quinta-feira, novembro 06, 2008 

Os "denizens" intelectuais

Encavada até ao osso pelos últimos desenvolvimentos da economia e da política americana e mundial, a seita "liberal" portuguesa não esquece que a lealdade é devida acima de tudo ao comandante-em-chefe.
Em geral, preferiam o McCain para presidente, mas não sendo este possível, não lhes repugna venerar o "outro", a quem os apoiantes de McCain apelidaram de "terrorista", tudo serve, interessa é que seja o Presidente Americano, o comandante-em-chefe.
Embora sem qualquer legitimidade, ridicularizam com alguma razão a esquerda europeia pela sua ilusão em relação a Obama, avançando já com uma série de explicações trôpegas destinadas a fazer os pacóvios entender como o "terrorista" é, afinal, um bushista dos quatro costados, ainda que para ser eleito tenha capitalizado na repulsa sentida pela maioria do eleitorado americano (exclusivamente americano, para evitar equívocos) pelo seu dilecto "Grande Pai Branco de Washinton", tal qual, oh vergonha, como milhões de "anti-americanos" espalhados pelo planeta.
Lendo-os, percebe-se que lhes importa menos que a esquerda tenha apoiado de forma bastante irreflectida um candidato americano que venceu as eleições americanas, algo que do seu ponto de vista até poderia ser positivo, uma legião de esquerdistas anti-americanos convertidos ao americanismo. O que os preocupa é que estando a esquerda enganada ou iludida, disso tire alguma satisfação, ainda que momentânea.
Daí que tentem ilustrar os esquerdistas com o discurso "olhem que não, olhem que estão enganados, o homem é o Bush tal e qual", que na boca de alguém do Bloco ou do PC, seria prova clara de "cegueira".
Um bom pró-americano primata fica ciumento se imaginar que a sua adesão total a uma interpretação particular dos valores americanos pode ser de algum modo partilhada por alguém exterior à seita.

 

O efeito pontapé para a frente

Há dias atrás, João Pereira Coutinho escreveu que as sondagens favoreciam o Obama mas o vencedor seria McCain graças ao efeito Bradley, explicando que as pessoas são um bocadinho racistas mas que só o revelam no momento secreto do voto. Esta, a teoria de um cronista conservador (o que quer que seja que isto signifique), simpatizante de McCain e confiante na vitória deste contra as sondagens graças ao racismo não assumido de alguns eleitores americanos.
Na noite das eleições, assisti brevemente à tagarelice do Pacheco na Quadratura do Circulo garantindo que o efeito Bradley não passava de uma invenção da esquerda para desqualificar o voto em McCain como racista...
Se eles nem se entendem entre si, o que há-de uma pessoa fazer?

 

O lado mau de Obama

É perturbante que tantos milhões de pessoas tenham vibrado com uma eleição na qual não participavam. Não porque seja mau em si que as pessoas escolham tomar partido por um concorrente numa qualquer contenda, afinal é essa a raiz de fenómenos como o adepto desportivo, mas porque só uma minoria participa numa eleição que é bastante importante para todo o planeta.
Os outros estão de fora, a torcer, como cidadãos de segunda que, se calhar, na realidade são, ou melhor, somos.
Por outro lado, é demasiada esperança investida num só homem ainda que esse homem simbolize a necessidade de os americanos romperem com alguns dos aspectos da imagem do seu país, aqueles aspectos que obrigavam uma pessoa com um mínimo de senso político e moral a ser "anti-americana".