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quarta-feira, outubro 18, 2006 

Pelas Ruas da amargura

Vi um bocado do último prós e contras.
Sobre um assunto de que não percebo nada e que não me interessa por aí além, as transferências de verbas previstas no OrçamentoGeral do Estado para os municípios.
Só deu para ver em acção o Presidente da Associação Nacional dos Municípios, um portento.
Nunca tinha assistido, e foi bom para ter uma noção.
António Costa foi um bocado culpado.
Ao tentar usar uma arma de argumentação de esperteza saloia, a táctica da ferroada que não é ferroada, do género "olhe que eu nem vou contar aqui como... (etc.)", suscitou uma peixeirada que deu algum vento ao autarca, até aí encostado completamente às cordas.
O resultado, se em parte é merecido, não deixou de ser constrangedor pela descida vertiginosa de nível a que se assistiu.
E depois aqueles detalhes da ordem:
Para o Sr. Fernando Ruas os Presidentes da Cãmara têm maior legitimidade do que o Governo por duas ordens de razões:
À uma, estão mais "próximos das pessoas". (esta é recorrente no paleio de qualquer político ou comentador que pretende armar-se em mais "libertário")
À outra, a eleição para as autarquias decorreu depois das eleições para a AR, é uma legitimidade "mais fresca". Este é o argumento de peso do político-escaparate dos lacticínios do supermercado.
Como é possível debater com pessoal com este tipo de preparação política?
O Saldanha Sanches que o diga, coitado, à sua conta ainda teve de aturar uma boa quota parte de bocas imbecis.
Nem todos os autarcas são como Ruas, mas o que parece ser generalizado é que a maioria se queixa de qualquer coisa.
O argumento queque é agora que o Orçamento ( estamos a falar deste, mas julgo que o foi em todos desde a noite imemorial dos tempos) "promove o isolamento do interior"... Foi utilizado por exemplo por José Apolinário e Macário Correia, do Algarve.
Francamente não sei o que dizem os autarcas do litoral, e os das Áreas Metropolitanas. Mas devem ter razões de queixa e de sobra. Ou terão ficado contentes? Nah... desconfio que também estão preocupados com "o interior".
Algo capciosamente, o Governo argumenta que um número avassalador de câmaras vai receber "exactamente o mesmo" que receberam no ano passado.
Os autarcas argumentam com "a inflação". Certo. Mas não estamos todos a apertar o cinto? Algo que todo (ou quase todo) o "País político" vem defendendo e escrevendo desde há quase uma década?
A situação é com certeza mais complexa do que eu estou aqui a descrever.
Mas lendo este artigo que encontrei linkado por um blog respeitável, que refere " Entretanto, (...) o Algarve enriqueceu por efeito estatístico. As contas são feitas assim: antigamente tínhamos um peixe para o jantar; agora continuamos a ter um peixe; mas o alargamento a Leste determinou em Bruxelas que passemos a ter um peixe real mais um peixe estatístico: temos, portanto, dois peixes: ainda que ao peixe estatístico, como se depreende, não nos seja possível afivelar o dente… Mas isso bastou – o peixe estatístico, somado a um inqualificável critério de prioridades – para que ao Algarve, no próximo quadro comunitário (2007 a 2013), esteja destinado não mais que metade do montante financeiro a que teve direito entre 1999 e 2006. ", pergunto-me, sem pretender contestar as razões expostas:
sim senhor, muitas coisas são hoje calculadas e decididas com base em racios artificiais e sem grande ligação com a realidade (basta ver o PIB, que é brandido a torto e a direito como indicador fundamental do crescimento económico), mas isto é verdadeiro para o Algarve como para todas as zonas do País.
Como seria possível proceder de outra maneira, senão recorrendo a dados estatísticos? Alguém se deu ao trabalho de ir ler a imprensa regional francesa e alemã, aquando do "nosso" alargamento, que tanto jeito nos deu apesar de ter sido mal aproveitado?