Alô, alô
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Como é que pode ser considerada restrição à liberdade de informação a proibição da divulgação pública de escutas telefónicas autorizadas por juízes no âmbito de processos criminais, quer os processos estejam ou não em segredo de justiça?
Não é um princípio básico da defesa da liberdade (da liberdade tout court...) que apenas em circunstâncias excepcionais se autorizem escutas, sob a responsabilidade de um juiz ?
Com que direito então é que causa estranheza que seja proibida a divulgação de escutas telefónicas obtidas com recurso a perrogativas excepcionais atribuidas pela lei aos magistrados no âmbito de determinadas investigações?
Não são as escutas telefónicas um crime quando efectuadas sem esse enquadramento legal, apesar de tenderem para a banalização?
Uma coisa é aceitarmos ser necessário dar aos juizes e à polícia meios tecnológicos adequados para combater em determinadas condições certo tipo de crimes graves e de grande impacto público, algo que deveria ser totalmente ilegal.
Outra é permitir a sua banalização.
Outra ainda é permitir que a coberto do conceito da liberdade de imprensa, essencial para a democracia, se insinue a liberdade de delação e a devassa da vida privada das pessoas. Seja através da reprodução de escutas seja através da respectiva transcrição.
Lembrar a este propósito como a imprensa ( certa imprensa, eu sei, mas acabou por tornar-se um "facto" em TODOS os media, sérios ou não, comentado à saciedade e com a profundidade do costume pela generalidade dos criadores de graçolas) lidou com as "fugas" de informação durante o processo Casa Pia. Foi "liberdade de informação", aquilo? Ou foi manipulação descarada?
Alguns, mais voluntariosos, estão já a ver os coitados dos jornalistas a serem privados de efectuarem aquelas grandes reportagens de risco em que se insinuam entre grupos de criminosos munidos de câmaras e escutas.
Julgo que não é disso que se trata. Trata-se apenas de proteger o direito de privacidade, essencial em democracia e liberdade.