Boca do Inferno
Pelos vistos a solução para os problemas de segurança do acesso dos veraneantes às praias passa pela demolição das falésias. Custa-me crer.
Parece que a "opinião pública" é uma criança que necessita de vingança a qualquer preço mesmo que seja contra objectos inanimados: a falésia bateu no menino, o Papá deita a falésia má abaixo.
Numa época em que a preservação das falésias como espaços naturais é defendida no limite da histeria, encontra-se na hora, para acalmar a outra psicose do momento, a do securitismo a qualquer preço e "mostrar trabalho", uma solução radicalmente oposta, brutalmente atentatória da qualidade da paisagem e da natureza. Nem quero sequer imaginar o que seriam os meandros de um processo administrativo em que qualquer entidade (por exemplo, uma unidade hoteleira) solicitasse à Câmara, à CCDR, à ARH ou ao ICNB (para não falar da Capitania) a demolição de parte de uma falésia por pôr em risco os utentes de determinada praia...
Para um comentador do artigo do Público, o problema é simples: "as Autoridades deviam e devem vigiar as falésias,as ribas ou barreiras da costa e verificar se elas oferecem perigo de desabamento,e nêste caso deviam ser cortadas a prumo e fazer como que um paredão,eliminando as cavernas,os buracões.A terra escavada poderia ser espalhada e calcada em rampa ao longo da praia". Sugestão boa... para resolver a crise da construção civil e para se perceber a ilimitada variedade de loucuras que podem passar pelas mentes criativas.
Alguns factos que podem estar correlacionados com este caso:
- entre as vítimas não havia turistas estrangeiros.
- em Sesimbra a praia foi interditada por rotura num colector. Um banhista afirmou na televisão que a interdição é "mariquice" porque o Tejo e o Sado estão muito mais poluidos e toda a gente toma banho sem problema nenhum.