Revolução ao café
A blogosfera, como a conversa de café, propicia o desenvolvimento de curiosos fenómenos de role play em que se assumem determinados papéis como se se representasse um drama ou se participasse num jogo do tipo second life.
É frequente ver pessoas, na sua maioria pacatos profissionais relativamente privilegiados assumirem posições incendiárias derivadas do radicalismo mais revolucionário em total contradição com o seu comportamento na vida diária.
O internauta só, frente ao teclado do computador, advoga frequentamente ideias e soluções em total contradição com o razoável pragmatismo que caracteriza a sua "realidade" mesmo que nela não se comporte necessariamente de forma alheia aos princípios que defende.
Sem se aperceber que a perspectiva intransigentemente revolucionária e militante em que muitas vezes se coloca é incompatível com comentários à esmagadora maioria das incidências políticas no interior do "sistema". O tema do comentário, só por si, o "desmascara".
Um revolucionário coerente com uma posição radicalmente anti-capitalista e anti-sistema encararia a maioria dos temas discutidos na imprensa e nos blogs com o mesmo desprezo ou indiferença com que um ateu assiste às discussões dentro da Igreja Católica sobre o celibato dos padres, a missa em latim e a ordenação das mulheres.
Por outro lado, a tentativa de observar a realidade de uma forma excessivamente construtiva, pretendendo encontrar o "equilíbrio" e rejeitar os "extremismos", arrasta-nos progressiva e subrepticiamente para posições conformistas e estéreis.
É esta dificil tensão que faz parte do interesse do exercício intelectual que é a blogosfera para os não alinhados. Reflectir com abertura e sem limites de programa mas simultaneamente sem perder uma certa lucidez e realismo.