domingo, novembro 20, 2011 

O regresso dos Porcos

Uma cena passada passada na Universidade da Califórnia, Davis, nos Estados Unidos está a caminho de se tornar no case study perfeito da mentira policial clássica.
Um polícia despeja a curta distância e com toda a calma do mundo, como se estivessse a pulverizar a horta, uma botija de gás pimenta sobre um grupo de estudantes sentados em protesto pacífico.
É preciso ver para acreditar.
A dignissima senhora Annette Spicuzza, chefe da polícia, explicou cândidamente aos jornalistas que a decisão de usar o gás foi improvisada:
"The students had encircled the officers, they needed to exit. They were looking to leave but were unable to get out."
A cena clássica, repetida em milhares de situações idênticas ...os polícias agiram "em legítima defesa", "só dispararam para o ar...", quase se houvem as vozes do costume... "não havia alternativas"...
Veja-se o vídeo embebido na notícia e confronte-se a cena com as declarações da porta-voz policial.

sábado, novembro 19, 2011 

Qual é a crise?

O arguto Xatoo, autor do blog com o mesmo nome, que é indiscutivelmente uma das guardas avançadas do proletariado blogosfério e intransigente espigão binário cravado no flácido dorso electrónico da burguesia, concluiu que o que se está a passar é o fim das “vacas gordas” para “ a imensa nova-rica burguesia que tem vivido a expensas dos subsidios da União com resultados sociais Zero.
A frase é ligeiramente ambígua e não deixa perceber se “imensa nova-rica burguesia”, se refere a um número imenso de burgueses que de repente ficaram ricos (ou outros pacóvios que se aburguesaram renegando as suas saudáveis origens de classe operário-camponesas), ou se foram apenas alguns burgueses que já o eram mas que ficaram imensamente ricos à custa dos subsídios.
O essencial, no entanto, é que para o Xatoo, os “resultados sociais” (o que quer que isto seja), foram Zero com letra grande. Isto é, nas últimas décadas, o povo, (os que se mantiveram povo, não os que deixaram de o ser e hipoteticamente se aburguesaram), ficou exactamente na mesma, regredindo, até, com a inflação.
Zero. Népia. Falar em Portugal em 2008 (antes de Passos e a Troika), em termos sociais, é, para o Xatoo, o mesmo que falar em Portugal em 1980. Se não antes...
Não sei qual é o referencial usado pelo Xatoo para avaliação de resultados sociais, mas talvez seja possível intuí-los a partir da opinião abalizada do proletário Bernardino Soares.
Soares, que recentemente afirmou que o actual Ministro da Economia é uma “sequela”, política, por supuesto, do ex-Ministro Manuel Pinho (que Bernardino classifica como o “anterior Ministro”, certamente um lapsus politicus revelador das cicatrizes pessoais provocadas por um desleal gesto de dedo em riste apontado, em dia particularmente difícil, ao seu peito em pleno Parlamento), assim considerando que no essencial , apesar de algum alarido "indignado", “nada mudou” nos últimos meses, colocou em tempos em causa que a Coreia do Norte não fosse uma democracia.
Um Portugal em que à custa “de subsídios” se criaram burgueses novos-ricos com resultados sociais Zero, teria assim muito a aprender com os avanços sociais do “modelo” norte coreano e os ensinamentos do incontornável Pensamento Zuche, a saber: não se criam novos-ricos (sobretudo burgueses!), mas aumentam os misteriosos "ganhos sociais" em flecha!
O bizarro disto tudo, é que tirando o episódio da Coreia do Norte, que umas correntes políticas substituiriam de bom grado por um outro país avançado onde não há segurança social, décimo terceiro mês, subsídio de férias ou férias pagas, como os Estados Unidos, a tese de Xatoo pode ser facilmente subscrita pela extrema esquerda, os saudosos do anterior regime e os apóstolos da Ordem Nova neste momento na crista da onda.
Com efeito, todos coincidem no reconhecimento da tragédia de resultados sociais Zero que foi o “regime” instituído pós 25 de Abril (Xatoo e Bernardino aproveitarão, sei lá, os meses que medearam entre 11 de Março de e 25 de Novembro de 1975). Desde Novembro de 75, segundo o Xatoo, o progresso foi Zero e quem beneficiou foi uma “imensidão de burgueses novos – ricos” cuja “mama” está a acabar. O tom do “amigo do povo” trai mesmo uma secreta satisfação por finalmente alguém esmagar os tomates aos “novos-ricos”. Os outros, “o povo”, nada têm a temer e a perder. É-lhes indiferente o impacto das medidas da troika e nada disto justifica particulares apreensões.
Compreende-se assim o papel desempenhado pela chamada "extrema-esquerda" no derrube de um Governo social democrata, de centro esquerda, quando a sua óbvia alternativa seria (como foi) um Governo de direita. 
Para quê, então, a amargura relativamente à Troika? Por puro nacionalismo chauvinista, bonita posição de princípio face ao Imperialismo, incontinente necessidade de "criticar".
Os extremos - e a insanidade - tocam-se. Mesmo.

quarta-feira, novembro 02, 2011 

Roleta Grega

O mundo todo, de novo apreensivo com os gregos.
Apenas porque o Primeiro Ministro Papandreu decidiu consultar a população antes de pôr em prática medidas que os "ajudadores" da Grécia acham "naturais", embora "difíceis", mas que serão catastróficas para a vida das pessoas.
Não sei se esta necessidade tem algo a ver com a inesperada substituição das chefias militares de todos os ramos das forças armadas gregas...
O Banco Mundial diz que o referendo é "jogar aos dados"... pois, os eméritos patriarcas do "risco" gostam de jogar pelo seguro.
O Referendo é quase uma forma indirecta de recusar a ajuda e chutar a bola de novo para o campo europeu, o que mostra que os gregos querem continuar a ir a jogo no poker em que se tornou a crise da dívida.
Se o referendo recusar as medidas, corremos o risco de se desencadear uma crise catastrófica, europeia e mundial. Ou talvez não, talvez os dirigentes europeus e mundiais percebam que se atingiram certos limites, e se disponham a tomar medidas concretas para estancar a crise sem ser à custa das populações de países mais frágeis. Isto é, se isso for ainda possível...
Se as aceitarem, pobres de nós, também, porque o nosso governo terá as mãos livres para fazer as "correcções" que achar necessárias, das quais apenas vimos, até agora, a parte visível do "iceberg". E a crise agravar-se-á na mesma.

terça-feira, novembro 01, 2011 

Sheik Mate

Kadhaffi encontrou o seu fim de uma forma degradante, abatido na rua.
Por um lado não pode deixar de se admirar a sua coragem e pertinácia. Por outro lado não pode deixar de se lamentar que esse encarniçamento tenha contribuido para a generalização e agudização da guerra civil.
Assassinado à queima roupa. Chocante.
Chocantes, também, as despudoradas congratulações de alguns dirigentes políticos ocidentais, não já pela queda, mas pela a morte de um homem que ainda há poucos meses abraçavam e recebiam nos seus países como líder respeitado e respeitável, apesar do seu estilo "colorido".
Degradantes as manifestações de euforia manifestadas nalguns media ocidentais, a que assistimos.
Parte desta euforia explica-se pelo alívio. Aparentemente chegou ao fim a responsabilidade de envolvimento  da Nato e alguns países europeus e os Estados Unidos, numa situação que se arrastava e ameaçava degenerar.
Nos States, a intervenção avalizada por Obama era pretexto para mais ataques dos neoconservadores. Nada de admirar, porque os neoconservadores não precisam de pretextos para atacar Obama (atacá-lo-iam, ainda mais ferozmente, se ele tivesse recusado intervir), mas não deixava de ser mais um espinho na vida difícil do actual Presidente.
Como é hábito, critica-se nos outros aquilo que nós fazemos. Os neoconservadores, que há quase uma década envolveram à força o mundo em duas guerras de onde parece ser impossível sair, criticam o Obama por ter avalizado uma intervenção claramente a prazo, pedida pela Liga Árabe, aprovada na ONU, decidida sem grande preparação específica, resolvida (com atraso em relação ao planeado) em seis meses, comprovando, de caminho, a teoria Rumsfeld: sem grandes alaridos internacionais, sem tropas (oficialmente, pelo menos) no terreno, apenas meios aéreos de combate e navais de apoio, "shock & awe" durante um período limitado e ops! ditador para a valeta.
O que acontecer a seguir "não lhe assiste". Não há pretensões de "nation building" para além do objectivo pragmático de repôr e manter infra-estruturas críticas a funcionar, nomeadamente as exportações de combustíveis fósseis. Com o tempo, cobrar aos líbios a ajuda...
Ninguém sabe o que virá a seguir.
Discute-se se o prolongamento da guerra mais do que o esperado, a proliferação de armas e a tradicional combatividade dos jihadistas líbios em diversas frentes de combate em todo o mundo, não provocaram a degenerescência da revolta contra um ditador em estado de guerra civil larvar. Mas a Líbia não é o Iraque nem o Afeganistão, pelo que não resta outra alternativa se não esperar.
Os opositores da guerra não estiveram muito melhor. 
O princípio da não intervenção nos assuntos internos de outros países é uma doutrina respeitável mas perde valor quando se torna capa de uma simpatia espúria por um ditador e manifestação de desconfiança em relação ao que virá, o que, claramente, viola o princípio. Foi algo deprimente assistir à indignação quase desesperada de alguns quando se tornou patente que Kadhaffi estava no fim da linha. Já não era uma revolta contra a queda de uma nação independente. Era luto carregado pelo Coronel.
É bom defender esse princípio, mas, para isso, colocamo-nos, em certos aspectos, ao nível da "real politik" cujas manifestações merecem frequentemente repulsa. Os tanques andam na rua a assassinar pessoas que se manifestam e nós, espectadores, "lamentamos", "indignamo-nos", lavamos a nossa boa consciência, mas não há nada a fazer, e no fundo, queremos que não aconteça nada.
Nesses casos, então, o melhor é mudar de canal. Para a "Casa dos Segredos".

 

Interpolinimigo

Há um mandato de captura da Interpol contra o simpático Duarte Lima, dizem os meios de comunicação...
Mas afinal o que é que a Interpol tem com isso, se a morta era uma cidadã portuguesa e a justiça portuguesa, aparentemente não tem qualquer interesse no caso?