Para quê?
Apesar dos bons ofícios do Hugo Chavez, continua a rábula dos reféns colombianos.
Provavelmente porque a guerrilha quer mandar mais alguma "mensagem", fazer ronha, hipoteticamente mostrar que não são empregados do Chavez, qualquer coisa, porque nestes casos nada acontece por acaso.
Todos sabemos que a realidade da América Latina é muito diferente da europeia.
Só assim se compreende que ainda tenham alguma legitimidade certos movimentos de guerrilha que se reclamam da esquerda como é o caso das FARC, para não falar dos famosos governos "populistas" que agora incomodam tanto impoluto democrata.
A conotação com a esquerda e a tentativa de pôr em cheque a tutela dos Estados Unidos e das suas empresas (o que vem dar quase ao mesmo) sobre os recursos naturais e por consequência sobre a vida política da região é a diferença que gera a pele de galinha pró-democrática nos defensores da mais maquiavélica "real politik" quando os protagonistas são "amigos". Quando se trata de regimes que com maior ou menor democracia formal mantêm o essencial na mesma, ou seja as oligarquias e os seus privilégios intocáveis e os interesses dos Estados Unidos inatacáveis, nada há, para os intelectuais "liberais", a reclamar.
Não há "climas asfixiantes", não há "ditaduras democráticas", desde que haja umas eleiçõezitas e "alternância de poder" está feita a check list democrática, nada há a reclamar.
Repare-se na Colômbia.
O Presidente que tenta "normalizar" o País domando a guerrilha, faz uns discursos inflamados sobre as patifarias dos guerrilheiros mas é incapaz de, no mesmo impulso, referir as centenas ou milhares de sindicalistas e outras pessoas de esquerda que em tempos recentes procuraram a normalização democrática e o diálogo na legalidade e acabaram assassinados. Destes assassinados ninguém fala, ou poucos falam nos media, não interessam ao Pai Natal, comparados com um refém dos guerrilheiros que seja. São, pelo facto de serem esquerdistas na América Latina, "mortos naturais", gente que em última análise, merece o que lhe acontece.
Dito isto, não pode uma pessoa normal evitar a interrogação:
Mesmo sabendo que a luta política não é exactamente um mar de rosas, que os protestos dos direitistas do quintal não passam de uma estratégia suja e hipócrita, o que lucra politicamente e mesmo que seja materialmente, uma guerrilha como as FARC em manter prisioneira uma pessoa como Ingrid Betancourt?
Estejam as FARC, como naturalmente estarão, nas tintas para o que pensa um qualquer europeuzeco, e sigam uma estratégia que nas circunstâncias em que vivem só pode ser inflexivel, o que ganham em qualquer tabuleiro que seja com manter reféns inocentes em seu poder? Repare-se que não se fala de inimigos, fala-se de pessoas inocentes.
Será assim que pretendem "chamar a atenção" para um problema?
Que imagem dão estes homens de si e do seu movimento?
Que garantias dão, ao assim proceder, de que o que lhes interessa é mais do que perpetuar a situação em que já vivem e que portanto não se trata já de ganhar ou de perder o que quer que seja mas meramente exercer a força de que dispõem? E em que medida é que pensam que isto os torna sequer interlocutores válidos de alguém, quem quer que seja, que queira efectivamente desmilitarizar o País e normalizar a vida política do País?
Infelizmente, o que toda esta situção que se tem arrastado ao longo dos últimos anos parece revelar, é que este tipo de movimentos acabam sempre a seguir a mesma linha de degenerescência autoritária e criminosa.