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terça-feira, agosto 08, 2006 

A voz do dono

Num curioso exercício de objectividade jornalística, José Manuel Fernandes tenta repor no seu editorial da passada sexta-feira no Público, a verdade de alguns factos que segundo ele têm sido distorcidos pelos propagandistas pró-Hezbollah ( em geral, quem não apoia a presente aventura militar israelita no Líbano).
Diz numa dada passagem:
"Ontem, por exemplo, confirmou-se que em Qana morreram menos de metade dos que se anunciara terem sido vítimas de outro "massacre" ( atenção às aspas, que são dele, e nos revelam desde logo as suas dúvidas quanto à classificação a atribuir a assassinatos colectivos perpretados pelos israelitas), só que a notícia não teve o mesmo relevo porque recolocar o drama numa dimensão menos trágica não tem idêntica capacidade de suscitar emoções."
Com efeito, a "propaganda" afirmou inicialmente que as vítimas eram 56 pessoas, entre as quais 34 crianças para depois rever este número "em baixa" para 28 vítimas das quais 16 crianças.
Este tipo de contabilidade tem, é claro, tanto interesse para o essencial que está em jogo, que faz lembrar o título de um célebre panfleto de um escritor anti-semita francês: Bagatelles pour un massacre.
O interessante, é que ninguém ouviu JMF ou outro qualquer dos habituais propagandistas sionistas indignar-se com nenhuma das versões do caso:
"Oh Pah! 56 pessoas sendo 34 das quais crianças?? Ó israelitas, pá isto foi demais, tenham lá cuidado, caramba!"
Se isto se tivesse passado, ficariamos pelo menos a ter uma noção da bitola de violência capaz de acordar as suas consciências:
"Caramba, sejamos razoáveis, 28 vítimas das quais 16 crianças, ainda vá que não vá..., 56-34 é que já não..."
Infelizmente JMF não se pronunciou quanto aos primeiros números (os mais altos), quem se fez ouvir foi a habitual e atroz lenga-lenga do "temos de ser fortes", "tem de ser", "Israel não pode ceder", "a culpa é dos terroristas", ou mesmo "se foram atingidos é porque eram terroristas".
Porém, quando os números do massacre foram revistos em baixa, lá surge o JMF, pregar uma "objectividade" que dadas as circunstâncias se poderia também designar como "abjectividade".
Uma abjectividade que não é mais do que propaganda barata ( é perturbante a forma como ele no mesmo editorial se delicia com o facto de os israelitas "terem o cuidado" de telefonarem às pessoas para abandonarem as suas casas, uma vez que estas irão ser bombardeadas por... albergarem terroristas - estará este gajo bom dos cornos? Achará ele que isto é "normal" ou sequer "verosímil"? Assistiu ele a algum destes telefonemas? Viveu-o ele do ponto de vista do "informado"? ) e onde não se faz mais do que hipocritamente tentar aplicar a golpada da "virgem ultrajada":
" Malvados, tentaram enganar-me. Eu indignado, quase a condenar Israel por abater 56-34, quando na realidade se tratou de uns meros 28-16 ! Isto não há limites para a capacidade dos terroristas para mentir!".
Mas já se percebeu que tanto se lhe dá como se lhe deu, a ele como aos restantes propagandistas pró-sionistas, quer os israelitas abatam 20 como 500, uma ou cem ou mil crianças, o que é preciso é "não dar armas ao inimigo".