O princípio da Nostalgia
Era impossível continuar pelo caminho pedregoso, e é a lógica interna das vanguardas. Cada vez mais vanguardas até se reduzirem à expressão mais simples do individualismo obstinado.
É, talvez, a saída saudável para um homem em cheio, pese a retórica impotente dos "sonhos não concretizados" ou traídos.
Quando assim não sucede e as vanguardas se tornam poder, o caminho é o do totalitarismo, o profeta muta-se em tirano encarnando os objectivos de uma "classe" ou "nação".
A despedida do profeta, a despedida do "maior marxista leninista vivo no hemisfério ocidental" na passada 4.ª feira no Alto de São João, foi assim um acenar nostálgico ao mito onde não faltou o discurso militante para compor o décor.
Muitos, certamente a maioria, acenaram a uma parte do seu passado.
Disseram adeus à figura mitificada encerrada para a vida nas prisões fascistas e de quem se bebiam os escritos, ao momento electrizante da sua entrada com os outros dois magníficos na manifestação do 1.º de Maio de 74, não ao que o profeta significava agora na vida deles ou na de alguém.
Pelo que ele significou um dia das nossas vidas.
Foi a primeira concessão à Nostalgia, um princípio a que o curso do tempo tenderá a conferir abundantes oportunidades para se manifestar.