« Home | "corpore sano " dizem eles » | Confusão » | Pavlov e o poder dos blogs » | Tiro aos patos » | O grande jogo » | Back in the U.S., Back in the U.S.S.R. » | Chota » | a (little) star is born » | Teoria do vandalismo perdido » | Casa, carro e família » 

quinta-feira, agosto 14, 2008 

A Roda a girar

O facto de achar que a Geórgia foi longe demais e que se compreende a reacção dos russos no contexto da luta entre as superpotências pelo controle de territórios e de acesso a matérias primas, parece que me coloca num putativo campo "pró-russo".

Não é assim. Os antagonismos que roçam a paranóia ou amores histéricos pela Rússia são normalmente sequelas da Guerra Fria, uma guerra que sempre me deixou ... muito frio.

A Rússia é uma super potência de novo em ascenção, cujo poder explora o orgulho nacionalista para branquear as suas práticas anti-democráticas.

No entanto, estamos ainda longe do estado totalitário com o qual não é possível qualquer espécie de diálogo. Não nos encontramos num estádio de antagonismo que justifique que a Europa esteja neste momento em estado de pré-guerra. A Rússia, por reserva grande que mereça e apreensão que provoque é um parceiro comercial muito importante da Europa.

Ora torna-se cada vez mais claro que o objectivo da acção empreendida pela Geórgia e que concita apoio entusiástico de alguns comentadores é a de provocar deliberadamente uma guerra com a Rússia.
Como tantas outras vezes, trata-se de provocar uma reacção do inimigo que justifica uma intervenção para prevenir a "natural agressividade" desse inimigo.
Apesar de algum cuidado do Pentágono e do próprio Bush, algumas atitudes de alguns responsáveis da Administração Americana e do próprio John McCain de quem um dos mais próximos colaboradores é lobyista oficial da Geórgia, indiciam que nem tudo será "loucura" na jogada de Saakashvilli e levam a perguntar se não estará alguém a tentar colocar os russos no papel de "aventureiros" que se tem atribuido aos georgianos. Ao invés de "prevenir os Sudetas", o que se pretende é acelerar o processo de cerco à Rússia. E não é pela falta de democracia interna.
O objectivo de desencadear uma guerra em larga escala tem de ser rejeitado pelos europeus, impedindo os governantes de certos países com contas a ajustar, cada vez mais claramente com os russos, como povo, do que com o regime comunista que os oprimiu, de envolver a Europa num novo desastre.
A esses países, é preciso dar-lhes a escolher se querem participar na construção europeia ou se querem ser satélites dos Estados Unidos, ou pior, das tendências mais belicistas dos Edstados Unidos.
Se o quiserem devem ser livres de poder fazê-lo, basta abandonarem a Comunidade Europeia.
Mas deixem-se por favor de comparações absurdas com as origens da Segunda Guerra Mundial.
E o argumento dos "gasodutos", é também uma falsa questão.
É certo que, azar, a Europa depende parcialmente dos russos, como depende de outros, para se abastecer de gás natural.
Em tempos era fácil aceder às matérias primas. Qualquer pretexto era bom para as potências europeias ocuparem as regiões remotas onde abunda o ouro negro.
Mas provocar uma guerra por causa de uma hipotética alternativa de abastecimento que curto circuite a Rússia e o Irão é um absurdo, a começar porque inviabilizaria de todo o objectivo que lhe dera origem, a não ser que alguém pense que restará alguma coisa que transportar ou alguma coisa que a transporte depois de uma guerra, mesmo que limitada ao Cáucaso, entre os EUA e a Rússia.