Devagar se vai...
A publicidade a um modelo de automóvel híbrido recentemente colocado no mercado que sugere que o consumo dessa marca é tão baixo que dá para atravessar Espanha sem abastecer, é um tiro na água.
Pela diferença drástica nos preços dos combustíveis, qualquer automobilista avisado organiza-se para se abastecer o mais possível em Espanha. Num carrito médio, pode ser uma diferença de 20 Euros por depósito. Pouco mais do que o necessário para ir de Lisboa à fronteira em velocidade "normal".
A mesma campanha publicitária garante que é possível viajar para o Algarve com 15 Euros de combustível.
Francamente não sei o que tem isto de extraordinário.
No ano passado fiz com o meu patético Golf 1400 de 1999, a experiência de viajar para o Algarve e voltar, sempre por auto-estrada e rodando a maior parte do tempo a 100/110, e sem nunca ultrapassar os 120km/h. O resultado, para mim surpreendente, foi que fiz o trajecto de ida e volta com cerca de meio depósito. Contas redondas, dá à volta de 18 Euros por cada viagem.
Isto prova que se estivermos dispostos a fazer figura de parolos e a correr o risco de fazer duzentos quilómetros a uma velocidade significativamente mais baixa do que a de 99% do restante tráfego, exceptuando alguns, poucos, camiões, independentemente da respectiva tonelagem, e um ou outro camponês tresmalhado ou geronte obnubilado pelas cataratas, podemos reduzir drasticamente os consumos e emissões de gases poluentes, perdendo uma ridicularia de tempo para alguém que se desloque a 180 e pare vinte minutos para abastecimento e bica a meio do caminho.
É isto que dói no chamado debate sobre a eficiência energética. Há uma percentagem significativa do consumo de combustíveis, o maior problema nacional em matéria de dependência energética, que é pura e simplesmente deitado à rua. E não é o Governo, não são as "tarifas", não são os "espertos" disto e daquilo, somos nós, colectivamente, pessoa a pessoa, quilómetro a quilómetro.
Alguns poderão achar uma intolerável violação da sua "liberdade". Mas acho mais lógico que os Governos imponham limitações mecânicas de velocidade aos automóveis do que nos impinjam centrais nucleares e outras infra-estruturas com impactos significativos no meio ambiente.