Valor seguro
Como comentador, Vasco Graça Moura mantém-se ao nível caceteiro a que já nos habituou.
Um contraste bizarro com a sua erudição e produção cultural, que mostra como não é preciso ser-se um mero labrego para se confundir política com futebol.
Ele bem pode traduzir um soneto do Petrarca por dia, mas em política não consegue ir além disto e não é porque não venha tentando, e desde há muito. O que alguns consideram insuficiência, parece-me a mim uma salutar âncora, o preencher de um lugar próprio, um valor seguro e sólido nos tempos instáveis que correm.
A afirmação de que o eleitorado foi de uma profunda estupidez nas últimas eleições, ( publicada num jornal que consta ser um dos pilares da política de propaganda asfixiante do Governo) é irrelevante porque é o que pensam todos os que perdem eleições.
Mas tem a vantagem de romper com a tradição rançosa dos elogios hipócritas e vazios à "sabedoria do povo".
Manifesta a coragem de admitir a derrota inapelável, embora com o desforço de classificar em bloco, como estúpidos, todos os que cumpriram o dever cívico de votar. Incluindo, presumo, ele próprio, o que é também uma humilde manifestação de igualitarismo, sempre bem vinda.
O "eleitorado" não pode ofender-se.
É expectável que, se de hoje para amanhã, a maioria votar no PSD e no CDS, deveremos àqueles que mudarem, a reconfortante recompensa, pela forma de qualquer adjectivo abonatório, que nos prodigalizará, a todos, o irascível deputado europeu.