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sexta-feira, abril 25, 2008 

O que ainda mexe connosco

"Compre-me um autocolante, camarada" disse a senhora de meia idade ao rapaz que seguia na manifestação próximo da frente do Bloco.
"Você é comunista não é?", insistiu.
"Sou comunista sim", disse o rapaz, "mas apoio o Bloco de Esquerda".
"Não faz mal" disse a senhora," então não queremos todos o mesmo?"
Sem argumentos o rapaz levou a mão ao bolso e entregou as moedas para pagar o auto-colante.

Comemorar uma data como o 25 de Abril é hoje em dia, dizem, uma manifestação da mais serôdia nostalgia e propaganda barata orquestrada pelo PCP.
É uma arbitrariedade herdada do PREC, um feriado supérfluo que tanto prejuízo faz à produtividade do País.
Cada vez mais uma data esvaziada de sentido, pretexto para sensaboronas cerimónias oficiais e discursos de circunstância.
Certo é que a maioria dos que se queixam dos feriados que quebram a competividade à nossa economia são os primeiros a arrancar de carro com a família gozar o dia de sol longe de Lisboa.
Mesmo com o preço da gasolina, mesmo com a crise económica e a falta de produtividade.
A maioria das pessoas que vão à manifestação do 25 de Abril não o faz pelo PC.
O PC e os outros partidos e movimentos que se manifestam com bandeiras e cartazes são hoje apenas espectáculo.
Quem lá vai, com excepção de uma minoria organizada, vai pelo seu pé, não é arrebanhada pelos partidos em camionetas.
Alguns esquecem que o desenvolvimento económico trazido pela democracia tornou inútil a participação em rábulas políticas como condição para que os campónios descessem à capital.
Isso era um problema logístico para as manifestações "de apoio" ao antigo regime.
Hoje quase não há campónios e as pessoas da província se quiserem metem-se nos seus carros e vão mas é para a praia.
A maioria das pessoas, e são tantas ou mais do que as que descem a avenida, não desfilam atrás de nenhum cartaz, ficam nos passeios a ver passar o cortejo, o que traduz a pouca vontade em estabelecer compromissos políticos, disso está o pessoal escaldado.
A única coisa que as leva lá é uma certa ideia, um certo sentimento de liberdade que se sente no ar.
O prazer de fruir de uma liberdade política difusa, sem stress da luta ou do perigo da repressão.
E isto, por muito que os seus patéticos detractores se esganicem, é ainda do melhor a que se pode aspirar numa vivência democrática. E não significa vassalagem nem tributo nenhum ao PCP.

eu fui sozinho, de bicicleta, arranjei um cravo, passei pelos deficientes motores a jogar basquete, e quando ouvi o ary dos megafones de uma carrinha que dizia "água pública" vieram-me lágrimas aos olhos. não conheço ninguém do pcp.

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