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domingo, março 08, 2009 

Homo Favelius

A maioria da população humana vive hoje em cidades.
A maioria da população humana que vive em cidades vive em favelas.
Favelas que se auto-organizam segundo princípios que não sendo novos se articulam numa multiplicidade de formas ainda não minimamente compreendidas ou estudadas.
Não se sabe mesmo se essas formas são passíveis de ser analisadas com os instrumentos conceptuais que definiram o que vulgarmente se designa como "civilização".
Em que ponto se deu ou poderá dar essa transição do "normal" domínio colonial ou neo-colonial para este sistema, ou mesmo da exploração feroz por parte das "elites" locais, para realidades corporizadas por fenómenos como o PCC ou os piratas somalis, nigerianos ou malaios?
As pessoas que habitam as grandes favelas africanas asiáticas e sul-americanas com milhões de habitantes dispersos por centenas de quilómetros, apenas formalmente participam do sistema político democrático embora partilhem pelo menos parcialmente alguns dos seus valores e vagamente os idiomas oficiais.
Na realidade tomam contacto com o sistema de forma intermitente, os seus valores são-lhes indiferentes e a sua condição torna-os desinteressantes para os políticos.
O controle, as relações de poder a reutilização ecologicamente radical dos materiais incluindo os detritos da sociedade "normal", os tráficos, conceitos como cidadania, solidariedade, cooperação, a relação entre essas populações e a minoria que vive dentro do sistema.
Um sistema auto-governado é por um lado o sonho dos anti-estatistas de todos os quadrantes e por outro lado é um sistema altamente hierarquizado, eficiente e pouco tolerante face ao desperdício e ao erro.
Um sistema de brutal eficiência "darwinista" de sociedades de insectos com pernas, de extrema crueldade se avaliado à luz dos nossos padrões padrões. Um sistema inclassificável, imparável e implacável.
Apenas o Pentágono e o Mossad terão hoje estudos sérios sobre as suas formas de organização e mesmo assim apenas do ponto de vista da adaptação da estratégia militar a novas condições de combate, vide Fallujah, vide Mogadisho, vide Gaza e Beirute.
Será possível moderar a sua expansão?
Será possível que da sua evolução autónoma assistamos ao nascimento de novas espécies ?