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sábado, junho 07, 2008 

Aristocracia

Nos últimos tempos de hiper sensibilidade à questão ambiental e energética, se se houve falar no lançamento de alguma obra ou projecto, é incontornável o aparecimento de alguém em cena proclamando aos quatro ventos a ilegalidade do acto e avançando se necessário para os tribunais.
A anulação do projecto ou da obra em causa é normalmente recebida em sectores da blogosfera como uma vitória do bem contra o mal, já perfeitamente identificado por cronistas como o Miguel Sousa Tavares, como uma obscura "urdidura" parida por investidores, proprietários, empresários da construção civil, do imobiliário e outros, técnicos, advogados, consultores, Ministros e autarcas corruptos... "e demais oportunistas" parafraseando um célebre slogan do MRPP.
E ao ler a blogosfera e os comentários em artigos do Público ou do Expresso sobre questões ambientais, pensar-se-ia que o País vota mesmo MRPP.
O problema, é claro, não é o MRPP. O problema é a pobreza fransciscana de muitos desses comentários baseados em ignorância crassa e em preconceitos retrógrados embrulhados num léxico superficialmente esquerdista e moralista.
Os que exigem ao Governo que "não governe", sujestão "libertária" que na realidade significa que se pretende que intervenha na economia o necessário e suficiente para bloquear qualquer novo projecto seja de que natureza for e seja onde for, indiscriminadamente sem atender à legitimidade dos processos que os fundamentam (ou não), são os mesmos que exigem ao governo que "intervenha" para salvar os postos de trabalho das indústrias ou empreendimentos ou seja o que for que por qualquer razão (incluindo a fraudulenta, conceda-se) chegue ao fim do seu ciclo de vida.
Compreende-se que assim seja.
Os cidadãos de um País em grave recessão económica querem agora "desenvolvimento sustentável" se bem que ninguém saiba bem o que isso é.
Para uns é "business as usual", pretexto para os mais aberrantes atentados à natureza (incluindo o homem), como a tentativa de vender centrais nucleares como tecnologia "verde", para outros é uma fantasia kitsch onde encaixam a visão idílica e passadista de um País sem auto-estradas, sem fábricas, sem hotéis, sem aeroportos, sem grandes equipamentos desportivos e culturais, mas sim senhora, onde o mesmo cidadão continua a fazer a vida desafogada permitida pela sociedade afluente do início do século XXI, com os seus jornais, a sua internet de banda larga, TV cabo, tudo complementado pela viagenzita anual a um remoto turismo rural ou a uma qualquer praia mais ou menos frequentada, vogando através de uma paisagem de bilhete postal dos anos cinquenta polvilhada aqui ou ali pela presença tranquilizadora de uma ou outra vaquinha, uma que outra cabrinha, animada pela presença de um ou outro pastor alentejano ou beirão dando de longe vaia subserviente aos senhores da cidade. Um paraíso do lazer aristocrático ao alcance da "classe média".
Só fica por explicar o fascínio que ainda exercem sobre quase todos nós as grandes mega metrópoles dos países mais avançados que admiramos e invejamos.