« Home | Tragam o grande » | Avant-gout » | Melhor que na sic e na tébé-i » | Yin-Yang » | Educação sexual » | O assunto » | Derrame » | Le feu sous la cendre » | Guerrilha » | Tralha » 

segunda-feira, abril 19, 2010 

Crossroads

Se o pessoal do Manifesto pró nuclear quer discutir coisas a sério, escusava de ter enviado hoje Henrique Neto ao programa Sinais de Fogo do Miguel Sousa Tavares para debater política energética com Carlos Pimenta. Henrique Neto foi de uma inépcia confrangedora e demonstrou uma ignorância que roçou o patético. Onde Pimenta apresentou factos apoiados em documentos, Neto baralhou os chavões demagógicos dos "especialistas em energia" que estão por detrás do Manifesto e mostrou que não faz a mínima do que poderiam ou poderão ser as opções nacionais em matéria energética.
Onde Pimenta fez propostas concretas de esclarecimento incluindo visitas às fábricas que trabalham na fileira eólica, Neto fugiu com o rabo à seringa e pôs condições irrealistas para ser "convencido".
Onde se esclareceu o real valor dos custos das renováveis e incidências no déficit tarifário, Neto balbuciou que a energia é cara... possívelmente saudoso do final dos anos sessenta.
Onde se comparou o preço da energia paga pelos portugueses com o que pagam os europeus, Neto retorquiu que os portugueses ganham menos, esquecendo que quem nos vende o petróleo e o gás natural não atende a esse factor negativo da nossa economia, não eslcrecendo se pretende recorrer a energia "subsidiada" da que tanto pesa às "gerações futuras".
Em resumo, Neto andou às aranhas, misturou os standards ambientais inferiores dos chineses com o que classificou em desespero de causa como "vanguardismo" e "fundamentalismo" das renováveis.
Um desastre.
Resta perguntar: como poderia ter sido de outro modo?
Afinal, onde se meteram os "engenheiros do técnico"? Onde estão os "sábios" que vão "dar água pela barba aos pimentinhas das eólicas", como anunciava há dias nos comentários do Ambio com incontrolada arrogância, Jorge Oliveira, um outro subscritor do Manifesto?
Os subscritores do Manifesto falam de "tabu"? O que fica claro é que este tema tem efectivamente de ser discutido com mais profundidade para que a demagogia com que tentam bombardear a opinião pública seja desmascarada.
Desde que estas coisas começaram a ser discutidas mais abertamente já se percebeu que:
- se o nuclear avançasse de acordo com o "roadmap" proposto por Pinto de Sá, o guru científico do Manifesto, apenas lá para  2020 poderiamos ter "política energética" .
- nessa altura talvez se viesse criticar o governo pelos custos que estariamos a pagar pelo não cumprimento das metas de redução de CO2.
- se tivessemos optado pelo nuclear em 2005, estariamos agora em pleno "crash course" tal como sucede com os finlandeses que resolveram em má hora fazer essa "aposta".
- os valores que o Manifesto apresenta para o peso das renováveis no déficite tarifário são manipulados
- os valores que o Manifesto apresenta como custos das renováveis no momento actual, são falsos.
- os valores que os promotores do Manifesto sugerem como exequíveis para o custo da energia nuclear são falsos e muito mais caros.
Há, certamente questões técnicas e económicas em aberto que o governo e o sector das energias renováveis têm de esclarecer rapidamente e com maior detalhe.
O que se torna intolerável é esta vitimização contínua, o martelar obsessivo da palavra "tabu", o despautério de empresários, políticos e académicos bem instalados no nosso sistema económico e político se pretenderem fazerem passar por "técnicos" "desinteressados" e paladinos dos "pobres contribuintes", "famílias" e "gerações futuras" (a pimbalhice a la Paulo Rangel parece que veio para ficar) arruinadas pelas tarifas energéticas, apresentando como panaceia a duvidosa (para não dizer mais) opção pelo nuclear.

Caro Bidão Vil,
Se aceita este pequeno esclarecimento, não foram evidentemente os autores do Manifesto que "mandaram" o Henrique Neto ao programa do Miguel Sousa Tavares, mas sim o espertíssimo Pimentinha quem o recomendou, sabendo de antemão que assim não teria contraditório.
Quanto às suas restantes opiniões, tem todo o direito a elas, claro.
Mas se está interessado neste assunto da energia, sugiro-lhe que me vá lendo no meu blog porque a guerra é prolongada e para mim ainda está só no começo.
Cumprimentos!

Enviar um comentário