Apesar de quê?
"Apesar de tudo..." é o intrigante título de um post do Geração Rasca sobre o 25 de Abril.
Soa-me como uma inversão de perspectiva, já que o 25 de Abril é um momento fantástico que dispensa agradecimentos... apesar de, isso sim, "alguma coisinha".
Soa-me como uma inversão de perspectiva, já que o 25 de Abril é um momento fantástico que dispensa agradecimentos... apesar de, isso sim, "alguma coisinha".
Agradecer "O", ou "AO" 25 de Abril "apesar de tudo", é assim como fazer um favor a custo, uma condescendência que é fruto da nossa porventura excessiva benevolência.
Algo que a nossa afectividade deseja mas que a custo convence a nossa razão .
O recurso a uma das imagens mais lamechas repetitivas e miserabilistas do 25 de Abril talvez não seja casual e talvez justifique o equívoco.
O recurso a uma das imagens mais lamechas repetitivas e miserabilistas do 25 de Abril talvez não seja casual e talvez justifique o equívoco.
O menino a colocar o cravo na espingarda. Uma imagem encenada à medida do gosto mais piroso de uma certa sensibilidade revolucionária impregnada de pimba até ao tutano.
Chegámos aqui, diz a imagem. E a partir daqui, o menino, o soldado, e porventura a princesa ou operária que ficou a lavar pratos na cozinha continuarão felizes para sempre, provavelmente com muitos filhinhos.
A "inocência" fecunda a arma com a flor.
Esta imagem é a negação do 25 de Abril. É de um gosto estético caduco e propõe um final da história absurdo.
É que o 25 de Abril foi uma solução de continuidade na nossa história.
É que o 25 de Abril foi uma solução de continuidade na nossa história.
Um momento de corte.
Um momento de delírio colectivo único, que, arrisco-me a dizê-lo, empolgou intensamente muitos dos que agora mandam altas postas de pescada sobre "os erros"...
Não há aqui obrigados ou não obrigados, desculpas, justificações ou contas a fazer.
Aconteceu a uma geração de privilegiados.
O 25 de Abril abriu uma folha em branco. Para que todos começassemos a escrever.
Colectivamente, como povo.
E é isso que interessa reter e saudar.
Soubemos aproveitar? Não soubemos aproveitar?
Aquilo que criámos ou deixámos para trás ou de fora está aí à vista.
Muitas coisas excelentes, muitas trapalhadas. Como em qualquer vida vivida em liberdade.
Podemos aprender ou não com os erros, mas não são autorizadas reticências, recriminações ou lamúrias das diversas facções de "traídos" por "este" ou "aquele" 25 de Abril.