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sábado, abril 11, 2009 

The return of the son of "A teu a seu dono"

Diga-se de passagem que esta questão do ateísmo deveria ser encarada de uma forma natural e sem proselitismos. O ateísmo é apenas uma visão do mundo que decorre da constatação de determinados factos relativos à natureza do universo e da vida, a natureza da "natureza", nada tem a ver com hipotéticas superioridades morais ou intelectuais dos ateus.

Capítulo obscurantismo, tal como se passa a vida a falar da Inquisição e a argumentar que as religiões são um factor de desestabilização, também houve milhões de mortos causados por regimes que se reclamaram do ateísmo.

É fácil criticar as recentes posições do Papa sobre o preservativo e a Sida, mas quem o faz numa perspectiva de minimização moral da Igreja esquece-se de que o ateísmo serviu a alguns de justificação para a intervenção no Iraque (contra o "obscurantismo", embora de forma selectiva) e fundamenta a investigação científica em áreas potencialmente catastróficas para a espécie humana.

O proselitismo ateu arrisca-se a fazer passar o ateísmo por aquilo que de todo não é: uma espécie de religião alternativa.

Assumindo-me como ateu desde a adolescência e nunca tendo tido qualquer problema em manifestá-lo, vivendo num país considerado católico mas onde a influência real da Igreja é reduzida no que respeita aos costumes, e mesmo quando é forte relativamente a determinado tema, não dispõe ( e não dá indícios claros de que pretende obtê-los) de mais meios de coacção sobre a população do que qualquer outro grupo de interesses que se manifeste na sociedade, sendo que em muitos casos até se manifesta de forma mais pacífica do que outros, deixam-me um bocado perplexo aqueles ateus que parecem viver sob uma opressão terrível e permanente por parte da Igreja Católica, a que se referem usando o acrónimo depreciativo ICAR (Igreja Católica Apostólica Romana).

Digo isto por me parecer da mais elementar justiça, não é por desejar ou achar frutuoso algum "diálogo" sobre o tema, independentemente do respeito que tenho pela forma como muitos dos meus amigos e amigas vivem a sua religião.
Se por diálogo se entende a possibilidade de pessoas com convicções diferentes encontrarem plataformas comuns de relacionamento relativamente à esmagadora maioria das grandes questões, sou pelo diálogo.
É também disso que se trata quando se houve falar em diálogo entre ciência e religião. Quanto a mim não existe diálogo possível entre estes domínios.
Que Daniel C. Dennett ( particularmente em Breaking the Spell) e outros tentem explicar o aparecimento da religião como fenómeno "natural", explicável à luz das leis da evolução, é uma coisa. Que esse projecto claramente anti-religioso seja apresentado como uma tentativa de diálogo racional entre ciência e religião é outra completamente diferente que escamoteia o facto essencial: Dennett é ateu e visa desmontar ( ao "explicá-lo" racionalmente) o edifício religioso.
Se por um lado é compreensível a preocupação da Igreja moderna que se pretende livre de crendices em estar actualizada relativamente aos avanços da ciência de forma a integrá-los na sua visão do mundo, não se compreende como pode haver da parte dos cientistas enquanto cientistas qualquer "compreensão" relativamente a fenómenos como a Fé, afinal o âmago da experiência religiosa.