A nova utopia
Nos últimos dias têm-se sucedido as notícias sobre os milagres permitidos pelos OGM.
O tema surgiu na capa da prestigiada Prospect, remetendo para um artigo intitulado "The Real OGM Scandal" de Dick Taverne.
Durante esta semana seguiram-se as notícias sobre as aplicações dos trangénicos na produção de insulina e, aleluia! como a solução para a pandemia da obesidade!
É, literalmente, o Maná.
Esta agitação, com epicentro em meios de comunicação ingleses, surge, qualquer ingénuo pode pensar que por simples acaso, quando foi divulgado publicamente que o governo trabalhista inglês, parafraseando Jorge Almeida Fernandes no Público de hoje, possivelmente tentando "canibalizar os conservadores" se prepara para tomar uma atitude benevolente face à introdução de culturas OGM no seu país.
Em Portugal, numa sociedade completamente anestesiada, ainda se compreende a impunidade com que os OGM têm proliferado e o descuido com que alguns sectores governamentais têm cuidado destas matérias, mas a opinião pública inglesa, muito mais atenta, continua por larguissima maioria a rejeitar essas culturas, apesar das intensas campanhas de "esclarecimento" promovidas pelos vendedores do ramo, e o caso não tem passado em claro.
Uma coisa me intriga no artigo do Dick Taverne:
Parece que a proliferação dos OGM é indispensável para "salvar da fome milhões de pessoas".
Mas a Europa não é de todo a zona do mundo afectada pelo problema da subnutrição. Esse destino trágico está normalmente reservado aos habitantes de outras zonas do planeta, onde, paradoxalmente, o Dick garante que os OGM estão a penetrar em força. Porquê então a aflição em convencer-nos ?
Caro Rui:
Segui-lhe o rasto e encontrei o local ideal para dar seguimento à troca de ideias que iniciamos no DRN.
Vejamos se consigo deixar claro o meu ponto, começando assim:
1- Apesar de agrónomo, nunca fui apologista da agricultura industrial.
2. Tal como ao Rui, os argumentos da solução da fome no mundo tb nunca me convenceram.
3. Estou consciente que a questão dos OGMs é mais uma negócio com os inerentes interesses subterrâneos.
4. A engenharia genética em geral não me é simpática.
Sendo assim, onde estão as minhas dúvidas ? No seguinte: face ao modo de produção dominante, eu não sei em rigor se o cultivo de OGMs tem mais ou menos impactos. Mas sei que estamos a discutir de entre dois males, qual o menor. E essa discussão para mim não nos pode levar longe. Concordo que não se mudam culturas por decreto. Mas receio que quando se envereda por este tipo de abordagem se perca perspectiva e tempo para abordar eventuais alternativas.
Espero ter conseguido passar o essencial.
Cumprimento-o pelo seu espaço.
Voltarei.
Posted by Manuel Rocha | 7:10 da tarde