sábado, outubro 31, 2009 

O estranho caso de António Vilarigues

Leio, poucos meses depois do abalo de "The whisperers" de Orlando Figues, e fico um bocadinho perplexo:
1 - Parece que a natureza “profundamente conservadora” de Zemskov garante a fiabilidade do estudo (deste, pelo menos...).
2 - Porque é que esta versão dos factos é inequivocamente superior às anteriores?
3 - Apenas 4 milhões de vítimas garante que as coisas, afinal, "não eram assim tão más"? Que se vivia mesmo num quase paraíso?
4 - “reprimidos” entre aspas significa o quê? E “apenas” 800 mil fuzilados?
5 - Quantos ocupantes houve no Tarrafal (1) ? E fuzilados? São números que resgatam o fascismo do seu carácter asqueroso? Ou teria bastado um de cada para o confirmar?
6 - Em que é que esta versão alterou a visão que o autor já tinha do caso? Quero dizer, quais os limites inferiores do “detonador” da “bomba atómica”?
7- António Vilarigues esperaria que a imprensa se deveria interessar por este caso de revisão para baixo do número de vítimas estimadas do Gulag para DIZER BEM de um regime que "apenas" terá fuzilado 800 mil presos políticos?
7 - Bomba atómica ou nem tanto. Haver no séc.XXI quem nos alerte para os “horrores” do sistema actual e se sinta aliviado por hipoteticamente terem havido “apenas” 4 milhões de ocupantes do Gulag.
Chocante.

(1) Quanto à mortalidade do Tarrafal, também altíssima, atingiu 10% (32 ou 33) dos 333 prisioneiros que ali foram encarcerados, entre 1936 e 1954. Excerto de Irene Pimentel "Alguns dados sobre o campo de concentração do Tarrafal (1) no blog Caminhos da Memória. Nenhum foi, ao que parece, fuzilado.
nota : Com algumas adaptações este foi o comentário que deixei no artigo do Público.
O comentário surgiu, por qualquer razão técnica assinado como "anónimo". Fiz um segundo comentário a corrigir isso mas por qualquer razão técnica não foi publicado.

 

A grande revelação

António Vilarigues publicou ontem no Público um texto perturbante de que transcrevo algumas passagens:

quinta-feira, outubro 29, 2009 

Compte rendu

Isto parece que eu tenho abandonado o Bidão, mas não é o caso.
Tenho trabalhado imenso na blogosfera seguindo e ocasionalmente intervindo em blogs como o Jugular (em geral), o 5 dias (a espectacular polémica do Gulag com intervenções de luxo nas caixas de comentários de referências de várias tendências da esquerda portuguesa como Miguel Serras Pereira e Vítor Dias) e o Esquerda Republicana, numa troca de ideias sobre o proselitismo ateu a propósito da outra polémica do momento, entre o Saramago e a Bíblia.
E o problema é esse, não sei porquê, mas parece que me dá mais gozo chutar logo um comentário do que encher o Bidão de prosas descontextualizadas que me obrigam a esforços redobrados de linkagens.
Uma das poucas PC com quem me relaciono, a minha amiga e simpaticíssima Joana, queixa-se de que o Bidão está chato, é só letras, faltam ilustrações.
A razão é só uma, tenho tido pouco tempo para ilustrar os posts. Retomarei o hábito logo que tenha oportunidade.

 

Trabalheira

É no que dão as insónias. Acordei de madrugada e sem querer fiz provavelmente o mais longo e chato post do Bidão. A pica era tanta para publicá-lo que já farto da seca de andar à procura dos links me esqueci de lhe pôr um título qualquer.

 

No 5 Dias, o Nuno Ramos de Almeida está farto da "polémica do Gulag" iniciada por uma passagem de uma entrevista em que a nova deputada do PCP, Rita Rato revelou que nunca estudou nem leu nada sobre o Gulag.
Tendo sido Rita criticada em vários blogs por esta resposta, saiu em sua defesa Vítor Dias no O tempo das cerejas, imediatamente secundado pelo blogger do 5 dias Carlos Vidal, dando início a um debate aceso e generalizado entre posts de vários dos autores do 5 dias e imensos comentários.
Para fechar a polémica, NRA escreveu em a "crónica de um linchamento" que
Que a imprensa "burguesa" não pergunte a todos os políticos "burgueses" sobre outros casos conhecidos (não discutindo agora questões de impacto e dimensão), explica-se, talvez, porque apesar de não terem, por definição, meios de fazer passar a perspectiva única e justa do "proletariado", os media "burgueses" sempre foram cobrindo mais ou menos esses acontecimentos de tal modo que qualquer um pode dizer que "está a favor" ou "contra".
Alguém que "ignore" a guerra do vietname não é um político inculto, é um analfabeto tout court, estude ou não ciências políticas, seja ou não deputado do PC.
Mais ainda, a perspectiva dominante no "mercado" é de simpatia para com o Vietname.
Como pode?
Talvez por serem pequeninos e as pessoas ignorarem que o "Tio Ho" liderava um exército de comunistas irredutíveis que já tinham posto os franceses com dono.
Não me consta é que alguém lesse ou leia a imprensa norte vietnamita ou visse ou veja o jornal nacional da TVI Vietnamita.
E que dizer da guerra do Iraque em que o poder, escaldado com o papel dos media no Vietname tentou, apesar de apoiado numa operação de propaganda sem paralelo em que participaram entusiasticamente e com o objectivo deliberado de dar uma visão única do conflito, os mais poderosos meios de comunicação, ideologicamente identificados com a guerra, controlar em quantidade e qualidade o fluxo de informação através do conceito mágico do jornalismo "embedded"?
Quem tenha folheado nos últimos sete anos uma série de sites, revistas ou jornais, americanas e inglesas, do mais "burguês" que imaginar se possa, pode ter uma noção do papel que essa imprensa teve no desmoronar da estratégia neoconservadora relativamente a esta questão específica (claro que se torpedeou "este" aspecto específico é para "esconder" ou "escamotear" outros, mas isso, para já, são outros quinhentos).
Em Portugal, depois do 25 A, a imprensa "burguesa" não conseguiu de todo "abafar", apesar de todos os seus desmesurados esforços, a existência do nosso campo de concentração fetiche,o campo de concentração dos campos de concentração, o temível Tarrafal, por onde terão passado umas centenas (uns milhares?) de pessoas.
Que eu saiba não há político "burguês" que o ignore e, dada a oportunidade o vitupere (hipocritamente, claro está). Não é notícia, sejamos práticos, perguntar a alguém hoje, a propósito ou a despropósito, mesmo que no intervalo do futebol, "acha que existiu o Tarrafal?" ou "concorda com o Tarrafal?". Já foi chão que deu uvas a imprensa maçar membros do PCP com pedidos de esclarecimentos sobre o Tarrafal. Não sei se algum dia algum respondeu que "não esteve lá".
O que parece ser consensual entre a "burguesia", possivelmente por lamentável e hipócrita simpatia pelo aberrante e enganador conceito dos "direitos humanos", é que apesar de a esmagadora maioria ou a totalidade dos ocupantes do Tarrafal terem sido perigosos comunas antidemocráticos, se trata de um local que simboliza o asqueroso regime deposto a 25 de Abril e que inspira justificada e generalizada repulsa.
Mesmo apesar das "traições" ao 25A, ninguém, nunca, teve a lata de sugerir (pelo menos publicamente) que alguma vez tal coisa pudesse voltar a existir em Portugal.
A única aproximação, por muitos levada a sério mas que não passou com certeza de boutade irreflectida, foi a famosa boca do Otelo sobre o Campo Pequeno durante o PREC no regresso de uma visita a Cuba.
Mas o que fazer do Gulag (basicamente contemporâneo do Tarrafal)? Bah! A dimensão da coisa (do "local", do número de vítimas, do significado), o afastamento geográfico, ultrapassa-nos. Francamente, ir de Lisboa ao Porto já é um esticão (e admitindo que vamos numa dessas autoestradas que não servem para nada que não seja para prolongar a dominação da burguesia sobre "a classe" e para a classe dominante se exibir passeando os seus veiculos de grande cilindrada e de topo de gama).
Dá para imaginar os confins da Sibéria? Eu não consigo nem com a ajuda do Google Earth.
E quando se começa a pensar nos mecanismos mentais necessários para que se reconheça - a custo- que é um "erro", ou mesmo que é uma espécie de acto necessário, o sangue do parto de uma nova vida, mais perplexo se fica.
Sobretudo quando o impagável Carlos Vidal reinvindica também para o "proletariado" os mesmos séculos de "tentativa e erro" que a famigerada burguesia teve até poder aniquilar a aristocracia numa penada em três anitos de terror.
Vai-se a ver e à pala da emancipação dos professores e outras classes ferozmente oprimidas por este "regime" ainda valia a pena abrir aí um sistema de campos de re-educação lá para o Alentejo enquanto aquilo não é ocupado pela tenebrosa industria turística que tão mal faz aos trabalhadores.
Numa primeira fase para adversários políticos e dissidentes, depois logo se veria. Se desse para o torto, seria mais um erro na gloriosa caminhada.
Recomeçava-se de novo noutro lado qualquer.
Disto tudo resultam alguns sinais convergentes porventura sintomáticos de uma época.
Os neoliberais dizem à populaça que "arrisque" a perda dos mecanismos de protecção que o Estado confere aos cidadãos como resultado de décadas de difíceis lutas, porque no arriscar é que está o petiscar a lagosta suada do glorioso mundo dos ricos.
Os comunistas dizem ao povo que "arrisque" "rupturas" onde é "natural" que se cometam "erros" da dimensão(zinha) do Gulag porque no fim virá a lagosta suada do glorioso mundo da humanidade emancipada.
Como todos reconhecem é bem mais interessante o segundo apelo, pelo que os sacrifícios e o risco é natural que sejam maiores.
A segunda convergência é uma certa histeria "anos trinta do século XX" que se vai notando nalguns posts do Carlos Vidal, em particular o notável "ainda a polémica", magnificamente ilustrado pelo construtivista Chernikov. Espero que não seja mais do que um epifenómeno e que não antecipe um eclodir na sociedade portuguesa de outras tendências extremistas.

domingo, outubro 25, 2009 

Frustração

Francamente já estou um bocado saturado deste meu período de desvio de direita relacionado com o ciclo eleitoral e a conjugação das campanhas "asfixia democrática" " demolição reles e pessoalizada da figura do primeiro ministro", e apetece-me começar a criticar o governo.
Infelizmente a oposição não me deixa.

 

O bacilo de Koch

Numa coisa tem o Pacheco razão. Este país é pequeno e medíocre para gente com visões grandiosas como ele. Falta aqui o elemento fundamental que alimenta na luta contra o "pensamento único" e o socialismo imposto subreptíciamente, a génese de movimentos "genuínos" ou "de base".
O cacau. (1)
Com gente a financiar-lhe "manifestações espontâneas", o Pacheco seria BIG.
Veja-se o que acontece actualmente nos Estados Unidos com a oposição a essa tenebrosa tentativa do Presidente Obama de instalar o comunismo soviético na américa criando um sistema de segurança social digno desse nome.
" While President Bush was trying to promote Social Security privatization, a woman in Iowa who identified herself as a "single mom" won a coveted spot on the stage from which she praised Bush's plan. It was later revealed that she was FreedomWorks's Iowa state director. She had spent the previous two years as spokeswoman for something called For Our Grandchildren, a pro-privatization group that is itself, according to SourceWatch, the nonprofit monitoring Web site, an offshoot of another group, the American Institute for Full Employment (an outfit advocating reform of welfare that was funded initially by a multimillionaire in Klamath Falls, Oregon, who made his fortune in doors, windows, and millwork).
I mention all this because it suggests how astroturfing (2) works. An existing nonprofit group sets up an ad hoc one devoted to a particular cause or idea. It is given an otherwise good-sounding name, and is presented as having sprung up spontaneously. But always, there is corporate money behind it, donated by rich conservatives who have the sense to see that an image of broad populist anger will be more convincing to the unpersuaded (and to the press) than an image of a corporate titan pursuing a narrow and naked interest.
With respect to the Tea Parties and especially the summer's town-hall meetings, a key corporate titan appears to be Koch Industries of Wichita, Kansas. Fred Koch (pronounced "coke") founded the company in 1940 as an oil business but it has expanded into natural gas, pharmaceuticals, fertilizer, and many other areas. He helped create the John Birch Society in the late 1950s and died in 1967. His two sons who run the business now, David and Charles, have foundations that donate millions to conservative and libertarian causes and groups, including notably the Cato Institute. One Koch-funded group used to be called Citizens for a Sound Economy. It became Americans for Prosperity (AFP) in 2003, a group that has advocated limited government and opposed climate change legislation. Earlier this year, Americans for Prosperity launched a Web site called Patients United Now, which ran frightening television ads opposing health care reform
"
notas:
(1) AHIP é a America's Health Insurance Plans
(2) a expressão "astroturfing" teve origem num tipo de relva artificial que era publicitada como parecendo genuinamente natural e foi introduzida no vocabulário político designando movimentos que aparecem disfarçados de "genuínos" e "espontâneos" e que na realidade são campanhas pagas. É o caso da generalidade das campanhas de desinformação da ultra direita americana. Para os pachecos e seita afim são exemplos recomendáveis de luta contra o "politicamente correcto".

 

Tique

Fui ler o último artigo do António Barreto já irritado com o título, mas tem de se reconhecer que é uma interessante análise das presentes circunstâncias políticas.
Se ao menos o António Barreto fosse capaz de prescindir daquelas conclusões vagamente paternalistas e lapalissianas ("Anunciam-se maus tempos para este pobre país."...) em estilo franzir-de-testa-olhos-em-alvo-"esgraçadinha" de fatela romance de cordel...

 

Piedade

Alguém terá pachorra para dizer ao Pacheco que já chega e que se está a cobrir de ridículo?
Parece-se cada vez mais com uma velha e uma velha chata. "Próceres" já não está "in", já o Pulido Valente lhe esgotou o efeito, e há que anos.
Que vá para trás-os-montes lamber as feridas das derrotas políticas.
Que se enfie num convento ou num turismo rural isolado a escrever (e a comer) postas mirandesas ou o volume da biografia do Cunhal depois de morto.

 

Banhas

A informação vem da associação dos obesos, um órgão nítidamente corporativo, um interesse nitidamente "instalado".
Dizer aos obesos que comam menos não é opção, porque se comessem menos ou melhor, deixavam de pagar quotas na associação e ainda eram capazes de morrer atropelados ou da próstata ou do colo do útero, indo assim engrossar os contingentes das respectivas associações de profissionais da queixa, concorrentes no bizarro objectivo de ressonâncias homofóbicas de reduzir "as bichas".
Mas por outro lado aleluia, Deus escreve direito por linhas tortas só para chatear o Saramago, e um outro "estudo" garante que os obesos suportam melhor as doenças cardiovasculares do que as pessoas magras.
Afinal o que é que faço? Mantenho-me gordo e morro à fome à espera de consulta ou emagreço e dá-me um colapso?
Não queres ver que vou ter de acabar por morrer de uma merda qualquer?

quinta-feira, outubro 22, 2009 

Nivelamento

Em mais um "estudo" hoje referido no "Metro", Portugal é, entre a comunidade PALOPS+Brasil+Portugal, o segundo país com menor índice de desigualdade.
O País com maior índice de igualdade é... a Guiné Bissau.
E há lata para publicar uma notícia sobre isto...

 

Olha que mau...

Obama é agora comparado a Nixon. Por quem? Entre muitos outros, pelos republicanos que o comparam a tudo o que seja mau, nem que seja um deles, não por considerarem o Nixon mau mas porque na presente situação serve de arma de arremesso "imparcial".
E qual problema de Obama?
Ao atacar a Fox News, mostra que "" inimigos em "todo" o lado.

Não sei, não estou suficientemente informado sobre o fundamento da atitude de Obama e à partida parece-me pouco realista e defensável.
Mas não consigo descortinar o que "vê" alguém que considere que a Fox News não é uma estação de televisão ostensivamente dedicada a atacar Obama, assim como durante o consulado Bush foi uma espécie de voz do dono cuja vozearia procurava abafar a liberdade de expressão na América e, via os seus proxys avençados ou simplesmente fanatizados, no resto do planeta.

E admiro a imaginação dos que acham que a Fox News produz informação "objectiva"

terça-feira, outubro 20, 2009 

Vítima e culpado

A "filosofia" por detrás da aplicação da justiça em Portugal tem detalhes que me deixam perplexo.
Um deles tem a ver com a famigerada "violência doméstica".
O facto de existir uma rede de "casas de abrigo" e toda uma panóplia de organizações públicas e privadas, linhas de apoio à vítima, etc., é na realidade um sitoma da preversa inversão de perspectivas por parte da sociedade e do estado.
Repare-se no absurdo: é a vítima que é impotente, é a vítima quem tem de "encontrar abrigo", é a vítima quem tem de ser "escondida" de um psicopata, muitas vezes autor reiterado de crimes teoricamente punidos por lei, mas que na prática não passam de frases grandiloquentes espetadas no papel.
O agressor tem total liberdade de actuar, agredir, ocupar o espaço público, à vítima resta fugir e esconder-se, "evitar" frequentar o espaço público. Não apenas nos casos abafados no "silêncio do lar", mas também em situações de que é dado conhecimento às autoridades. O agressor anda de mãos livres, nada o persegue, o intimida ou obriga a esconder-se.
A necessidade mórbida de proteger os direitos dos agressores inibe as forças policiais de tomarem qualquer acção de protecção efectiva de uma vítima ou de controle efectivo de um agressor, mesmo informadas de factos e com testemunhas, sem que decorra um longo processo em que o Estado difere o mais que pode qualquer acção concreta, a não ser, em determinadas circunstâncias "ajudar" a vítima a esconder-se ou, pior ainda, incita vítima e agressor, a tentarem "a bem", entenderem-se.
Na melhor das hipóteses, a polícia abre um processo burocrático, toma nota das ocorrências.
Quando há crianças pelo meio, é sabido que a situação se complica.
Para lém de um pretexto para o agressor se tentar manter sempre em contacto com a vítima, entra em cena mais uma panóplia de funcionários, ansiosos por saber se tudo está a ser feito de acordo com " os superiores interesses da criança", uma figura mistério cujos contornos apenas eles têm o poder para definir.
Ainda não consegui perceber se a passividade demonstrada pelo nosso sistema judicial face à desvantagem em que a vítima se encontra, reside no conteúdo das leis ou numa espécie de greve de zelo seguida por todas as autoridades como protesto silencioso contra um sistema em que se não revêem.

segunda-feira, outubro 19, 2009 

Haja dó

Um fascista nunca aprende. É o que se depreende da leitura da entrevista a José Hermano Saraiva pelo seu sobrinho, o arquitecto Saraiva, hoje publicada na revista TABU que acompanha o semanário Sol.
Segundo José Hermano Saraiva, baseado numa historieta que lhe contou um PIDE qualquer, Aristides de Sousa Mendes não salvou judeu nenhum.
Quem salvou quarenta mil pessoas entre refugiados políticos republicanos e judeus em fuga do nazismo foi.... quem mais poderia ser? o Salazar...
Queixando-se ele de que nunca ninguém investigou a veracidade do "mito" de Aristides eis as provas em que se baseia para o "desmascarar":
Mais tarde, o Eng. Leite Pinto antigo ministro da Educação, contou-me que, quando era administrador dos caminhos-de-ferro da Beira, Salazar lhe pediu para fazer uma operação-mistério, de grande porte, que era transportar da fronteira de Irun para Vilar Formoso milhares de republicanos espanhóis e judeus que lá estavam acumulados e que o Franco, se os apanhasse, matava. E que, se lá ficassem, eram mortos pelos apoiantes do Hitler. Então, os comboios do volfrâmio, que iam para lá selados, eram despejados em Irun e recarregados com os refugiados, que eram despejados em Vilar Formoso. Daí eram levados para várias terras – uma delas, as Caldas da Rainha, onde toda a gente sabe que estiveram um mês. Ao fim de um mês tinham de ir à sua vida. De facto, qual era a possibilidade de um cônsul, um simples cônsul, mobilizar meios para transportar 40 mil pessoas através de um país hostil? Como é que isso seria possível? Só era possível para uma organização estatal, como é evidente."
No meio ficam umas sugestões caluniosas para Aristides, que metem "processos disciplinares", problemas de dinheiro originadas por família numerosa, venda de passaportes... enfim, um nojo.

domingo, outubro 18, 2009 

Big Brother eleitoral

Pegando no mote de um Santana Lopes semi turvado por uma vitória que tinha como matematicamente certa, o impagável arquitecto Saraiva aproveitou a semana "de reflexão" até à publicação da edição do seu semanário subsequente às eleições autárquicas para usar a máquina de calcular e nos revelar a sua "tese científica" sobre o resultado eleitoral em Lisboa.
A tese, que se desculpa quando enunciada por Santana em desnorte momentâneo e a quente, é a seguinte:
O PS ganhou as eleições em Lisboa graças a um acordo secreto de transferência de votos com a CDU e o BE.
Saraiva, após matutar maduramente sobre a questão expõe a teoria do seguinte modo no número de hoje do Sol:
Independentemente de considerações que se passam fazer a partir de manipulações de números, será concebível que alguém com uma noção mínima do que são os processos eleitorais, possa imaginar que mesmo existindo um acordo entre as direcções partidárias, um partido, qualquer que ele fosse, poderia dar, não à totalidade, mas a PARTE dos seus eleitores, secretamente, instruções no sentido de transferir, mais ou menos exactamente o número de votos que fez a diferença entre os dois principais concorrentes?
Esta concepção dominante no submundo da "análise política", do "eleitorado" de cada partido concebido já não como correspondendo a interesses de determinadas classes ou grupos da população que em determinadas circunstâncias se revêem neste ou naquele partido, mas como uma espécie de gado em que cada bezerro transporta consigo um chip do partido ou manada a que "pertence" e que se "desloca" de um lado para o outro "transferindo-se" de rebanho em rebanho como se errando de pastagem em pastagem, subjaz, infelizmente, não só às análises políticas mainstream de analistas que não se sabe como encontraram o seu caminho para os ecrans de televisão ou as colunas dos jornais, como à própria esquerda supostamente detentora de ferramentas conceptuais mais sofisticadas. E dá este resultado.
O PC, um partido que toda a gente reconhece como estando em declíneo, teria uma espécie de controle sobre todos os seus votantes. Sabe quem são todos, e dá ordens a cada um como votar de acordo com os interesses momentâneos da sua direcção.
Visto de outra maneira: se nem o PC, nem ninguém, nem as empresas de sondagens, tem ideia dos votos que vai ter, como é que se pode conceber que esse partido pode assumir acordos "secretos" para ceder uma "parte" precisa do seu eleitorado? Será que o arquitecto imagina que os votantes no PC são uns zombies que estão ligados por um sistema de comunicações à sede do Partido que escolhe o número dos que vão votar noutro partido para viabilizar uma determinada estratégia? É absurdo.
E é absurdo tanto mais que os números de votos no PC, no BE, no PS e no PSD e CDS flutuam de vários milhares para cima ou para baixo em cada eleição.
Se por exemplo, o Santana Lopes tivesse feito o pleno do PSD mais o CDS nas legislativas em Lisboa, teria tido cento e trinta mil votos, isto é, mais quase 22 mil votos dos que obteve o que tornaria o putativo esforço do PC, inglório porque não teriam sido suficientes os tais quinze mil votos "do PC".
Mas antes da votação ninguém poderia saber que meia dúzia de votos da CDU bastariam, já que a diferença de votos entre PS e a coligação foi de mais de quatorze mil votos.
Os tais quinze mil votos "da CDU" só se tornaram úteis DEPOIS da votação, e nada podia prever a sua importância absoluta ou relativa para a vitória do PS.
A necessidade mesquinha de minimizar, ou "explicar" de qualquer maneira a vitória da lista de Costa sem lhe conceder mérito próprio, obriga a diversos "mabalarismos" mas quando se pensa que a imaginação tem limites, eis que o inacreditável arquitecto Saraiva nos lembra que há valores de referência em obtusidade que são difíceis de igualar.

 

À atenção da "esquerda radical"

Não deixa também de ser divertida a aflição do Pulido Valente, manifestada na crónica referenciada no post abaixo, pela possibilidade de "divisão irremediável da oposição".

 

Muda a cassette

A ideia é simples: o Bloco, o CDS, o PC e o PSD, que perderam as eleições e cuja única "vitória" de que se podem gabar é a de terem impedido a maioria absoluta do PS, exigem apenas, para viabilizar a governabilidade do País num momento que todos apregoam ser de crise, que sejam eles (cada um por si) a impor os seus programas. Mas não o fazem de livre vontade, não é o resultado da avaliação politica independente que fazem as suas direcçõos políticas, é o Sócrates, o mau da fita, ( o tal que Vasco Graça Moura na sua infinita sapiência classifica de tudo e do seu contrário, colmatando com adjectivação a indisfarçável tacanhez política) que está a "arrastar" as bítimas incautas nessa direcção... provavelmente, para posteriormente se "vitimizar"...

 

Ha vida em Marte?

Numa entrevista ao DN, Ângelo Correia explica a Vasco Graça Moura porquê é estúpido chamar estúpido ao eleitorado.

Manuela Ferreira Leite e a sua equipa são em primeira linha os maiores responsáveis pelo que aconteceu. Mas é evidente, quando o PSD a escolhe para líder e à equipa, é todo ele responsável. As culpas nunca são de uma pessoa só.

A campanha de Manuela Ferreira Leite não existiu. Tenho uma grande dificuldade em falar de uma coisa que não percebi o que era.

Manuela Ferreira Leite não olhou para Portugal. Olhar para Belém ou para S. Bento pode ter a sua importância, mas nesta altura interessava olhar para o País. Falhou a relação directa do partido com o povo, nas sedes locais, nas freguesias e contar com todas as classes sociais para se aperceber dos problemas. Se o partido funcionasse bem, tudo isso ecoava e chegaria à cúpula, mas o discurso não foi esse. Se assim fosse, talvez Manuela Ferreira Leite tivesse ouvido, mas o partido estava paralisado e dividido e os responsáveis, ela e a equipa, não o fizeram.

DN: Então, qual a razão de se falar tanto na asfixia democrática?
Para Manuela Ferreira Leite foi mais importante a opinião de duas pessoas do que o partido por inteiro e o País.
DN:
Quando diz duas pessoas, é mesmo esse o número. Quem são?
Duas pessoas.
DN:
Pacheco Pereira?...
Com certeza. E Paulo Rangel, obviamente. Quando ouve essas duas pessoas em vez do País e o partido, sujeita-se às consequências. E está à vista.
DN:
São eles os responsáveis pela "asfixia" da campanha?
Podem ser e podem não ser. Porque podiam ter enunciado a questão, mas não lhe ter sido atribuída a prioridade que Manuela Ferreira Leite deu.

sábado, outubro 17, 2009 

Então porque não ficas mais bonita?

Consegui finalmente ver a famosa segunda parte da Prós e Contras em que o José Manuel Fernandes "enfrentou" o João Marcelino.
Como o Zé Manel andou por ali a titubear e nem queria discutir o assunto, quem fez as despesas da festa foi o director do Expresso, Henrique Monteiro, que montou a tenda e com a passividade ou impotência da moderadora, não permitiu a mais ninguém que falasse mais do que alguns segundos. Bloqueou pura e simplesmente a discussão, e nem permitiu o que provavelmente muitos espectadores esperavam: que Marcelino se explicasse.
Uma torrente de interrupções a propósito e a despropósito sem que ninguém lhe dissesse, "porque no te callas", pelo menos durante um bocadinho.
Tudo isto para tentar iludir em "responsabilidade" e "prudência" o patético comportamento do Expresso no caso "escutas" e a dor de corno que toda essa gente ligada ao Cavaco e ao PSD sentiu por ter visto o seu jogo desmascarado na recta final da campanha eleitoral. No final deixou no ar a sugestão (isto acaba sempre em sugestões) de que a história ainda não está toda contada.
Factos? Zero.
Como cereja no topo do bolo, o Henrique tentou puxar de galões e ganhar vantagem "moral" sobre o director do DN porque este, ao invés dele que sempre foi um jornalista político, fez parte da sua carreira na imprensa desportiva. Faz lembrar a anedota do alentejano: se fizeste a tua carreira sempre na política e era suposto distinguires-te por isso, porque fizeste a figura que fizeste?

 

o Queixinhas

O presidente da Associação Portuguesa de Software é o último dos queixosos do Magalhães.
Diz que é uma "fábrica de piratinhas".
É a mais recente intervenção pública de um protagonista que ainda não percebi que tipo de software "produz".
Na mesma notícia diz-se de que no início dos anos 90, o software pirata correspondia a 90% do software instalado.
Uma indústria que não só sobrevive como se mantém pujante ao fim de 20 anos, apenas com os lucros gerados pela venda de ferramentas a 10% dos utilizadores, revela no mínimo um grande desiquilíbrio nos custos praticados.
Se esta gente está bem assim, como não estariam com 90 vezes mais lucros e sem os custos de papel das campanhas de propaganda da ASSOFT?
É caso para dizer, abençoada pirataria.
Democratiza a utilização do software pirateado e populariza-o, tornando-o mais competitivo comercialmente. Cria postos de trabalho, acelera a mudança, de que vão beneficiar globalmente os produtores de software.
Mas isto não entende o sr. Cerqueira.
Em vez de se entreter a enviar às empresas cartas escritas numa linguagem grosseira e intimidatória que roça os limites do insultuoso, o Sr. Cerqueira deveria preocupar-se mais em convencer os membros da associação que dirige a praticarem preços razoáveis.
Talvez fizesse mais pela normalização do problema do que a escrever os seus panfletos idiotas.

 

O que ele tem que tu não tens

Uma certa ligação sentimental à "esquerda radical", de que não consigo libertar-me, faz-me reagir às teorias trinca-na-pêra dessa esquerda na sua recusa autista em analisar ou encarar com lucidez as razões das suas derrotas.
Acho que seria mais profícuo que a CDU (e o BE) se deixassem de desculpas esfarrapadas.
Se o trabalho da CDU (e do BE) é tão bom, porque é que a sua votação em trinta anos de democracia estabilizou, com tendência para decrescer?
Isso é que me interessaria tentar perceber, apesar de não votar na CDU.
Agora teorias da treta de maus perdedores, porque o PS "fez o pleno da direita", porque o PS "roubou votos à esquerda", pelo amor da Santa, haja dó.
Porra, porque é que o PS não há-de obter os votos que tem, seja à esquerda ou à direita, com a mesma legitimidade incluindo enganos e equívocos, de todos os outros partidos?
Que apela ao voto útil... admitindo, para não desviar a discussão, que é essa a razão de fundo da votação no PS, é proibido fazê-lo? As pessoas não podem achar que a vantagem do PS é a de ser mais útil, para proteger as liberdades democráticas?
É ilegítimo?
E dizer que o PS "é igual" ao PSD, e que é "neoliberal"?
E sugerir, como a direita sugeriu, que o PS tem acordos secretos com a CDU e o BE?
E manter, como a "esquerda radical" e a direita, em sintonia, o fizeram, que o PS promove a "asfixia democrática"?
Não é também tentar captar votos a incautos? Ou são slogans tão estúpidos e desmentidos pela prática, que apenas enterram quem os divulga e "reforça" a necessidade desse voto útil?
Se não têm capacidade para argumentos de jeito que em vez de lamber feridas de despeito avancem a sua implantação, ao menos que a CDU (e o BE) tenham os tomates de dizer, como diz o Vasco Graça Moura, que o eleitorado é estúpido.
Fica o assunto arrumado.

quinta-feira, outubro 15, 2009 

Valor seguro

Como comentador, Vasco Graça Moura mantém-se ao nível caceteiro a que já nos habituou.
Um contraste bizarro com a sua erudição e produção cultural, que mostra como não é preciso ser-se um mero labrego para se confundir política com futebol.
Ele bem pode traduzir um soneto do Petrarca por dia, mas em política não consegue ir além disto e não é porque não venha tentando, e desde há muito. O que alguns consideram insuficiência, parece-me a mim uma salutar âncora, o preencher de um lugar próprio, um valor seguro e sólido nos tempos instáveis que correm.
A afirmação de que o eleitorado foi de uma profunda estupidez nas últimas eleições, ( publicada num jornal que consta ser um dos pilares da política de propaganda asfixiante do Governo) é irrelevante porque é o que pensam todos os que perdem eleições.
Mas tem a vantagem de romper com a tradição rançosa dos elogios hipócritas e vazios à "sabedoria do povo".
Manifesta a coragem de admitir a derrota inapelável, embora com o desforço de classificar em bloco, como estúpidos, todos os que cumpriram o dever cívico de votar. Incluindo, presumo, ele próprio, o que é também uma humilde manifestação de igualitarismo, sempre bem vinda.
O "eleitorado" não pode ofender-se.
É expectável que, se de hoje para amanhã, a maioria votar no PSD e no CDS, deveremos àqueles que mudarem, a reconfortante recompensa, pela forma de qualquer adjectivo abonatório, que nos prodigalizará, a todos, o irascível deputado europeu.

 

Cruzamentos

Parece que a ERC decidiu que a suspensão do Jornal da Noite da TVI foi ilegal.
Não sei se esse organismo tem alguns poderes para fazer valer a sua apreciação.
Se tem esses poderes, que se prossiga de acordo com a lei.
Não sei se a seita Moura Guedes/Eduardo Cintra Torres reconhece alguma legitimidade às decisões da ERC, que sempre acusaram de fazer parte da máquina de propaganda do governo. Se não reconhecem, que procedam com coerência.

 

Sonhos fofos

Que o Santana Lopes se tenha queixado do "eleitorado" do Bloco e da CDU, é mais ou menos compreensível. Santana portou-se bem e fez praticamente o pleno da direita que formalmente o apoiava, e sendo assim, a vitória era matematicamente possível. Que lhe tenha fugido assim, entre os dedos, desestabilizou-o e arrancou-lhe aquelas declarações proferidas entre convulsões que irromperam subitamente num discurso de aceitação democrática da derrota que até começara amodorrado.

Que alguns simpatizantes do Bloco se refiram a parte dos eleitores que elegeram Costa, como "eleitorado" do BE e da CDU é que já revela uma tremenda capacidade de auto-ilusão.
O "eleitorado" do BE? Mas o que é o "eleitorado" do BE? Ou, sequer, da CDU, apesar de a CDU, com todos os seus "reforços" se manter relativamente estável nos cerca de 7% desde há décadas, reforçando-se sempre, desde que foi maioria absoluta e farol dos trabalhadores do Alentejo até às duas dezenas e meia de autarquias que hoje detém?

As pessoas que se preocupam tanto com o "clientelismo" acabam por utilizar e utilizar exactamente da mesma forma, as categorias de raciocínio pré-formatado pelo reducionismo dos media e reproduzido mecanicamente pelos seus comentaristas, à falta de outras muletas conceptuais. O eleitorado, por definição, não é de ninguém. São as pessoas, individualmente, que reagem a situações concretas.

A capacidade de auto-ilusão permitiu escrever na blogosfera, a propósito do resultado das legislativas, que se abriu uma fissura no sagrado princípio da propriedade privada.

Alguém que observe com um mínimo de atenção a realidade que vivemos no dia a dia, apesar da crise, ou pelo menos enquanto a crise se mantém neste patamar, pode acreditar seriamente nisto? Quando muito, podem apreciar-se "fissuras no sagrado princípio da propriedade privada" dos outros.

Será preciso lembrar que a esmagadora maioria dos simpatizantes e militantes dos partidos que julgam constituir a "esquerda radical", são na realidade "burgueses", ou "pequeno burgueses", relativamente aconchegados nas suas carreiras profissionais, frequentemente académicas, e cujo "mal de vivre", provém, não de ferozes atentados do Estado sob a forma de exacções ou desvarios policiais, mas dos inconvenientes do acesso à propriedade privada que passam pelo incómodo e servidão do pagamento de empréstimos de maior ou menor prazo, das prestações do carro, da casa, do computador, do plasma, do mp3, dos produtos de consumo cultural, da frequência dos supermercados e dos megastores, dos estádios, das praias e das viagens de turismo?

É esta realidade, é este quotidiano que se fantasia como equivalente ao dos habitantes dos "mega slums" descritos por Mike Davis, ou a quem se destinam as elocubrações sobre a "multitude" dos Negri e companhia?
Quem parece ansiar por um agravar da crise para expor ainda mais as limitações dos "governos burgueses" e potenciar o que se imagina vir a ser uma replicação da situação revolucionária no início do século XX, imagina que uma hipotética revolta dos verdadeiros descamisados, lhes trará protagonismo, os deixará, sequer, com algum centímetro quadrado de pele inteira?
Pense-se em "organizações" como o Primeiro Comando da Capital.

Pela sua implantação nos resíduos do que são as tradições operárias com raízes no século dezanove, ainda faz algum sentido falar num certo eleitorado CDU ( não deixando de ser sintomático que o PCP continue nesta fase do campeonato a esconder-se numa sigla que evoca o partido conservador alemão no poder), por muito deplorável que seja o anacronismo dos seus dirigentes.

Quanto ao Bloco, é, neste momento, uma fantasia, mais um produto de consumo intelectual, um luxo que a democracia nos traz e que consumimos com algum prazer quando estimula a discussão intelectual e nos desgosta quando faz o frete às campanhas difamatórias da direita.
Tirando uma autarca valiosa em Salvaterra de Magos, o Bloco não tem, como partido, qualquer implantação política onde possa ser útil, ou seja, entre aqueles de quem sugere ser porta voz, os despossuídos que não têm carro, carro, passe, tv ou net cabo, não têm água canalizada ou electricidade ou vivem abandonados nos sótãos a cair de podres da parte velha das cidades.
O debate entre o Arrastão, A Terceira Noite e o 5 dias sobre a capacidade do Bloco se assumir como "governo", ascendendo assim à idade adulta da política, quando contrastados com os propósitos lunáticos do candidato por Castelo Branco, provam este impasse e o equívoco de o Bloco apelar ao entusiasmo "anticapitalista" de alguns entusiastas seduzidos pela linguagem revolucionaresca de alguns bloggers e a sua realidade de Partido "do sistema", cuja legitimidade, isto é, os votos, os deputados, os autarcas, lhe é dada pelo e no sistema.

 

Ouvir

Uma entrevista de Margarida Silva à TSF que vale a pena ouvir porque poderá vir a tornar-se uma referência como exposição clara dos principais aspectos que se relacionam com os transgénicos.

quarta-feira, outubro 14, 2009 

Pum! Pum!

A democracia não é apenas fundamental para resolver problemas do País, é fundamental como sistema de vida. Um dos aspectos fundamentais da vantagem desse sistema é que é o único que permite abertamente a dissidência aberta. Por isso me perturbam as diversas referências que algumas pessoas mais ousadas fizeram ao "fim do sistema" na campanha para as eleições legislativas e antes de se saber o resultado das eleições autárquicas.
Não deixa porém de ser estranho que alguns bastiões de dissidência percam algumas das suas referências. Por outras palavras, fiquei baralhado com as referências do programa do valoroso MRPP ao "turismo", aos "aeroportos" e a o TGV. Então e o "FOGO SOBRE A BURGUESIA COLONIAL-IMPERIALISTA!" ?

 

zig zag

Desde a eclosão da gripe que tem sido difundida a ideia de que se trata de uma fabricação da CIA para forçar a vacinação em massa de forma a concretizar finalmente o plano advogado por Kissinger ou um outro qualquer marciano e posto em marcha durante a administração Ford, para abater ao activo da população mundial uns biliões de caminhantes. Sabendo-se da presente crise demográfica, que causa graves problemas energéticos e de sobrevivência ao planeta, e havendo de começar por algum lado, porque não começar pelos suecos, povo generoso?
Não é bem o que a teoria dizia, que se travava de reduzir significativamente a população do terceiro mundo, mas faz sentido, uma vez que a população do terceiro mundo, infelizmente, já tem suficientes guerras e problemas de subdesenvolvimento que dispensam a (letal ?) vacinação.
Que não estejam preocupados, porém, os teóricos da conspiração, porque este teste é relativo. Se os suecos não cairem em barda pelos caminhos sempre resta o argumento de que a gripe é inócua (depois de inicialmente ser uma monstruosidade terrível ou fabricada pela CIA ou originada pelos abusos da agro-indústria) pretexto para se vender a vacina, um chorudo negócio do sr. Rumsfeld.

terça-feira, outubro 13, 2009 

Astigmatismo

O problema não é a necessidade de maior liberdade económica, maior independência do Estado, ou a redução do peso do Estado. Tudo isso pode assumir-se como importante e fundamental para o desenvolvimento de Portugal.
O problema são os arautos do liberalismo, dificilmente se arranjaria uma seita mais inútil e revanchista.
Como manifestação provinciana de seguidismo acéfalo em relação à cultura americana, são o equivalente pretensamente intelectual, cultivado e branco dos infelizes dos subúrbios que se julgam no Bronx, que tomam por lugar fashion, por usarem uns bonés de lado e usarem roupas vários números acima do seu tamnaho.

 

Será?

Na Harper's deste mês, um excerto de First as Tragedy, Then as Farce de Slavoj Zižek que poderia servir de inspiração para muita meditação pós eleitoral ( e não só):
There is a real possibility that the primary victim of the ongoing crisis will not be capitalism but the left itself, insofar as its inability to offer a viable global alternative was again made visible to everyone. It was the left that was effectively caught out, as if recent events were staged with a calculated risk in order to demonstrate that, even at a time of shattering crisis, there is no viable alternative to capitalism.

domingo, outubro 11, 2009 

O farol

A ironia das coisas quiz que Vaclav Klaus, o reaccionário presidente da republica checa se tenha tornado agora no "farol" para onde olham todos os "descamisados" da europa na esperança de impedir os horrores que se seguirão à aprovação do tenebroso tratado de Lisboa.
Tanta gente que pagaria para estar no lugar dele.
O Único, o que decide, aquele de quem depende um processo de anos, que envolveu e de que dependem milhões de pessoas.
O arrastar das coisas que o personagem vai procurar fazer, seria irresponsável da parte de outro político qualquer. Neste caso é apenas coerente com a defesa da ideologia que professa.

quarta-feira, outubro 07, 2009 

Queixa-te ao déficite

Seguranças privados a agredirem um indivíduo nas barbas da polícia.
É normal. É democracia. Na Madeira.
Evidentemente que as filmagens que se viram nas televisões foram "plantadas" pela "central de propaganda" do PS, para tentar desestabilizar o Grande Líder.
Tratava-se de uma festa privada e a divulgação das imagens foi particularmente "nojenta".

 

Pensar um bocadinho

 

Injustiça

Só há uma solução... acabar com o déficite democrático em Itália, acabar com o Tribunal Constitucional.

 

Isto é uma ordem

Adoro estas frases da Madame Europa do Público.
De uma vez por todas... assim mesmo.
Coitados dos ingleses, já só lhes falta aturarem isto para acabar de vez com o seu orgulho.
Ponham-se a pau meninos Gordon e Cameron... isto é uma ordem.

 

Muito Estudo

"Crianças gulosas podem ser adultos violentos", é o título do Metro, baseado num "estudo".
Um dia destes abro uma fábrica de estudos destes.
"Anões coxos podem ter dificuldades em jogar basquete"
"Filhas de pais com o nome Rui podem ser adultos daltónicos"
"Crianças desportistas podem gostar de gravatas roxas e viciar-se em redes sociais"

 

se...

O treinador do Paços de Ferreira fez uma pertinente análise da derrota de 3 a 1 contra o Benfica, no passado fim de semana:


Tirando estes pormenores, o técnico pacense não vislumbrou qualquer superioridade do adversário.

Não pode escapar-nos o corolário desta avaliação: só o golo do Paços foi um golo que merece a classificação de "golo!", por assim dizer, pelo que "moralmente", o resultado deveria ter sido um a zero a favor dos pacenses.

Está descoberta a raiz daquela corrente historiográfica de origem anglo saxónica, geralmente do agrado de historiadores conservadores, a "história especulativa", conhecida em Portugal, desde há décadas, pela frase "Se o meu avô não morresse, ainda hoje era vivo".

domingo, outubro 04, 2009 

IN and OUT

Na Cordoaria Nacional, em exibição INSIDE [arte e ciência], uma exposição de arte do Século XXI.
É um conjunto de trabalhos de algumas figuras de referência de correntes de arte de vanguarda representando diversas abordagens das multiplas sinteses possíveis entre a tecnologia e a arte.
Alguns artistas, de que são exemplos Leonel Moura e Carlos Fernandes, trabalham no sentido de facilitar os meios que permitam a entidades artificiais, criar "arte não humana".
Isto é, aceitando que a Vida Artificial gerada tecnologicamente possui inteligência, criam dispositivos capazes de proceder com um certo grau de autonomia e de cuja interacção com o meio emergem criações que os humanos podem admirar como Arte. É um caminho para a "ultrapassagem do homem", na medida em que o aperfeiçoamento das máquinas poderá levar, no futuro, à irrelevância do olhar humano que actualmente ainda sanciona o objecto produzido, quer fornecendo os meios, o tempo e os locais de produção e exibição, quer, talvez, a própria noção de "arte".
Outros artistas, como são os casos de Eduardo Kak e Marta Menezes têm uma "démarche" oposta que se baseia nas tecnologias desenvolvidas pelo homem para "criar" seres vivos através de manipulações genéticas.
Se os dispositivos de Leonel Moura e outros artistas, como Bill Vorn e os seus "robots histéricos", se baseiam na electrónica e nos algoritmos informáticos, Eduardo Kak e Marta Menezes trabalham sobre tecidos vivos e o código genético.
Se estas correntes suscitam interrogações importantes nos domínios da estética, mas sobretudo da Ética, alguns dos participantes optam por técnicas, quer de manipulação cirurgica do corpo, quer de manipulação genética pura e simplesmente aberrantes.
No primeiro caso, a instalação de Stelarc consiste num filme da operação de enxerto de uma orelha no antebraço feita recentemente. Julgo que Stelarc virá à exposição fazer uma conferência.
No segundo caso, Catherine Chalmers exibe fotografias de ratos manipulados genéticamente em laboratórios "da especialidade". A exposição destas figuras de pobres animais anónimos transformados e desfigurados, num contexto "artístico", neutraliza o impacto moral e cauciona uma aberração que mais apropriadamente deveria figurar numa página de jornal denunciando práticas hoje comuns e que nada garante que não possam ou não sejam já ser usadas em humanos.
Para os interessados, no próximo Sábado às 17:00, na Cordoara, Conferência de Natasha Vita-More sobre "Trans-humanismo".

sábado, outubro 03, 2009 

Tags

Uma das coisas que acho um bocadinho ridículas na blogosfera é esta cena dos "tags" ou "etiquetas".

Não percebo qual é o interesse.

É para aumentar a probabilidade de o Google chamar a atenção de alguém que faz uma busca, para a nossa indispensável opinião?

Se eu puser neste post as etiquetas "Pamela Anderson, putas" depois de escrever sobre o Cavaco, aumento a probabilidade de ser "encontrado", mas depois serei lido por quem?

Etiquetas: , , , , , , ,

 

O partido do taxista... oops, do Portas

O taxista parecia ser um homem atento às complexas movimentações do sistema político-partidário português.
"Ná, eu cá vou sempre votar."
"Óóra bem", aquiesci.
"Foi um rapazito que até é da CDU lá da minha Junta de Freguesia que me explicou: convém sempre a gente votar porque se não um dia a gente precisa de alguma coisa da junta, está lá registado que não votámos e eles depois podem criar dificuldades.
De maneiras que quando há eleições eu é logo a primeira coisa que faço.
Não custa nada!...
No Domingo cheguei lá de manhãzinha e despachei-me rápido. Puz a cruz logo no primeiro da lista, nem sequer reparei qual era".

Toca a andar.

sexta-feira, outubro 02, 2009 

Descompressão

Depois do stress dos últimos dia, a blogosfera parece que ficou subitamente amodorrada.
Ressaca.
É nestes momentos de descompressão que se costumam dar os enfartes.

 

Ali ao lado

No Geração Rasca, uma blogger em excelente forma.

quinta-feira, outubro 01, 2009 

Geometrias não euclidianas

É irónico que na contabilização que alguns fazem da "esquerda" sociológica que gostamos de pensar que congrega a maioria dos portugueses, se inclua o PS, um partido que a restante esquerda activamente combate como sendo de Direita.
Por outro lado, o mesmo PS, é considerado "farinha do mesmo saco" do PSD por alguns que simultaneamente garantem que nas últimas eleições o eleitorado rejeitou claramente o "centrão", ou o também chamado "bloco central" de má memória.
Temos assim que: o PP com mais de 10% dos votos, venceu as eleições.
A "esquerda radical", somou menos de 18% dos votos. E venceu também.
O PS e o PSD, o tal centrão "derrotado", somaram 65% dos votos...
E assim se fazem contas e elaboram cenários políticos em Portugal.

 

Lento

Publiquei o post anterior com um minuto de atraso sobre a nova actualização do Expresso, onde se dá conta de que Sócrates já re-emergiu (vivo) de Belém (não sei se com ou sem, bloco/gravador).
Declarou que "foi uma boa conversa".
(de notar que deve ser aprimeira vez na história que o Bidão posta antes de qualquer comentário no site de origem. Um feito que, num País sério, também era notícia!)

 

Sumo

O Expresso, jornal de referência como os que o são, brinda-nos com a actualidade política mais actual. Neste momento sabemos que:




(tudo muito, mas muito suspeito)

Estou em pulgas para saber os detalhes, conhecer as interpretações feitas pelos analistas e cruzá-las com os cenários de governo possíveis a partir da complexa aritmética post eleitoral.

 

Passa a outra

Com dificuldade em gerir a perplexidade causada pelas incongruências da declaração do Cavaco, os comentadores intimidados pelo papel de "árbitro", ou "referência", associados ao Presidente da República, insistem em dizer que a questão das escutas "não foi clarificada".
Teresa de Sousa, por exemplo, faz o pleno: Cavaco clarificou a questão das escutas? "Sim e Não". Olhe, obrigadinho... ao menos o João Pinto no final do jogo sempre dava o "prognóstico"...
O que pretendem? Que o Cavaco afirme, preto no branco, que não tem qualquer indicação de que houve escutas, ou que a haver escutas, foram encomendadas pelo governo? Podem esperar sentados.
Isso é uma afirmação que ele só proferiria em tribunal e sob juramento.
Alguém ainda pensa que tendo o Cavaco sentido necessidade de arranjar uma forma de fugir à questão principal, focando a sua declaração num problema secundarissimo que tratou com espectacular inépcia, o de umas figuras secundárias do PS o terem chateado nas férias, teria rebuço ou contemplações em falar em tempo útil, antes das eleições, caso tivesse a mínima base para suportar a questão das escutas?
Alguém duvida, de que a conversa de que o silêncio era para não "influenciar" as eleições, deixando no ar a insinuação de que as "revelações" poderiam mesmo "prejudicar o PS", se destinou apenas a criar um falso suspense para beneficiar o PSD ?
Quanto ao mais, se é detectável a manifesta repugnância do Presidente em aceitar que não tem nada na manga, basta ler o que ele disse, não são necessárias grandes "interpretações":
Ele, Cavaco, as fontes autorizadas, os Chefes das Casas Civis e Militares, nunca falaram em escutas. Admite que "não é crime" "alguém" falar em escutas ou ter dúvidas, mas o facto de "alguém" supor o que lhe dá na mona "não ser crime", não é também uma prova. De outra forma não se compreenderia porque é que as fontes autorizadas nunca o admitiram.
Num limite de casuística, pode até admitir-se que o Presidente e as fontes autorizadas nunca poderão dizer que "não há escutas", porque ninguém sabe ao certo até que ponto pode ir a sofisticação das tecnologias de vigilância. Mas isso é válido para todo e qualquer cidadão e instituição deste planeta, Meu Deus.
Supondo que estes comentadores não querem insultar ainda mais a já abalada inteligência do Cavaco, há aqui alguma coisa que precise de ser mais "clarificada"?