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sábado, janeiro 24, 2009 

Círculos

Uma pessoa passa a vida a levar na cara com a história do "atraso estrutural" português.
Os fabulosos contos de fadas sobre os progressos na China, na Islândia, na Finlândia, na Irlanda, na Polónia...
Em tempos foi o Japão, uma maravilha de país em desenvolvimento em que os trabalhadores eram umas máquinas de competição que pertenciam às companhias apenas pelo período de uma vida inteira.
Já para não falar dos Estados Unidos e da Inglaterra modelos de desenvolvimento a imitar absolutamente sobretudo depois do Thatcher-reaganismo.
Os apelos à aplicação dos "modelos" ...
A Islândia nunca se percebeu bem a que propósito.
Da Finlândia... a urgência de criar uma Nokia portuguesa ali para Alverca.
Da Irlanda, ou da conveniência de nunca se fazerem auto-estradas...
Dos Estados Unidos e da quase total ausência de protecção social dos trabalhadores.
Da Polónia ou do interesse de tentar ser uma jangada de pedra ultra-reaccionária mas a vogar em direcção aos Estados Unidos bushistas.
De outros países do leste europeu, maravilhas de mão de obra qualificada e dócil, baixos salários, corrupção e taxas de desemprego assustadoras...
Organizaram-se visitas ministeriais para "estudar" como enxertar os modelos cá na terra.
Até os teóricos da "liberdade" para quem as coisas "são como são" e a quem repugna "intervir" não se coibiram de reclamar "reformas estruturais".
Agora que toda essa gente está tão pendurada que até os bem dispostos e opulentos islandeses da Bjork que figuravam, apesar da negritude dos dias, do convívio diário com vulcões, do frio de rachar, no topo das listas da "qualidade de vida", já se envolvem em tumultos, pergunto-me o que é que nós temos andado a perder com o nosso laxismo, a nossa alegre bandalheira, o nosso esbanjamento irresponsável. Sobretudo quando um dos indicadores do "progresso" é o consumo e a crítica ao atraso surge de quem se preocupa com a apetência das pessoas para consumir o... supérfluo.
Baralha-me que confrontados com estas minhas reflexões, os que me garantem ser esta uma crise "diferente" e "irreversível", me expliquem com alguma condescendência a vantagem dos países atrás mencionados em relação a nós: vão recuperar mais depressa...

A Globalização, tal como foi concebida, vai determinar o fim da Europa social que conhecemos, mas ajudará ao nascimento de uma nova Superpotência: a China.
O Ocidente caiu na armadilha da Globalização que interessava às grandes Companhias tendo em vista aproveitarem-se dos baixos custos de produção do extremo oriente, dado os baixos salários e a inexistência de obrigações sociais que trariam maiores lucros a essas companhias multinacionais. Não será bem assim porque esses países têm ainda um baixo poder de compra e a produção no oriente destina-se sobretudo a ser exportada para o ocidente e se o ocidente não tiver esse poder de compra, as Companhias não vendem e acabam por ser vítimas também da situação criada.
Ao aderiram ao desafio da "globalização selvagem", os países da União Europeia prometeram ao seus cidadãos que as suas economias se tornariam mais robustas e competitivas (não sei bem como). Não exigiram aos países do oriente que prestassem às suas populações melhores condições sociais, como: criar regras laborais, melhores salários, menos horas e menos dias de trabalho, férias anuais pagas, assistência na infância, na saúde e na velhice para poderem aceder livremente aos mercados do ocidente, não! o ocidente optou simplesmente por abrir as portas à importação sem essas condições, criando assim uma concorrência desleal e “selvagem” da qual o ocidente não poderá ganhar e a única solução será a de nivelar as condições sociais ocidentais pelas dos países do oriente e é a isso que estamos a assistir neste momento. Acresce que esses países nem sequer estão comprometidos com a defesa do ambiente e as suas tecnologias são mais baratas mas altamente poluentes. Assim, o ocidente e a UE ditou a sua própria “sentença de morte”. Será que os trabalhadores dos países da UE, depois do nível social atingido, vão aceitar trabalhar a troco de um ou dois quilos de arroz por dia sem direito a descanso semanal, sem férias, sem reforma na velhice, etc...? Não! , enquanto algumas empresas fecham portas para sempre e outras se deslocarem para a China ou para a Índia, o ocidente irá caminhar num lento definhar em direcção ao caos: a indigência e o crime mais ou menos violento irão crescer e atingir níveis inimagináveis apenas vistos em filmes de ficção que nos põe à beira do fim dos tempos como o descrito nos escritos bíblicos. A época áurea Europa será coisa do passado, encher-se-á de grupos de salteadores desesperados, sobrevivendo à custa do saque e a Europa deverá voltar a uma nova “Idade Média”.

Zé da Burra o Alentejano

oi zé da Burra, isto é o que se chama uma visão pessimista.
Concordo parcialmente com a questão da globalização selvagem mas temos de lembrar-nos de duas coisas:
1 - a globalização é positiva, aproxima as pessoas, contribui para uma aproximação cultural e esbate as diferenças que ainda justificam as deslocalizações.
2 - a globalização teve efeitos perversos para toda a gente e não só negativos. os países asiáticos ao desenvolverem-se não são só competidores por matérias primas. São produtores, são mercado, tornam-se gajos parecidos connosco, esse será para muita gente o maior problema, mas... o que fazer? Mantê-los atrasados connosco descansados a falar do atraso do terceiro mundo e da irracionalidade da nossa economia mais ou menos desenvolvida, ou aceitar que têm direito de evoluir com efeitos colaterais negativos?

Por outro lado parece-me que o cenário das sweatshops existe mas tenderá a estabilizar à medida que os trabalhadores desses países começarem a chatear-se de ser carne para sweatshop, já hoje o fazem em muitos sítios na Ásia não é é notícia... as lutas sociais nesses países são apenas referidas em certos sítios e muito de passagem. Se reparares, hoje em dia já começa a deixar de se falar no papão da Europa de Leste que ia rebentar com isto tudo com as suas massas de proletas ultra qualificados e ordeiros. Ou as pessoas achavam que os romenos e os búlgaros, polacos e checos, queriam entrar para a europa para serem os tesos da europa? Ou tu achas que os chineses trabalham nas sweatshops para continuarem a trabalhar nas sweatshops toda a vida? Quem segue a lógica da mão de obra barata e da exploração fácil de gente dócil, ganha a curto prazo mas com o tempo isso estalar-lhe-á no focinho.
Quanto ao cenário Mad Max, sei lá, é um cenário possível e por isso pode acontecer. Há décadas que anda pessoal a "prever" com várias nuances a decadência da civilização ocidental. É como aqueles gajos que jogam sempre num numero qualquer da lotaria. no dia que um desses gajos acerta torna-se num "excêntrico". É o que acontece recentemente. Uma catrefada de gajos a porem-se em bicos de pés, "eu previ, eu previ"... alguns até parece que estão mais satisfeitos pelas previsões do que preocupados pelas consequências disso na vida de muitas pessoas.

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