quinta-feira, agosto 21, 2008 

Só fumaça

Quê nada, que não, mísseis na República Checa e na Polónia, alargamento da NATO a Leste, não tem nada a ver com a Rússia, é só para o "combate ao terrorismo"...
Conversa mole das lideranças ocidentais que os últimos dias se têm encarregado de desmentir cabalmente.
E depois querem que os labregos do Kremlin fiquem mansos.

 

Se usassem a cabeça...

O fim da picada era a "comunidade internacional" aceitar a independência da Abkhazia e esperar uns anitos até que o novo País peça para se integrar na Europa.

terça-feira, agosto 19, 2008 

Incrível

Os russos em retirada.

 

O sonho de uma noite de Verão do Pacheco

É a maturação de um fenómeno já conhecido em Portugal.
Em França, um divertido movimento de graxistas conhecido como os "Fatals Flatteurs" tem atacado os foruns e os comentários a artigos de alguns meios de informação.
O caso mais recente aconteceu com as reacções a um artigo de Alain Minc no Libération.
Um excelente artigo, por sinal.

domingo, agosto 17, 2008 

Só mais uma achega

Mais um artigo, agora no Independent, que tenta introduzir um pouco de bom senso no debate sobre a Geórgia.

 

Anéis, dedos, e conversa fiada

Do blog "Da Rússia", extraio esta passagem do post "Quem vai ganhar com um confronto entre os Estados Unidos e a Rússia":
"Quanto à União Europeia, não se pode esperar muito dela, pois faz lembrar cada vez mais uma velha nobre, com as mãos carregadas de anéis cada vez menos valiosos, que pretende gozar uma “reforma calma e feliz”. Só um forte abanão externo ou as “garotices” dos novos países da UE, ou seja, aquelas que estiveram na órbita soviética, poderão fazer a velha voltar à cruel realidade.
Moscovo volta a olhar o Velho Continente como mais um campo de batalha com os Estados Unidos, considerando que a velha nobre não pode viver sem gás para se aquecer e sem petróleo para o seu carro .
"
O lugar comum estafado de que a Europa é "velha", ou se encontra "decadente", que no post cai um bocado a despropósito, mas que é expresso geralmente numa linguagem remniscente das grandes tiradas patrióticas ao gosto dos anos trinta de triste memória, foi parido pelos neoconservadores americanos destilando testosterona e é repetido a torto e a direito pelos seus admiradores deste lado do "lago".
Na sua forma, encaixa bem no universo intelectual português como uma versão expandida da teoria de que Portugal, desde os Descobrimentos, mais propriamente dizendo, desde o momento em que Vasco da Gama pôs o primeiro pé na India, só tem vindo a "descer", batendo semanalmente "no fundo", numa espiral a caminho do abismo. À crença fanática e cega no progresso, opõe grande parte dos comentadores portugueses uma pretensa vivência do eterno "regresso". Daí o seu apelo irresistível como afirmação estéril, que não explica nada, recorrente sempre que há uma crise.
O que se pode constatar é que na actual crise do Cáucaso, a Europa, apesar de não ter acorrido com os seus canhões, as suas fortalezas voadoras e os seus desembarques da Normandia, foi importantíssima para que se obtivesse um acordo de cessar fogo minimamente realista. Não era, talvez, o que pretendia o Presidente Saakashvilli, que teria preferido uma derrota militar da Rússia em toda a linha, se possível "all the way to Moscow". Não era o que pretenderia, talvez, a "Nova Europa", corporizada pelos afoitos governantes dos países que integraram o bloco soviético, algo que lhes desse a absoluta segurança estratégica a que aspiram enquanto criticam o "acomodamento" da "Velha Europa". Mas a Nova Europa, apesar da retórica belicosa, sabe que não pode tomar uma iniciativa militar. A "Nova Europa" quer uma guerrazinha, sim, mas feita e dirigida por outros, onde eles possam aparecer depois à babugem, como uma espécie de "milícia de voluntários", consumando os massacres mais hediondos e cevando sedes de vingança.
Pode parecer já saturante falar disto, mas quem utiliza a torto e a direito este tipo de retórica, deveria lembrar-se dos resultados da Guerra do Iraque.
É certo que a Europa não "resolveu" a situação no Médio Oriente, é certo que não enforcou o malvado Saddam. Mas, para além da satisfação intelectual e moral de terem conseguido enforcar o demónio Saddam, o que conseguiram os "jovens"? O que conseguiram os "marcianos"?
Ah! os "anéis" cada vez com menos valor... É claro que a Europa enfrenta uma grande crise económica. Mas em que situação se encontram os "jovens" americanos? Melhor?
Os países onde se tem vindo a registar crescimentos económicos acelerados, são países do chamado "terceiro mundo". Ora o que se passa é que estes países apenas estão a colmatar uma brecha. Estão a crescer imenso porque estavam imensamente atrasados face às suas potencialidades no actual estádio de desenvolvimento produtivo da humanidade. Quando alcançarem essse estádio, vão "estagnar", ou seja, vão tender para um ritmo de crescimento mais "normal". É talvez a grande vantagem da globalização, equilibrar os níveis de desenvolvimento do planeta, transformar um sistema imperialista de dependências num sistema multilateral baseado na cooperação. Será uma utopia, e tem certamente muito que se lhe diga, esta visão, mas é, quanto á mim, uma das poucas utopias possíveis de defender neste momento.
Ah! a dependência do gás..., é interessante que se coloque a questão, pois ela leva-nos ao problema de fundo. A retórica democrática, ou "democratista" pode ser muita, mas o que está implicito no argumento é a nostalgia de uma Europa imperialista capaz de controlar com segurança absoluta o fluxo das matérias primas essenciais para o desenvolvimento.
A catástrofe da Segunda Guerra Mundial, acerto de contas em campo de batalha entre ideologias "jovens", "vibrantes" e "galvanizadoras", ensinou à Europa um caminho que procura pôr de lado a violência mortífera como forma de "crescer". Esse caminho, por muitas críticas que mereça, tem sido seguido de forma a englobar cada vez mais países e pessoas. Quem poderia supor há cem anos atrás que Alemanha, França, Inglaterra e Espanha se integrassem pacificamente num único espaço político? Quem poderá conceber o mundo hoje em dia sem essa realidade? E porque há-de parar por aqui?
Os críticos da Europa como "velha que quer viver a reforma em paz", pretendem no fundo que a Europa se envolva em aventuras ruinosas em nome das suas próprias ilusões sobre o que é viver "em segurança".

Resta apenas acrescentar que quem afirma que a Europa está a dormir, demonstra também surpreendente ingenuidade e ignorância. A realpolitik europeia está bem viva, para o bem e para o mal.

sábado, agosto 16, 2008 

Linha justa

Por culpa e desleixo meus, só agora constatei que o Geração Rasca, para além de se manter em plena forma, tem na sua equipa uma linha justa anti-nuclear.
Nunca seremos demais.

 

Estava a ver que não

Estava a ver que não encontrava na grande imprensa europeia um artigo inteligente e equilibrado que fugisse à lógica bipolar entre a mais irracional russofilia e o neoconservadorismo mais quadrado e belicoso.
Foi preciso vir o Libération.

sexta-feira, agosto 15, 2008 

Carrega mais fundo

A Polónia lá assinou o acordo para instalação de mísseis, depois de algum tempo para meditar sobre umas "dúvidas"...
Bem gostaria de saber o que os EUA tiveram de pagar pelo respectivo "esclarecimento".

 

Dívidas de jogo

As considerações geoestratégicas podem ser muito interessantes à distância.
Decisões políticas podem ser tomadas facilmente em gabinetes, olhando para mapas como se fossem tabuleiros de xadrês.
Os mapas parecem ser um instrumento gerador de violência mais mortífero do que os modernos jogos de vídeo on line onde a cada esquina de um percurso virtual voam tripas e membros ensanguentados, estilhaçados por uma panóplia diversificada de instrumentos desde o machado à granada acompanhados de banda sonora feita de imprecações, grunhidos, urros e uivos primários .
A realidade ainda é diferente.
Como esquecer os milhares de pessoas, ossetas, georgianos, abkhazes, vulgares cidadãos com o azar de serem de algum modo identificáveis com uma etnia, que neste momento estão a sofrer brutalidades atrozes?
Como explicar porque é que nestas alturas surgem logo do chão de todos os lados milícias de "valorosos voluntários" totalmente disponíveis para massacrar, torturar, violar, pilhar?

quinta-feira, agosto 14, 2008 

A Roda a girar

O facto de achar que a Geórgia foi longe demais e que se compreende a reacção dos russos no contexto da luta entre as superpotências pelo controle de territórios e de acesso a matérias primas, parece que me coloca num putativo campo "pró-russo".

Não é assim. Os antagonismos que roçam a paranóia ou amores histéricos pela Rússia são normalmente sequelas da Guerra Fria, uma guerra que sempre me deixou ... muito frio.

A Rússia é uma super potência de novo em ascenção, cujo poder explora o orgulho nacionalista para branquear as suas práticas anti-democráticas.

No entanto, estamos ainda longe do estado totalitário com o qual não é possível qualquer espécie de diálogo. Não nos encontramos num estádio de antagonismo que justifique que a Europa esteja neste momento em estado de pré-guerra. A Rússia, por reserva grande que mereça e apreensão que provoque é um parceiro comercial muito importante da Europa.

Ora torna-se cada vez mais claro que o objectivo da acção empreendida pela Geórgia e que concita apoio entusiástico de alguns comentadores é a de provocar deliberadamente uma guerra com a Rússia.
Como tantas outras vezes, trata-se de provocar uma reacção do inimigo que justifica uma intervenção para prevenir a "natural agressividade" desse inimigo.
Apesar de algum cuidado do Pentágono e do próprio Bush, algumas atitudes de alguns responsáveis da Administração Americana e do próprio John McCain de quem um dos mais próximos colaboradores é lobyista oficial da Geórgia, indiciam que nem tudo será "loucura" na jogada de Saakashvilli e levam a perguntar se não estará alguém a tentar colocar os russos no papel de "aventureiros" que se tem atribuido aos georgianos. Ao invés de "prevenir os Sudetas", o que se pretende é acelerar o processo de cerco à Rússia. E não é pela falta de democracia interna.
O objectivo de desencadear uma guerra em larga escala tem de ser rejeitado pelos europeus, impedindo os governantes de certos países com contas a ajustar, cada vez mais claramente com os russos, como povo, do que com o regime comunista que os oprimiu, de envolver a Europa num novo desastre.
A esses países, é preciso dar-lhes a escolher se querem participar na construção europeia ou se querem ser satélites dos Estados Unidos, ou pior, das tendências mais belicistas dos Edstados Unidos.
Se o quiserem devem ser livres de poder fazê-lo, basta abandonarem a Comunidade Europeia.
Mas deixem-se por favor de comparações absurdas com as origens da Segunda Guerra Mundial.
E o argumento dos "gasodutos", é também uma falsa questão.
É certo que, azar, a Europa depende parcialmente dos russos, como depende de outros, para se abastecer de gás natural.
Em tempos era fácil aceder às matérias primas. Qualquer pretexto era bom para as potências europeias ocuparem as regiões remotas onde abunda o ouro negro.
Mas provocar uma guerra por causa de uma hipotética alternativa de abastecimento que curto circuite a Rússia e o Irão é um absurdo, a começar porque inviabilizaria de todo o objectivo que lhe dera origem, a não ser que alguém pense que restará alguma coisa que transportar ou alguma coisa que a transporte depois de uma guerra, mesmo que limitada ao Cáucaso, entre os EUA e a Rússia.

 

"corpore sano " dizem eles

As deformações "profissionais" evidentes nos corpos de certos praticantes de certos desportos, são um excelente laboratório para testar as teorias da evolução.
A quantas espécies daríamos origem se por uma qualquer razão se diferenciassem os meios onde evoluem nadadores e ginastas, alterofilistas e basquetebolistas?
Quando pensamos no caso do ponto de vista estritamente "humano", tomamos consciência da aberração que é o desporto de alta competição.

 

Confusão

Ou se redefine pedofilia ou se altera a designação da disciplina olímpica "ginástica para mulheres" para "ginástica para crianças com problemas de desenvolvimento".

quarta-feira, agosto 13, 2008 

Pavlov e o poder dos blogs

A recente crise do Cáucaso é uma demonstração clara do poder da blogosfera.
Influenciado por uma certa histeria belicista que subsiste em certas franjas da blogosfera travestizada de "defesa dos valores civilizacionais" que lhe são antagónicos, o Presidente de um pequeno País constituído nos escombros da URSS e com diversos problemas de definição de fronteiras, provoca deliberadamente uma superpotência, claramente convencido de que se tornaria na hora um herói do submundo virtual que parece tê-lo inspirado.
O que diz bem da irresponsabilidade de quem no Ocidente julga que pode fazer promessas deste tipo a lideres irresponsáveis que as levam à letra.
E da inteligência dos que pensam que este é um joguinho estratégico de salão e que basta falar aos russos com ar de macho para que tudo entre nos eixos, isto é, que a Rússia se submeta a todas as "exigências" criadas pelas necessidades patológicas de um certo revanchismo político imbecil que não conseguiu ainda digerir hipotéticos agravos da Guerra Fria, e, sobretudo, é incapaz de ultrapassar a desfeita de a URSS se ter desmoronado sem ter sido esmagada no campo de batalha, com muitos mortos e mais feridos, e sem que a fantochada de Iwo Jima tivesse sido novamente encenada sobre as ruínas do Kremlin.
Houve um momento histórico em que muita coisa impensável foi possível.
Mas esse tempo passou.
Embora conhecendo estas limitações, embora sabendo a dimensão e a gravidade do ataque efectuado pelas forças da Geórgia quando ao que parece decorriam negociações sobre o estatuto das regiões que querem a autonomia, diversos iluminados ressuscitaram logo as memórias de Hitler e os Sudetas, pau pavloviano para toda a obra para justificar a mania absurda de que os russos por terem um dia cometido o pecado original de levarem a cabo uma revolução socialista bem sucedida, vão ficar condenados até à eternidade a serem ridicularizados quer pelo ocidente quer por qualquer gato pingado que com eles faça fronteiras e ache por bem atacá-los.
Apesar das boas provas dadas à perversão dos valores civilizacionais que alguns julgam que nos identificam, como:
a) a total destruição do estado e a adesão a um conveniente "ultraliberalismo", o que entregou à miséria milhões e enriqueceu uma casta de mafiosos e gatunos.
b) a brutal repressão da Tchéchénia a que o ocidente delicadamente fechou os olhos porque os tchetchenos não são "amigos do ocidente", são muçulmanos, logo elegíveis para encaixarem por tabela na "guerra ao terror" e como diz a direita blogosférica "alguém tem de fazer o trabalho sujo"...
c) a recuperação dos "valores tradicionais" que se traduzem na recuperação de uma autocracia anti-democrática capaz de regenerar o "orgulho nacional" tão do agrado dos conservadores.

A estupidez está tão arreigada que nem se percebe que se os lideres europeus foram apanhados de surpresa não foi por "estarem de férias", foi por já nem lhes passar pela cabeça que os russos reagissem a uma provocação, mesmo que deste calibre. Se erro houve, foi o de se pensar que a Rússia também deveria estar a dormir e iria deixar passar em claro o assunto para depois os burocratas europeus virem posteriormente elogiar a "coragem" de Saakashvilli ou reclamar com firmeza a preservação da integridade territorial da Geórgia.

A blogosfera tem, no entanto, razões bastas para cantar vitória com alegria.
Apesar de posto em fuga por uma força militar incomensuravelmente superior, e esmagado militarmente como qualquer pessoa de bom senso poderia prever (falta aos russos, por culpa própria, uma imprensa bem treinada capaz de propagar pelos vastos cantos do mundo que esta mini-invasão foi uma brilhante operação militar e eleger algum dos seus generais mais telegénicos como um "intelectual de influência planetária"), apesar de ter mandado assassinar por bombardeamento indiscriminado umas centenas de pessoas (ui! meu Deus, se fosse o Hugo Chavez que mandasse um petardo de carnaval num lugarejo na selva colombiana matando três papagaios e uma galinha, a ameaça à paz mundial, Hitler e os sudetas, o regresso dos hunos!...), apesar de responsável pela destruição e morte levadas ao seu povo pela reacção russa, o temerário Saakashvilli não abranda a sua retórica triunfalista. Como se nada se tivesse passado. É a blogosfera no seu melhor, incólume aos efeitos da realidade.

Para já, o pior pode ter passado porque algo surpreendentemente os russos acabaram por anunciar o fim das hostilidades e não prolongaram as ambiguidades quanto ao "cessar fogo" por mais do que dois ou três dias (os 31s e restante família devem ter adorado as tergiversações de Israel durante cerca de um mês enquanto escavacava com o Líbano por causa de dois-soldados-dois raptados e ah! também lá foram "mediadores" europeus falar com Olmert e tudo...). Talvez que se a Rússia não tivesse intervido militarmente e se limitasse a pedir o cessar fogo, a estas horas ainda teríamos tanques georgianos a rebentar com terreolas ossetas enquanto Condi charlava pacatamente com Saakashvilli "convencendo-o" a dar por findas as operações.

Infelizmente, o "complexo dos Sudetas" arrisca-se a ser lido ao contrário, e esta paragem unilateral das hostilidades pelo russos vai ser tomada como fraqueza e a fraqueza vai ser o pretexto para que alguns procurem continuar numa via de confrontação com a Rússia de que a Europa em nome de cujos valores se pretende provocar uma guerra porque sim, talvez para culminar os esforços de uma vida de dedicação à causa de fanáticos como o Dick Cheney que ainda não desistiu de obter o merecido "prémio de carreira", será a principal vítima.

segunda-feira, agosto 11, 2008 

Tiro aos patos

Como a explicação mais óbvia, a da irresponsabilidade criminosa do Presidente da Geórgia parece delirante demais para ser verdadeira, seguem-se as teorias da conspiração num baralha e volta a dar em busca de alguma luz.
No blog de José Milhazes, um post coloca implicitamente a questão de o ataque que desencadeou a reacção russa se tratar de uma provocação orquestrada sabe-se lá por quem, em benefício dos russos. É uma hipótese possível, se bem que improvável.
No Dissent, Richard Estes tenta enquadrar estes acontecimentos no contexto das disputas pelas fontes de energia da Ásia Central e o conflito entre os Estados Unidos, Israel e o Irão.

 

O grande jogo

Quando o fumo assentar talvez se perceba melhor o que motivou a acção disparatada do Presidente Georgiano Saakashvili. Bombardeiam uma pequena cidade de dez mil habitantes, matam mais de mil civis e depois pedem um cessar fogo quando percebem que se enganaram nas contas e que a história não fica por aqui.

Cheney e Bush podem rosnar, McCain pôr-se em bicos dos pés, alguma imprensa pode pedir ridículas "respostas firmes", podem alguns doentes sugerir paralelos entre a tibieza face a Hitler e uma hipotética tibieza face a Putin, pode vir mais tarde Saakashvili apresentar-se como o cavaleiro Ajax da última barricada na defesa da democracia, mas só em delírios devem pensar que depois do Iraque, depois do avacalhamento da ONU, depois do Kosovo, depois do impacto do 11 de Setembro em que morreu um numero idêntico de pessoas inocentes, depois do festim geral que foi o desmembramento da URSS, a Rússia iria deixar passar em claro um pretexto tão oportuno para começar a acertar umas contas. Ainda por cima quando o único argumento moral do "ocidente", "para que lado fogem as pessoas?" lhe é desta vez claramente favorável.

E note-se que a Geórgia, que tem feito os possíveis e os impossíveis para provocar a Rússia, faz fronteira com ela, não estamos a falar de um Afeganistão ocupado pelo "ocidente" do outro lado do planeta, ou do Iraque, primeira vítima da crise energética e do "interesse nacional" dos Estados Unidos.

Como refere Bruce Anderson no Independent, se a UE e os EUA queriam levar até ao fim a estratégia de curto-circuitar a Rússia no que respeita às fontes de energia da Ásia Central, estratégia perigosa mas que parecia viável através de um País posto à sua disposição por um Presidente no mínimo controverso, deveriam ao menos ter feito o mínimo, que era pôr algum senso na cabeça da sua liderança.

Agora, resta esperar que os russos retirem para as fronteiras da Abkhazia e da Ossétia do Sul depois de se acharem suficientemente compensados com a destruição de parte da Geórgia.

Vamos ver...

sábado, agosto 09, 2008 

Back in the U.S., Back in the U.S.S.R.

Passada a guerra fria, regressa a guerra quente. Numa lógica puramente Imperial a Rússia intervém agora na Ossétia do Sul.
O presidente da Geórgia terá as suas razões mas ilude-se ao pensar que pode emular Israel na sua capacidade de arrastar, se necessário, os Estados Unidos, via Nato, para a possibilidade de uma terceira guerra mundial.
Para já, apesar de se ir já fazer sentir o efeito dominó da crise quando o "bom aluno" Geórgia retirar o seu contingente do Iraque para acudir à Ossétia, os americanos parecem relativamente cautelosos e até passivos, mas vamos ver o que acontecerá se os russos se entusiasmarem com a sua esmagadora capacidade militar e levarem a intervenção muito para lá das fronteiras em disputa.
Nas margens de toda esta estupidez nacionalista que geralmente ombreia com a mais criminosa irresponsabilidade continua o calvário das minorias dos dois lados, fáceis carne para canhão para todas as "legítimas" maiorias.
O blog de José Milhazes, correspondente do Público em Moscovo faz um enquadramento da situação e é um dos sítios indicados para se seguir a sua evolução.

sexta-feira, agosto 08, 2008 

Chota


 

a (little) star is born


terça-feira, agosto 05, 2008 

Teoria do vandalismo perdido

O rapaz errou quilómetros e quilómetros sem rumo pelas ruas da cidade.
Andar sem destino era como que uma espécie de ritual que embora aparentemente desprovido de qualquer significado nem por isso era menos urgente e imperioso cumprir.
Tivesse ele um programa, dominasse os arcanos de um "sistema", se ao menos fosse um pouco mais informado e alerta para a tentadora possibilidade de autojustificações egocêntricas, talvez que tivesse sido sensível à presunção corruptora de classificar essa actividade frenética e peripatética como um possível caso de "deriva psicogeográfica".
As suas deambulações não tinham como móbil "observar" detalhes, "apreciar" monumentos ou perspectivas.
Procurava sim fixar "climas", sensações, configurações.
O reflexo da luz sobre a fachada de um determinado prédio, numa determinada esquina, no momento em que uma determinada janela se abria e alguém corria para apanhar um determinado autocarro.
A sombra de uma árvore numa determinada praça no momento em que um incógnito abrira o jornal numa determinada ou indeterminada esplanada.
O tom das pernas de uma determinada mulher avistada de súbito através do vidro fumado da montra de determinada livraria quando se preparava para roubar um livro indeterminado.
Não fixava detalhes. Detalhes!
Uma determinada namorada, boa observadora e com memória visual, disse-lhe um dia, impaciente com a grosseira inexatidão com que ele descrevia os pormenores da arquitectura de um determinado edifício:
"Homem, mas afinal tu olhas para onde?"
Apenas olhava para dentro, tentava possuir, fixar o tempo. Tempo cronológico, ritmo sincopado dos passos, o tic tac do cronómetro e o do metrónomo. A repetição como paralisia, anestesiar o tempo.
Anestesiar o tempo.
Um reflexo autista de auto preservação .
E assim conseguiu ganhar ao tempo algum... espaço.
O espaço e o tempo formavam um contínuo que libertava os eventos de uma sequenciação cronológica.
Quando, mais tarde, tentava com os amigos reconstituir essa sequenciação, verificava-se que era impossível, a única viabilidade de explicação para a vivência inequívoca de diversos eventos díspares mas aparentemente simultâneos - excluindo liminarmente a hipótese absurda da ubiquidade, ou disparates românticos como a unidade do homem com o universo - era proceder a um mapeamento sistemático num espaço a duas ou três dimensões.

As distracções são fatais.
E bastou abrandar por momentos a vigilância feroz no cumprimento do ritual sem significado, bastou estabelecer os primeiros "propósitos", "objectivos", "compromissos", para que o espaço se rarefizesse e a vida realinhado na sinistra uniformidade da inexorável linha recta do tempo cronológico, miseravelmente comum.
Passado, presente, futuro.
Acabaram-se os "eventos", as "configurações".
Dia após dia, semana, após semana, ano após ano. Cada vez mais rápido e sem controle.

segunda-feira, agosto 04, 2008 

Casa, carro e família

Pequeno T2, de Ricardo de Azevedo não é apenas um anúncio.
É a expressão artística possível numa sociedade domesticada.
É um manifesto político, e é nesse pressuposto que a canção teve o êxito que se sabe nos tops.
Causa estranheza tanta estupidez acéfala?
Já não causa. Temos sempre que respeitar o idealismo da juventude e os ideais a que ela aspira .
Aspira sempre e naturalmente a ser livre.
Para se ser livre há que assumir compromissos, sólidos.
E o que há de mais sólido do que um contrato com um Banco para se ficar o resto da vida a pagar a prestação da casa e do carro com tecto de abrir?

 

É a economia, precisamente...

O Sol desta semana traz um artigo sobre "o nuclear" (palavra que resume o verdadeiro conteúdo do debate, a saber, se se considera oportuno neste momento considerar a construção de centrais nucleares em Portugal) focando um dos aspectos que mais tem contribuido para legitimar o debate sobre o tema: a questão económica.
Curiosamente, a questão económica, apesar de aparecer como a justificação principal para que se discuta a questão, foi referida no debate do "Expresso da Meia Noite" de 25 de Julho pelo Bastonário da Ordem dos Engenheiros como uma espécie de "desculpa de última hora" dos opositores ao nuclear.
Mas afinal, o que é na realidade a independência energética? Qual é o impacto económico que as questões de segurança têm hoje, não já na produção de energia nuclear mas em qualquer obra de construção civil ou exploração florestal?
Qual o impacto futuro, em todas as suas vertentes, da escassez do recurso urânio, o combustível nuclear?
O grande problema é que feitas as contas, o que se verifica é que nenhum dos argumentos económicos pró-central se revelam sólidos, quando se têm de considerar todos os factores envolvidos, incluindo obviamente os da segurança.
E a realidade mostra que numa situação concreta de duplicação num ano do preço do petróleo até se verificou uma relação inversa entre o número de centrais e o preço pela produção de energia, isto é, sem se considerarem outros factores que contribuem para o preço final ao consumidor, como subsídios do governo ou impostos.
As contas apresentadas pelo Sol incidem sobre a evolução dos preços em países europeus. Mas será por acaso que uma discreta notícia do Público referisse que no discurso de tomada de posse o novo primeiro ministro japonês indicou como um dos principais factores da crise económica no Japão, um dos países do mundo com maior número de centrais nucleares, o aumento dos preços dos combustíveis no último ano?
Então afinal o Japão, um país plenamente dotado de recursos "inesgotáveis" também é vulnerável à crise energética?
Por outro lado, os defensores do nuclear com uma obsessão por "cosmopolitismo" que chega a ser caricata, parece julgarem que na Europa existem hoje fronteiras à circulação de energia e que é necessário que em Portugal existam obrigatoriamente centrais nucleares para que num sistema de mercado ibérico e europeu de energia alguma da energia produzida pelas "benéficas" centrais nucleares seja utilizada em Portugal.

domingo, agosto 03, 2008 

Pág. 8

Angels & Devils, pág.8
S.Clay Wilson, 1972, Zap Comix n.º 6

 

Pág. 7

Angels & Devils, pág.7
S.Clay Wilson, 1972, Zap Comix n.º 6

 

Pág. 6

Angels & Devils, pág.6
S.Clay Wilson, 1972, Zap Comix n.º 6

 

Já chega!

Esta farsa já foi longe demais!
Mesmo num blog abandalhado como o Bidão Vil é chocante verificar como ficam por cumprir as promessas mais básicas. E não é o autor um político... gaita!
Pois é, há quase oito meses que se iniciou aqui a publicação da obra prima "Angels and Devils" de S. Clay Wilson, publicada em 1972 nos Zap Comix, com a promessa de ser publicada semanalmente uma das oito pranchas que compõem a obra.
O revoltante nisto tudo é que passados oito meses, oito (!!!) se constata que apenas foram publicadas cinco(!!!) das oito pranchas !!
Cavaco em guerra com o PS por interpostos Açores, o mundo a acabar à míngua do petróleo, os transgénicos que tardam em matar-nos a fome e o nosso território prestes a ser alegremente nuclearizado pelos aliens, à porta da seca e nas margens do DILÚVIO e este bandalho brinca na forma.
Um nojo que mostra bem a falta de profissionalismo, o desprezo pelos leitores a falta de carácter e de palavra, enfim... um blog bem português é o que isto é.
Uma choldra, um nojo, para ser mais claro.
E depois admiram-se de haver quem critique a falta de profissionalismo dos blogs.
Depois desta vigorosa autocrítica imposta pelo que resta dos "camaradas agents" ainda fiéis ao Pensamento MaoZedong ainda activos na consciência deste energúmeno que humildemente Vos escreve, seguem-se três posts três com as restantes três pranchas da saga "Angels and Devils".
Se por mera hipótese algum leitor (ou leitora, tanto faz) se mostrar interessado numa versão das pranchas com melhor definição, basta pedi-lo ao blog num tom ligeiramente persuasivo.

sábado, agosto 02, 2008 

Pensando melhor

A convicção generalizada é a de que a comunicação de Cavaco ao País foi um caso de "montanha que pariu um rato".
Como qualquer outro acto político, a iniciativa pode ser discutível mas é estranho ouvir criticá-lo por apresentar problemas complexos numa linguagem complexa.
Numa época em que se fala de menorização da política, Cavaco falou aos portugueses adultos nos exactos termos em que a questão complexa objecto da comunicação é por ele, Presidente da República, entendida.
E a questão em causa não é uma treta qualquer, não é o preço da gasolina, ou outra banalidade do dia a dia. É um dos pontos centrais da função que exerce, isto é, a questão da soberania.
Para isso foi eleito por uma maioria de portugueses.
Menorização da política, sim, é o argumento de que se "incomodou desnecessariamente os portugueses" ainda por cima prestes a ir para férias, sobre um assunto que poderia ser tratado nos seus "locais próprios", isto é, a noção de que o Presidente só deve falar sobre problemas comezinhos que as massas percebam e quando não estão em férias, e os assuntos importantes são tratados nos bastidores.
Questione-se ou não o objectivo político da iniciativa, foi um acto de honestidade democrática.
O que parece incomodar muitos críticos da "degradação da política", é que Cavaco não tenha feito uma tradução "para as crianças e o povo".