NoClear Future
Espero que isto não seja uma desagradável coincidência aproveitada pela imprensa para suscitar mais alarmismo, mas há indicações de que pessoal em serviço em Fukushima sofreu queimaduras depois de ter estado em contacto com água com elevada radioactividade no interior da central.
O que poderá sugerir uma fuga num dos reactores.
O que, a verificar-se, agravará ainda mais os problemas.
Entretanto o governo japonês sugere mais evacuações das zonas próximas da central enquanto a subida dos níveis de radioactividade vai sendo detectada em locais cada vez mais afastados.
Certamente que o nuclear não vai desaparecer de um dia para a noite por causa disto, talvez não seja "realista" esperá-lo. Quando muito, algumas centrais serão desactivadas (seja o que for uma central nuclear "desactivada", quando ainda hoje o monstro no interior do sarcófago de betão de Chernobyl ainda não está dominado). Na Europa chegou-se a um compromisso para que o essencial fique na mesma: a realização de "testes de stress"... Não é que seja forçoso, ou sequer provável que a situação se repita, mas é de salientar a ironia de os acontecimentos de Chernobyl terem sido desencadeados pela realização de um teste...
Surpreende que os defensores do nuclear, que culpam o que classificam de "hipócrita" activismo anti-nuclear por ter bloqueado a renovação generalizada das centrais, não tenham já pedido (e até alertado para o caso antes do acidente em curso) a desactivação das centrais mais antigas, agora que se verificou que as da geração-Fukushima, que na sua perspectiva são excepcionalmente seguras, não são tão seguras como as novas que propõem.
Mas a "renascença" que começava a tomar forma quando o impacto de Chernobyl parecia desvanecer-se após 25 anos, está liquidada.
Um artigo da Economist que pode ser acusado de tudo menos de "anti-nuclear", propõe um cenário possivel de evolução:
- The world’s people would be healthier and its climate less prone to change if it used a lot less coal;
- that requires greater energy efficiency, more renewable power and better grids, all of which also allow greater energy security;
- significantly more research would help;
- and the supply of gas is much larger and more reliable than was thought just ten years ago, which will lower the costs of change.
Because nuclear power saves carbon, doing without it would make action on climate harder. But because it increases capital costs and systemic risks, it would rarely have grown that much anyway outside a few countries. It won’t go away, but it must to some extent remain a sideshow, however spectacular it looks when it goes wrong."
(nota: editei a formatação do texto de forma a evidenciar as ideias expressas no excerto do artigo - a leituyra deste excerto não dispensa a leitura do original, etc...)
Em resumo, o nuclear, salvo um milagre que permita a exploração dessa energia fantástica de forma segura, isto é, dispensando os custos da parafrenália necessária para fazer parecê-la segura, vai continuar por aí, mas as perspectivas da sua expansão estão limitadas, pelo menos nos países ocidentais.
Até para a Economist, uma revista que assume simultaneamente posições resolutamente ultra liberais em matérias económicas e fiscais mas aceita, embora cautelosamente a realidade das alterações climáticas originadas pela actividade humana, a justificação do nuclear reside no baixo nível de emissão de gases na origem dessas alterações, mas apenas nas centrais já em funcionamento.
Em Portugal, só um governo excepcionalmente corrupto e desfasado da realidade poderia aceitar tentar entrar no jogo da "renascença", isto é, no nosso caso, sinistra nascença.
Não é impossível.