Arte viva ou Aborto?
Na capa do caderno Espaços e Casas do Expresso desta semana, o monstro pavoroso que o consagrado arquitecto Gonçalo Byrne projectou para aterrorizar as criancinhas da linha de Cascais em substituição do Hotel Estoril Sol, em todo o seu esplendor .
Nas páginas interiores, à direita numa montagem fotográfica ilustrando um artigo que Fernanda Pedro titula enigmaticamente como "a arte viva de Byrne", descortina-se também a "intervenção" mais "discreta", em "escadinhas" aproveitando a configuração do terreno, que foi anunciada inicialmente para o local. É uma coisa banal que não aquece nem arrefece em qualquer Algarve ou Torremolinos. Mas não há dúvida que os mega "sites" asiáticos e do Médio Oriente exercem uma fascinação especial sobre os arquitectos e engenheiros em qualquer parte do mundo. Também querem fazer parecido. E daí a necessidade do aborto em tons escuros e com o triplo do volume que completa o exercício. E deve ter dado um gozo orgasmático conceber aqueles caixotes em consola, aquele cliché de "ponte"...
É isto a nossa vanguarda da arquitectura? Talvez.
Claro que vai ser uma proeza técnica e inevitável prémio Valmor, Secil, ou um outro qualquer instituído pelos vendedores de perfis metálicos, vidro e a EDP.
O problema é que isto não era Xangai nem um subúrbio de Pequim. Mas com intervenções destas não vai demorar muito. Virão cá os chineses matar saudades?
Por estas e outras razões, não se pode queixar Souto Moura na entrevista que dá à versão online do Expresso Imobiliário: por cá, o arquitecto é mesmo o inimigo.