domingo, julho 30, 2006 

Dúvida existencial

Será que estou a ficar "conservador"?
Assalta-me esta dúvida ao ler este artigo de Michael J. Mazarr publicado na circunspecta Policy Review.
Um especialista militar discute os novos conceitos da moda, como a 4GW (fourth generation war) e a "War on Terror", e aponta, de uma forma muito mais articulada e informada do que me é possível, ideias que na prática, não andam muito longe do que escrevi de forma mais tosca na parte final deste post.
O artigo é longo e a sua leitura requer ao não especialista como eu, algum esforço para compreender as teorias militares expostas, mas compensa. Quanto a mim é um dos artigos mais interessantes que li nos últimos tempos sobre estas questões.
(nota: nesta página procurar o artigo "Uma Guerra Imoral" da Constança Cunha e Sá no Público de ontem)
Algumas passagens que estão longe de esgotar a leitura:
(...The odds are, of course, that we will not do these things. The American popular understanding of war and national security are firmly lashed to images of Iwo Jima, laser-guided bombs, and tough, bearded special operators to allow any political leader to broaden self-defense in these apparently social-worky ways. The notion of substituting grand, society-wide therapeutic efforts for the 82nd Airborne — and justifying it with the use of terms like identity, alienation, and grievance — is not a challenge most politicians will tackle on the campaign trail. The domestic sustainment of the social effort needed to wage conflict has always relied on brute invocations of the need to “hit back at evil.” And so, in all likelihood, we will continue to militarize conflicts that are essentially psychological in character, continue to burst onstage in a Freudian drama dressed up as Bismarck. The result will be — the result is today — to exacerbate rather than calm the grievances, alienations, fears, and resentments that feed conflict.

Practice the greatest restraint possible in foreign policy. We must keep two stubborn facts firmly in mind: a number of psychologically-induced conflicts are likely to be underway at any given time in the world, and each of them will be devilishly hard to resolve. Staying out of their way is the most reliable avenue to safeguarding U.S. national interests, and as often as not this means adhering to a narrow definition of those interests. It suggests, then, something close to the opposite of a global crusade on behalf of democratic reforms, something that may easily worsen rather than alleviate psychological stress. In Russia, Germany, and Japan alike, ineffectual, short-lived parliamentary democracies were the precursors to radicalism; the combination of governmental ineffectiveness and corruption with the dashed hopes for a better and freer society has played a leading role in bringing down a host of emerging democracies.

Do not become the focus of the alienation. Adopting policies in the name of geopolitics that place us in the crosshairs of psychopolitics — supporting a repressive regime beset by an exploding antimodernist social movement for “pragmatic, strategic” reasons — will almost always work to our disadvantage.

Crush the true extremists. When we encounter a group that is truly beyond reach, who have gone so far down the road of alienation and humiliation and rage, there is no alternative but to capture and kill them as rapidly and completely as possible.

Note again the contradictory requirements of this agenda. Our task these days is not the linear requirement of destroying a given percentage of enemy forces; it is a fluid, nonlinear undertaking strewn with paradoxes and dilemmas. How do we crush extremists without generating humiliation? How do we accelerate economic growth to create avenues for identity formation without aggravating the specter of “Westernization” that helps spark alienation in the first place? The paradoxes of this challenge are on vivid, and often tragic, display in Iraq today — the need to destroy insurgents without mistreating innocent Iraqis; the desire to hasten economic and social development without creating even more cultural disquiet; the effort to liberate the Iraqi people while making them feel as if they’ve done it for themselves. These are dilemmas with which we are sadly stuck because, in taking on this intractable challenge, we violated the principles of restraint and avoiding humiliation — reasons why a psychopolitik approach would have argued, on balance, against invading Iraq in the first place. (It would also argue, for reasons that ought by now to be obvious, that we should do everything in our power to avoid a military showdown with Iran.) ...)
Note, too, that this agenda disputes the idea that we are engaged primarily in a “war of ideas.” Certainly, ideas and ideologies play leading roles in the psychodramas of modern life, and a vastly upgraded public diplomacy effort is in order. But we must not fool ourselves: Ideas are the product of circumstances, and unless those circumstances change, all the glossy pro-American magazines and graduate school scholarships in the world will only serve to harden perceptions about callous Western propaganda. This is a conflict with roots in the condition of societies — issues like opportunity, effective governance, status in the world community, and so on. Fighting it as a “war of ideas” will merely be to treat, once again, a symptom rather than the cause.
And note, finally, what this perspective has to say about the claims of our national leaders that we are “at war,” with all that that has traditionally meant: an effort to mute dissent “during the war”; the breathtaking escalation of executive powers, free from any legislative restraint, “during the war.” The fact is that we are not “at war” in the way the framers of our Constitution understood that concept when they wrote the document. We are engaged in a different enterprise entirely, one that overlaps only a little with war as it has been traditionally — and politically — understood. More than any well-honed constitutional theory, it seems to me, this simple distinction hacks the legs out from under the assertions of executive privilege in wartime being made today.
Vendo bem as soluções propostas vão no caminho de ideias que têm sido debatidas desde o 11 de Setembro de 2001, mas sempre etiquetadas de "antiamericanas" pelo aparelho de propaganda do lobby militarista.
Passados três anos de desastre, e exposto o beco sem saída, a incompetência e a hipocrisia dos "nation builders" comece a ser possível aos países civilizados assumirem-se como tal.
Nota: Link encontrado no Haaretz. Bolds e cores meus.

sábado, julho 29, 2006 

Sons da Frente

Nem todos os israelitas são os trogloditas que por vezes somos levados a crer que são, à imagem das suas chefias militares e políticas e dos detentores do franchising "apoiantes de Israel", no "ocidente".
Quando estamos de fora, é fácil, por vezes, criticar.
Mas para falar no epicentro do terramoto é preciso muita coragem para além do bom senso, e é por isso que eu tiro o chapéu a este editorial do jornal israelita Haaretz .

 

Brincar aos aviões

É claro que tácticas como a do "sonic boom", têm imenso a ver com o direito de Israel a proteger-se e com a "wide picture" geo-estratégica que contextualiza esse facto banal na luta pela hegemonia regional e as necessidades do Irão de desviar a atenção do planeta dos seus esforços a caminho do nuclear.
Quem não as compreende, é, claro está, um anti-semita e antiamericano primário.
Quem tenha dúvidas, pergunte ao Pacheco que há-de ter uma boa explicação.
nota: parece que posteriormente a esta notícia, choveram e-mails de palestinianos tranquilizando a opinião pública e agradecendo a Israel.
Afinal os aviões estavam apenas a funcionar como despertadores, dada a carência de objectos vários que se tem verificado na Palestina por incúria dos palestinianos.

 

A caminho da Califórnia

O "estilo israelita" de resolução de problemas, tão idolatrado por aqueles que adoram o Dirty Harry e soluções expeditas, irá provavelmente conduzi-los de vitória em vitória à destruição final, arriscando-nos nós, já actualmente reféns de Israel por via da transformação do grupo que controla o poder político nos Estados Unidos em títere da chefia israelita, a ser arrastados na onda.
Até lá, os políticos tão ansiosos por uma intervenção europeia, habitualmente tão preocupados com déficites, vão ter de fazer bem as contas todas de uma estúpida presença militar no Médio Oriente.
Americanos e israelitas cozinharam esta situação, desprezam a ONU e a Europa, mas não descansarão enquanto nos não meterem também no atoleiro, porque já perceberam que sózinhos não vão a lado nenhum e uma Europa em paz não lhes traz beneficios nenhums, pelo contrário.
Espero sem muitas ilusões que mais uma vez prevaleça a "impotência europeia", a da "velha europa" que o sr Rumsfeld gosta de comparar com a Líbia, e a aventura se limite aos ingleses e polacos do costume, com o tempero provável de alguns alemães.
Em certa medida, esta revisitação dessas páginas muito negras, entende-se como uma tentativa de retribuição por feridas profundas que nunca foram cicatrizadas.
Como a memória das pessoas é extremamente curta, convém relembrar algumas semelhanças desta situação com a fase final do colonialismo.
Nessa altura, os poderes políticos de países como a França, Portugal e Estados Unidos, fiados numa muito superior capacidade militar, pensaram poder resolver as situações de revolta nas suas colónias, "com mão dura", deixando aos militares as mãos livres para acabar com "o terrorismo" com quem, por definição, não se negociava.
Os resultados trágicos estão bem documentados, salvo para alguns alucinados que persistem em manter que "os militares tinham a situação completamente controlada" e querem experimentar outra vez. As sequelas ainda estão aí, mas eles querem mais.
Não percebem que a tecnologia ainda não é capaz de domar com a força e a arrogância populações de milhões de pessoas dispostas a tudo.
Não percebem porque não lhes custa nada despejar bombas a la gardére sobre gente indefesa pensando que mais tarde ou mais cedo, alguma coisa lhes vai rebentar na mão, ou no autocarro, ou na escola, ou no metro. São eles os verdadeiros cobardes.
A única forma de controlar essas pessoas, a forma moderna que está à vista nas nossas sociedades em que a luta de classes e a contestação se reduziu a pouco mais do que zero, por muito estranho que isso pareça na situação actual, é pela persuasão.
Se se quiser usar uma linguagem crua, é pela "corrupção moral ou outra", pela "disseminação do consumismo" e pela "assimilação cultural", justamente as maiores vantagens do capitalismo, mas das quais, estranhamente os seus maiores defensores parecem duvidar.
Tal como a "solução militar", de resto, tudo isto custa tempo e dinheiro.
E algum espírito visionário.
Mas não é preciso pensar muito tempo para perceber qual solução oferece mais lucros imediatos à industria militar e às companhias petrolíferas.

 

A minha normalidade é mais normal do que a tua

Dão-me vontade de rir aqueles cidadãos escandalizados com a anormalidade que constitui "em qualquer país normal" a presença de um movimento como o Hezzbollah.
Têm toda a razão, em qualquer país normal.
Mas o que é que eles encontram de "normal" na situação do Médio Oriente?

 

Um dó li tá

Agora parece que o Hezzbollah já tem mísseis que alcançam cinquenta quilómetros.
Naturalmente que a zona tampão necessária a Israel terá de passar dos dez quilómetros para os cinquenta quilómetros. Ou mais.
Mas se já se fala que o Hezzbollah tem mísseis que alcançam cem quilómetros...
O que vale é que Israel chega a todo o lado, mas a zona tampão vai ter de ser confortavelmente ampliada.
Até onde? Ui!
Tal como acontece nos territórios ocupados por Israel, o Líbano ( e parte da Síria) têm de ser transformados num no man's land para a segurança total desse simpático país.

 

Fabulosa Diversidade

Ainda estremunhado liguei a TV , Sic Notícias.
É anunciado para breve o programa "Música do Mundo", fiquei com curiosidade e assiti.
(nota: queria fazer um link para o Programa, mas o site da Sic Notícias não abre a grelha de programação)
No programa:
O grupo nova iorquino The Strokes "o mais importante da sua geração".
(eles próprios dizem que não percebem o que isso quer dizer)
O grupo português Vicious Five.
Preocupam-se "com os miúdos" com cujos problemas "se identificam" e tocam rock.
A cantora mexicana Lila Downs. (o site é bonito e dá para ouvir a música dela)
O toque de charme.
George Michael ( por sinal o melhor videoclip do programa).
E ficamos por aqui em termos de diversidade musical.
A Musica do Mundo, (não o programa que apenas reflecte essa realidade) é só uma e sempre a mesma. E está sempre a dar por todo o lado, até no metro.
Talvez não esteja errado.
No fundo os "programas de música", a começar pelo massacre que é a MTV , são apenas programas de publicidade não paga necessários para promover uma indústria.
E o melhor é a diversidade crescer, na sombra, ignorada dos consumidores, espontânea, livre.

sexta-feira, julho 28, 2006 

Galo

No meio disto tudo, quem tem razões para estar chateado são os sérvios bósnios.
Por ambições idênticas às dos israelitas, fizeram a política por "outros meios" e acabaram esmagados militarmente e os seus lideres julgados em tribunal internacional como os vulgares criminosos de querra que foram.
Pior, no entanto, foi verem criminosos do mesmo calibre como os israelitas, apoiarem militar e diplomaticamente os seus inimigos muçulmanos bósnios, em cujas fileiras militou a fina flor jihadista.
Realmente, há filhos e enteados.

 

Escolhas

No seu artigo de hoje no Público, Constança Cunha e Sá, faz-se eco de uma preocupação muito habitual:
"É verdade que a indignação perante a morte de "civis inocentes" é selectiva. Se estes tiverem o azar de viver na Tchetchénia, no Ruanda ou na Somália podem morrer aos milhões perante a indiferença da comunidade internacional. Se, em contrapartida, forem atingidos por tropas israelitas ou americanas, o caso muda de figura e o horror pela "destruição cega e gratuita" atinge proporções universais", escreve.
Há nesta versão do célebre chavão dos "dois pesos e duas medidas", vinda de quem detesta o "políticamente correcto" algo que não bate bem:
É que a aplicação do princípio da "guerra como continuação da política por outros meios" que justifica as acções israelitas, ( objecto do artigo de Constança), tem igual cabimento no caso da Tchetchénia, por exemplo, onde a Rússia cumprindo o seu papel na "Guerra ao terror" global, actua com total impunidade e barbárie.
Quererá isto então dizer que os criminosos de guerra de Moscovo deveriam ser mais denunciados? E porquê? Por fazerem a política por outros meios?
Para que os americanos vetassem quaisquer críticas em nome da sacrossanta guerra ao terror?
Ou será que no caso dos massacres russos no Cáucaso, por qualquer misteriosa razão Constança já vai em telenovelas e supõe que os americanos ou outros teriam legitimidade ou razões para condenar os russos?
Resumindo: o que é que se ganharia com isso?

 

Pim, Pam, Pum

No Público de hoje, Pulido Valente faz em três penadas a síntese da actual crise político militar do Médio Oriente.
Como só ele sabe fazer.
Por isso Pulido Valente deveria evitar escrever livros.
Apenas em três parágrafos e meia dúzia de frases de admirável concisão é possível fazer assim, com tanta clareza, o epitáfio da civilização árabe.
Registe-se que em artigos anteriores do que parece ser uma edição em fascículos, Pulido já fez o mesmo à nossa civilização.
Por mim aguardo com impaciência a edição de um talentoso resumo do inevitável declínio e eminente queda fragorosa da civilização Arcturiana de Alpha de Centauro.

 

Casei com uma Pop Star

Constança Cunha e Sá escreve hoje um longo e trapalhão artigo em que toma partido neste conflito como qualquer mortal, mas investindo a sua legítima opção de uma visão de "grande angular" sem descer aos argumentos comezinhos e preocupações moralistas da manada.
É como um jogo de xadrês, as pessoas não contam, não interessa e até é pernicioso referirmo-nos a esse factor secundário.
Da conversa entorpecente sobre os nossos "valores civilizacionais", que "deu" durante a fase da preparação da opinião pública para os benefícios da invasão do Iraque, manobramos já a todo o pano na "guerra é a política por outros meios", o último meme à disposição para adornar as avaliações geoestratégicas trinca na pera que passam muito acima do "pó", coisa, acima de todas, que parece incomodar Constança.
O espectáculo da violência, diz, é uma telenovela.
É no que dá, ver tantas telenovelas.
Já não se consegue distinguir entre a telenovela da Globo, a da TVI ou a do Líbano.

 

Rumo à vitória

Agora percebe-se porque tanta gente se regozijou com a retirada de Freitas do Amaral.
O novo ministro dos Negócios Estrangeiros declarou que Portugal "está disponível" para integrar uma força de interposição internacional no Líbano.
Se bem que esta perspectiva alegre certamente várias dezenas de militares para quem é importante um reforço do ordenado que ajude a pagar o apartamento em época de crescimento das taxas de juro, penso que será um erro grave fazer o frete a Israel.
Quando muito, dado não podermos opor uma recusa peremptória à "comunidade internacional" dada a nossa difícil independência, recrutava-se uma Brigada Internacional em que participariam Luciano Amaral, Francisco José Viegas, José Manuel Fernandes, Pacheco Pereira e a restante seita do costume.

quinta-feira, julho 27, 2006 

Os voluntários

Israel deve achar piada a estes esforçados labregos que se revezam por turnos voluntariamente(assim se julga) a "justificar" o injustificável por mais hediondos que sejam os crimes, por monstruosas que sejam as acções.
O preto é branco, o vermelho verde.
A Roménia de Ceaucescu aqui tão perto...
Ignorará esta gente que o pessoal vive no século XXI e vê televisão, vê as notícias que eles gostariam censuradas, na Internet?

quarta-feira, julho 26, 2006 

Trabalhinho sujo

Ligo a televisão e está o inevitável Pacheco Pereira a explicar que o Hezzbollah costuma transportar armanento em Ambulâncias da Cruz Vermelha.
A repugnância e o pudor obrigam-me a desligar a televisão.
Há limites para a abjecção.
Mas o que é isto?
Esta gente está doida?
Sabemos que diariamente milhares de criminosos, muitos deles perigosissimos embora não reinvindiquem causas políticas, circulam pelas nossas cidades. Vamos bombardeá-las para "limpar" o País?
Resta um detalhe que Pacheco deve achar pequeno para referir.
Menor.
Os atingidos pelos ataques de Israel a ambulâncias da Cruz Vermelha, ao que consta não são membros do Hezzbollah.

 

Juizinho

Tal como estão as coisas, quando Israel, o pide mau, exige à "comunidade internacional", o pide bom, que patrulhe por si o sul do Líbano, o melhor é obedecer.
Vai ser provavelmente essa a atitude sensata dos nossos "líderes".

 

Reféns

Ambulâncias da Cruz Vermelha bombardeadas, observadores da ONU assassinados, escudos humanos em Gaza, Israel continua imparável na sua cruzada pela defesa dos sagrados valores da nossa civilização.
E já nada disto causa estranheza.

terça-feira, julho 25, 2006 

Remote control

Pode parecer aberrante o facto de todo o planeta se encontrar refèm de um pequeno País criado de forma artificial há cerca de 60 anos, mas há que reconhecer brilhantismo aos seus estrategas.
Arrasando tudo à sua passagem, com uma brutalidade que não arranca um pio à "comunidade internacional", Israel cria uma zona "tampão" para se proteger, e quer atribuir agora à NATO o papel de "proxy", a gerir a situação por si, lidando diariamente com a destruição ingovernável, a revolta criada entre os desalojados e os rockets do Hezzbollah.
Isto evitando expor o seu exército a uma guerra de atrito numa área cada vez mais desproporcionada face à sua realidade demográfica, que não lhe convém, e mantendo as mãos livres para continuar a violar as leis que quiser, sem quaisquer condições, incluindo se necessário for a capacidade para continuar a pôr a ferro e fogo os territórios que quiser.
O papel de Condolezza e Bush torna-se cada vez mais importante:
O de porta vozes musculados da liderança israelita.
Dos europeus, já sabemos a impotência, resta saber quando é que acordará a opinião pública americana.

 

Dos dois lados da barricada

Na revista Der Spiegel, que com uma certa frequência serve de porta-voz aos escribas mais conservadores e ao bushismo mais primário, um artigo de um tal Matthias Küntzel defendendo a intervenção israelita no Líbano.
Começa com a repetição do argumento patético que temos lido, com resultados brilhantes ao longo dos últimos cinco anos:
"The natural reaction to the current violence in the Middle East is one of horror. It's time for a cease-fire, right? Not necessarily. Pacifism would only help the radicals."
O pacifismo "só ajuda os radicais".
É? Então vamos ser belicistas. E qual o resultado que tem dado?
Matthias enumera de seguida umas razões infantis e lapalissianas para suportar a sua tese, colocando-se do ponto de vista do Mossad.
"Israel's military operation has already resulted in positive effects."
Efeitos positivos!
Parece que são marcianos a falar.
Percebe-se quais os efeitos positivos da acção de Israel quando se virem as fotos que ilustram o artigo. Vale a pena para quem tenha estômago.
Na Mother Jones, surpreendentemente, e mostrando que há sempre razões para acreditar nalguma coisa, Mario Vargas Llosa em The Lebanon Blitz consegue fazer uma análise decente da situação no Líbano, algo que eu imaginava estar fora do seu alcance .
" Israel is a nation that stands for moral rectitude. But how can it win people over when it uses means that make a mockery of those very principles?"
O Líbano estava curar as feridas da guerra civil, a reencontrar a tolerância inter étnica e inter religiosa graças ao dinamismo económico de uma classe média forte e cosmopolita.
Seria uma questão de tempo até o Hezzbollah e grupos afins pudessem começar a ser isolados pelo desenvolvimento económico.
Tudo isso foi agora por água abaixo, engrossando as perspectivas do reacendimento da guerra civil e do triunfo do extremismo. Estaca zero.

sábado, julho 22, 2006 

Memória do Inferno

Aqueles que procuram hoje em dia branquear o fascismo português a pretexto de uma visão "equilibrada" do passado que integre também ( e sobretudo) os "podres" das oposições, chegando ao cúmulo de afirmar como alguns comentadores de direita que "eram as duas faces da mesma moeda" esquecem-se de referir que em qualquer situação em que haja uma ditadura ou um regime concentracionário seja de que tipo for , são os que tentam resistir quem são as vítimas, e são estes quem tem o ónus de suportar o sofrimento, a humilhação, as maiores probabilidades de decadência e sofrimento e são até aqueles mais expostos à degradação moral gerada pela desconfiança e pelo isolamento que decorrem directamente de uma vida clandestina ou de perseguição pela polícia.
Eu diria que isto é uma lei universal que se aplica tanto à resistência antifascista portuguesa, como ao maquis francês, ao universo dos prisioneiros dos campos de concentração hitlerianos, ou ao gulag.
Pretender meter tudo no mesmo saco, não é "independência", "objectividade" ou mesmo "rigor histórico".
É colaboracionismo.
Com os torcionários.
A este propósito, e como as coisas nunca são preto no branco, mas a honestidade intelectual mais básica nos impõe a escolha de certos lados, sugiro a leitura do artigo de Istvan Deak, Memories of Hell, publicada na New York Review of Books em Junho de 1997.

 

No ventre da Besta

"There is a boundary in each man. He can bend, sure. He can eat crow and brown-nose to an extent. He can shuck the man for a while, become a good actor. But when a man goes beyond that last essential boundary, it alters his ontology, so to speak. It's like the small pebble that starts a landslide no one can stop. You can betray others until, lo, you've betrayed yourself. You want to survive so badly, to be free of violence so terribly, you will literally do anything. You'll allow anyone to order you around. You'll let your ma, wife, or kids die just to stay alive yourself. You'll suck every cock in the cell house to "get along." There's nothing you won't do."
Jack Henry Abbott , "In the belly of the beast", Vintage, 1981

 

Basófias

A informação do Tsahal de que "não tenciona contar os mortos em tempo de guerra", retórica pretensamente corajosa e feita para impressionar as mentes fracas da sua claque, procede afinal da cobardia de quem sabe que dispõe de uma capacidade militar quase ilimitada quando comparada com a do inimigo e total ausência de escrúpulos para aniquilar quem esteja pelo meio.
Os mortos que o Tsahal não pretende contar são efectivamente os civis inocentes libaneses e provavelmente, a curto prazo, sírios.
Já o Hezzbollah que arranjou uma janela de oportunidade para lançar uma bela campanha de recolha de "mártires", e que "surpreendeu" com alguns mísseis de razoável alcance mas imprecisos, ameaça com mais "surpresas" ...
Como nem uns nem outros têem um resquício de consciência, nada nos resta esperar de bom.

 

A forma e o conteúdo

O repórter da Sic Notícias José Manuel Rosendo acaba de informar de Beirute que a assistência aos refugiados do Sul do Líbano concentrados em escolas da cidade tem sido inteiramente assegurada pelos serviços do Hezzbollah.
"Do Governo não chegou nada" informou o jornalista citando fontes ligadas à gestão da situação no terreno.
Um dos problemas dos árabes "ocidentalizados", para além de serem muitas vezes manipulados por agências de espiões americanas e encabeçados por homens de negócios corruptos como o caso do iraquiano Ahmed Chalabi, é engolirem a pílula toda.
Para além da revolução dos costumes e a defesa do laicismo, da igualdade das mulheres e em geral de um programa político democrático, pretendem aplicar a martelo os programas económicos irresponsáveis dos ultra liberais de cuja bondade, como é vulgar quando impera o fanatismo cego, nem as catástrofes provocadas na Europa de Leste e na América Latina fazem reflectir.
É também o resultado de essas ideias ocidentalizantes serem maioritariamente partilhadas por uma elite completamente divorciada da maioria da população economicamente mais desfavorecida que despreza, no fundo, arcaica por detrás da adopção de comportamentos "civilizados", e sem qualquer ideia de "solidariedade nacional".
Os resultados estão à vista nas vitórias do Hamas e na implantação do Hezzbollah, mas de novo, ninguém quer aprender com os factos. Ou se calhar, ninguém pode aprender com os factos.

 

Sol na cabeça

A repórter da SIC Notícias presente na concentração de motos que decorre neste momento em Faro, assegurou que um membro do grupo dos motards cristãos tinha "uma mensagem muito importante".
"Efectivamente, temos muita Fé em Deus e gostamos muito de motos", disse o devoto motard.
"Vocês para além da vossa Fé e de gostarem de motos", continuou a repórter, "também apostam muito na solidariedade".
"Com certeza," replicou o motard, "andamos a distribuir Bíblias escritas numa linguagem corrente, incluindo alguns testemunhos de motards".
"E para o ano vamos à Rússia distribuir bíblias"
No Palco ao lado, e como é habitual no programa cultural destes eventos, elegia-se a Miss T-Shirt Molhada.

sexta-feira, julho 21, 2006 

CSI

A partir da leitura do livro Conquistadores de Almas e na pressa de “demonstrar” o que de há muito pensava do assunto, Luciano Amaral transforma o caso da morte de Ribeiro Santos numa vulgar emboscada em que as vítimas foram dois pacatos membros da pide:
(... “revelação” do segredo de polichinelo acerca da morte de Ribeiro dos Santos: a de que ela teve carácter sobretudo acidental, causado pela provocação violenta de dois membros do MRPP a um PIDE que eles próprios tinham mandado chamar.”)
É um exemplo banal de como um insurgente do polo oposto partilha com a extrema esquerda o salutar desprezo pela “objectividade burguesa” .
Eis a passagem do livro Conquistadores de Almas em questão:
A Direcção da Associação, da UEC e presidida por VAsco Cal, com medo do caminho que as coisas levavam, pediu a presença da PIDE para identificar o individuo sequestrado, e esta aceitou o desafio mandando de facto dois agentes ao meeting. Mal entraram no anfiteatro os dois homens foram atacados pela multidão em fúria, liderada pelo MRPP.
A um agente Lamego agarrou os braços pelas costas enquanto, enquanto Ribeiro Santos o socava pela frente. O agente porém, apesar dos braços presos, conseguiu sacar da pistola que tinha no cinto das calças, atrás, e com o braço meio preso disparar para trás e para baixo, atingindo Lamego na perna direita. Com o tiro este soltou os braços do policia, que disparou em seguida para a frente, atingindo Ribeiro Santos quando este, inclinado para diante, o
socava.”
Há versões diferentes de uma cena que decorreu muito rapidamente e no meio de grande tumulto. Na altura não havia telemóveis com câmara.
Há quem diga que um dos estudantes presentes terá reconhecido num dos pides o homem que o espancara na prisão algum tempo antes.
Há quem diga que Ribeiro Santos foi atingido por trás.
Enfim, só talvez um relatório da autópsia acompanhado pela equipa de CSI poderá um dia reproduzir exactamente o que se passou.
Pinto de Sá apresenta mais um testemunho, não sei se directo, ele poderá esclarecê-lo.
Onde todos os relatos, incluindo o de Pinto de Sá, parecem concordar, é que alguém da direcção da Associação de Económicas, que nada tinha a ver com o MRPP, num momento de desnorte em que a cobardia se aliou a um curioso espírito burocrático para a montagem da tragédia, resolveu chamar a pide a uma reunião de estudantes para proceder a uma acareação.
Curiosamente também, a pide, perante a hipótese de um dos seus estar em poder dos estudantes, dirigiu-se ao local com dois agentes em vez de fazer o que seria “normal”, atacar com uma brigada para dispersar a reunião.
O pide, era naturalmente, a encarnação do que de mais odioso existia no regime.
Imagine-se a entrada de dois pides num anfiteatro a abarrotar de activistas estudantis, muitos dos quais já tinham sofrido em maior ou menor grau algumas das torturas sofridas por Pinto de Sá.
Trata-se de dois membros da policia política de uma ditadura que praticava habitualmente a censura e a tortura que entram numa reunião de estudantes e são atacados, não se pretenda ver isto como um episódio em que um vulgar agente da PSP é atacado por um grupo de marginais.
A “revelação” de Pinto de Sá, não tem de facto nada de extraordinário.
Mas a direita revisionista que procura à viva força o branqueamento do anterior regime, sorve a versão do episódio e o livro como “provas” num processo de deslegitimização da oposição ao fascismo em curso desde há algum tempo, a coberto de uma suposta visão "desapaixonada" da História.
Convenhamos que, coitados, se é isto que têm para se agarrar...é precisa fé, muita fé.
Para que fique claro, acho que é necessária uma visão desapaixonada da História, há sem dúvida muita "ganga" saudosista, sobretudo, mas não só, de esquerda, que é necessário limpar para se analisarem os factos com maior objectividade.
Porém, a solução não passa pela adopção da visão mistificadora de "historiadores" da direita actual em busca de relançamento dos seus justamente desacreditados "programas".

nota: bolds meus nos excertos citados

quinta-feira, julho 20, 2006 

Um pouco de contraditório

Para temperar a minha má disposição ali em baixo, algum contraditório, aqui e aqui.

terça-feira, julho 18, 2006 

Escolhas e bússulas

Seguindo a bússula da Sabine fui ler o Carlos Narciso.
Algumas observações:
Concordo que já pouco interesse "quem disparou o primeiro tiro". Com efeito o que se verifica desde há muitos anos é um estado de guerra latente permanente com uma ou outra explosão que assume maior importância apenas para ir balizando um caminho que necessita de alguma compartimentação para que não nos percamos totalmente.
Nesta compartimentação os media contribuem com um serviço publico inestimável.
Agora, do ponto de vista mediático, "tudo começou" com os raptos de uns soldados, porque o facto de todos os dias se exercer uma violência indigna sobre todos os palestinianos e Israel ocupar há décadas uma parte do território Sírio, não é, por assim dizer, "notícia", é algo já instituido.
Não se trata aqui de "tomar partido" por terroristas ou por Israel, venha o diabo e escolha entre os militaristas racistas que dominam esse estado ( facto mais perturbante quando se sabe que é eleito democraticamente - não ponho as aspas mas duvido muito do estatuto dos cidadãos israelitas de origem árabe) e o Hezzbollah.
Mas de que vale assinalar o poder estranho do Hezzbollah que é um cancro na sociedade libanesa, se esse cancro frutificou à sombra da invasão israelita do Líbano e Israel se tornou num estado inimputável após ter conseguido parasitar a liderança da maior super potência?
Os sinistros Hezzbollah e Hamas, alimentaram-se do desmembramento metódico dos partidos laicos às mãos do poder militar israelita, do estrangulamento contínuo, da inviabilização sádica dos meios minimos que permitam nas décadas próximas a emergência de um estado palestiniano "normal".
E não vai parar aqui, porque o que cada vez mais é evidente é que Israel é um doberman descontrolado que nem consegue aprender com a lição do Líbano e não hesitará em alargar a sua "zona tampão" se necessário for arrasando a Síria e mesmo o Irão, algo que deseja há muito tempo.
A única coisa que impede Israel de o fazer é o mero cálculo das suas necessidades logisticas, em termos do que é viável para o seu exército ocupar sem se desiquilibrar, dada a desproporção do seu poderio militar com a dos seus adversários e a pequenez da sua base demográfica.
Mas pode sempre recorrer à estratégia desculpabilizadora dos bombardeamentos maciços, para muitos e estranhamente, mais legítimos do que o "terrorismo" mais chocante apesar dos seus resultados muito mais reduzidos, por se tratar de algo com um cunho mais "pessoal".
Pensemos: o que poderá Israel fazer que levante contra si a "comunidade internacional"?
Não deu já suficientes provas que utiliza a vingança como instrumento, ao estilo do mais tradicional clã siciliano?
E o que pode fazer a "comunidade internacional" para chamar Israel à ordem?
Não está desde há muito exposta a palhaçada das "reacções"?
Os únicos que poderiam ter poder para moderar Israel e servirem de mediadores seriam os Estados Unidos, mas estes, mercê de se terem tornado num gigantesco "proxy" de Israel , não têm neste momento qualquer poder, prestigio ou credibilidade como mediadores.
E o que têem os árabes a opor, para além da retórica inflamada que vem de há décadas sempre de efeitos nulos, e a exibição paranóica de imagens grotescas de um militantismo histérico cujas consequências são os seus irmãos os primeiros a sofrer, capaz de "surpreender" Israel uma vez ou outra mas cujo saldo serão sempre destruições maciças provocadas por Israel e massacres de civis inocentes?
Apenas, por paradoxal que pareça, tempo, um vasto território, muitos milhões de pessoas, onde existe apesar de uma vasta maioria que desejará a paz e até "ocidentalizar-se" um reservatório humano de intransigência que assegura a manutenção de uma guerra de atrito por muitos anos, pelo menos enquanto Israel não se decidir pela "solução final", ou imperar algum senso.
Por detrás dos princípios da "exportação da democracia" assistimos neste momento ao triunfo de uma visão do mundo "darwinista" do mais puro "dog eats dog".
Neste momento, é possivel lidar com ela, pelo menos enquanto as companhias petroliferas americanas (e outras) forem beneficiando dos efeitos que esta tragédia tem sobre o aumento dos preços do crude. Só se vislumbra uma mudança de direcção no dia em que os consumidores americanos se começarem a revoltar com os altos preços dos seus combustíveis.
Até lá, não só o Médio Oriente, mas nós também, toda a nossa civilização em nome da qual alguns se excitam com esta barbárie, podemos preparar-nos para graves consequências.

segunda-feira, julho 17, 2006 

Atrás de mim virá quem bom de mim fará

José Manuel Fernandes escreve hoje no Editorial do Público mais uma das suas análises brilhantes do conflito que envolve Israel (envolve é uma maneira de dizer).
(qualquer dia sai livro...)
O problema, diz ele, é que antigamente a militância palestiniana era laica, e sendo assim, havia alguma margem para negociações políticas.
Agora, constata-se que é uma oposição comandada pelo fundamentalismo religioso que apenas procura a destruição de Israel sem admitir qualquer espécie de negociação.
Está bem visto. Mas se é assim porque é que tanto Israel como os seus gigantones americanos tanto procuraram anos a fio minar essa resistência laica e favoreceram subtilmente o ascenso do fundamentalismo islâmico?
Porque é que Fernandes e outros "opinion makers" alinharam na brilhante ideia do Mossad de acabar com o Arafat como lider e interlocutor credível?
A palavra de ordem até era "não se negoceia com terroristas" não era?
Bush e a sua seita, se tal raciocínio não lhes estivesse vedado por definição, poderiam ter tido um vislumbre de inteligência e ter aproveitado o periodo de relativa calmaria que se seguiu à entrada em Bagdad, para pôr Israel um pouco na ordem, e conseguido manter um simulacro de "neutralidade".
Infelizmente, percebe-se agora, quando Bush "chamava" Sharon para conversas em Washington, não era para lhe "dar" na cabeça pelos abusos com mau aspecto que as suas tropas estavam a cometer ou para acabar com o muro da vergonha, era provavelmente para "levar" na cabeça até preceber que a Israel deveriam ser dadas mãos livres, incondicionalmente, para tratar do problema à sua maneira.
O resultado é que hoje, os Estados Unidos não têem qualquer influência no Médio Oriente, pelo menos como mediadores do que quer que seja, são temidos como cão de fila de Israel e nada mais.
É o resultado da estratégia da lei da força.
Mas como eles acham que têm sempre razão...

 

Problema menor

O inimigo é esquivo, lamenta José Manuel Fernandes no editorial do Público, esconde-se entre as populações civis...
É na realidade um crime que os adversários de Israel não vistam o fato modelo alvo da praxe de forma a serem mais facilmente localizados e abatidos.
Mas será que esse problema é um impedimento para que Israel "defenda as suas fronteiras"?
Felizmente que os civis entre os quais o inimigo se acoita são civis árabes, e sendo assim... está o problema resolvido!
Ou não está?

 

Declaração sugestiva

Concordo com o Fernando.
Acho que Israel tem dado até provas de grande contenção...só 100 civis libaneses abatidos (sem querer)? Bah!
Por cada soldado israelita raptado, a média de liquidações em populações civis do inimigo nunca deveria ser inferior a quinhentos.
Peanuts... no fundo também os nossos interesses estão em jogo.
O único perigo é até que este relativo laxismo passe a mensagem errada ao inimigo.
Eu acho que Israel deve rapidamente fazer um muro em volta de todas as suas fronteiras ( as do Grande Israel) e lançar a bomba ao mais pequeno zunzum que se oiça do outro lado.
De resto talvez fosse uma forma de sairmos do pântano socialista em que nos encontramos em Portugal, pelo menos enquanto a deriva dos continentes não nos integra de pleno direito no Império Americano, embora nos tempos que correm a distância geográfica seja coisa de somenos importância.
Contratava-se alguém para atirar uma pedra à fachada da embaixada de Israel em Lisboa, Israel bombardeava-nos, naturalmente ( o Fernando ou outro pessoal da Legião Americana ficava incumbido de levar a mira para ajudar as bombas dos aviões a fixar os alvos de preferência nos bairros mais populosos), rebentava com isto tudo, e então sim, poder-se-ia por uma vez reconstruir o país a partir do zero em plena liberdade e com toda a democracia (sem emigrantes explosivos de preferência) e até com separação de poderes possibilitando que um futuro Supremo Tribunal até venha a condenar a acção de Israel depois do país arrasado, dando ao mundo mais uma edificante lição de democracia e liberdade.
Com isto tudo, só fico triste por este blog ser "desalinhado".
Desalinhado porquê? Por falta de pentes?
É injusto. Revela falta de confiança.
É um blog é tão alinhado...

domingo, julho 16, 2006 

Média alucinante

O Bidão foi aberto em Novembro de 2005.
No entanto, apenas começou a encher-se com regularidade irregular a partir de 2 de Janeiro de 2006.
Feitas as contas, passados seis meses e meio, este é o post 197, isto é, dá uma média próxima do post por dia.
Muito bem, pode rebater-se que é tudo trash, mas mesmo assim... quem diria?

 

O homem que falou demais

A minha reacção inicial ao pegar no livro "Conquistadores das Almas", foi de curiosidade por focar um assunto pouco discutido, a que se seguiu um quase imediato movimento de repulsa ao ler o texto rasca de contracapa que apresenta o livro.
É revelador do momento que atravessamos e do tipo de gente que escrevinha estas bojardas que se apresente hoje em dia como ponto fulcral de um livro de um autor cuja experiência mais traumatizante parece ser a tortura pela Pide e os problemas morais engendrados pelo fraquejar perante os torcionários, como "um retrato implacável do maoismo", por mais reservas políticas, intelectuais e de mera sanidade mental que tenhamos perante o clima vivido nessas organizações.
É assombroso e revelador da hipocrisia de alguns escribas que se coloque no mesmo plano uma prisão legalizada "pro forma" por um mandato de captura mas onde o autor é brutalmente torturado, com as prisões do Copcon, por muitas críticas que estas nos mereçam.
Pensei:
" lá vamos ter outra vez o relambório do menino inocente desviado do bom caminho pelas más companhias, proferido por um arrependido qualquer".
O livro de Pinto de Sá ultrapassa felizmente esse estatuto duvidoso.
É um livro invulgar pelo doloroso que terá sido a um homem hoje casado e com filhos descer a um tão profundo e minucioso grau de descrição quer dos seus problemas íntimos quer dos detalhes da sua descida à abjecção de se passar para o lado do inimigo.
Sendo um livro útil como estudo psicológico das contradições e fragilidades de quem se encontra numa posição de submissão perante um inimigo aparentemente omnipotente, realidade escamoteada em geral pelos críticos retroactivos das actividades contra a ditadura, não deixa de ser perturbante o perfil que Pinto de Sá traça de si próprio, como um caso limite do "sindroma de Estocolmo".
Na realidade, Pinto de Sá, preso pela Pide, passa de responsável político a militante que fraqueja na polícia, situação ao que parece, vulgar, pelo menos na organização a que pertencia, e quase sem solução de continuidade a activo colaborador da Pide na prisão, prodigalizando informações quando já não se encontra em interrogatórios, e identificando-se mesmo ideologicamente com o regime.
A não ser um imbecil de um desses blogs ultraliberais obcecado em denunciar as taras "da esquerda", qualquer um percebe que quaisquer que sejam as atenuantes ou explicações que se procurem, nenhuma organização clandestina, fosse ela cristã ou maoista poderia tolerar este tipo de comportamento.
Sintomaticamente, é quando se encontra de novo preso, desta vez pelo Copcon por razões obscuras mas que poderão até prender-se com informações sensiveis que terá passado desnecessariamente à Pide e de que nem esta terá alcançado o verdadeiro significado, o que faz dele literalmente "um homem que falou demais", e que enfrenta uma possibilidade não inteiramente teórica de vir a ser fuzilado, que volta a ressurgir a sua devoção à causa comunista da sua organização.
A confissão na prisão, sob tortura, afinal coisa comum, independentemente de ser profundamente traumatizante para quem não superava essa prova, era sem dúvida algo que deveria ser combatido com dureza no contexto de uma luta clandestina .
Porém, no período de liberdade em que vivemos, felizmente, desde o 25 de Abril, é aberrante que continue a haver gente amargurada e ostracizada por esse facto.
Já não serve para nada, só por maldade mesquinha se pode conceber que essas pessoas sejam marginalizadas.
Permitir isso é, afinal, prolongar de outra forma o objectivo da Pide de "quebrar" pessoas válidas.
Assumir esse passado e romper com esse cerco é quanto a mim a grande virtude do livro de Pinto de Sá.

 

Descida aos infernos

É um pouco estranho que apenas agora, passados pouco mais de trinta anos, tenha surgido um livro autobiográfico, "Conquistadores de Almas", de Pinto de Sá (suponho que o autor anónimo do blog com o mesmo nome), editado pela Guerra & Paz, cujo pano de fundo é o das lutas estudantis no IST no período final da ditadura.
E é irónico que esse primeiro livro sobre uma época tão intensa seja escrito na perspectiva de um "anti-herói", militante de uma obscura organização de extrema esquerda que faz a sua descida ao Inferno, primeiro nos meandros da actividade semi-legal, depois preso e submetido a tortura pela Pide a que cede, e, cúmulo dos cúmulos, de novo a prisão depois do 25 de Abril, acusado de pertencer, desta vez, à Pide, mercê das suas confissões na prisão.
Custa a crer a quem vá acompanhando o que se tem escrito na imprensa e publicado sob a forma de estudos ao longo das últimas décadas sobre a contestação estudantil ao regime salazarista/caetanista, que provavelmente uma das lutas mais radicais, violentas e apoiadas em número significativo pelos estudantes tenha sido a que se travou no Instituto Superior Técnico nesses anos finais da ditadura, dado o esquecimento a que foi votada.
Começou de forma intermitente durante o ano de 1972, agudizou-se em Outubro desse ano com o assassinato do estudante Ribeiro Santos pela PIDE e acabou por assumir o carácter de confronto contínuo que culminou numa greve subsequente à prisão de vários estudantes entre eles o presidente da associação e o fecho da Associação de Estudantes.
Essa greve durou um inteiro ano lectivo sendo confirmada em várias Reuniões Gerais de Alunos convocadas pelo director de então, Sales Luís, apelando à "maioria silenciosa" e que efectivamente tiveram milhares de participantes, passou pela expulsão de setenta activistas estudantis no início do ano lectivo de 73/74 , pelo cerco do técnico pela polícia de choque e pela expulsão diária de mais estudantes que todos os dias se destacassem minimamente em acções de contestação, até ao 25 de Abril.
Julgo que não há memória de uma coisa assim.
Nem nas épocas míticas das crises de 62, nem na crise de 69 em Coimbra.
Talvez que as coisas, mais detalhe, menos detalhe, não pudessem passar-se de outra maneira, dado o intolerável clima de atraso cultural que se vivia num Portugal envolvido numa guerra estúpida, eficaz na censura mas, graças à revolução nas comunicações, incapaz já de bloquear as brechas por onde se disseminava uma exasperação incontrolável em certas camadas da população, em particular os jovens urbanos.
Só que não há comparação possível em termos de impacto entre o que se passou no Técnico e nas outras Faculdades do resto do País.
Realço que não se tratou de UMA assembleia, UM momento especial e simbólico, um período de duas semanas.
Não, foi um período contínuo de agitação .
Se dessa luta não se fala hoje em dia, deve-se a vários motivos:
- a maioria dos principais protagonistas, passado o período também conturbado pós 25 de Abril, que se prolongou até 1976, desligou-se da política, vacinado por um período violento e prolongado de entrega total e procurou outras actividades, considerando que já tinha feito "o que havia a fazer".
- a maioria dos principais protagonistas nunca se identificou com nenhum partido político nem se reconverteu publicamente a outros partidos do espectro parlamentar, pelo menos em lugar de destaque.
- alguns dos protagonistas que foram ultrapassados ao longo desse processo ou perderam o controle pelos acontecimentos, nunca puderam assumir até por despeito a importância que este assumiu. É o caso evidente de testemunhas ligadas directa ou indirectamente ao PC ou mesmo a outros grupos de extrema esquerda, demasiado radicais para apreciarem o significado dessas movimentações estudantis.
- para os militantes de orientações associativas semelhantes que se "reconverteram" a outras ideologias, em particular o ultra-liberalismo de extrema direita e atingiram postos de destaque quer na política quer nos media, essa luta hoje esquecida não constitui uma mais valia, por razões óbvias do seu actual radicalismo político espelho do que assumiram na juventude.
- o marketing politico espalhafatoso do MRPP teve os seus frutos, e a espectacular reconversão de alguns dos seus militantes mais destacados, oriundos sobretudo de Direito, ao main stream político com a referência inevitável de um orador medíocre e histérico como era da praxe, chamado Barroso, ter alcançado o notável posto de Presidente da Comissão Europeia, lançou um véu sobre tudo o resto, apesar de o MRPP não ter tido qualquer papel nas lutas do Técnico como organização, limitando-se alguns dos seus simpatizantes a participar nelas .

 

Robot escritor

Só mesmo o nome do autor me faria comprar o livro "Paiva Couceiro, um herói português".
A figura de Paiva Couceiro, um militarista reaccionário nunca me interessou particularmente.
Mas sendo Pulido Valente desde há pelo menos duas décadas o mais brilhante cronista da direita portuguesa e um dos poucos que se consegue ler de forma consistente, e para além disso historiador (apesar do retrato autodepreciativo que ele faz da sua passagem por Oxford num artigo autobiográfico que escreveu há mais de uma década) pensei que seria uma oportunidade para ficar a conhecer um pouco melhor uma época histórica que eu conheço mal e que suponho é em geral mal conhecida: as campanhas de África e a sua ligação com a política portuguesa das últimas décadas da Monarquia e o período da primeira República.
Infelizmente fiquei desapontado.
Ainda que sejam referidos uma série de episódios concretos e indicada ampla bibliografia que demonstra que o autor levou o trabalho a sério, o livro é uma espécie de grande crónica esticada que parece em certos momentos ter sido escrita "a despachar".
Por vezes há a sensação comum a certas obras da historiografia anglo saxónica em que a política é tratada como uma caixa negra, onde se joga um intrincado xadrês onde só ocasionalmente chegam os ecos do que se passa na sociedade.
Paiva Couceiro parece afinal um títere, um boneco articulado que passa a vida a correr de um lado para o outro numa agitação demente com desprezo da sua vida, dos que lhe são mais próximos e dos outros.
Será que isto faz dele um dos heróis da Direita portuguesa "que se opunha a Salazar"?
Que quer isto dizer? Uma outra via? Talvez afinal, o episódio de juventude do herói em que ele afinfa cinco tiros num sujeito ordinário que com ele chocou algures na Baixa diga muito mais sobre as alternativas e o estilo da Direita do que nem o próprio Pulido pretenderia tornar claro.
Note-se que Pulido Valente é o autor de um estilo único e acutilante que recorre a um léxico muito próprio que impôs no vocabulário formal da crónica portuguesa, e onde se fundem a concisão e a clareza com uma adjectivação muito eficaz.
Eficaz sobretudo porque tem a arte de criar uma forte empatia com o leitor que converte em "cúmplice" inconsciente de um senso comum "óbvio" e impermeável ao entendimento da ralé, que é corporizada pelo objecto da crónica.
Ora num livro deste tipo, as "evidências" acabam por se tornar cansativas e mesmo chatas quando sistematicamente não são explicadas.
Talvez seja difícil, e exija muito mais espaço, mas pelo amor de deus, então para quê persistir no tique?
Uma outra caracteristica que resulta extremamente irritante no livro resulta de uma das qualidades principais das crónicas.
É que nas crónicas é possível arrasar os alvos de Pulido um a um, por crónica, recolhendo o entusiasmo dos restantes poupados nesse dia. Na semana seguinte mudará o alvo e a vítima da semana anterior juntar-se-á com alegria à comunidade dos poupados.
Num livro, a páginas tantas é difícil continuar a aturar por muitos capítulos que todos os intervenientes de todos os lados das barricadas decidam sempre tudo com base na inanidade, na incompetência e na estupidez atentatórias do bom senso.
Aliás chega a dar a sensação de que a adjectivação aplicada a certos casos concretos decorre de um mero procedimento burocrático, como se o autor a aplicasse como chapa três.
A história segundo Pulido, é largamente a História Geral da Cretinice obervada críticamente de um ninho de águia onde habita um "bom senso" que nada nos diz do que efectivamente ele pensa, ou se pensa alguma coisa e não é apenas um robot com mau feitio programado para proferir tiradas brilhantes a arrasar hipotéticos adversários.

 

Sem remissão

Não se percebe bem o que o Hezzbollah pretenderá com as suas provocações a Israel.
Até é possível que as faça tendo consciência dos resultados para que do caos resultante se fortaleça a sua influência sobre o Líbano.
Fenómenos como o do Hamas ou do Hezzbollah prosperam porque estas organizações são a Segurança Social que estados fragilizados pela guerra ou ideologias "liberalizantes" são incapazes de promover ou mesmo activamente impedem.
É claro que há sempre um preço a pagar quando a "caridade" radica no fervor religioso.
Por outro lado é edificante notar como Israel arrasa um país por dá cá aquela palha e nada acontece... salvo que os seus habituais apoiantes acham muito bem.
Deixaram de haver limites para o que pode um estado (esse estado em particular) fazer quando sente a sua "segurança ameaçada".
Que o Hezzbollah dispare um míssil contra uma povoação é, claramente, um crime.
Que Israel arrase um país com a sua aviação e liquide umas dezenas de pessoas, é "um direito".
Entenda quem quizer.
Passados quase cinco anos do 11 de Setembro, o "Ocidente", melhor dizendo o poder actualmente prevalecente, continua rigorosamente sem entender nada, definitivamente conquistada pela convição de que a força é a única forma de diálogo.
Durante anos, pese o paternalismo colonialista desta visão, olhou-se para os Estados Unidos e para a Europa como os irmãos grandes, que poderiam ajudar a promover a paz e o diálogo entre Israel e os seus vizinhos.
E até se deram alguns passos.
Mas hoje, relativamente a esta questão do Médio Oriente, uma questão chave desde há décadas para o equilíbrio geopolítico do planeta, torna-se evidente que a superpotência se encontra parasitada até ao seu topo por um pequeno país governado por uma casta de racistas e militaristas.
E é irreformável, porque neste aspecto nem uma mudança do partido no poder parece trazer mudanças significativas.
O que pensa o poder israelita é o que pensam o Presidente americano e os seus acólitos, não o contrário. O único sítio onde ainda parece haver uma opinião pública crítica e actuante ainda que muito minoritária face aos abusos do fanatismo político, religioso e militarista é no próprio Israel.
Percebem-se agora os contornos do "roadmap" prometido por Bush e altos teóricos como o Pacheco Pereira há três anos atrás (este, que até ao Cavaco pretende roubar a propriedade do célebre "Nunca me engano...", pode começar já a escrever uma réplica do grotesco "Quod Erat Demonstrandum" dedicado a este tema).
O traçado do novo muro da vergonha, a implantação dos postos de controle, o planeamento urbano dos colonatos invasores, a repressão fascista brutal contra os civis palestinianos.
Depois queixam-se do "terrorismo"? Estão à espera de quê? Rosas como em Bagdad? Outra vez?

quinta-feira, julho 13, 2006 

Previsível

Tu apedrejas Israel.
Israel cerca-te invade-te e bombardeia-te.
Tu raptas um soldado israelita.
Israel cerca-te invade-te e bombardeia-te.
Tu raptas meia dúzia de soldados israelitas.
Israel cerca-te invade-te e bombardeia-te.
Um militante islâmico (ou outro qualquer!) refugia-se na tua aldeia.
O exército israelita cerca a aldeia e bombardeia-a. Kaputt aldeia.
Um militante islâmico (ou outro qualquer!) refugia-se no teu prédio.
O exército israelita cerca o prédio e bombardeia-o. Kaputt o prédio e se calhar a tua família.
(e os filhos da puta lacrimejantes perante a delicadeza do mesmo Tsahal durante a "dolorosa" retirada com pinças de veludo dos colonos invasores, indiferentes ou mesmo activamente apoiantes).
Nada de espantar.
É a reacção natural de quem se acha acima e para lá de qualquer sanção ou lei.
É a arrogância natural de quem faz a lei.
Depois disto há quem se espante que os outros procurem armar-se.

 

Diz-me com quem andas...

Quando se soube da inclusão do professor Espada, um prior de freguesia dos tempos do clericalismo mais tenebroso frustrado, como "conselheiro" do actual Presidente da República, era apenas uma questão de tempo que tal piedosa colaboração não desse os seus frutos.
Felizmente que se cumprem por uma vez algumas expectativas:
a imbecilidade começou já a florir, viçosa.
Segundo os meios de comunicação, o Presidente, num discurso feito hoje sobre a "exclusão", entrou em piloto automático, e programado pelo seu conselheiro "liberal", metralhou as abjectas tiradas moralistas que o "conselheiro" desde há anos recita em diversas capelinhas sobre os supostos deméritos das famílias monoparentais, com "estatísticas" marteladas pelas adegas dos think tanks habituais, tudo à mistura para dar o bom tom "científico".
Estamos em boas mãos.

 

O regresso do filho do modelo

Uma das ideias (ia a dizer "mais" mas começa a tornar-se dificil destacá-las) idiotas que perpassou recentemente pelo "espaço político" português, foi a de seguirmos o modelo finlandês para o desenvolvimento.
Sem entrar sequer noutras matérias, há que notar que a Finlândia é um país onde se pode pagar uma viagem de autocarro ou um desenho num mercado ao ar livre, com um cartão Visa, enquanto que em Portugal não é aceite sequer o Multibanco num número vasto de restaurantes do centro da capital.
Não é uma questão de diferença de interesse pela tecnologia. Os portugueses são tão (ou mais) obcecados por gadgets como os finlandeses.
O problema é que em Portugal, a outras considerações de ordem prática e até comercial, sobrepõem-se sempre ou a rapacidade dos bancos e as suas "taxas" absurdas pela utilização de um instrumento de que só beneficiam, ou a mesquinhez dos "empresários".
Qual o culpado não interessa. O que interessa é que um certo tipo de tacanhez se encontra entre nós demasiado disseminada para que esteja assim ao alcance de um qualquer Governo ( mesmo que nos enviassem um de outro país, não contaminado pelas nossas taras ) erradicá-la.

sexta-feira, julho 07, 2006 

Uf! Já não há moral

Depois de ter assistido a todos os jogos da selecção no estádio, entre uma maratona frenética de voos de charter de ida e volta no mesmo dia que constituiu em si mesma um apreciável feito desportivo, o Luis Avelar admitiu finalmente que está farto de bola.
Caem os últimos bastiões.
E chega algum sossego às trincheiras.

 

Planos de férias (2)

Lugares caóticos. Desgovernos. Coisas de que não podemos falar mesmo se tu soubesses.
E tu.
Vá, que o café e o vinho se espalham pelas mesas como os rios de afluentes sombrios onde ainda não pudemos afogar-nos.

 

Para a Tribo

Uma Mão Azul. Para a Tribo.

 

Planos de férias (1)

À procura do lugar geométrico.

quinta-feira, julho 06, 2006 

Reflexo condicionado

Parece que Portugal perdeu.
Estranhamente, continuo a ouvir apitos de automóveis, lá em baixo na rua.
Celebrar-se-á o quê?
A nossa redescoberta autoconfiança e a vontade de fazer coisas para o futuro noutras áreas distantes do futebol?
Ou é um reflexo condicionado de pessoas que ainda não estão preparadas para viver sem a "alegria" proporcionada pelo esforço de uns quantos?
A não ser que sejam os franceses que chegaram de novo com o seu "maneta", e aí há que chamar aquele que é provavelmente o garante último da nossa independência, o Alberto João Jardim para nos tirar desse desespero com uma medida imbecil das que fazem a sua imagem de marca.

quarta-feira, julho 05, 2006 

Finlandês Modelo

Num jantar, fico sentado em frente a um presidente de câmara finlandês.
No fim da refeição dirijo-lhe umas palavras de circunstância.
- E de que país é o senhor, pergunta-me.
- Portugal.
O homem transfigura-se, os olhos arregalam-se e inclina-se na minha direcção olhando-me fixamente:
- E o que acha da participação da vossa selecção no Mundial?
Tenho consciência de que não posso deixar mal o País.
- Uma porcaria, só ganharam um a zero a Angola, o povo está furioso, respondo com arrogância, e acrescento:
- Não vão longe.

 

Não é só cá

Numa zona isolada no Alentejo caminho pela areia com dois técnicos de uma empresa alemã especializada em material de alta tecnologia.
Ficam um pouco para trás e ouço-os falarem ao telemóvel em alemão, abandonando o inglês que até aí tinha sido a nossa linguagem comum.
Fazem apostas para o Alemanha- Argentina.

 

Modelo Finlandês para o desenvolvimento

Palavras como "herói" e "histórico" acamparam no léxico diário da manchete jornalistica com o mesmo savoir faire rotineiro das tiradas de propaganda de Feira.
As bandeiras...
Estamos desde há umas semanas para cá num estado maniaco-depressivo, oscilando entre o optimismo desenfreado e tenso mantido a chicote pelas parangonas dos jornais, pela obsesssiva cobertura televisiva, pela publicidade e pelos cânticos alarves das claques, três horas de angústia profunda ( eu aposto que não houve um único adepto português que desejasse intimamente e por um momento que um dos jogos se resolvesse alguma vez antes do calvário dos penalties de tão dolorosas e saborosas lembranças), e uma noite de anticlimax retemperador em que a euforia histérica é deixada à solta.
O resto vai seguindo o seu caminho. Em Aveiro, o tribunal não pára para pensar.

terça-feira, julho 04, 2006 

Justiça abjecta

A inacreditável tibieza de um governo eleito com maioria absoluta e de uma maioria parlamentar sem espinha devem partilhar os louros do resultado da repugnante palhaçada de Aveiro.

sábado, julho 01, 2006 

Insomnia


Lahti, 3:30 da manhã.
(O que é que tu andavas a fazer na rua a esta hora?)

 

Alvoradas(1)


Lahti, 4:00 da manhã