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sábado, julho 17, 2010 

Sintomático (1)

O taxista era daqueles que empurrava o taxi para o chegar à frente na bicha.
Entrei e fui varrido com a rajada habitual:
" O serviço que há hoje, não dá nem para comer nem sequer para o desgaste do motor de arranque.
Esse sacana do Sócrates é que arruinou o País...Já viu como isto está?"
Não me restou mais do que engolir em seco e preparar-me para o rosário de desgraças. Dizem que "o cliente tem sempre razão", mas nisto dos taxis aconselha-se ponderação.
"Em primeiro lugar isto do aumento dos impostos é I-N-C-O-N-S-T-I-T-U-C-I-O-N-A-L, frisou sincopando as letras e espetando o dedo indicador,  estive a falar com o meu filho que é formado em Economia e ele confirma..."
O capachinho até vibrou com a veemência do discurso.
À medida que a corrida se desenrolava o panorama foi-se colorindo:
" Isto aqui não dá para comer...
O que me vale é que o taxi é meu...
Se não fosse a minha reforma do Luxemburgo, um País credível...
Com a da minha mulher são 2.500 Euros...
E temos uma moradia na terra... com dezanove metros de comprido e 12 de lado...
De maneira que lá nos vamos aguentando..."
Vidas cerceadas... de um País em crise, onde "já não dá para comer"...