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domingo, fevereiro 25, 2007 

O milagre do vinho

Os autoproclamados "pessimistas" transmutam-se em optimistas inveterados quando confrontados com a percepção crescente dos horizontes de exaustão de alguns dos recursos naturais insubstituíveis que sustentam o nosso modelo de desenvolvimento económico.
É, como em muitas outras coisas da vida, haja a suficiente "flexibilidade intelectual" (ou mais vulgarmente, "lata"), uma questão de oportunidade...
A propósito do aquecimento global, a direita tem em geral três opiniões:
1. não há aquecimento global
2. o aquecimento global não resulta da acção do homem.
3. é uma questão que apenas interessa a uma minoria de histéricos anti-capitalistas.

Recentemente porém, novos dados vieram baralhar este esquema.
Sem satisfações a dar aos seus veneradores atentos e obrigados escribas de serviço, os empresários, com a sua costumeira "visão", adaptam-se aos novos tempos.
Um exemplo é Patrick Monteiro de Barros. Na entrevista à revista Prémio que já referi ali em baixo, revela-se um ambientalista atento a Al Gore e ao problema das emissões de CO2 .
Como seria de prever, não é um tipo de ambientalista qualquer; é, deduz-se das suas palavras, um "ambientalista sério" e "sem agenda política", o que traduzido por miúdos no linguarejar da seita, significa que "aposta no nuclear".
Isto lança alguma confusão na direita mais obtusamente anti-ambientalista.
Até aqui, qualquer manifestação de "ambientalismo" era "histérico" e uma causa que apenas poderia arrebanhar a escumalha anti-capitalista mais básica.
Mas eis que agora surgem capitalistas ambientalistas.
Ora bem... o aparente nó górdio é ultrapassado muito facilmente com uma pirueta já por demais conhecida de todos aqueles em contacto directo com o "além": transformando a água em vinho.
Os "anti-ambientalistas" de ontem, transformam-se por um passe de mágica, nos "verdadeiros ambientalistas" de hoje.
É assim que se compreende que um rapaz habitualmente preocupado com estas matérias da "poluição etc. e tal", possa interpelar os "falsos ambientalistas" que não percebem a necessidade "do uso maciço da energia nuclear".
Não é bom pensarmos que o mundo se constrói e move em função das nossas paranóias?