio Frio.
Para ser franco acho que já ninguém se lembra de Rio Frio. Ninguém se lembra "do" que é Rio Frio.
Porém, naquela agradável tarde soalheira, uma dúzia de pessoas, parte, tal como muitos milhares de outras espalhadas pelas esplanadas do país de Expresso e Público ao colo, da classe média, a classe autoconfiante por excelência que pretende representar o sentir "d'o País" que pensa e decide, estaria disposta a esquecer as preocupações habituais com os milhões que o Estado malbarata em obras faraónicas e subscrever a aprovação dessa localização caso fosse decidida por um qualquer Ministro (o actual já tinha sido demitido, quanto mais não fosse por desagravo à população da Margem Sul por causa daquela terrível história do "deserto").
Foi pena Rio Frio deixar passar em vão os seus cinco minutos de fama. Dificilmente voltarão.
Há milhares de pequenas localidades espalhadas de Norte a Sul do País dotadas de Presidentes da Câmara e empresários atentos às oportunidades de desenvolvimento, todos convencidos das suas possibilidades como alternativa à Ota e dispostos a financiar estudiosos competentes de curriculo irrepreensível capazes de elaborar estudos que o comprovem.
E num País democrático todos têm direito a iguais oportunidades. Temos muito tempo.


segunda-feira, novembro 19, 2007 

Despeitos inconsequentes

No Público de hoje, um texto incongruente de Alexandra Teté sobre o aborto.
Aparentemente as estatísticas demonstram que o recurso ao aborto nos hospitais públicos depois da despenalização, é muito inferior ao que se esperava.
A Alexandra poderia congratular-se com esse facto e reconhecer que a normalização que decorreu do resultado do último referendo desmente as previsões catastrofistas dos partidários do "não" que nos prometiam raios e coriscos, rios de sangue e restos de bracinhos e perninhas a juncar as ruas logo que fosse dado o tiro de partida para o novo enquadramento legal.
Infelizmente isso seria pedir demais. O que ela prefere é repetir os processos de intenção do costume ao sugerir que alguém ficou triste por os números estarem abaixo do esperado.
Alguém ficou?
Ao que parece a Alexandra ficou contente. Mas não foi por haver poucos abortos, foi por as previsões da campanha do "sim" estarem erradas. Vendo bem, é triste.
Por outro lado, parece que os níveis de "objecção de consciência" dos médicos foram mais elevados do que se esperava.
E então? Mantiveram-se assim artificialmente baixas as taxas de aborto, negando a tese que ela começa por defender ou isso é um mero paliativo para o orgulho ferido da minoria derrotada no referendo, que não interessa para a questão de fundo?
Contra a própria coerência da sua argumentação brande seguidamente o fantasma da possibilidade da generalização do acto trazida pela legalização, não vá alguém esquecer-se, não vá alguém ainda ignorar que sim, a legislação já está em vigor.
Baseada em que estatísticas desta vez? Népia.
Enfim, os pés pelas mãos, não interessa debater ou analisar seja o que seja, o que interessa é demonstrar que o "sim" estava errado.
Até quando vai esta gente ocupar as mente(zinhas) em desforras estúpidas contra um adversário que só existe na cabeça deles e delas?

 

Ó Chefe, desculpe lá

Queixam-se alguns de uma das caracteristicas mais irritantes do trânsito citadino em Portugal.
O sujeito que pára onde lhe apetece, e que quando passada meia hora vem retirar a carripana que está a bloquear o trânsito sai airosamente da situação lançando um vago "Chefe, desculpe lá" enquanto olha assim meio para o lado e se mete no carro.
Na capa do Diário de Notícias de hoje, aparece um grupo desses patuscos.
Só que não se tratou de impedir o trânsito numa rua da cidade, tratou-se de desencadear uma guerra, uma guerra que apesar de ter ultrapassado nas suas consequências trágicas as mais delirantes previsões dos que se lhe opuseram, eles declararam contra tudo e contra todos, apesar do ar contristado, tão hipócrita como o do sujeito do trânsito, com que admitem agora ter agido "enganados.
Bramando os neoconservadores todos os dias pela rigorosa "accountability" por parte do Estado quando se trata de promover um mínimo de distribuição da riqueza, é útil e importante observar como aplicam esse critério aos deles, ao Bush e "sus muchachos".
É que os mortos quem são?
Uma minoria de Zés Ninguéns americanos e ingleses e uma torrente de "não gente".
E os prejuízos económicos?
Foram gastos militares, e sendo assim tudo está bem para os neoconservadores, contribuiu para relançar a actividade económica e permitiu o aproveitamento de um manancial de "vantagens competitivas" para quem estava dentro do negócio do patriotismo.
E não sabe já toda a gente dos maravilhosos avanços tecnológicos que se seguem sempre a uma boa guerra? De que "todos" vamos beneficiar?

domingo, novembro 18, 2007 

E como nem toda a gente anda a dormir

1 artigo dirigido ao Ministro da Agricultura publicado na página 37 do primeiro caderno do Expresso desta semana, assinado por Aníbal Fernandes e Carlos Pimenta.
Nem toda a gente anda a dormir. Vamos ver se o Ministro acorda.

 

A nova utopia

Nos últimos dias têm-se sucedido as notícias sobre os milagres permitidos pelos OGM.
O tema surgiu na capa da prestigiada Prospect, remetendo para um artigo intitulado "The Real OGM Scandal" de Dick Taverne.
Durante esta semana seguiram-se as notícias sobre as aplicações dos trangénicos na produção de insulina e, aleluia! como a solução para a pandemia da obesidade!
É, literalmente, o Maná.
Esta agitação, com epicentro em meios de comunicação ingleses, surge, qualquer ingénuo pode pensar que por simples acaso, quando foi divulgado publicamente que o governo trabalhista inglês, parafraseando Jorge Almeida Fernandes no Público de hoje, possivelmente tentando "canibalizar os conservadores" se prepara para tomar uma atitude benevolente face à introdução de culturas OGM no seu país.
Em Portugal, numa sociedade completamente anestesiada, ainda se compreende a impunidade com que os OGM têm proliferado e o descuido com que alguns sectores governamentais têm cuidado destas matérias, mas a opinião pública inglesa, muito mais atenta, continua por larguissima maioria a rejeitar essas culturas, apesar das intensas campanhas de "esclarecimento" promovidas pelos vendedores do ramo, e o caso não tem passado em claro.
Uma coisa me intriga no artigo do Dick Taverne:
Parece que a proliferação dos OGM é indispensável para "salvar da fome milhões de pessoas".
Mas a Europa não é de todo a zona do mundo afectada pelo problema da subnutrição. Esse destino trágico está normalmente reservado aos habitantes de outras zonas do planeta, onde, paradoxalmente, o Dick garante que os OGM estão a penetrar em força. Porquê então a aflição em convencer-nos ?

 

Arte viva ou Aborto?

Na capa do caderno Espaços e Casas do Expresso desta semana, o monstro pavoroso que o consagrado arquitecto Gonçalo Byrne projectou para aterrorizar as criancinhas da linha de Cascais em substituição do Hotel Estoril Sol, em todo o seu esplendor .
Nas páginas interiores, à direita numa montagem fotográfica ilustrando um artigo que Fernanda Pedro titula enigmaticamente como "a arte viva de Byrne", descortina-se também a "intervenção" mais "discreta", em "escadinhas" aproveitando a configuração do terreno, que foi anunciada inicialmente para o local. É uma coisa banal que não aquece nem arrefece em qualquer Algarve ou Torremolinos. Mas não há dúvida que os mega "sites" asiáticos e do Médio Oriente exercem uma fascinação especial sobre os arquitectos e engenheiros em qualquer parte do mundo. Também querem fazer parecido. E daí a necessidade do aborto em tons escuros e com o triplo do volume que completa o exercício. E deve ter dado um gozo orgasmático conceber aqueles caixotes em consola, aquele cliché de "ponte"...
É isto a nossa vanguarda da arquitectura? Talvez.
Claro que vai ser uma proeza técnica e inevitável prémio Valmor, Secil, ou um outro qualquer instituído pelos vendedores de perfis metálicos, vidro e a EDP.
O problema é que isto não era Xangai nem um subúrbio de Pequim. Mas com intervenções destas não vai demorar muito. Virão cá os chineses matar saudades?
Por estas e outras razões, não se pode queixar Souto Moura na entrevista que dá à versão online do Expresso Imobiliário: por cá, o arquitecto é mesmo o inimigo.