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sábado, julho 22, 2006 

A forma e o conteúdo

O repórter da Sic Notícias José Manuel Rosendo acaba de informar de Beirute que a assistência aos refugiados do Sul do Líbano concentrados em escolas da cidade tem sido inteiramente assegurada pelos serviços do Hezzbollah.
"Do Governo não chegou nada" informou o jornalista citando fontes ligadas à gestão da situação no terreno.
Um dos problemas dos árabes "ocidentalizados", para além de serem muitas vezes manipulados por agências de espiões americanas e encabeçados por homens de negócios corruptos como o caso do iraquiano Ahmed Chalabi, é engolirem a pílula toda.
Para além da revolução dos costumes e a defesa do laicismo, da igualdade das mulheres e em geral de um programa político democrático, pretendem aplicar a martelo os programas económicos irresponsáveis dos ultra liberais de cuja bondade, como é vulgar quando impera o fanatismo cego, nem as catástrofes provocadas na Europa de Leste e na América Latina fazem reflectir.
É também o resultado de essas ideias ocidentalizantes serem maioritariamente partilhadas por uma elite completamente divorciada da maioria da população economicamente mais desfavorecida que despreza, no fundo, arcaica por detrás da adopção de comportamentos "civilizados", e sem qualquer ideia de "solidariedade nacional".
Os resultados estão à vista nas vitórias do Hamas e na implantação do Hezzbollah, mas de novo, ninguém quer aprender com os factos. Ou se calhar, ninguém pode aprender com os factos.

O que é que o 1ºparagrafo tem a ver com o resto do texto? Explica.
Nao gosto dos ultra-liberais, mas as tuas conclusoes sao (no minimo) incompletas).

Os refugiados do sul do libano não são militantes ou simpatizantes do hezzbollah.
São cidadãos libaneses indiferenciados, alguns serão simpatizantes, mas nem de perto nem de longe todos.
No entanto, o governo libanês não tem, ao que parece, quaisquer estruturas de apoio a essas pessoas.
O que é chocante, apesar de sabermos que o Líbano estava a encetar um processo de libertação progressiva da tutela Síria.
Num estado como o Líbano, no fio da navalha, seria de pensar que a primeira ou uma das primeiras coisas a fazer seria minar as bases de apoio dos islamistas, não com guerra, não com retórica de "democracia", mas com apoio efectivo.
Mas nada disto se passa, tem de ser um grupo privado de carácter religioso, o hezzbollah, a promover esse apoio.
Isto, de certo modo, é já parte (embora muito incompleta) de um sistema ultra-liberal em que "há pouco estado", incluindo ( sobretudo) a ausência de estruturas de apoio e solidariedade social, que se desejam entregues à "caridadezinha" de grupos privados ( os comovidos elogios de alguns dos nossos comentadores direitistas a bill gates e a warren buffet, exemplos recentes que têm sido explorados para mostrar como os ricos devem pagar poucos impostos que é para depois, por sua iniciativa, tratarem da solidariedade da forma como lhes aprouver) e de carácter religioso ( a igreja, as irmãzinhas da madres teresa, etc...o Hezzbollah e o Hamas).
O Hezzbollah e o Hamas, estão para o povo como "o peixe na água" como diria o Mao.
Ao contrário do que é persistentemente divulgado,parece-me claro que a adesão a esses grupos se deve essencialmente ao facto de serem eles quem presta ao povo cuidados que deveriam ser prestados por um sistema de segurança social.
A religião, embora existam naturalmente raízes culturais e campo fértil, vem depois.
É como o persistente sucesso eleitoral do PC em muitas estruturas autárquicas, as pessoas acham-nos menos corruptos.
Este processo de destruição do estado que é promovido essencialmente por um país com um estado poderosissimo, os estados unidos, levou às catástrofes da Argentina e do antigo bloco de leste. A mesma receita aplicada de forma cega por um incompetente irresponsável, criminoso e inimputável levou à destruição do estado iraquiano e potenciou a tragédia a que temos vindo a assistir.
As elites árabes veneram os Estados Unidos na sua luta contra a opressão, querem adoptar um estilo ocidental baseado em eleições democráticas, mas estarão completamente cortadas do povo, enquanto não compreenderem que é urgente para a sua própria sobrevivência "ligarem-se" a ele e só podem fazê-lo demonstrando solidariedade, dando segurança no contexto da construção de um estado, disputando aos grupos extremistas esse papel.
Mas como por outro lado, são patrocinadas e influenciadas por quem pensa que a segurança social é deitar dinheiro à rua, nunca, mas nunca, chegarão a lado nenhum.

Depois de ler sa tua explicação compreendo-te e concordo contigo.

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