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quarta-feira, julho 30, 2008 

Batalha perdida?

Por vezes interrogo-me sobre se a questão dos OGM não será uma batalha perdida.
Afinal, "eles" já estão por todo o lado e contam com a ingenuidade de muitos técnicos e governantes para se ir insinuando, com tanto mais força quanto são tábua de salvação da agro-indústria americana, completamente contaminada e dominada por dois ou três gigantes do sector.
Enquanto não acontecer um desastre, o público e muitos especialistas vão continuar a desprezar a questão.
Veja-se o caso das florestas:
É desporto nacional de Verão o acompanhamento diário dos mais variados incêndios florestais que ocorrem no País, proporcionando imagens de acção, dor e sofrimento em todos os telejornais enchendo o espaço vazio criado pelas férias dos políticos.
Já a peste do nemátodo, uma praga que vai acabar com o pinheiro bravo em Portugal e ficaremos felizes se não se transferir depois para o pinheiro manso, é uma catástrofe nacional que reduziu a quase zero um sector económico, o da exploração florestal, mas como não proporciona imagens excitantes por actuar silenciosamente, quase ninguém fala do caso.
É por isso que acho importante, numa altura em que os jornais se encarregam de divulgar notícias animadoras sobre a penetração dos tais OGM, transcrever aqui este comunicado da "Plataforma Transgénicos Fora" que desmonta o tal optimismo, nomeadamente quanto ao milagre económico que representa para os agricultores a sua adesão à peste geneticamente modificada.
ALENTEJO DISTANCIA-SE DOS CULTIVOS TRANSGÉNICOS
Foram divulgados este mês pelo Ministério da Agricultura os dados oficiais para 2008 do cultivo de milho transgénico em Portugal.(1) Embora a área total tenha aumentado 11% (486 hectares) em relação a 2007, esta subida está muito longe dos 240% (3009 hectares) verificados de 2006 para 2007 e representa uma desaceleração significativa no interesse que os agricultores vêm na única variedade geneticamente modificada que está autorizada para cultivo.
As regiões do Alentejo e de Lisboa/Vale do Tejo apresentam as reduções mais significativas. Desde 2005, ano em que começou o cultivo em Portugal, estas eram as duas regiões com maior adesão ao milho transgénico e em 2007 representavam 86% de toda a área cultivada com OGM em Portugal. Este ano, no entanto, deu-se uma redução de 11% no total de hectares cultivados em cada uma delas. No Alentejo, em particular, este abaixamento torna-se ainda mais significativo se se considerar que a área total dedicada ao milho aumentou 10 a 15% no mesmo período, de acordo com estimativas provisórias do Ministério da Agricultura.
A experiência que os produtores alentejanos estão a ter com o milho transgénico fica claramente aquém das expectativas. De todas as explorações agrícolas do Alentejo que em 2007 cultivaram OGM, 48% (23 explorações em 48) já abandonaram tal opção em 2008. Este recuo significativo está em contraste com o quadro optimista que o Ministério da Agricultura tem apresentado e mostra que, apesar da forte promoção, os agricultores preferem preferem tecnologias e práticas mais eficazes, que apresentem menores riscos para o ambiente, para a saúde humana e para a sua própria economia. (...)
(1) Disponíveis online em http://www.stopogm.net"

Pese embora toda a simnpatia que a causa me merece, não posso deixar de considerar o comunicado em questão pouco constructivo para uma boa formação da opinião pública. A menos, claro, que a "plataforma" tenha resolvido usar as mesmas armas demagógicas que são utilizadas por quem defende as culturas GM. De facto, fica por explicar se a redução referida não é meramente conjuntural. Ela pode ter a ver com os ciclos de rotações ou com outras opções de cultivo mais interessantes. Agora dizer que a agro-indústria está preocupada com o ambiente e com a saude pública e por isso reduziu nos GM's...bem, ou me demonstram essa causalidade ou então deixem-me rir...

Manuel como sempre acho o seu comentário muito pertinente.
Também me parece que as causas ambientalistas ( pelo menos aquelas a que tenho dado apoio aqui no blog) só têm a ganhar com a promoção de discussões sérias e sem tabus e apriorismos sobre os temas.
Não concordo inteiramente consigo no que toca a este comunicado da Plataforma pelo seguinte:
O comunicado tenta responder aos artigos que têm vindo a ser publicados na imprensa apresentando os OGM de forma acrítica e relevando apenas supostas vantagens económicas.
Não atribui nenhumas boas intenções particulares à agro industria, tenta sim( ainda que sofrendo das limitações conjunturais que o Manuel assinala com maior propriedade do que a generalidade das pessoas pode faze-lo)alertar para o facto de que mesmo de um ponto de vista estritamente economicista as vantagens dos OGM não são tão evidentes, imediatas e duradouras como se tem pretendido fazer passar.

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