Perfume radioactivo
Qualquer coisa anda no ar.
É que o debate é sempre bem vindo, mas a composição dos painéis do ciclo de conferências hoje organizado pela Ordem dos Engenheiros subordinado ao tema Energia Nuclear- o debate necessário, teve detalhes que lembram mais uma acção de propaganda do que um verdadeiro debate.
Muito bem que para defender a sua dama perante uma assistência onde pontificava a fina flor do dirigismo empresarial português, estivessem personalidades de peso como Patrick Monteiro de Barros, o rosto da proposta de construção de uma Central Nuclear em Portugal, Pedro de Sampaio Nunes que hoje publicou no Público um artigo a explicar "o porquê do nuclear" e Ruben Lazo, Vice-Presidente de Desenvolvimento de Vendas e Marketing da AREVA, um produtor de energia nuclear ( ou melhor dizendo "des solutions technologiques pour produire de l'énergie sans CO2 et acheminer l'électricité en toute fiabilité") .
Mas foi um pouco caricato que a Ordem dos Engenheiros, entidade organizadora e independente, de entre todas as organizações ambientalistas do planeta tenha conseguido a proeza inédita de encontrar UMA pró-nuclear.
E convidou-a, na pessoa do seu idiossincrático presidente.
E não convidou mais nenhuma...
Num cenário tão bem composto por forças vivas palpitantes de ambição e ávidas de empreendedorismo técnico e comercial, destoou porém, a intervenção de Paul Joskow, um dos autores do estudo do MIT "The Future of Nuclear Power"(1) citado por Aníbal Fernandes no artigo "Energia nuclear? Barata?" hoje publicado no Público(2), que apresentou um conjunto de valores relativos aos custos económicos (para só falar destes) do nuclear que, independentemente de outras considerações, são um balde de água fria para os defensores dessa opção no imediato.
E ainda nem se falou da localização da central... em Souselas parece que não é, que os habitantes nem uma co-incineradora lá toleram. Assim de repente não estou a ver uma região do país em que mesmo com muitas "contrapartidas" a população queira viver junto de uma central dessas.
Terá de ser uma zona isolada, e com muita água disponível.
O Douro cumpre alguns requisitos, mas já se encontra "ocupado" pelo vinho do Porto.
A sul, no interior do Alentejo, mesmo com Alqueva (pau para toda a obra!) escasseia infelizmente a água de que tanto depende o funcionamento de uma central nuclear.
Resta procurar por uma coisa assim perto da costa.
O Litoral português do Minho a Setúbal é quase uma mancha urbana contínua.
Na costa do Alentejo a norte de Sines, seria absurdo que o governo aceitasse a construção de um equipamento cuja presença deitaria para o caixote de um só golpe a tentativa de aproveitar as potencialidades turísticas daquela zona.
Assim isolado isoladinho e com água à discrição, apenas resta portanto...a Costa Vicentina.
Isto ainda vai dar que falar...
(1) Nota: aconselho vivamente o download a leitura deste estudo disponibilizado integralmente em pdf pelo MIT em curiosa contradição com o Público em que a modernização parece passar por artigos "trancados" enquanto os administradores lançam provavelmente bojardas nos seus relatórios sobre a "auto-estrada da informação".
Os numeros citados no Público de hoje estão no capítulo 5- Nuclear Power Economics
(2) É irrelevante meter links para o Público, uma vez que não dá para se ler nada lá que não seja um telegrama da última hora...
Sim, a questao da energia nuclear anda no ar à meses. Lê os arquivos do http://bloguitica.blogspot.com/. Dizem que a energia nuclear é uma energia boa e qd + tarde a pusermos mais o país será prejudicado. Sinceramente este assundo confunde-me e nao tenho opiniao formada.
Posted by sabine | 12:05 da manhã
Mais um sim ao nuclear:
http://pauloquerido.net/arquivo/2006/02/nuclear_sim_obrigado
Posted by sabine | 12:08 da manhã
a questão não se resume a "sim", ou "não", como se de questões de princípio ou de fé se tratasse. trata-se de saber como, quando, aonde, a que preço e com que objectivos.
agora os gajos que mandam umas lérias para o ar cheios de boas intenções, "abertos a todas as opções" só para não serem "politicamente correctos", mesmo que não percebam o que está em jogo, olha o que se lhes há-de fazer?
Pode ser que estejam a dispostos a constituir o nucleo duro de uma cidade a construir junto à central.
experimenta fazer o download do estudo do MIT. Não coloca de lado o nuclear... como opção a longo prazo... para os estados unidos.
(estou a dizer isto mas não impede que tenha respeito pelas opiniões do Paulo Querido.)
Posted by rui | 12:23 da manhã
Ok. :)
Posted by sabine | 12:37 da manhã
estive a ler o post do paulo querido e francamente, aquilo não é nada... talvez venha melhor a seguir.
quanto ao bloguitica encontrei uma entrevista linkada em janeiro e vou dar uma olhadela :)
Posted by rui | 12:43 da manhã