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sexta-feira, abril 14, 2006 

Trabalhar de borla

O caso que motivou Karl Marx a escrever "Herr Vogt" é um antecedente histórico emblemático de um fenómeno recorrente na actualidade:
opinion makers, bloggers e jornalistas que só por uma grande estupidez da sua parte não estão no "pay roll" de certas organizações de espiões.
Outros certamente que o estarão.
O servilismo mascarado com uma pose de arrogância e erudição de vendedores de máquinas de lavar roupa com que repetem argumentos nauseabundos embrulhados em protestos de "independência" e objectividade baseadas "rigorosamente" em "factos" apresentam a sua verdadeira face quando, normalmente passado algum tempo, se começam a conhecer os meandros de determinados "factos políticos".
Vem isto a propósito de um artigo do Economist sobre um livro recentemente publicado por um antigo dirigente do Mossad.
Entre outras histórias, conta-se a do lançamento por essa organização da ideia do "Arafat impróprio para consumo", "sem credibilidade", "incapaz de representar os palestinianos" e a precisar de ser substituído por um dirigente mais capaz.
Eis uma interessante passagem do artigo :
"In 2000, Bill Clinton's attempts to broker a peace deal at Camp David failed. The incoming administration of George Bush had no strong interest in this conflict (and even fewer ideas) about what to do. But the Mossad chief began to pick up an unusual message from his friends in Washington. They wanted Israel under Ariel Sharon to come up with a policy that Israel and America could pursue jointly, provided the Israeli ideas did not serve Israel's interests alone, but also America's.
In 2002 a spate of Palestinian suicide-bombings prompted Israel to reconquer the West Bank. But the Israelis had no clear notion of what to do next. So Mossad stepped into the vacuum and produced one: “regime change” for the Palestinian Authority. The spies drafted a plan under which Yasser Arafat would be marginalised and a Palestinian prime minister would take over his executive power. This was intended to produce a credible Palestinian partner for Israel, who might go on to rule a Palestinian state in provisional borders.
Mr Halevy took this plan to foreign capitals where it was received with enthusiasm. It paved the way for the policy-changing speech of June 2002 in which Mr Bush called for the Palestinians to give up on Arafat. The Economist said at the time that the speech could have been written by Mr Sharon. It seems that its main ideas were indeed invented by Mossad. The worldwide acceptance of Israel's argument that Arafat's leadership had failed—and the enlistment of the Americans, Europeans, Russians, Egypt and even Saudi Arabia in attempts to circumvent him—was an Israeli intelligence coup of the first order.
"
Em resumo, o estupendo bastião do jornalismo que é o Economist, indefectível apoiante da barbárie desde que seja praticada pelos israelitas, achou boa a ideia de correr com o Arafat apesar de o discurso do Bush "parecer" ter sido escrito pelo Sharon.
Agora reconhece, sem qualquer sombra de problema de consciência aliás, que foi uma orquestração do Mossad.
Mas para as correias de transmissão que nas colunas de opinião e nos blogs papaguearam durante meses entusiasticamente esta teoria, quem tivesse dito que Bush estava a fazer um frete ao ocupante israelita era "anti-americano".
Isto claro, são factos passados... mais para a frente saber-se-ão mais aventuras dignificantes da boa colaboração entre israel e os americanos no presente para edificação dos seus diligentes propagandistas.
Conhecer estes factos é no entanto pouco mais do que curiosidade diletante.
Um pouco de bom senso indica-nos que não podemos esperar que do "antes" os tais propagandistas (falo dos ingénuos, porque os funcionários a soldo têem o seu papel a desempenhar como bons profissionais) tirem as devidas ilações para analisarem o "agora" ou o "depois".