Boa onda
Numa jogada arrojada, a Atlantic, uma das mais influentes revistas americanas, decidiu disponibilizar on line todos os seus conteúdos, incluindo arquivos.
Parece arriscado mas sabe bem ver alguém a contra corrente da tendência normal de restrição de acessos seguida pela maioria dos meios de comunicação.
Quem se quiser dar ao trabalho de reler esta revista imprescindível tem ali elementos de estudo representativos da evolução de uma certa corrente política norte-americana que nos últimos sete anos passou do apoio quase incondicional a Bush e à aventura iraquiana, às dúvidas e à tomada de consciência do desastre e finalmente a uma avaliação global muito negativa da actual administração.
Um exemplo é o aparecimento nas suas páginas de Andrew Sullivan, um modelo para alguns dos bloggers conservadores portugueses que passou do apoio incondicional à invasão do Iraque à sua rejeição e ao apoio a Barack Obama.
Também há os imperialistas indefectíveis, como o fou du village Robert Kaplan. Mas também este passou de uma retórica triunfalista de cronista da expansão imperial para um cepticismo desencantado de sage incompreendido dissecando as causas da decadência do Império.
Para alguns americanos que cavalgaram a onda da regressão ultra conservadora iniciada com Reagan e cujo apogeu foi o Bush filho, o estudo dos clássicos converteu-se numa alucinação que os levou a reviver em sete anos a história gloriosa da ascenção e queda de um novo Império Romano. Um facto tão enebriante que se propagou como fogo na pradaria à cabeça de bárbaros de todas as regiões do globo .
Basta ver a série de artigos sobre a América que Bernard Henry Lévy publicou nas páginas da revista e que redundaram em livro, basta ver os nossos neo-conservadores de pacotilha repetindo as mesmas frases batidas sobre o "politicamente correcto" e a "liberdade" quando até o fundamento último do fascínio exercido pela América, o poder económico, ameaça ruína, em grande parte graças ao sucesso que a Administração Bush teve na aplicação das receitas extremistas que nos são apresentadas amíude nos editoriais e crónicas de bastos opinion makers do burgo como o caminho para a Salvação.
De tão sensibilizado que estou com esta opção da Atlantic, que provavelmente vou renovar a minha assinatura em papel.