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sábado, agosto 07, 2010 

Deep Water

No início da exploração do petróleo, o processo era muito barato, não só porque a exploração era feita em locais de fácil acesso, mas também porque eram reduzidos os condicionantes ambientais e laborais. Eram frequentes os derrames e desperdícios e as mortes de trabalhadores motivadas pelos mais diversos acidentes.
Passado um pouco mais de um século tudo mudou.
Da torre de madeira e equipamento relativamente rudimentar passou-se para alta tecnologia, altos níveis de segurança e eficiência.
O cada vez mais difícil acesso físico às fontes requereu uma cada vez maior sofisticação tecnológica necessária para explorar de forma rentável um produto que se tornou literalmente o motor da nossa civilização, não se compadecendo com equipamento e procedimentos ineficientes.
A exploração passou a ser feita por profissionais cada vez mais qualificados, auferindo os ordenados correspondentes aos riscos e às qualificações exigidas.
Explorações como aquela em que aconteceu o desastre operam em circunstâncias limite, onde é impossível a presença humana.
Os custos envolvidos desaconselham leviandades quanto a aspectos de segurança que possam por em causa não já as questões ambientais, mas sobretudo a eficiência da operação.
A segurança é, assim, uma questão de primeira importância.
E quanto a este aspecto há duas reflexões que se impõem:
Em primeiro lugar, a questão da "segurança absoluta" que mais uma vez se verificou que é apenas um conceito teórico impossível de "garantir" na prática.  Por esse motivo, aqueles que pensam que este acidente beneficia o nuclear estão enganados. Pelo contrário, mais uma vez se prova que na possibilidade de ocorrer um acidente, qualquer que seja o grau de segurança e perigosidade, ele pode ocorrer
A única questão em causa é se os riscos podem ser minimizados e tolerados. Por outras palavras, a exploração de petróleo no Golfo do México em circunstâncias idênticas às do Deep Horizon irá continuar, com redobradas cautelas, certo, mas é impossível garantir que outras fugas não ocorrerão... o único limite para isto é o balanço custo benefício que se faz entre o risco que se corre e as suas consequências. Para já afectaram-se ecossistemas e modos de vida mas não morreu ninguém e espera-se que haja uma regeneração do meio em causa, um pouco como o que sucedeu após o desastre do Prestige há uns anos atrás.
De algum modo, a vida, incluindo a vida humana, continua.
Em segundo lugar, foi mais uma machadada na pretensão de que organismos reguladores apenas acrescentam ineficácia a um sistema que se "auto-regularia" de forma perfeita caso ela não existisse.
O que se verificou mais uma vez foi que uma companhia iludiu normas de segurança com a conivência duma regulação virtualmente inexistente ou mesmo corrupta.
Quando uma regulação tem uma função meramente figurativa, tudo corre bem, incluindo o facto de servir de bode expiatório a empresas pouco escrupulosas, simplesmente "por existir".
Tal como o que sucedeu recentemente em França relativamente ao nuclear, é fundamental e indispensável uma regulação séria, responsável e com os poderes necessários.