« Home | Curta e seca » | O culto do cogumelo » | O regresso da rolha » | me quedan las palabras » | Motorcycle dairies » | O último refúgio » | Dados (ir)relevantes » | O que está por detrás? » | Acontecimento » | Tic tac » 

segunda-feira, julho 28, 2008 

In illo tempore

Como memória nostálgica, esta crónica merece simpatia. Partilho, aliás, algumas experiências de época, nestes ou noutros lugares. É sobre o encantamento que um jovem urbano sentia quando se aventurava pelos campos ou pelas vilas de província, os locais, os tipos humanos, os cheiros, os sabores, as roupas e os costumes tão exóticos como os que por enquanto alguns turistas afortunados ainda têm o privilégio de encontrar num trilho perdido de Marrocos.
Alguns ainda os são capazes de encontrar em recantos perdidos de Portugal...
Como comentário político, porém, seria meramente reaccionário se não revelasse uma tão grande angústia existencial pela inelutabilidade da passagem do tempo.
A corrupção essencial que angustia Sousa Tavares é a do seu próprio corpo e da sua cabeça, não é a das "autarquias" ou dos "interesses" que ele agita como um fantasma omnipresente.
Um ex-jovem envelheceu mas recusa-se a aceitar que um país atrasado se tenha transformado e se não tenha mantido congelado no seu atraso, na sua miséria, na sua fome que obrigava à emigração, numa imagem de bilhete postal eternamente bucólico e "puro" para deleite ocasional de um jovem urbano sofisticado maravilhado com a simplicidade "do povo".
Este facto relativamente simples é pretexto para elocubrações que teriam algo de justificado se não se tivessem tornado numa monomania obsessiva que se opõe a tudo porque "é corrupto", sem distinção.
Uma coisa é a actividade fundamental de criticar os erros de planeamento (ou a sua ausência) lidando mal com as necessidades galopantes de urbanização, o mau gosto crasso eleito modelo canónico por arquitectos por vezes cheios de boas intenções democráticas e promotores oportunistas, denunciar a corrupção e os casos concretos em que se manifesta, sem dúvida.
Outra é a postura cabotina do "velho desencantado" com as "coisas do mundo", uma pose/cliché que já paga direitos de autor, mas que mantém os seus protagonistas e o seu público fidelíssimo.
Outra ainda, é pretender que esta pose materializada numa litania repetitiva sem qualquer preocupação de aprofundamento dos argumentos tem um conteúdo cívico de "denúncia" cega de sabe-se lá o quê, agora são os PIN que se puseram a jeito, amanhã logo se verá.
Do que posso concluir é que acho estranho que alguém se possa manter pacatamente escrevendo crónicas numa imprensa que coabita e convive com "o sistema" se realmente e intimamente estiver convencido de que os níveis de corrupção dos nossos governantes e autarcas insultados gratuitamente e na maioria das vezes apenas com base em argumentos ad ominem, são tão generalizados como os de qualquer cleptocracia terceiro mundista.

Muito selectivo, este "velho" que nunca terá sido novo.
A verdadeira corrupção que o angustia, ou melhor, aquela que finge ignorar, mas cujas consequências teme, é outra...

Enviar um comentário