domingo, março 28, 2010 

Às voltas com a pescadinha

Na edição do Público de ontem, Sábado, uma pequena notícia na base da página 14 informava que "Gloria Esteban marchou pelas Damas de Branco".
As Damas de Branco são um grupo de mães de presos políticos cubanos, dos quais existirão cerca de 200.
Na coluna do lado direito da mesma página, uma outra notícia referia que "Netanyahu não altera política de colonatos".
Se hoje em dia a situação política de Cuba, em particular a manutenção da existência de presos políticos, se tornou indefensável para toda a esquerda com excepção de algumas franjas radicais ligadas ao PC, quanto à política israelita de ocupação não há qualquer tremor ou vacilação da parte dos seus apoiantes habituais, e a passividade quer dos EUA quer da Europa é pouco menos do que total, apesar do arrufo em curso para inglês ver, entre a administração Obama e o governo de Netanyahu.
A coincidência entre a publicação na mesma página de uma notícia referente a Cuba e outra referente a Israel, recordou-me um outro artigo publicado recentemente na Spectator por Melanie Phillips, intitulado "The moral blindness of the 'human rights' industry" em que reproduz um artigo de Evelyn Gordon na Commentary.
A Commentary, a Spectator e a expressão pejorativa "Industry" aplicada a quem tem denunciado abusos dos Direitos Humanos, dão um enquadramento suficientemente claro do universo em que nos movimentamos. Não é por isso, porém, que deixa de ser um erro aceitar-se que um ex-detido de Guantanamo, conhecido pelas suas ideias firmememente extremistas islâmicas participe em meetings patrocinados pela Amnistia Internacional, esquecendo esta organização a diferença entre a defesa dos direitos humanos das pessoas e alguma forma de apadrinhamento das ideias dessas pessoas, algumas das quais são tudo menos recomendáveis.
No referido comentário, Evelyn Gordon assinala a "hipocrisia" da "Industria" dos Direitos Humanos que se foca nas acções de Israel e dos Estados Unidos países onde elas são relativamente monitorizáveis, e ignora massacres massivos que ocorrem noutras regiões.
Evely Gordon e Melanie Phillips insurgem-se assim contra o tratamento desproporcional dado às violações dos Direitos Humanos por parte de Israel e dos Estados Unidos, quando estas empalidecem face à dimensão brutal do conflito congolês.
Acho esta argumentação tem algum fundamento. Com efeito, não há comparação entre o conflito que abrasa o Leste do Congo, Israel e os Estados Unidos. Apenas espero que se reconheça que também não há qualquer comparação entre esse conflito e a dimensão das violações dos direitos humanos em Cuba e na Venezuela.
Não há qualquer comparação possível entre 3 milhões de mortos e o 11 de Setembro, e o 11 de Setembro deu origem a pelo menos duas guerras altamente mortíferas.
Três milhões de mortos são um cataclismo da dimensão do Holocausto, e talvez seja tempo de começar a ser tratado como tal.
No meio disto tudo, o que fazer aos israelitas? Ignorá-los porque o número de mortos que causam anualmente aos palestinianos se cifra na ordem das centenas?
O que fazer ao regime político cubano que mantém os seus cidadãos em condições de vida que dificilmente se poderão qualificar, em domínios como a educação e a saúde e até mesmo a segurança física, piores do que aquelas em que os israelitas mantém os palestinianos (já de si, convenhamos, superiores às que vigoram no Leste do Congo...)?
Faz sentido reclamar contra Cuba por cerca de 200 presos políticos, quando no Leste do Congo são mortas em cada mês cerca de 45 mil pessoas?
Haverá forma de nos pormos todos de acordo quanto a estes assuntos?

 

Atempado

Artigo pertinente de José Manuel Fernandes no Público de ontem:
"Podem ajudar-me a explicar ao meu irmão de 17 anos..." lida com a dificuldade de um militante do PSD explicar o que distingue neste momento o PSD do Bloco de Esquerda.
A inversa é verdadeira, isto é, como é que um militante do Bloco explica hoje ao irmão de 17 anos o que o distingue do PSD?

 

Atlântico

 

Tons de Inverno

Os jornais de hoje falam de gente a ser tratada do vício do Facebook e outras redes sociais. Neste tipo de notícia inconsequente não é feito o cruzamento de quantos deles pertencem aos mais de 20% de portugueses que um outro estudo garante terem problemas mentais (faltaria ainda aferir qual seria a percentagem de autores do(s) estudo(s), em ambas as circunstâncias).
Nos últimos dois meses sucedeu-me o contrário.
A um internamento num hospital seguiu-se um fastio enorme de quase tudo online.
Limitada que é a minha vidinha tive de me focar off line. Primeiro porque estava agarrado a uma cama, depois porque é bom estar com a família e os amigos reais.
Por enquanto ainda existe alguma distinção.
O que se passa on line reflecte o que se passa na vida real, apenas que a facilidade de acesso convida, por vezes, a subverter as prioridades.
Assim como na vida real "desaparecemos" da circulação por períodos mais ou menos longos, não me aflige que um blog esteja mais ou menos adormecido durante alguns períodos. Em qualquer altura podemos reanimá-lo.
Por isso é um prazer em larga medida solitário e, após a vulgarização do fenómeno, anónimo.
O Facebook, o Twitter e outros, cada um com as suas particularidades funcionam do mesmo modo.
A minha presença on line, ténue que é, tem o mérito de ser totalmente gratuita, dispensa obrigações de qualquer espécie e muito menos de carácter profissional.