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terça-feira, fevereiro 27, 2007 

Nuclear aos molhos

A vida na Terra, tal como a conhecemos, encontra-se sob uma ameaça que ganha terreno todos os dias: a invasão dos organismos ditos transgénicos, produtos da engenharia genética.
Aparecem sob a capa de produtos desenhados para ultrapassar algumas “limitações da natureza” e propagam-se sob o pretexto de salvar a humanidade da fome e até, resolver problemas energéticos.
Enquanto que a energia nuclear está queimada porque existem exemplos práticos do que pode acontecer em caso de acidente e porque a sua implantação exige a concentração de tremendos investimentos financeiros e de grande impacto visual no território, a invasão dos transgénicos progride de forma muito mais insidiosa, pouco a pouco, sem grande visibilidade mediática e impactos na paisagem.
Hoje um talhão aqui, amanhã um campo acolá, uma autêntica estratégia da aranha... eles têm todo o tempo do mundo e muito dinheiro.
Em nome da “liberdade de escolha“, da “produtividade” e da "defesa do consumidor", é fácil à meia dúzia de grandes empresas que desenham, fabricam e comercializam estes produtos, aliciar pessoas, em geral agricultores ou empresários ansiosos por investir sob uma auréola de pioneirismo, para o seu cultivo sem pensar nas consequências que daí poderão advir.
É muito provável que todos nós, directa ou indirectamente tenhamos já ingerido organismos transgénicos ou seus derivados.
O facto de até agora nenhum acidente grave ter sido detectado, não significa que a nossa espécie não porte já disseminada pelos seus indivíduos, nós, uma catástrofe potencial comparável à ameaça nuclear que poderá mesmo por em causa a sua existência .
Até ao dia, provavelmente tarde de mais, em que nos descobrirmos a nós e às nossas famílias, dependentes ou à mercê de uma tragédia irreversível ainda que anunciada.
Para além dos possíveis efeitos nos nossos organismos, matéria que na ausência de um desastre e apesar de indícios inquietantes se mantém na esfera da filosofia, há outros aspectos que devem merecer a nossa atenção:
1- a “liberdade de escolha”:
Uma vez que as experiências de cultivo se vão efectuando um pouco por todo o lado na “natureza”, existe um perigo mais do que potencial, um perigo real de contaminação dos organismos biológicos. O que quer dizer que a “liberdade” de uns “experimentarem“ colide frontalmente com a liberdade que nos deve assitir de podermos manter uma reserva biológica livre de contaminações pelos organismos transgénicos.
2- O fim da agricultura
Cessará a liberdade de cada um usar livremente os produtos da terra, de usar a sua fertilidade para os armazenar e reproduzir à sua maneira.
O cenário que se avizinha, e que já foi tentado pôr em prática, é o de impor a agricultura como “serviço”.
No modelo que se configura, tal como hoje somos obrigados a fazer diariamente o download das últimas actualizações de anti-virus no nosso computador, quem explora directamente a terra dependerá de um contrato celebrado com uma de entre meia dúzia de grandes empresas monopolistas mediante o qual receberá periodicamente a "última versão" do software, isto é, a "semente" a lançar na terra. "Semente" essa que que será uma entidade patenteada sujeita a condições rigorosas de aplicação. O "agricultor" perderá a sua autonomia.
Não está em causa o facto de a agricultura ser hoje já em grande parte uma prática industrial e o resultado do acumular de experiências, selecções e melhoramentos que tiveram lugar ao longo dos últimos dez mil anos. O que está em causa é a probabilidade cada vez mais elevada, à medida que esta praga se propaga e penetra nos nossos campos e prateleiras de supermercado, de um grupo de grandes empresas erradicar a possibilidade de se continuar a praticar qualquer tipo de agricultura.

A “liberdade de escolha” proposta pelos propagandistas e vendedores de transgénicos, pode bem ser traduzida pela fórmula “Live and Let Die”.