O que está por detrás?
O excelente "A educação do meu umbigo" de Paulo Guinote comenta as recentes posições do PS sobre as uniões de facto dos homossexuais, considerando-a como uma forma de desviar as atenções da política económica de direita do Governo, com a agitação de uma questão "fracturante" e secundária.
É uma mini teoria da conspiração que quanto a mim tem pouco espaço para andar.
Admitindo que o governo se sirva desta questão para desviar atenções, o estratagema só funcionará se se entender o tema como realmente "fracturante".
Ora entendê-lo como "fracturante" será de esquerda?
Se a esquerda entender esta questão como uma questão básica de direitos cívicos, "secundária" no sentido em que é uma solução óbvia a adoptar numa sociedade livre, aberta, laica e republicana e seguir em frente, tira o tapete à tal estratégia desviacionista e pode concentrar-se nas questões mais prementes da política económica.
Se a esquerda se deixar arrastar pela direita conservadora que afecta desprezar a questão como "fracturante" e "secundária" (apesar de a direita conservadora ser notória pela sua hipocrisia quanto a matérias de costumes e de muitos direitistas e conservadores beneficiarem do alargamento dos direitos das uniões de facto) mas tentará centrar a discussão política em moralismos da idade da pedra e convertê-la efectivamente numa questão importante (iludindo também a questão económica que pelos vistos até nem tem lhe convém discutir a fundo), então sim, a esquerda andará duplamente a reboque da direita:
- Em primeiro lugar porque adopta uma agenda conservadora;
- Em segundo lugar porque morde a isca que o Governo estende com a cumplicidade da Direita para dividir as opiniões e desviar as atenções.
Infelizmente, como se comprova da leitura de vários dos comentários ao post, o problema não está na questão em si e no seu significado político nesta fase do campeonato. O problema está na virulenta homofobia de muita gente de "esquerda".