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domingo, abril 27, 2008 

O fim do equívoco

O candidato "unificador" do PSD é fácil de encontrar.
Como se tem observado nos recentes congressos desse partido, é o candidato que ganha.
Uniões recentes, totais e entusiásticas em torno de Barroso, Santana, Mendes e Meneses, o que interessa é a união em torno do "leader". Não é assim também no PP e no PS?.
Desde as suas origens que o PSD é uma federação de "interesses", ou seja, de pequenos partidos de ideologia suficientemente difusa para se chamarem "tendências" pragmaticamente designadas pelo nome das suas figuras de proa evitando o trabalho de arranjar um programa ou sequer um nome. Uma federação de interesses que apenas se constituiu como resposta mais ou menos improvisada a um dos momentos da vida política portuguesa que o PSD gosta de hostilizar: o PREC.
Uma coisa fortalece a sua unidade: a proximidade do Poder. Queixam-se do Estado, mas é o terem-se habituado a ser o partido do Poder que lhes alimenta as expectativas e a chama da unidade.
A actual crise do PSD tem mais a ver com a seca dos canais redistributivos e clientelares ( apesar de uma parte do PSD se fundir com alguns sectores do PS na gestão de muitos dos mais lucrativos negócios) provocada pela ocupação do centro pelo PS do que com alguma situação específica na vida de um partido que desde sempre foi um equívoco disfarçado com um verniz tecnocrático e vagamente "apolítico", vocacionado para a gestão do País.
Jardim tem talvez alguma razão.
Manuela Ferreira Leite poderá ser o porta voz do PSD "sério", herdeiro do "cavaquismo" de boa memória para o PSD.
Mas só se os portugueses, que se queixam do "liberalismo" e "insensibilidade para as questões sociais" do governo Sócrates, forem atingidos pela doença das vacas loucas é que ignoram o que significa a "imagem de rigor" associada a Ferreira Leite, e só se forem suicidas ou masoquistas é que votam nela. Injusto que seja compará-la à odiosa Thatcher, não deixará de ser implacável na aplicação das reformas estruturais, lá onde o governo do PS tem tergiversado para não afrontar, agredir e alienar ainda mais os sectores mais desfavorecidos da população.
O problema é que sendo assim o que resta?
O regresso ao caos de Santana Lopes?
A sintomática tentativa de ruptura com a lógica dos "barões" personificada por Pedro Passos Coelho, potencialmente catastrófica quando se tratar de dirigir um governo?
Talvez que o mais saudável para a vida política portuguesa seja a desintegração do PSD e a reconfiguração do mapa político com reverberações no PP e nos sectores do PS que atrairia para a sua órbita, contribuindo para dissolver a lógica do centrão de que tanta gente se queixa. Favoreceria a expressão e a discussão de ideias políticas normalmente abafadas e teria provavelmente como consequência a médio prazo a deslocação do centro político para a direita.
A situação inquinada vai provavelmente prolongar-se se persistir no PSD a psicose clubística da révanche sobre o principal adversário, agora que a lógica da batata sugere que dentro de um ou dois anos regressará a bonança, não por qualquer mérito do partido, mas graças às vitudes mágicas da "alternância democrática".
Não era a primeira vez que assim sucedia.
Talvez alguém se lembre do totoloto que saiu ao PSD há seis anos com a estranha fuga de Guterres, numa época em que o PSD já andava à deriva dirigido por um líder medíocre, sem grande peso e a prazo como Durão Barroso.
Não sei se Guterres ( e depois dele, Sampaio) agiram com maquiavelismo. Mas passados estes anos o PSD enfrenta de uma forma ainda mais brutal o problema da sua identidade.