« Home | Um pouco de contraditório » | Escolhas e bússulas » | Atrás de mim virá quem bom de mim fará » | Problema menor » | Declaração sugestiva » | Média alucinante » | O homem que falou demais » | Descida aos infernos » | Robot escritor » | Sem remissão » 

sexta-feira, julho 21, 2006 

CSI

A partir da leitura do livro Conquistadores de Almas e na pressa de “demonstrar” o que de há muito pensava do assunto, Luciano Amaral transforma o caso da morte de Ribeiro Santos numa vulgar emboscada em que as vítimas foram dois pacatos membros da pide:
(... “revelação” do segredo de polichinelo acerca da morte de Ribeiro dos Santos: a de que ela teve carácter sobretudo acidental, causado pela provocação violenta de dois membros do MRPP a um PIDE que eles próprios tinham mandado chamar.”)
É um exemplo banal de como um insurgente do polo oposto partilha com a extrema esquerda o salutar desprezo pela “objectividade burguesa” .
Eis a passagem do livro Conquistadores de Almas em questão:
A Direcção da Associação, da UEC e presidida por VAsco Cal, com medo do caminho que as coisas levavam, pediu a presença da PIDE para identificar o individuo sequestrado, e esta aceitou o desafio mandando de facto dois agentes ao meeting. Mal entraram no anfiteatro os dois homens foram atacados pela multidão em fúria, liderada pelo MRPP.
A um agente Lamego agarrou os braços pelas costas enquanto, enquanto Ribeiro Santos o socava pela frente. O agente porém, apesar dos braços presos, conseguiu sacar da pistola que tinha no cinto das calças, atrás, e com o braço meio preso disparar para trás e para baixo, atingindo Lamego na perna direita. Com o tiro este soltou os braços do policia, que disparou em seguida para a frente, atingindo Ribeiro Santos quando este, inclinado para diante, o
socava.”
Há versões diferentes de uma cena que decorreu muito rapidamente e no meio de grande tumulto. Na altura não havia telemóveis com câmara.
Há quem diga que um dos estudantes presentes terá reconhecido num dos pides o homem que o espancara na prisão algum tempo antes.
Há quem diga que Ribeiro Santos foi atingido por trás.
Enfim, só talvez um relatório da autópsia acompanhado pela equipa de CSI poderá um dia reproduzir exactamente o que se passou.
Pinto de Sá apresenta mais um testemunho, não sei se directo, ele poderá esclarecê-lo.
Onde todos os relatos, incluindo o de Pinto de Sá, parecem concordar, é que alguém da direcção da Associação de Económicas, que nada tinha a ver com o MRPP, num momento de desnorte em que a cobardia se aliou a um curioso espírito burocrático para a montagem da tragédia, resolveu chamar a pide a uma reunião de estudantes para proceder a uma acareação.
Curiosamente também, a pide, perante a hipótese de um dos seus estar em poder dos estudantes, dirigiu-se ao local com dois agentes em vez de fazer o que seria “normal”, atacar com uma brigada para dispersar a reunião.
O pide, era naturalmente, a encarnação do que de mais odioso existia no regime.
Imagine-se a entrada de dois pides num anfiteatro a abarrotar de activistas estudantis, muitos dos quais já tinham sofrido em maior ou menor grau algumas das torturas sofridas por Pinto de Sá.
Trata-se de dois membros da policia política de uma ditadura que praticava habitualmente a censura e a tortura que entram numa reunião de estudantes e são atacados, não se pretenda ver isto como um episódio em que um vulgar agente da PSP é atacado por um grupo de marginais.
A “revelação” de Pinto de Sá, não tem de facto nada de extraordinário.
Mas a direita revisionista que procura à viva força o branqueamento do anterior regime, sorve a versão do episódio e o livro como “provas” num processo de deslegitimização da oposição ao fascismo em curso desde há algum tempo, a coberto de uma suposta visão "desapaixonada" da História.
Convenhamos que, coitados, se é isto que têm para se agarrar...é precisa fé, muita fé.
Para que fique claro, acho que é necessária uma visão desapaixonada da História, há sem dúvida muita "ganga" saudosista, sobretudo, mas não só, de esquerda, que é necessário limpar para se analisarem os factos com maior objectividade.
Porém, a solução não passa pela adopção da visão mistificadora de "historiadores" da direita actual em busca de relançamento dos seus justamente desacreditados "programas".

nota: bolds meus nos excertos citados

«Convenhamos que, coitados, se é isto que têm para se agarrar...é precisa fé, muita fé.
Para que fique claro, acho que é necessária uma visão desapaixonada da História, há sem dúvida muita "ganga" saudosista, sobretudo, mas não só, de esquerda, que é necessário limpar para se analisarem os factos com maior objectividade.
Porém, a solução não passa pela adopção da visão mistificadora de "historiadores" da direita actual em busca de relançamento dos seus justamente desacreditados "programas"».
Concordo.

Não vivi esse acontecimento mas conheci muito bem a associação de Económicas da altura. Era PC, ou seja, fazia parte dos inimigos do MRPP que, nessas coisas, não iam por abaixo-assinados. O que eles chamaram foi a polícia creio que o Pide já estava lá dentro e os MRS preparavam-se para uma daquelas "justiças populares" que todos sabemos.
Agora dizer-se que foram eles que chamaram a Pide só de um papagaio badalhoco como esse Luciano.

Eu nem consigo ler o que ele escreve sem sentir que aquilo é prosa de bicho que, no máximo, aprendeu a falar.

";O))

(por acaso até tenho histórias bem divertidas com a Associação de Económicas. Como eu sempre fui franco-atiradora qme metia a narigueta em todo o lado mas detestava os panhonhas dos PCs, uma vez tive de repor uma asneira que fiz, que foi esquecer-me de uma série de comunicados a apoiar a greve à Cantina no autocarro.

Para não me chatearem mais e nem gastar um tusto, fui a Económicas, disse que era militante recente do PC e que até tinha sido o Adalberto a mandar-me ir lá buscar umas boas resmas de papel que a malta em Direito precisava de fazer uns comunicados contra os aventureiristas de extrema-esquerda.
E os toininhos derreteram-se todos e deram-me o papel, a tinta e mais o que eu quisesse, incluindo o nº de telefone e uns convites para jantar

":O))))

Grande Rui, tenho saudades tuas, pá.

Zazie, lol! se tivesses feito isso com um outro pessoal que eu conheço tinhas sido presa depois do 25 da Abril...
beijinhos (eehehehehe)

Monty, grande Monty, é reciproco. Avisa-me quando desceres ao burgo, talvez o bom Gibel já nos possa recitar umas tiradas do "eterno pensamento zuche" que lhe ofereci, num sarau cultural bem regado.

Esqueci-me de acrescentar que os comunicados que eu tinha perdido e tinha de refazer eram a dizer mal dos panhonhas dos revisas da UEC
Ehehe

beijocas

eu só agora é reli com mais atenção o teu primeiro comentário e percebi como sou estúpido, que pensava que os PCs se derreteram por questões políticas quando eles afinal não eram era nada parvos;)

Sabine, obrigado pelo teu comentário, não o referi antes porque de certo modo, "és da casa".

Meus caros, apenas umas notas aos factos do debate:
1 - É evidente que o "julgamento popular" do polícia (creio que era um agente da PSP à paisana) que fora visto a tirar notas da reunião tinha alta probabilidade de acabar muito mal para o homem.
2 - Terá sido a Direcção da Associação, da UEC, que tomou a iniciativa de "falar com as autoridades" para ver se evitava um desfecho que provavelmente implicaria o encerramento dessa mesma Associação e a responsabilização dos seus dirigentes. Mas quem chamou a PIDE foi a Direcção da escola, visto que sem a autorização desta nenhuma polícia entrava numa Faculdade. Um desrespeito desses ocorria por vezes, mas era raro - Marcelo Caetano, por exemplo, demitiu-se de reitor em 1962 por uma coisa dessas.
3 - Foi provavelmente por respeito para com a Direcção da escola que a PIDE apenas mandou 2 agentes, numa postura burocrática mas, acima de tudo, respeitosa para com a autoridade universitária.
4 - É altamente improvável que algum estudante presente na sala de reuniões já tivesse sido preso e espancado pela PIDE. 99% dos que eram presos e espancados pela PIDE "falava" e era, por isso, afastado da acção política. Ocorria por isso o facto irónico de só ser activo, na extrema-esquerda, quem nunca fora preso pela PIDE - salvo raras e idolatradas excepções, como Saldanha Sanches.
5 - É também improvável que a PIDE mandasse identificar um agente seu da Direcção de Informações (a que efectuava vigilâncias, sediada na António Maria Cardoso), por agentes de outra Direcção, a de Investigação, sediada em Caxias e que era a que efectuava interrogatórios. Estes, obviamente, e por serem conhecidos por quem tivesse estado preso, não faziam vigilâncias.
6 - A falta de experiência pessoal relativa a prisões pelos presentes na reunião não obstava a que toda a gente desse como certo que a PIDE torturava. Lembrem-se que a reunião ocorreu em Outubro, precisamente na sequência das prisões feitas 2 meses antes sobretudo de membros dos CCRM-L mas particularmente, para o caso, do dirigente do MRPP Duarte Henriques - que por sinal seria solto pela PIDE, depois de confessar as suas responsabilidades dirigentes no MRPP...

Acrescentaria ainda:
7 - É óbvio que os agentes da PIDE foram por que nunca abandonariam um camarada seu à "justiça popular". E é óbvio que ao irem iam dispostos a tudo o que fosse preciso para libertarem o eventual colega. O que realizaram com sucesso.
8 - É também óbvio que os dirigentes da FEM-L presentes na reunião não se iriam submeter ordeiramente à autoridade da PIDE.
9 - Conhecendo as imagens que de si procuravam dar a PIDE e o MRPP, também é óbvio que seria sempre o MRPP quem tomaria a iniciativa da violência, enquanto nas circunstâncias a PIDE, em público e dentro do recinto relativamente sagrado da Universidade, procuraria sem dúvida dar de si a imagem de uma polícia pacífica.
10 - Tudo somado, deu o que deu. "É pois difícil de imaginar que, nas circunstâncias, as coisas pudessem ter ocorrido de outro modo", como escrevi no livro.

boa explicação.
parece-me no entanto que será exagerado garantir que nenhuma pessoa presente na sala tinha sido torturado pela pide e até que todos os presos tivessem falado.
Veja-se o caso do Lamego, por exemplo, preso nessas e noutras circunstâncias, embora eu não saiba se ele à época já tinha passado pela prisão.
Provavelmente nem todas as pessoas sofriam o mesmo grau de tratamento da pide, até pelas razões descritas no livro, falta de recursos "humanos", mas não é demais imaginar que muita gente presente tinha tido já contacto directo com a violência policial.
Até porque nem todos os que eram presos pertenciam certamente a organizações clandestinas, como estudantes apanhados em acções de rua, agredidos no próprio acto da prisão e que não seriam sistematicamente torturados mas também não saiam directamente para casa na calma. Pelo menos eram presos, o que em si, não seria exactamente uma borga.
Ou pelo menos tinham visto colegas a serem presos, o que também não deixa de ser um contacto muito directo com a violência da Pide.
Tirando isso, a situação era efectivamente explosiva.
Só não fiquei a perceber se o Pinto de Sá presenciou efectivamente a cena do assassinato que descreve detalhadamente no livro.

Não, não é exagerada a afirmação de que nenhum dos presentes tinha passado pela prisão da PIDE.
Lamego só viria a ser preso pela PIDE muitos meses depois, e quanto aos que eram presos pela PSP, em manifs de rua, o mais que lhes acontecia (na altura) era passarem uma noite nos calabouços do Governo Civil, que nada tinham a ver com a PIDE.
A PIDE não prendia arbitrariamente e em massa. A PIDE prendia para desmantelar organizações clandestinas, e por isso é que havia relativamente poucos presos políticos. Cerca de 200, à época, dos quais cerca de metade a cumprir pena em Peniche.
Quanto a mim, não, não estava presente. Na altura andava na semi-clandestinidade, desde as prisões iniciais de Agosto, e não me ia expor a uma reunião daquelas. Mas os meus "testas de ferro" estavam lá...

Ah, e outra coisa: ninguém assistia à prisão de colegas pela PIDE. A PIDE não prendia em público. Como todas as polícias políticas, fazia-o discretamente e em geral de emboscada, em regra na própria casa do visado.
A revolta dos estudantes baseava-se por um lado no que se sabia que a PIDE fazia mas sempre por via indirecta e portanto controlada, e por outro lado em ódio de origem ideológica pura.
E já agora: as minhas memórias detalhadas do que ouvi contar sobre o que se passou na morte do Ribeiro dos Santos não são de hoje. Se o fossem seriam tão pouco credíveis como as de todos os outros que se "lembram" de coisas diferentes. São de 1975, altura em que as escrevi.

Há uma questão de que as pessoas esquecem: o que fazia um pide a tomar notas numa reunião de estudantes?
Há um pide que vai por sua auto recriação para uma reunião de estudantes radicais tomar pacificamente as suas notas, sabe-se lá para quê, talvez por diletantismo poético...
Sabendo-se a que se destinavam as "notas" qual se esperaria que fosse a reacção dos estudantes?
Se o essencial das informações eram fornecidas pelos presos, qual a necessidade?
Aqui sim, começou toda a história. Esta foi a provocação inicial de que se esquecem os saudosistas do anterior regime como o luciano amaral.
Creio que não será despropositado dizer que por um lado "a reputação da pide precedia-a", e que por outro lado a natureza repressiva do regime estava patente na actuação da generalidade das forças policiais, desde as cargas da psp e da policia de choque e da actuação de legionários em manifestações onde se davam frequentemente detenções que francamente não sei se se limitavam a uma noite, nas detenções em plena rua de individuos que distribuiam comunicados à população e no cerco e detenção dos participantes em certas reuniões de estudantes, etc...
Isto no meio urbano, porque nos campos, o papel da GNR, menos óbvio para quem vivia nas cidades, não deixava de ser bastamente conhecido e abundantemente detalhado no pós 25 de Abril.
Tudo isto, e a própria descrição do Pinto de Sá dos métodos de actuação da pide levava a que para muitos estudantes, o ódio à pide e às outras forças do regime, (se era pide, psp, da polícia de choque, da legião ou gnr, era quase um detalhe técnico irrelevante para o que interessa neste contexto) não fosse um mero produto ideológico, mas basicamente uma questão de decência, independentemente de isto levar ou não a uma militância de qualquer tipo.
Quanto ao Lamego não sei como as coisas se passaram. Levou um tiro e ficou ferido, acho um pouco estranho que tenha curado o ferimento a monte, mas é possível. O que interessa é que foi preso e nunca constou que tivesse falado na prisão.

O Lamego curou o tiro no hospital, e já não me lembro de foi preso logo - creio que sim - mas se o prendeu, foi basicamente para o tratarem e seguidamente libertarem.
Repare que ao descrever isto não estou a dizer que a PIDE era boasinha. Não era boazinha mas também não era estúpida! Depois da emoção que os acontecimentos provocaram, com os olhos de imenos cidadãos postos na Universidade, era puro bom senso POLÍTICO - e a PIDE era uma polícia política - dar a imagem que a coisa fora um acidente sem intenção...
Quanto ao resto, é também evidente que naquele regime era praticamente TUDO proibido, mas que as universidades ganharam, nos primeiros anos do marcelismo, um estatuto de santuários de liberdade que permitiu muita coisa que nunca fora antes possível - e muito em especial, a própria proliferação dos movimentos clandestinos de extrema-esquerda.
De 1964 a 1968, o maoísmo resumia-se a isto: mal se criava no país um comité de 4 ou 5 jovens, era imediatamente destruído pela PIDE e os seus elementos em geral condenados a pesadas penas de prisão. Depois de 68, é a explosão que eu narro no livro, até o regime se arrepender da "liberalização" e tentar voltar atrás...

Só mais uma esclarecimento factual, Rui: o homem que estava a tomar apontamentos e que foi detectado como tal, não era um pide. Era um PSP!
Em 1º lugar, a PSP não tinha especialização em vigilâncias, e daí a falta de cuidado daquele na forma como recolhia notas. Em 2º lugar é bom notar que a PIDE não era a única força de repressão do regime: a PSP, a GNR e quando necessário a tropa, também o eram.
A PSP e a GNR, em particular, gozavam de uma "autoridade" de que por muito tempo tiveram saudades depois do 25 de Abril. Não sei se reparou no entusiasmo dos agentes que menciono no livro, quando me ia apresentar à esquadra da PSP em 1976-1980...! Como eu levava um papel da Comissão de Extinção da PIED/DG-S que estipulava as condições da minha liberdade provisória ("termo de identidade", chamam-lhe hoje), sem mais nada, os PSP deduziam que eu fora um agente da PIDE, e daí a grande solidariedade que me manifestavam...

De facto não sabia isso, mas não me custa crer.
O facto de o homem ser um PSP, reforça, parece-me, o sentido do meu comentário anterior e o facto de ser relativamente irrelevante do ponto de vista de um oposicionista detalhar exactamente quem se estava a lidar.
No "interface" do quotidiano era tudo basicamente a mesma coisa .
Fica ainda por esclarecer se o tal PSP estava de serviço com uma tarefa especifica ou se se entretinha a tomar notas para um futuro romance.
Provavelmente dedicava-se como muita gente a tentar "arredondar" o ordenado confeccionando dedicados relatórios para ... a pide.
A "primavera marcelista" continuava a ser um mundo onde a delação era incentivada, onde se convivia quase diariamente com ela.
Reparei nesse detalhe que refere do livro, e que curiosamente reforça uma certa percepção que havia do que era a PSP mesmo já no pós 25A, percepção essa que eu atribuía aos resquícios de um certo "zelo revolucionário" por me parecer que a PSP, apesar de ser como todas as forças militarizadas, potencialmente conservadora, sofreu importantes mudanças nos últimos 30 anos.

Concordo inteiramente com o seu último comentário.

não vou agora perder tempo a rebater grande parte disto pois nem me interessa. Mas a verdade é que estava lá também a Maria José Morgado, por exemplo. Essa já tinha sido presa.

E ia jurar que o Lamego também ja´tinha sido preso em Coimbra aquando de outras lutas estudantis. Ele não era de Lisboa, nem de Económicas.
O Lamego aliás fartou-se de ser preso. Foi um dos que teve de esperar 3 dias em Caxias, aquando do 25 de Abril até que os revolucionários se lembrassem que havia por lá gente e Pide por neutralizar...

Quanto a pides que tomavam notas e se infiltravam nas reuniões há um famoso. Pertencia ao PCP-ML e era um puto lourinho, toda a gente o conhecia das RGAS. Só depois do 25 de Abril veio a notícia que era membro da Pide.
E tomava notas, pois. Não fazia outra coisa. Pensava-se é que tomava notas para estudar leninismo e maoismo em casa

";O)



E havia muitos mais pides infiltrados. A questão é saber-se o estatudo legal dessa gente. Na maior parte dos casos apenas recebiam uma espécie de subsídio social da altura por andarem a espiar.

Estou-me a lembrar de uma outra sujeita bem conhecida que parava pela Cantina Universitária e que até tinha fama de desencaminhar putos das barracas para favores no carro. Essa era da Pide. Esteve sempre presente na altura da porrada por causa do aumento dos preços.

Foi por essa altura que até se consegui identificar essa pidalhada infiltrada. Aconteceu uma coisa muito divertida.
Todos os grupelhos de extrema-esquerda decidiram entrar em competição para liderar a tal greve. Só ficaram de fora os pcs mas isso já era habitual.

A greve foi em pleno. O boicote funcionou. Houve tiroteio do grande. Uma rapariga grávida foi baleada e abortou e outro rapaz foi itnernado em Santa Maria. Os que escaparam ficaram na lista da Pide e numa lista de nomes afixada à porta da Cantina e proibidos de entrar.

Os que não foram identificados continuaram a ir à Cantina. Iam para a bicha, fingindo que escolhiam a comida e no fim não levavam nada. Isto generalizou-se de tal modo que às tantas ia tudo à cantina para todas as coisas menos para comer.

A comida estragava-se e os tipos então tiveram a estúpida ideia de deixar lá ir a pidalhada amiga e mais umas senhoras da Assistência que nem sabiam muito bem o que fazer.
Foi nessa altura que se tirou as dúvidas com uns tantos de quem já se desconfiava.Alguns deles até filmaram muitas cenas de luta, incluindo as mais fortes com os gorilas de Direito. E isso até foi depois da greve da Cantina da Cidade Universitária.

(quanto a gente que conhecia a cadeia por altura da cena do Ribeiro Santos, se tiver pachorra pergunto e depois conto. Havia pois. tenho a certeza. Basta fazer as contas à criação desses grupos e ver os nomes. O Saldanha Sanches é o mais conhecido mas o grupo dele incluía muito mais gente. O mesmo se passava com outros mls de Económicas.
Foi pena terem deitado fora uma porta da casa de banho que essa é que contava a história toda. Dos que foram dentro, dos que preferiram fugir para França e entreterem-se com as amantes e dos se fartaram de cantar ao ir dentro.

Havia quem gozasse e dissesse que se vivessemos mesmo numa ditadura aquela porta era impensável

":O)))

um das inscrições até dizia algo no género- "cuidado com o que escrevem para aqui que ainda pode ir muita gente presa".

E um meco respondeu logo que, ao que ele sabia a porta nunca tinha andado até à António Maria Cardoso mas fulano (da tribo rival) já lá tinha metido dentro não sei quantos

É melhor ficar-me por aqui que já sei que avacalho logo as histórias de resistência anti-"fassista"

Aliás o LAmego não só foi dentro várias vezes como levou tiros mais do que uma vez.
Quanto aos infiltrados falamos de coisas diferentes.
Uma coisa é um pató aparecer a tirar notas à descarada, outra são casos como o do pide infiltrado de quem falas e que suponho tratar-se do famoso Bárcia.
Segundo me contaram, esse tipo quando o MFA ou quem quer que tenha sido o foi prender a casa depois do 25A, a primeira coisa que perguntou foi: quanto é que vocês me pagam para trabalhar para vocês?

claro, Mas eu nem ponho em dúvida a versão de que era um pide à paisana e que foram os PCs que se meteram à frente e ele teve tempo de puxar da arma. A frase até ficou célebre:"calma, calma!"

mas tenho a certeza que havia por lá mais gente que ja´tinha sido presa. É perguntarem ao Emanuel do Banco de Portugal

":O)))

e era o Bárcia, pois, que diabo, como te lembras dos nomes
bjs

O Bárcia é referido no meu livro. Como o Rui o leu...
Mas houve outro, do Técnico, que também foi preso depois do 25 de Abril e que era informador. O Hélio.
A particularidade do Bárcia é que ele era militante do PCP(m-l)...

Enviar um comentário