Chocos com tinta
O detestado politicamente correcto dá jeito a muita gente e o editorial de ontem de José Manuel Fernandes no Público é disso uma prova.
Nesse texto, JMF fez uma defesa apaixonada das posições do seu patrão no epísódio da OPA da Sonaecom à PT, ao qual acrecentou em itálico uma "declaração de interesses", também em tom empolgado.
Ainda que nos questionemos da probabilidade de ele ser director do jornal se assumisse de forma repetida e consistente posições políticas e ideológicas que directa ou indirectamente ferissem os interesses do dono, seria um erro e grave admitir que o que Fernandes escreveu ontem foi um mero "trabalhinho" do tipo frete ao patrão .
É que já é dado adquirido da nossa "concepção de democracia" a promiscuidade política-dinheiro-media, e dada a trajectória política do jornalista, seria um absurdo pensar que elogiar entusiasticamente uma operação financeira do patrão viola a sua consciência.
Pelo contrário, ele vê na actuação do patrão, com toda a independência, a prossecução dos seus legítimos interesses ideológicos. Uma quadratura do círculo.
Na mesma edição do jornal e também "com toda a independência", assistimos ao entusiasmo de Eduardo Cintra Torres pelo despedimento recente da Direcção do Diário de Notícias pelo dono desse jornal.
Resulta disto que a "declaração de interesses" é um mero formalismo que procura erigir-se em grande exemplo de honestidade ao "expor" aquilo que toda a gente sabe, como se fosse possível esperar dele outra posição sobre o tema.
Não passa da tentativa de obter um crédito para utilizar noutra ocasião.
A prova que assim é está logo no texto do Editorial:
José Manuel Fernandes digna-se criticar um determinado aspecto da actuação do Ministro Lino como um resquício da "contaminação leninista" ocorrida no passado do Ministro (ao que parece foi do PC) .
Aqui sim, não foi sério. Ao criticar o "leninismo" do outro, deveria ter referido que o leninismo, o estalinismo e o maoísmo também fazem parte do seu passado.
E sabe-se lá com que efeitos nalgumas das posições ideológicas que tem defendido nos últimos anos.
* Atenção que eu estou-me nas tintas para o Ministro Lino e o resultado da OPA, bem como não tomo posição sobre o julgamento que Fernandes faz da actuação do Ministro em detalhes de um jogo de monopólio que interessa a uma minoria de pessoas .
O Eduardo Cintra Torres, cuja frontalidade aprecio particularmente, não falou nada sobre alguns assuntos candentes no Público, como a questão do plágio de Clara Barata. Para um jonalista que analisa um media parece-me um "esquecimento" escandaloso...
Posted by Anónimo | 1:51 da manhã
o artigo do ect dava um outro "case study".
como não o leio habitualmente não posso enquadrá-lo numa perspectiva mais abrangente.
o que choca, independentemente de dar o beneficio da dúvida relativamente à crítica que ele faz do excessivo alinhamento do dn com o governo ( uma prática que vem de longe mas que é sempre positivo denunciar), é a forma como ele concorda com o despedimento de jornalistas, dando-se mesmo ao trabalho de encontrar uma explicação com "lógica", ao relacionar, sabe-se lá com que provas, a queda nas vendas com esse alegado excessivo alinhamento.
Ainda por cima nem resiste a meter ao barulho a história que pelos vistos deve ser a histeria máxima em certos meios habitualmente fora dos devaneios da imprensa cor de rosa, que relaciona o primeiro ministro com uma jornalista do dn.
Posted by rui | 7:43 da manhã