Assunto (quase) esgotado
Um dos temas que incendiou a pradaria blogosférica e a projectou para a ribalta mediática, foi o debate à volta dos preparativos e depois o início triunfante da Guerra do Iraque.
Passados três anos, pouco mais há a dizer sobre esse conflito.
O que aconteceu desde então deu integralmente razão a quem criticou essa aventura celerada.
A generalidade dos seus fautores e apoiantes, porém, continua, como previsível, a marrar em frente.
Primeiro, era a teoria do "dominó"... bastava correr com o Sadam que a "democracia liberal" instaurar-se-ia como um tapete de rosas ao som das marchas do John Phillip Souza.
Depois era a Síria. Nem seria preciso mais invasão nenhuma. As "forças democráticas" sairiam à rua e liquidariam logo ali o regime do presidente Assad.
Depois era o Irão. Nem seria preciso mais invasão nenhuma. As "forças democráticas" sairiam à rua e liquidariam logo ali o regime dos ayatollahs.
Depois era a Palestina. Os palestinianos resignar-se-iam a viver democraticamente do ar, enfiados numa caverna em companhia dos ratos de onde só poriam o bracinho de fora e votar em quem lhes ordenassem, legitimando assim a vocação democrática do estado religioso que os oprime, e o Estado de Israel, sem gente com maus aspecto à superfície reencontraria a sua vocação turística. Prosperaria, ainda armado até aos dentes, mas já sem inimigos.
"Seis meses, pá, dá-lhe seis meses", gritou entusiasmado um conhecido meu, historiador emérito de profissão, para encerrar uma discussão acalorada que mantive durante um jantar.
Mal ele sabia que com essa frase singela, provavelmente inspirada por deformação profissional de professor, iria inaugurar a carreira brilhante que a guerra que se aproximava iria proporcionar à frase "seis meses" na boca dos analistas e responsáveis militares e políticos.
Bom... passados três anos, vários "seis meses" "cruciais", diversos "milestones" cumpridos, a realidade parece que é outra.
O plano é o mesmo mas a sequência de operações é assim a modos como que inversa.
Ao que parece é agora necessário primeiro invadir e esmagar militarmente o Irão e a Síria (para já...), para que depois, enfim, se assuma naturalmente a configuração inicial, dos tapetes de rosas e marchas. Após o que a vida seguirá o seu curso, isto é... "depois a Síria, depois o Irão, depois a Palestina".
Enfim uma bela história da carochinha que não tem fim e não tem ar de ir acabar bem.
O único factor "refrescante" digamos assim é que alguns dos mais "estruturados" dos apoiantes da guerra, começam a colocá-la em causa. À própria Guerra do Iraque, não são já as tergiversações idiotas sobre questões secundárias e logísticas: o exército invasor deveria ter sido mais numeroso, mais bem equipado (???!!!), Bremer um imbecil que deitou tudo a perder, mais umas eleiçõezinhas e estamos lá, etc...
Não será por acaso. São eles quem sofre mais directamente de perto os efeitos da guerra.
Cá em Portugal não. Continua-se a marrar "abruptamente" em frente na "batalha das civilizações. Dir-se-ia quase que a marrar "olimpicamente", tal o grau de desajuste entre os discursos, as crónicas e os posts e a realidade.
Os críticos abnegados do cinismo europeu a nadar em bem estar e segurança social à pala dos americanos amigos que estoiram biliões em armamento para "nos defenderem", como não são eles quem bate com os costados em Bagdad, mantêm o vigor da primeira hora, fazem sem descanso as festas e atiram os foguetes com os "problemas da esquerda" e enrouquecem a zurrar contra o "anti-americanismo".
Talvez seja possível no futuro próximo assitir a debates interessantes nas revistas americanas.
A blogosfera portuguesa quanto a este assunto secou.