domingo, dezembro 28, 2008 

Contemporânea

Numa discussão sobre arquitectura, alguém me diz que é ridículo pastiche a reprodução de modelos arquitectónicos "do passado" e que cada construção deve exibir as marcas da época em que é construída.

Esta opinião parte do princípio de que a época em que se vive "produz", por si própria, "modelos".
Como o "tempo" fosse uma espécie de condicionante técnico.
Como se uma lei quântica qualquer tornasse inaudível um Stradivarius se ouvido para lá do espaço de validade temporal em que foi concebido e construído.
Como se alguém que precisasse de construir hoje, um violino, tivesse de o fazer em plástico, cartão, silicone ou metal e com uma forma qualquer à medida da "criatividade" do construtor.
Como se uma casa construída em taipa caísse ou não fosse superior na relação solidez/força estética/conforto térmico/custo de execução/sustentabilidade ecológica, a qualquer outro processo de construção corrente.
Como se um edifício pombalino, consensual como um bom modelo de arquitectura de cidade, digno de ser vivido e habitado mesmo por muitos artistas e arquitectos contemporâneos, só pudesse, por motivos de natureza técnica, ser construído nos séculos XVIII ou XIX.

Estas pessoas esquecem que grande parte da produção arquitectónica actual não passa, ela sim, de pastiche, não de época, mas geográfico, cultural, de contexto e usos, baseado em equívocos estéticos e técnicos.
As palas metálicas que no modelo copiado são processo de ensombramento, são meramente decorativas na cópia.
A fachada de vidro absurdamente cara mas de eficaz resistência térmica, do modelo, torna-se estufa e ruína energética no projecto de baixo orçamento esteticamente "igual" ou "parecido".
Recusam-se como "pastiche" modelos tecnicamente e esteticamente comprovados por séculos de utilização como se fosse a época obrigasse a copiar tiques e imagens veiculadas por fotografias das revistas de arquitectura.

 

Gravata

O que mais me intriga nos video clips da Britney Spears é a quantidade de vezes que a rapariga empurra pessoas e puxa gravatas. A coreografia resume-se a isso: passos decididos montada em sapatos de salto, gestos bruscos, puxão de gravata de criar fractura cervical e ala para outro cenário.
Esta encenação obsessiva da violência feminina expressa nestes videoclips tornou-se recorrente, um acto compulsivo e insuportavelmente cansativo, nauseante.
Será a visão particular da "emancipação feminina" prevalecente na industria discográfica... será a exploração fetichista dirigida ao público masculino.
Fraco antídoto para a bem real violência que muitas mulheres comuns sofrem, sem glamour de calças de cabedal e sapatos de salto alto, espancadas diariamente e por vezes mortas por homens comuns, alguns deles, talvez, admiradores dos videos da Britney Spears e da Madonna.

 

A vida Costa

Não é só a Senhora Manuela Ferreira Leite; parece que tem apelo junto de algumas pessoas insuspeitas a candidatura de Santana Lopes à Câmara de Lisboa.
"Arrojado" e "cosmopolita" (ai, ai...), o "menino guerreiro" parece estar em condições de combater o "cinzentismo" de Costa...
Ao que parece, o próprio Costa estará preocupado com o assunto... enquanto o João Soares se sente tentado a responder ao "repto"! (abrenúncio, o Yin e o Yang, Cila e Caríbdis).
O erro de Costa, parece ser o de não ter encontrado ainda um "projecto mobilizador", um túnel, uma torre, um elevador marado, uma coisa qualquer suficientemente estúpida e disparatada para revelar o seu "arrojo".
A coisa mais espectacular que neste momento tem a ver com Lisboa, é o projecto dos contentores de Alcântara de torva adjudicação, do qual o Governo é o principal responsável.
coisas decentes como o projecto de recuperar o degradado parque escolar de Lisboa, que as arrojadas gestões anteriores desleixaram completamente, não se vê, não dá para encomendar projectos megalómanos a arquitectos famosos, não dá notícia e é, como tal, fatalmente cinzento. Dará votos?

 

Plástico

Os próprios termos em que é descrita a história do Correio da Manhã sobre os alunos que "ameaçaram" uma professora com uma... pistola de plástico, torna ridículo o folhetim montado sobre o caso.
"Ameaçaram"..."pistola de plástico"... a histeria securitária do costume a propósito de uma treta ridícula.

sexta-feira, dezembro 26, 2008 

Dedicatórias

Para aqueles que gostam de fazer comparações entre a situação grega e a nossa.
Para aqueles que pedem "menos Estado" (e mais polícia) para "proteger os mais desfavorecidos".
Para aqueles idiotas que se deleitam nos indicadores do "Portugal na cauda da Europa".
Para aqueles para quem um pacato protesto contra uma plantação de transgénicos há dois anos no Algarve foi um terrível acto de violência.
Para aqueles a quem cabe a responsabilidade de evitar que se chegue onde a Grécia chegou.

quinta-feira, dezembro 25, 2008 

O "Regime"

A histeria da crise aniquilou a política democrática.
A classe política gerou espontâneamente uma espécie de Governo de Unidade Nacional.
A Direita sofre de hipotermia e a Esquerda do Bloco e do PC é um equívoco.
Com os sensíveis sectores estudantis completamente imbecilizados por duas ou três décadas de despolitização e consumismo, com a clássica classe operária desarticulada pelas transformações do sistema económico e produtivo, é um fenómeno atípico como a contestação dos professores que assume o papel de pára-raios do descontentamento profundo existente na larga camada da população que não tem hoje qualquer representação política.

 

Crises e crises

Todos concedem que a crise em Portugal é pior que na Grécia.

É uma catástrofe que se arrasta desde há milénios, é a própria tragédia grega.
Para alguns, desde que o Salazar, o exemplo acabado do "conservador compassivo", caiu da cadeira...
Para outros, desde que "Abril foi traído", entrámos na Europa, aderimos ao Euro...
A questão é que se na Grécia há crise, o pessoal vem para a rua, escavacam-se as montras, apedreja-se a polícia, tenta-se fazer cair o governo.
Em Portugal, no meio desta fatal crise, floresceu uma geração de hábeis... humoristas.
Humoristas que assinalam as semelhanças entre a crise grega e a nossa.

 

O Supra

Todos os dias leio os cronistas e os políticos, reputados especialistas e exaltados espontâneos, alguns com mal mal disfarçado deleite, outos com irreprimível indignação, garantirem que a crise é profundíssima, estrutural, global, catastrófica, definitiva.
E a seguir acrescentam qualquer coisa sobre a incapacidade do governo do Sócrates para lidar com ela...

 

Prioridades

Portugal disponibilizou-se para receber presos de Guantanamo.

Depois de todas as justas críticas que durante anos se fizeram ouvir às tropelias da Administração Bush, às violações dos Direitos Humanos nesse local e à cumplicidade dos nossos governos, seria de supor que a decisão seria recebida com alegria por todos aqueles a quem repugna o desrespeito total por qualquer lei, mesmo a lei da guerra.
Mas não. Muito alarme com os Direitos Humanos, mas a grande preocupação parece ser assinalar que Portugal é um País subserviente em relação aos Estados Unidos. E que se os Estados Unidos a fizeram, agora que enfrentem as responsabilidades.
Tudo bem, mas... e os presos? Vamos recebê-los ou não? Só se eles quizerem, nunca "enviados" "contra a vontade deles". E eu a pensar que a vontade de qualquer preso de Guantanamo era sair dali. Para qualquer lado, exceptuando os países de origem de alguns deles onde ficariam porventura pior sem qualquer discussão pública acerca da inconstitucionalidade da sua prisão, tortura ou assassinato.
É quase um milagre que os Estados Unidos estejam dispostos a fechar a prisão e resolver embora tardia e parcialmente, o problema, quando continuam envolvidos em várias frentes de guerra. Se o fazem não é obrigados pela crise, ou pela fraca pressão internacional. Se o fazem é porque há uma mudança, porque foi derrotada politicamente e pelo menos temporariamente, a seita sinistra que engendrou a situação.
Eu sei que irrita elogiar quem tem mostrado não o merecer em muitas outras circunstâncias, como no caso dos famigerados "vôos da CIA", mas o essencial não é conseguir que se libertem pessoas que todos pensam que foram injustiçadas?

 

Futuro Radioso

Abolir a crise.

sexta-feira, dezembro 05, 2008 

Equivoco geracional

Choque.
Leio na Ípsilon do Público que o escritor que eu achava o mais importante da minha juventude (eu e mais uns quantos), está, afinal, esquecido. A reedição da sua obra completa em 1995 não chegou a vender cinco mil exemplares. Será porque o pessoal que interessa já a tinha comprado toda? Só pode ser isso porque tanto quanto me lembra nem cheguei a tempo de comprar a belissa primeira edição d' A Noite e o Riso. Já os mais velhos a tinham esgotado...

 

De novo X?

Ao que parece o Hospital Amadora Sintra processou o Dissidente -X. Por isto. Vamos estar atentos a mais esta história bizarra da liberdade de expressão em Portugal.

 

O espectáculo como último refúgio da contestação

Já não se suportam programas de humor.
A cada esquina saltam-nos humoristas sem graça nenhuma para a sopa.
No entanto, a coberto do humor, assiti outro dia no programa CQC da TVI a uma fantástica actuação de um repórter que colocou em xeque a Presidente da Câmara de Vila Franca de Xira, Maria da Luz Rosinha eleita pelo PS.
E é este o estado da democracia. Umas horas de assédio de um repórter determinado da TVI e resolve-se (enfim, eu à cautela ia lá fazer outra reportagem daqui a três meses) um problema que se arrastava e pelos vistos só é um problema porque a Presidente da Câmara se está nas tintas para os munícipes (o caso descrito na reportagem não é único).
Pelo caminho ficou o espectáculo deprimente do Poder Local: a passagem do registo piroso da senhora ao receber a "rosinha" do repórter à arrogância do "senhor não é advogado de defesa dessas pessoas". Edificante edil, e bela imagem do "estilo feminino" de fazer política.

 

Copyright

No Congresso do PC, grande aflição com a "política de direita" do PS que está a destruir o "Estado Social". Só que o Estado Social a que eles se referem, aquele inspirado pela social democracia europeia, nada tem a ver com o estado em que o PC, para quem a Coreia do Norte e Cuba continuam a ser referências, gostaria de ver isto.

 

Mete medo

Ou Dias Loureiro processa alguém ( Vieira Jordão, por exemplo) ou a notícia de hoje do Público sobre as suas andanças por Porto Rico assinada por Cristina Ferreira e Vítor Costa é a machadada final na sua credibilidade pública, pelo menos na pública, que na dos negócios e na da política os critérios parecem ser outros. Resta saber até onde a grande imprensa vai continuar amordaçada e a usar de eufemismos políticos para tratar do caso e onde irá a conivência do sector dos negócios do PS para se ver onde tudo isto irá parar.

 

O renegado pródigo

Como seria de esperar Obama escolhe um governo centrista. Que inclui por exemplo a senhora Clinton que em matéria de política externa não será tão falcão como o Cheney e a Condi mas anda lá perto. Já a esquerdalhada desespera.
Os direitistas descobrem que afinal Obama os não "repugna", o que é não deixa de ser irónico e estranho quando há pouco mais de um mesito exultavam quando a anormal Palin ( uma "grande senhora" conmo soe deizer-se) e todos os "bons americanos" o classificava de "terrorista".