Memória do Inferno
Aqueles que procuram hoje em dia branquear o fascismo português a pretexto de uma visão "equilibrada" do passado que integre também ( e sobretudo) os "podres" das oposições, chegando ao cúmulo de afirmar como alguns comentadores de direita que "eram as duas faces da mesma moeda" esquecem-se de referir que em qualquer situação em que haja uma ditadura ou um regime concentracionário seja de que tipo for , são os que tentam resistir quem são as vítimas, e são estes quem tem o ónus de suportar o sofrimento, a humilhação, as maiores probabilidades de decadência e sofrimento e são até aqueles mais expostos à degradação moral gerada pela desconfiança e pelo isolamento que decorrem directamente de uma vida clandestina ou de perseguição pela polícia.
Eu diria que isto é uma lei universal que se aplica tanto à resistência antifascista portuguesa, como ao maquis francês, ao universo dos prisioneiros dos campos de concentração hitlerianos, ou ao gulag.
Pretender meter tudo no mesmo saco, não é "independência", "objectividade" ou mesmo "rigor histórico".
É colaboracionismo.
Com os torcionários.
A este propósito, e como as coisas nunca são preto no branco, mas a honestidade intelectual mais básica nos impõe a escolha de certos lados, sugiro a leitura do artigo de Istvan Deak, Memories of Hell, publicada na New York Review of Books em Junho de 1997.