Derrame
A crise existencial instala-se.
O que andamos nós aqui a fazer. E tal.
A coisa é tudo menos original.
- Acho que já conheço a sua poesia.
- Não conhece porque está sempre a mudar.
A rapariga diz-me que tenho de comprar a sua última folha de poesia.
- Quanto é?
- Dê-me o máximo que puder.
É que eu hoje não vou para casa enquanto não comprar um perfume que vi ali numa loja.
Aqui fica então, por dois euros e meio:
" Nos ramos do abraço
Nos ramos do abraço
Está escrita a minha solidão
A tinta da china. Quem foi
O escritor que me legou
Tão grande desolação?
Sob as águas do rio-poema
Estão sibilantes o sonho,
A asa e a pedra.
Sou toda vento pétalas e versos
No meu anseio de água"
Ou seria perfume?