domingo, maio 25, 2008 

Demitam a Ministra

O que me chocou neste julgamento em que finalmente um juíz decidiu condenar criminalmente um grupo de protozoários praxistas, não foi tanto a exposição do sadismo alarve de cariz fascista que caracteriza esses "rituais" de "integração", como a constatação triste de que os estudantes que se opõem a essas práticas ( ainda que não, hipoteticamente à praxe no seu conjunto) se entregam como carneiros e são incapazes de se organizar em comissões de auto defesa .
Chocou também depreender-se do teor das notícias que as testemunhas de defesa dos praxistas foram... professores da escola onde tudo se passou. Não é tudo mas diz muita coisa.
Também será a Ministra da Educação a culpada?

 

Legalize it

Qual o valor da "verdade do desporto" se os recordistas actuais do salto à vara saltam com varas de fibra de carbono e os do princípio do século XX saltavam com varas de bambu?
Qual o ciclista que consegue hoje, nas condições actuais da alta competição concluir uma Volta qualquer sem "ajuda" química?
Mesmo que o consiga, onde está a "preservação da saúde do atleta" tal a brutalidade do esforço exigido sobretudo se esse esforço for acumulado ao longo de uma carreira?
Alguém ignora o destino de uma percentagem significativa desses competidores em termos de saúde qualquer que tenha sido o estatuto alcançado e o dinheiro que tenham auferido?
Pois bem, já há anos que se acabou com a hipocrisia do ideal Olímpico quanto à possibilidade de os atletas receberem dinheiro pelas suas proezas.
Provavelmente chegou a hora de fazer o mesmo com o doping.
Legalizar o doping em competições profissionais é reconhecer uma situação de facto e poderá, não é certo, mas poderá a judar a prevenir algumas situações de risco mais graves.
E acaba-se com este jogo do gato e do rato em que sistematicamente vão sendo apanhadas as equipas e os corredores e que torna impossível qualquer prognóstico acerca do vencedor de qualquer das grandes provas do circuito internacional.

sábado, maio 24, 2008 

Os fracos e os fortes

A Moção de Estratégia de Manuela Ferreira Leite propõe-se defender os fracos.
Os fracos já sabemos quem são: a "classe média" em crise.
Os fortes, não é dito até às legislativas para não alimentar equívocos que dispersem os votos, mas já sabemos quem são: todos aqueles a quem a lei ainda beneficia com o escandaloso privilégio de leis garantindo um mínimo de direitos laborais.

sexta-feira, maio 23, 2008 

Ajax limpa - vidros

Estima-se que o terramoto na China provocou 50-fugas radioactivas-50, algumas em locais inacessíveis.
Ora bem, se o Partido determinou que não há danos e que ainda não é glorioso ficar radioactivado, o que podem umas fugas radioactivas fazer para prejudicar o ambiente?
A situação deve ser tão segura que Wu Xiaoqing bem podia oferecer a Stewart Brand uma casa na região. Com efeito, o velho ídolo da contra-cultura, editor do célebre Whole World Cathalog e companheiro de Ken Kesey e dos Merry Pranksters declarou numa entrevista à Mother Jones o seu emaravilhamento recente por essa forma de energia tão "fabulously clean and tremendously safe" no meio do habitual chorrilho de disparates sobre a segurança relativa de pontes, arranha-céus e barragens.
Comprovando os efeitos a longo prazo do consumo de ácido lisérgico, Stewart deu ainda outras pistas inovadoras para sair da crise energética, como energia solar captada no espaço (solar space) e enviada para a terra utilizando um sistema do tipo Rayon-U popularizado pela BD dos anos quarenta.

 

Tempo para parar

 

Pesadelo austral

A violência que eclodiu recentemente na África do Sul ameaça arrastar para a catástrofe um dos mais poderosos países africanos e dos poucos que resistiu à passagem do primeiro líder "libertador", geralmente devastadora.
Situação impensável, os pobres sul africanos revoltam-se agora não contra as suas elites mas contra os desgraçados dos emigrantes em fuga dos países vizinhos, nomeadamente do Zimbabwe onde um psicopata perigoso continua agarrado ao poder com a complacência do Presidente sul africano.
Lá, como cá, os emigrantes são os bodes expiatórios das crises.
O Sr. Berlusconi e seus sequazes são exemplo acabado dessa "escola de pensamento", embora na Europa se esteja longe da brutalidade a que agora se assiste em África.
Pelo menos por enquanto.
Os racistas sul-africanos que incentivam os bandos de assassinos, esses, já encontraram as suas "legitimidades":
Ah! se o problema é a luta contra o opressor branco, quem há-de censurá-los?

quinta-feira, maio 22, 2008 

Um problema de higiene

País de excessos, a Itália não se contenta só com o problema de lixo de Nápoles.
Das últimas eleições resultou o regresso da escória mais direitista ao poder.
E daí à declaração da "inevitabilidade" do lixo nuclear, era um passo expectável.

segunda-feira, maio 19, 2008 

Javardice nacional

Ao intervalo da Final da Taça de Portugal, deparei-me com o impensável:
O Estádio Nacional não dispõe de instalações sanitárias para os espectadores e uma bicha enorme aguardava os candidatos a utentes das duas sanitas móveis colocadas por detrás da bancada central.
Sem tempo para esperar, os mais necessitados procuravam as árvores da mata circundante para se aliviarem, indiferentes à patrulha da GNR a cavalo espalhada pela zona.
Tanta exigência ambiental, tanta fiscalização da ASAE e ninguém se lembrou ainda de construir uns anexos com instalações sanitárias para os espectadores de um dos estádios mais simbólicos do País.
Não pude deixar de sentir uma enorme humilhação.

domingo, maio 18, 2008 

Roleta

Há dias, alguém procedeu a um pequeno acto de desobidiência civil na Freguesia da Pena, roubando um sinal de estacionamento proibido no topo da Calçada de Santana.
Quando a Polícia Municipal veio com o reboque, não tinha legitimidade para actuar e teve de voltar para trás ir buscar outro sinal.
O problema do estacionamento em Lisboa tornou-se irresolúvel e a actuação da Policia Municipal tornou-se numa total arbitrariedade.
O pretexto é o combate ao estacionamento selvagem, mas a acção da polícia não é uma acção programada. É uma lotaria que decorre diariamente sem qualquer objectivo confessável. Hoje rebocamos aqui, amanhã rebocamos acolá.
Há ruas onde durante anos estacionam carros sem incomodar ninguém, apesar dos sinais de proibição, eles próprios em muitos casos distribuidos arbitrariamente e totalmente desajustados às condições actuais onde cabem abusos como estacionamentos em cima de passadeiras de peões, em cima de passeios, bloqueando saídas de prédios, em segunda fila.
Um dia vem o reboque e leva dezenas de carros, independentemente do prejuízo objectivo que estejam a causar à fluidez do trânsito ou à mobilidade dos peões.
Passadas algumas horas, rebocado o último carro, novos carros ocuparão de novo o local. É como nada se tivesse passado. Tudo se "normalizará" até que daqui a uns meses ou anos, de acordo com umas quaisquer regras esotéricas, o reboque regressará.
Os critérios de actuação, dada a dimensão do estacionamento em locais assinalados como proibidos, poderiam ao menos ter em conta a fluidez do tráfego automóvel ou dos peões.
Mas por vezes parece que ao contrário. Procuram-se sim os locais onde é mais fácil "trabalhar", isto é, locais que não chateiam ninguém e que o bom senso diria que se deviria permitir estacionar, mas porque não incomodam ninguém e a largura da via facilita a manobra do reboque
Não existe nenhum plano, há apenas um objectivo, e esse é inconfessável. Fazer receitas de acordo com quotas de "produtividade". Não tendo directamente que ver com a polícia, o recente episódio da ASAE é revelador sobre a forma como são geridos estes organismos.
Com este sistema a polícia que se queixa do "desprestígio" perante o cidadão comum abdica de exercer qualquer papel de referência na aplicação das leis, torna-se sim, mais um factor de assédio. Porventura mais benigno do que o aconteceria se a actividade de fiscalização do trânsito na cidade fosse privatizada, mas ainda assim um factor de assédio.

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sábado, maio 17, 2008 

Sofreguidão

Há uns meses atrás fiz um erro na minha declaração do IVA.
Recebi agora no mesmo dia dois impressos diferentes com as instruções para pagar a mesma multa.
Tal é a sofreguidão.

sexta-feira, maio 16, 2008 

Ultrapassagem do homem

A decisão do CAS (Tribunal Arbitral do Desporto) de autorizar o atleta sul africano Oscar Pistorius a participar nos próximos Jogos Olimpicos, parece apenas uma medida de elementar justiça ao reconhecer o direito de os deficientes serem colocados em pé de igualdade com as pessoas "normais".
Na realidade é uma revolução, o início de uma nova era.
O homem biónico dá os seus primeiros passos no mundo da alta competição.
A industria do desporto vai tirar daqui todas as necessárias lições e em breve será este tipo de atleta, com deficiencias "fabricadas" ou aproveitadas com recurso a tecnologia avançada que dominará os desportos de alta competição, serão eles a bater os recordes e a fazer o espectáculo.
Quanto ao doping vai continuar, mas sofrerá profundas adaptações.

 

Tem a certeza?

Manuela Ferreira Leite terá afirmado que canudos do tipo Sócrates não dão sucesso no mercado de trabalho.
Se assim foi, é uma amostra do nível e elevação com que decorrerá a próxima campanha eleitoral.
E lança dúvidas sobre a clarividência da candidata do sector mais "sério" do PSD à liderança do Partido, já que parece ignorar o evidente caso de sucesso que é a chegada de Sócrates a Primeiro Ministro, um cargo a que ela aspira e que só alcançará com muito estudo.

 

Chamem a polícia

Dizem que o Primeiro Ministro foi apanhado a fumar num recanto qualquer de um avião, o que permitiu aos jornais esquecer imediatamente o principal, a visita à Venezuela.
Foi um alívio para os jornalistas e comentadores que puderam assim entreter-se e entreter-nos com um tema leve como o fumo.
Mesmo alguns defensores habituais do tabaco se insurgiram contra o facto extremamente grave de se fumar numa aeronave, uma estrutura extremamente sensível que pode explodir por dá cá aquela palha, pelo deflagrar de um fósforo ou o click de um isqueiro.
Os resultados da delação foram importantes para a nossa vida política.
O PSD exigiu uma multa. Pesada, como é evidente. Surpreende que não tenham exigido nenhuma demissão. Surpreende que defendam que o Estado aplique assim multas com base numa notícia dos jornais.
O Primeiro Ministro disse que ignorava a lei e pediu desculpas. Como penitência por ter sido apanhado num sistema de delação em relação aos fumadores que contribuiu para criar, prometeu que vai deixar de fumar. Quanto bastou para que alguns se tenham tranquilizado, pois a Democracia "funcionou"...
Para que tudo fique resolvido só falta que o Primeiro Ministro passe a conhecer bem as leis.

quarta-feira, maio 14, 2008 

Sem rede

Os americanos não vivem subjugados por um Estado Providência e isso reflecte-se com grandes vantagens no seu sistema de saúde, ou melhor dizendo, na sua ausência. Cada um disfruta assim da ímpar sensação de liberdade só ao alcance de quem sabe que depende apenas de si próprio. Fantástico para quem é saudável.

segunda-feira, maio 12, 2008 

Febre

Fiquei surpreendido com a crónica de Faranaz Keshavjee na edição do Público do passado Domingo.
Partindo de considerações consensuais sobre a necessidade de romper com o maniqueísmo, Faranaz Keshavjee critica as recentes declarações de Bob Geldof sobre Angola em termos oriundos do paleolítico da análise política.
Para legitimar o seu raciocínio, acompanha os media angolanos controlados pelo governo local que comentaram o caso e parte de um conveniente erro factual.
É que Bob não chamou criminosos "aos angolanos".
Ele disse que Angola é governada por criminosos, o que é substancialmente diferente. Digamos que é totalmente diferente.
Ainda se essa acusação fosse feita aos israelitas que elegem mais ou menos democraticamente os seus governos racistas, poderia ter algum vago sentido, mas os angolanos pouco são tidos ou achados quanto a quem os domina. Quem domina em Angola é o resultado de uma impiedosa luta de clãs em que o adjectivo impiedosa não é mera metáfora de jornalismo sensacionalista.
O apoio de muita gente à expressão do Bob Geldof provém da convicção de que Portugal, graças ao 25 de Abril, fez o que havia a fazer para resolver a situação das colónias que o salazarismo deixou gangrenar e como tal, pesem embora alguns interesses económicos e os laços afectivos que prendem muitos portugueses a África, muita gente sente-se à vontade para dizer o que pensa em relação aos PALOP, sem pesos de consciência.
Contra vários sectores que clamaram contra o "abandono" do Império, ou a sua entrega à URSS, Portugal levou ao limite a tentativa de evitar a tentação neo-colonialista.
Nada de regimes de "transição", nada de cozinhados com os ex-colonos cuja consequência seria inevitavelmente o prolongar do envolvimento de Portugal na guerra.
A soberania dos novos países foi entregue aos movimentos que se bateram pelas armas contra o colonialismo português. Ficou nas mãos deles a responsabilidade de transformarem as colónias relativamente atrasadas em países democráticos e de futuro, explorando países viáveis, ricos em matérias primas e até dotados de algumas infra-estruturas.
De outra forma, se as lideranças desses movimentos não consideravam esses Países viáveis, o que os levaria a pegar em armas e exigirem a sua independência?
Portugal não pode apagar um passado colonialista que teve certamente pesadas consequências para os angolanos e os outros, mas também não podemos deixar de constatar com profundo desapontamento que não implica qualquer espécie de saudosismo ou reavaliação das soluções encontradas, que passados trinta e cinco anos e entregues os novos países cheios de potencialidades aos seus representantes de facto, a era de de abundância que neles, livres da canga do colonialista, se anunciava, se concretizou em brutais guerras fratricidas, crimes de extrema crueldade entre camaradas e contra as populações inocentes, milhares de mortos e estropiados pela colocação indiscriminada de minas, a miséria mais terrível para a maioria das populações.
É isto, afinal, o que, para Faranaz, "durante pouco mais de trinta anos se conseguiu construir depois de muitas décadas de destruição maciça por culpa dos europeus, mormente dos portugueses".
A tal ponto que as pessoas mais familiarizadas com a realidade angolana frequentemente desvalorizam a pequena e grande corrupção que grassa a todos os níveis e condição de sobrevivência e num gesto de simpático paternalismo de matriz colonialista atribuem-na a uma característica mais pitoresca da cultura local.
Sempre em nome da liberdade e "do povo", dessas lutas resultou o açambarcamento das riquezas por minorias cuja única legitimidade reside no poder militar e policial, que se entregaram à nobre tarefa de enriquecerem da forma mais chocante, totalmente indiferentes à miséria e carências generalizadas. Esta falta de solidariedade para com a maioria da população, é alias comum, infelizmente, a muitos países do terceiro mundo, e em muitos líderes em que todos, lá, e cá depositaram excessivas esperanças.
Veja-se a tragédia do Zimbabwe, onde um ditador decrépito se agarra ao poder com todas as forças apesar de perder eleições e apesar do desastre que provocou na economia do seu País, veja-se o que se tem passado recentemente na Birmânia em que uma trupe de militares está mais preocupada em salvar a face do que acudir à população dizimada por um desastre natural.
Num texto indigente em que mistura alhos com bugalhos, Faranaz inverte o "maniqueísmo" e quer-nos convencer de que alguns dirigentes dos países do chamado Terceiro Mundo que não passam de algozes dos seus povos enquanto as suas contas em bancos estrangeiros engordam, muitas vezes à custa de dinheiros destinados a ajuda humanitária e a projectos de desenvolvimento, são "bítimas" inocentes às mãos dos "colonialistas", não resistindo mesmo a ir buscar a despropósito o exemplo do Bush a pretexto da guerra do Iraque, quando perante gente como José Eduardo dos Santos (com quem de resto os americanos até se dão bem), Robert Mugabe e outros do mesmo calibre, como a rapaziada do Sudão que não hesita em mandar tropas liquidar a sua própria população, o Bush até se arrisca a ficar bem no retrato.
Faranaz, por favor, pensa no que escreves. Não vás por aí.
O que tu defendes não são princípios democráticos, é o branqueamento de oligarquias. E isso não é "compreensível", isso não é nada de esquerda e nada tem de multiculturalismo.

 

Do que eles se lembram...

O simpático Máquina Zero, tem uma versão em inglês com o título Jarhead.
Num dos seus últimos posts, insurge-se contra o jornal "esquerdista" "Le Monde" por pretender "to finish with what remains from France".
What remains (?!!!!) from France...
Não falta topete ao Máquina Zero.
Por outro lado, é perturbante esta tendência de alguns blogs portugueses serem escritos em inglês, já que mina a nossa Pátria bem amada, a Língua Portuguesa e ameaça "to finish with what remains from Portugal", arrasado pela catástrofe de 35 anos de democracia, eleições livres, partidos políticos, sindicatos livres, alfabetização, aumento drástico da esperança média de vida, queda dramática da mortalidade infantil, entrada na CEE, eu sei lá....
Conselho ao Máquina Zero...
Uns quinze dias de férias em Paris, a aproveitar "what remains o France"... oh la la

 

Rigor místico

As aparições genuínas são um bem desejado mas muito escasso.
A Igreja apenas reconhece como autênticas 15 entre 20 mil , diz a edição de hoje do Público.
Por outro lado, só portugueses, há 33 candidatos a santo ou beato.
Pelo menos numa coisa, nas visitas de entes sobrenaturais, somos mais privilegiados do que os americanos nesta espécie de Tratado de Tordesilhas entre seres que nos governam à distância. Aqueles limitam-se a ser visitados por extra-terrestres, vindos de muito, muito longe mas ainda assim seres mais ou menos vivos, enquanto nós contamos com a presença regular da Mãe do próprio Deus.
No que toca a candidaturas a santos ou beatos, os americanos são mais pragmáticos fazendo jus à reputação do "american way of life".
Qualquer um forma mas é logo uma seita, de preferência poligâmica. Lá, o que interessa é o espírito de empreendedorismo, gosto do risco, fundar a seita. É um mercado inesgotável e discípulos dispostos a venerar o mestre aparecem sempre.

domingo, maio 11, 2008 

Burocracia informativa

Relativamente à notícia da SIC e à forma como a imprensa em geral tratou este caso da interpelação da Comissão Europeia ao Governo sobre os projectos no litoral alentejano, colocam-se outras questões:
A primeira é a da passividade. Como se se desse de barato que o Governo e administração pública erraram.
A imprensa e sectores da opinião pública noutras circunstâncias tão preocupados em afirmar, por vezes até aos limites da parolice, extremosas preocupações relativamente à nossa eventual perda de soberania face a uma Comissão em geral suspeita de "neoliberalismo", aceitaram uma comunicação feita em termos genéricos e sem qualquer tipo, que se saiba, de justificação detalhada, como se não estivessem em causa decisões importantes do nosso governo e como se fosse líquido que este tenha errado.
Como se estivessem constrangidos pela má consciência e fizessem fé nas catilinárias maniqueistas de um Sousa Tavares para quem tudo o que cheire a construção fede corrupção.
A segunda é a indigência burocrática como se tem tratado do caso.
Num caso desta gravidade, que lança suspeitas sobre a competência e idoneidade de Governos, autarquias, técnicos e organismos da administração pública, esperar-se-ia que pelo menos um de entre as centenas de jornalistas fosse estudar o tema, compulsando dossiers, triando a floresta de legislação e analisando documentos de projecto, entrevistando os diversos intervenientes e elaborando uma perspectiva de forma independente. Dá muito trabalho, para um tema que não mete sangue nem sexo.
Pelo contrário, as "notícias" editam "reacções", reproduzem uma ou outra passagem de algum documento e repetem parágrafos já mais do que esgotados e que nada acrescentam ou atrasam para a compreensão da questão, só palha.
Onde está o jornalismo de investigação em Portugal?
Abafado por um jornalismo funcionário e bajulador que se habitua à condição de "angariador" de "patrocinadores" de cadernos temáticos.

 

Pin pulismo

A propósito de uma interpelação da Comissão Europeia ao Governo por causa dos projectos do Litoral Alentejano, lá foi a SIC fazer uma local à freguesia de Melides.
O pendor poético do texto que acompanha a peça é adequado aos vários equívocos que cercam este caso.
"Os pinheiros dão lugar ao asfalto", seria uma imagem bucólica se os pinheiros não corressem o perigo de extinção na zona, não devido ao asfalto, mas sim por causa da praga do nemátodo, e "as acácias são substituídas por manilhas" é uma imagem bastante expressiva que ignora que a acácia é uma planta invasora cuja erradicação na zona é aconselhada por vários especialistas.
O protagonista da história acabou por ser um representante local da Quercus.
"Os projectos são bons" disse o abalizado urbanista "mas deveriam ser construídos noutro lado".
Vê-se que o homem sabe avaliar empreendimentos. E sabe pegar-lhes como se fossem aviões de papel e depositá-los noutra localização que a sua presciência ditará como mais ideal do que a actual.
Como as empresas promotoras dos projectos em questão adoptaram a posição de não se pronunciarem sobre decisões dos tribunais ou sobre acções interpostas contra o Estado português, este folhetim dos projectos da Costa Alentejana tem sido pretexto para os disparates mais infantis.
Num País onde a área sujeita a intervenção urbana terá crescido 30 a 40% na duas últimas décadas, é intrigante a sanha da Quercus contra empreendimentos que significam uma fracção ínfima desse volume... a atingir daqui a décadas.
Num País que tem um Algarve, uma Costa da Caparica/Fonte da Telha e tantos outros lugares com construções de grande densidade a poucos metros do mar ou das arribas, apresentam-se estes empreendimentos como "novos Algarves" quando não há novas construções previstas a menos de mil metros do mar, sendo nesses mil metros constituídos corredores dedicados exclusivamente a acções de conservação da natureza ou de renaturalização segundo planos, protocolos, calendários e orçamentos conhecidos e aprovados pela CCDR Alentejo e pelo ICN e por quem quiser consultá-los ou integrados no POOC (Plano de Ordenamento da Orla Costeira) onde se não prevêem outras construções que não sejam estruturas leves para apoios de praia.
Para ser mais exacto, é intrigante a sanha da Quercus sobre um dos empreendimentos, já que pelo menos um dos outros que têm sido referidos pela imprensa continua pacatamente em construção sem que os funcionários da Quercus promovam qualquer assédio ou "alerta".
Por outro lado, é intrigante como algumas pessoas com responsabilidades técnicas e políticas deixam marinar a ideia falsa de que estes projectos foram aprovados do pé para mão à custa de umas facilidadezinhas concedidas ao abrigo da famigerada figura dos PIN, quando qualquer pessoa que queira investigar o tema pode descobrir que para esses projectos, o processo PIN foi um passo administrativo ADICIONAL que ao fim de quase duas décadas de processo lhes deu mais trabalho e ainda por cima má fama.

 

Que viva Estaline

Sempre que entro na casa de banho de um restaurante penso na ASAE.
Não se sabe porque carga de água, mas parece ser um dos poucos organismos do estado com função fiscalizadora que "funciona" sem se deixar enredar na teia de excepções, pedidos, acções, providências cautelares, desculpas, tretas com que nós, portugueses contribuimos eficazmente para a paralisia da justiça enquanto bramamos contra a ineficácia do Estado na aplicação da justiça. Veja-se o caso do trânsito...
Há uns anos, envergonhado pelo fedor a urina que se sentia na sala de um famoso restaurante do Bairro Alto onde levara uns amigos, questionei a gerência que me garantiu candidamente que não podiam fazer nada porque a culpa era dos clientes. Acreditei, e por não me quer misturar com essa ralé nunca mais puz os pés nesse tugúrio repugnante.
Hoje em dia, graças em grande parte àquela organização, é possível entrar na casa de banho da maioria dos estabelecimentos portugueses sem sair de lá aos vómitos.
Alguns desenvolvimentos recentes têm contribuído para borrar a pintura.
O último, noticiado na primeira página do Expresso desta semana, tem foros de absurdo.
Entre os "objectivos" da ASAE contam-se quotas de detenções.
Se isto é verdade, quem estabeleceu esses objectivos deveria ser imediatamente demitido.
Prefiro submeter-me ocasionalmente a maus cheiros do que a ser governado por aprendizes de ditadores.

 

629

Não é ainda o número da besta, mas apercebi-me agora de que este é o seiscentésimo vigésimo nono ( espero que seja assim que se escreva) post do Bidão (a minha modéstia impede-me de incluir o link). Não é inacreditável? Vou começar a pensar n'o livro.

quarta-feira, maio 07, 2008 

Enxerguem-se

Bob Geldof, o gajo que do dia para a noite subiu 100 pontos na minha consideração ao partir a loiça e dizer em público e alto e em bom som, o que toda a gente pensa, para terror dos patrocinadores.
Agora há uns sujeitos quaisquer, que não interessam ao Pai Natal que dizem que ele ofendeu "os angolanos". Os angolanos? Quais angolanos? Os sanguessugas? Puta que os pariu.
Não me venham com conversas moles sobre "a natureza" dos angolanos e como eles "são mesmo assim". O que se passa é que num País imenso e rico, independente há mais de trinta anos, há uma minoria a rebentar de riqueza e uma imensa maioria a viver na miséria, isso é que ofende os angolanos. E já cheira mal a desculpa do colonialismo.

 

Fuga para a frente

Ainda não arrefeceu o súbito estupor de Governos e comentadores com as consequências dramáticas da concretização da panaceia dos biocombustíveis, e já se perfilam, quase como corolário, os OGM como solução milagrosa para os problemas de abastecimento de cereais causados por aqueles e o nuclear como "solução inevitável" como declarou Carlos Monjardino.
Os biocombustíveis são um caso típico de emenda pior do que o soneto causado pela humana "procura de soluções inovadoras" e ausência de reflexão adequada.
Ainda há poucos anos eram bandeira de uma minoria preocupada em encontrar alternativas energéticas, unindo ambientalistas iluminados e adeptos da "autonomia energética".
Bastou o início do presente choque petrolífero para que se tornasse uma solução "viável" para os grandes produtores e, com a procissão ainda no adro, num desastre económico e ambiental.
Mas parece que este exemplo não é suficiente para os adeptos das soluções "inevitáveis".
Enquanto a imprensa portuguesa procura manter-se numa posição "equidistante" e "equilibrada", significando na prática que anda a reboque dos comunicados dos vendedores de OGM, torna-se recomendável a leitura do artigo "Monsanto's Harvest of Fear" publicado no número verde de Maio de 2008 da Vanity Fair, por duas razões: lembrarmo-nos do que é o jornalismo de investigação numa grande revista americana (este número traz outros artigos excelentes, como uma investigação sobre os responsáveis do processo que levou à adopção da tortura como método de interrogatório patrocinado pela actual administração americana), e dos métodos dos vendedores de OGM.